terça-feira, 5 de maio de 2015

A CONSTRUÇÃO DO FUTURO



Rui Peralta, Luanda

Informatização

I - 
As características específicas do tratamento automatizado da informação impuseram-se, de forma vertiginosa e sem grandes percalços, na actividade administrativa, que utiliza informação simples e normalizada. Este rápido crescimento e implantação da linguagem dos computadores nos sectores administrativos e financeiros deveu-se, principalmente, a três factores: 1) redução de custos (no fluxo de informação, assim como no processamento, resolução e arquivação); 2) rapidez (em particular no fluxo de informação); 3) qualidade (e exaustividade, uma vez que é disponibilizado maior volume de informação).

Em paralelo assistiu-se a um enorme progresso nas telecomunicações, criando uma nova realidade tecnológica, resultante da associação de computadores - cada vez mais pequenos, rápidos, com maior capacidade de memória e "inteligentes" - com meios de comunicação de sinais por cabo, ondas electromagnéticas, antenas e satélites, com capacidade de transmitir grandes volumes de informação de todo o tipo (números, texto, som, imagem, etc.), com cada vez mais qualidade técnica e a custos baixos. Desta realidade "telemática" nasceram as novas tecnologias de informação e comunicação.

Os equipamentos (hardware) e logiciais (software) destas tecnologias permitem criar sistemas de apoio á decisão, assim como diferentes sistemas de informação, formas de organização em rede, novas técnicas de projecto e de simulação, bem como inovadoras formas de comunicação interactiva directa (videoconferência, telemóveis e seus derivados progressos. Toda esta panóplia de equipamentos, logiciais, estruturas organizacionais e comunicacionais assentam numa infraestrutura conhecida por "autoestradas da informação", "vias" que permitem a intercomunicação directa entre organizações (empresas, organismos públicos, países, Estados, cidadãos e indivíduos), trocando informações de todo o tipo.

Se observarmos as alterações que estas novas tecnologias "telemáticas" implicaram nos escritórios, por exemplo, concluiremos que todos os segmentos e tarefas da actividade foram afectadas. Processadores de texto, dispositivos de leitura óptica de códigos de barra, scanners de leitura de sinais alfanuméricos, são equipamentos hoje vulgarizados nas funções da colheita de informação. As funções de armazenamento da informação e de pesquisa utilizam uma vasta gama de equipamentos e ferramentas, destacando-se os computadores, memórias de registo, suportes de informação digitalizados, CD's, drives e terminais de acesso. Por sua vez as redes de transmissão de dados, os cabos multiuso de fibras ópticas, impressoras, teletexto, etc., são imprescindíveis nas comunicações, transmissões e saídas de dados.

II - No sector de serviços, no comércio, hotelaria e turismo, o terminal informático de um sistema instalado em rede está hoje implantado como emissor/receptor na ligação relacional cliente/serviço, assim como na relação serviço/serviço, cliente/cliente e nas relações organizacionais internas da entidade que presta um serviço ou vende um produto. Através deste processo concretizam-se negócios e contratos, fazem-se consultas, pesquisas, processa-se informação, ordens de execução e de pagamentos. O papel do empregado intermediador é hoje dispensável, uma vez que a relação cliente/serviço pode ser directamente efectuada. Através da mediação do equipamento (que ele próprio opera, o que o obriga a um rápido processo de aprendizagem como utilizador, tomando contacto - e aprendendo a conhecer - com caixas de banco automáticas, bibliotecas informatizadas, terminais domiciliários, etc.) o cliente contacta directamente a organização.

Nesta vertente assume particular importância o comércio eletrónico. Efectuado a partir da Internet, o comércio eletrónico permite o contacto directo, sem intermediário, entre o consumidor e a empresa comercial, não necessitando o consumidor de sair de casa para efectuar a compra ou - nos mercados urbanos mais estruturados das economias avançadas - para o receber. As compras efectuadas vêm ter a sua casa. Este relacionamento directo entre consumidor/produtor, ou cliente/fornecedor, ou utente/prestador obriga a uma aprendizagem do processo homem/máquina, porque implica a apropriação de novas lógicas e novos códigos de linguagem.

III - 
A aprendizagem deste processo (algo que já se passou à 100, 80 e 50 anos, com a gradual inserção dos electrodomésticos na vida quotidiana, ou com o gramofone, a rádio e a televisão) pode constituir um choque cultural para certos indivíduos, grupos sociais, comunidades e populações.

Fenómenos que para as empresas podem ter baixa relevância a nível de custos, ou nem sequer considerados pela empresa, assumem, na relação directa entre as organizações e o cliente/utente/consumidor, um papel primordial, que pode ser fatal para a relação, ou obrigar a retiradas apressadas, originando o caos e a disfunção do serviço. O mercado é pluridimensional e reage de formas diferentes. As análises não podem ser efectuadas de forma supérflua. Os factores sociais e culturais no mercado necessitam de uma análise séria e multidisciplinar (sociológica, antropológica e psicológica).

A empresa já não pode viver da cultura jornalística, superficial e medíocre, indiferenciada. Os mercados são compostos por maiorias, claro, mas também por minorias importantes e de peso, que constituem nichos. Muitos desses nichos não são identificados porque estão misturados e camuflados no seio da "maioria". Mas uma observação atenta permite identificá-los, reconhecer as suas necessidades e tendências, integrando-os no mercado como um nicho com as suas especificidades de consumo e de produção.

Literatura a consultar (e usufruir)
Carvalho, L.M. O impacto das Novas Tecnologias de Informação no Comércio Alimentar Ed. Cosmos, Lisboa, 2000
Coelho, H. Tecnologias de informação Ed. D. Quixote, Lisboa, 1986
Ferrão, J. Serviços e Inovação Ed. Celta, Oeiras, 1992
Hoskins, T. A informatização do Escritório Ed. Presença, Lisboa, 1988
Masuda, Y. La Sociedad informatizada como sociedad post-industrial Ed. Fundesco, Madrid, 1984
Drucker, P. Inovação e Gestão: uma nova concepção da estratégia da empresa Ed. Presença, Lisboa, 1986

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