quinta-feira, 21 de maio de 2015

Guiné-Bissau. ANTÓNIO INDJAI APRESENTA-SE AO MUNDO COMO AGRICULTOR




Esteve por detrás do último golpe de Estado na Guiné-Bissau, em 2012, e foi acusado pelos Estados Unidos de ser um “barão” do narcotráfico. Agora afastado das Forças Armadas que já liderou, volta a apresentar-se ao mundo como um simples agricultor. Altas patentes suspeitas de envolvimento em atividades ilícitas continuam a ser afastadas, mas as polícias dizem-se impotentes contra os traficantes. 

A apresentação do “novo” Indjai, afastado das Forças Armadas em setembro, é feita numa entrevista à Reuters publicada esta semana. O ex-líder militar da Guiné-Bissau recebeu o jornalista na sua terra natal, Mansoa, de chinelos e “relaxando à sombra de um recanto da sua quinta, junto a uma pilha de castanhas de caju recentemente colhidas”. 

“Esta agora é a minha única arma”, afirmou Indjai, apontando para uma faca de mato que usa para cortar ervas daninhas. Adiantou ter escrito às autoridades pedindo para ser dos primeiros a receber a pensão a ser atribuída aos militares reformados. “Os militares querem a reforma, estão cansados”.

O seu dia, Segundo o relato, começa agora de madrugada, quando vai para os campos com os seus filhos, parando apenas para almoçar. Ali próximo fica uma estrada que foi usada como pista de aterragem para o narcotráfico entre a América do Sul e Europa, segundo as autoridades. 

Acusado pelos Estados Unidos de ser um barão do narcotráfico e de negociar com os terroristas das FARC a troca de cocaína por mísseis, Indjai nega tudo. “Se traficasse, porque estaria eu a limpar mato?”, questionou, apontando para mazelas nas mãos e pés.

O governo prevê reformar quase metade dos 5.000 militares do país, nos próximos 5 anos. Entre os primeiros 500 a ir este ano estão líderes golpistas incluídos nas listas de sanções. O Ministério da Defesa diz que os prémios a receber ascendem a 25 milhões de francos CFA, mais de 42 mil dólares. 

Mas faltam 20 milhões de dólares ao fundo de pensões, avaliado em 83 milhões de dólares, e estão a ser feitos pedidos de apoio, nomeadamente a Angola. 

Entretanto, este mês foram afastados o chefe da Guarda Nacional, Tomas Djassi, dado como próximo de Indjai, e o chefe da Polícia, Armando Nhaga. O presidente José Mário Vaz recompôs a sua guarda, antes dominada por balantas, etnia a que pertence Indjai. 

De acordo com a Reuters, também este mês alguns diplomatas norte-americanos estiveram em Bissau, para discutir a destruição de mísseis usados durante a Guerra Colonial. A contrapartida será financiamento à reforma do sector de segurança. No quartel de Amura está a ser feita recolha de armas em contentores. 

O governo tem avançado com medidas para combater tráficos a que alegadamente estavam ligadas altas patentes militares, mas a Polícia queixa-se de dificuldades no combate às drogas. Falta equipamento básico e mesmo um radar no aeroporto para monitorizar o tráfego aéreo. Para lançarem uma operação de apreensão têm de pedir financiamento. 

“Temos informações muito fortes sobre três barcos de pesca que continuamente se aproximam, mas que nunca entram no porto. Quanto conseguimos aprovação (de financiamento), é tarde de mais”, afirma um alto responsável da Polícia.

África Monitor

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