Luís Nhachote
– Verdade (mz), em Tema de Fundo
Um
pouco antes da entronização de Jacinto Filipe Nyusi nos destinos de todos os
moçambicanos começaram a surgir os primeiros registos de actividades
empresariais de parentes seus, uma prática normal de famílias próximas do
poder, em democracias emergentes. A história e a memória mostram que as
famílias presidenciais moçambicanas, quando um seu parente assume o comando dos
destinos da Nação, elas prosperam empresarialmente e com facilidade. Foi assim
com as de Chissano e Guebuza. A filha deste último antigo Chefe de Estado,
Valentina Guebuza, é uma das mulheres jovens mais poderosas, brilhantes e
inovadoras de África, segundo várias publicações internacionais especializadas,
que arrolam, também, a conhecida angolana Isabel dos Santos.
A
filha do Presidente Nyusi está, discretamente, a tornar-se uma mulher de
negócios, de acordo com a Africa Intelligence. Ela é accionista (com uma
participação de 50%) na Dambo Investe, fundada em Fevereiro de 2014, em Maputo,
e que opera no sector de importação e exportação, hotelaria e turismo,
exploração mineira, entre outros interesses. O seu parceiro no empreendimento é
Hipólito Michel Ribeiro Amad Ussene, que criou outra companhia, a Nyakali Oil,
em Abril, em que ele detém 1% e a Dambo Investe 99%. A Nyakali Oil vai-se especializar
na exploração, produção, venda e distribuição de energia, petróleo e gás.
A
avaliar pela apetência que os dirigentes moçambicanos e os seus parentes têm
pelo negócio, tudo leva a crer que Cláudia, que emerge sorrateiramente neste
ramo, trilha os caminhos de Valentina Guebuza, que durante a governação do seu
progenitor cresceu como cogumelo?. Ela vai querer suplantar a filha do
antecessor do seu pai ou irá alargar os seus tentáculos empresariais para
atingir, de uma vez, o patamar de Isabel dos Santos?
Casimiro
Cosme Nhussi, um dos irmãos do Presidente Filipe Nyusi, é, provavelmente, o
Nyusi que fez ecoar primeiro o nome desta família através da arte e longe do
ramo empresarial. Casimiro tornou-se accionista do Grupo Namatil.
Esta
empresa foi criada no fim de 2014 pelo advogado António Salvador Nkamate,
Muilene Lagos Lidimu, filho do general Lagos Lidimu, que é próximo de Filipe
Nyusi, e Simbili Alberto Puchar Mtumuke, o filho do general Atanásio Salvador
Mtumuke, actual ministro da Defesa.
Casimiro
é residente no Canadá, onde é um dançarino profissional e músico. Em 2002,
fundou a companhia de dança NAfro Dança Productions em Winnipeg. Antes
disso, foi director artístico da aclamada Companhia Nacional de Canto e Dança
(CNCD).
Outros
interesses empresariais dos filhos do Presidente da República
Se
ser filho de um simples governante já é um trampolim para o sucesso, imagine-se
a quantidade de empresas que, talvez, os parentes do Chefe de Estado estão a
projectar e o alcance dos seus tentáculos em diversas áreas de negócio.
De
acordo com o BR nº 48, III Série, 2º Supl., de 17 de Junho de 2014, Florindo
Filipe Jacinto Nyusi é sócio da Imográfica, Limitada, cujo objecto social é a
“criação gráfica, design gráfico, impressão digital, impressão offset, reclames
luminosos, impressão de revistas e jornais, edição e impressão de livros
escolares, estamparia, serigrafia, decoração de interiores, publicidade em
geral e outros serviços”.
São
sócios de Florindo Nyusi os cidadãos Joaquim Augusto Machado da Silva e Pedro
Amadeu Pereira da Silva. A empresa Irmãos Morreia Moçambique, Limitada está
ligada à Imográfica, Limitada.
A
irmã de Florindo, ou seja, Cláudia Nyusi, tem inscritas em Moçambique duas
sociedades comerciais. A primeira foi registada em 2001 e chama-se ULANDA,
Limitada. A sua parceira é Nimbuka Lagos Henriques Lidimo. O objecto social da
ULANDA é a “criação, construção, remodelação, gestão e exploração de espaços,
equipamentos e infra-estruturas de turismo e de lazer, assim como a organização
de eventos e actividades nesses espaços, equipamentos e infra-estruturas”.
Estas
são apenas algumas mostras dos interesses empresariais da família do Presidente
da República. Aliás, ele própria está no trilho do Nyusibusiness e
segue, paulatinamente, os passos do seu antecessor na área de negócios.
Estiva
é o negócio do Nyusi. De acordo com o Boletim da República (BR) número 17, III
Série, de 27 de Abril de 2005, o actual Presidente da República é accionista da
Sociedade Moçambicana de Estiva, S.A.R.L. (SOMOESTIVA), Limitada.
O
objecto social desta empresa, na qual Nyusi detém acções é, entre outros, “o
manuseamento de carga nacional e em trânsito internacional a bordo e fora dos
navios atracados nos portos de Maputo, Inhambane, Beira, Quelimane, Macuse,
Nacala e Pemba, estiva e serviços auxiliares de estiva”, bem como “manuseamento
de carga a bordo dos navios ancorados ao largo em caso de necessidade”.
A
sociedade poderá, também, mediante resolução da assembleia-geral, “alargar as
suas actividades a conferências, peritagem, superintendência e agenciamento de
navios, gerir participações e participar, sem limites, no capital de outras
sociedades, subsidiárias ou filiadas e em empresas e agrupamentos de empresas,
consórcios, associações empresariais ou outras formas de associação,
participar, directa ou indirectamente em projectos de desenvolvimento que de
alguma forma concorram para o objecto da sociedade e, com o mesmo objectivo,
aceitar concessões”.
São
sócios de Nyusi nesta empresa de estiva os cidadãos Agostinho Francisco Langa
Júnior, Amir Ali Amade, Arnaldo Júlio Caetano Meque, Boaventura Marcelino
Cherinda, Carlos Fernando Bambo Nhangou, David Luís Paiva Gomes, Hélio Bento
Maungue, Joaquim Veríssimo, Sulemane Jaime Nguenha e Américo António Amaral
Magaia.
A
STEELSA, Sociedade Técnica de Empreendimentos, SARL, a MG-Moçambique Gestores,
SARL e o SINPEOC-Sindicato Nacional de Estiva e Serviços Correlativos são as
instituições sócias, a título corporativo, da SOMOESTIVA.
O
@Verdade apurou que Nyusi está apenas ligado, oficialmente, a esse
empreendimento!
É
importante o público saber para controlar
O
@Verdade pediu a opinião do jornalista e activista Marcelo Mosse sobre estes
empreendimentos. Mosse considera que o conhecimento destas informações, por
parte da opinião pública, “é fundamental pois permite controlar até que ponto
os negócios públicos estão a ser canalizados, sem transparência, para as
empresas dos parentes do Presidente, distorcendo princípios elementares de
concorrência livre e drenando dinheiros públicos para bolsos privados sem
justificação aparente”.
Mosse
referiu ainda que a materialização da predisposição do Chefe de Estado,
manifestada no seu discurso inaugural, de promover a transparência e a separação
de águas entre política e negócios, deve ser vigiada.
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