Solução
pode parecer radical, mas, diante da corrupção, da violência e da funesta
conexão entre o esporte e a política, é mais do que sensata, opina o
ex-torcedor Alexander Andreev, chefe da redação búlgara da DW.
Dez
anos atrás eu deixei de assistir a jogos de futebol, apesar de sempre ter
gostado. Já naquela época, o sistema do "futebol profissional" era
asqueroso, e eu me sentia enojado.
Nem
é necessário enumerar os motivos, eles são tantos: a máquina de dinheiro,
alimentada por direitos de transmissão e licenciamento, por publicidade,
patrocínios, ingressos e artigos para torcedores, mas também por casas de
apostas ilegais e pelas transferências por valores astronômicos dos jogadores.
E – como está mais claro do que nunca nestes últimos dias – no fim das contas
isso tudo gera uma corrupção monstruosa.
Acrescente-se
a violência excessiva nos estádios e no caminho até eles; os excessos etílicos
nos dias de partidas; o vandalismo nos trens e ônibus de torcedores, nas
estações e nos pontos; os hooligans e os ultras, com seu racismo e sua
homofobia.
E
aí há a funesta conexão entre o futebol profissional e a política em muitos
países, quando ambos lucram mutuamente. E – por último, mas não menos
importante – o questionável patriotismo da mão-no-peito, assim como a pressão
social para que todos cantem o hino nacional.
Eu
mesmo joguei futebol num clube, e por anos a fio fui fascinado por esse esporte
fantástico. Posso compreender perfeitamente que bilhões de homens e mulheres
deem tudo pelo futebol, que a alegria antecipada pela próxima partida da sua
liga favorita os ajude a atravessar a semana. E nem todos os torcedores são, de
forma alguma, hooligans, racistas ou nacionalistas propensos à violência.
Pelo
contrário: em sua maioria eles são cidadãos totalmente normais, simpáticos e
decentes. Também políticos e escritores, empresários e filósofos, astros e
estrelas de todo o mundo são fãs declarados desse esporte.
Eles
todos não só tornam o sistema "futebol profissional" socialmente
aceitável, como o elevam à categoria de vaca sagrada, que ninguém pode atacar.
Justamente pelo fato de o futebol entusiasmar as massas, por ser um esporte
democrático e não elitista, porque para chutar o couro não é preciso gastar uma
fortuna em equipamento.
E , afinal, porque também é bonito de se ver. Diante de tudo
isso, ninguém quer ser o estraga-prazeres.
Só
que nós não só podemos, como devemos ser! À primeira vista, assistir a jogos de
futebol é a ocupação mais inofensiva deste mundo. A pessoa é envolvida pela
complexidade e beleza do jogo, vibra com o "seu" time e, ao mesmo
tempo, esquece o dia a dia – enfim, relaxa.
Mas,
com isso, o espectador inconscientemente vira cúmplice de um sistema que só
sobrevive por que as Copas do Mundo mantêm um público de bilhões colado à
televisão, assistindo à propaganda e acompanhando o esticado bla-bla-blá dos
especialistas, comprando ingressos, figurinhas, camisetas e mais um monte de
bugigangas.
Parar
de sustentar voluntariamente esse sistema é uma decisão sensata e mais do que
urgente. Pode soar irrealista ou arrogante: mas cada um que diz "não"
ao futebol está contribuindo para um mundo melhor! Mesmo que a grande maioria
das pessoas se recuse a reconhecê-lo, apesar dos últimos acontecimentos.
Reforçando:
futebol é ótimo quando se joga no fim de semana, com as crianças ou com velhos
amigos. E esse esporte poderia reencontrar suas raízes se nós o jogássemos
ativamente, em vez de ficar só olhando na televisão, de cerveja e batata frita
na mão. Por isso, minha gente: parem de ver futebol!
Alexander
Andreev – Deutsche Welle, opinião
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