Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Foi
bonita a festa? Não, não foi. Todos os sinais faziam prever uma batalha campal.
E ela acabou por acontecer. Não é a primeira vez. Não será, talvez, a última. A
festa do futebol transformou-se numa espécie de guerra civil sazonal. E isso
não é admissível.
Com
a família dividida entre benfiquistas e portistas, tenho sempre a tentação de
levar os meus filhos a assistir a um clássico. Seja na Luz ou no Dragão, os
meus camaradas do desporto invariavelmente aconselham: "Imagina que o
miúdo, na bancada do Porto, celebra o golo do Benfica...". Tenho seguido
as palavras deles, sábias, experientes - e fico em casa.
No
domingo, num estafado programa televisivo, cujo valor-notícia é igual a zero,
com câmaras a seguir em direto na autoestrada as traseiras de um autocarro, o
prenúncio era de violência. Não devia ser. O momento abria caminho à festa. A
festa dos vencedores e o respeito pelos vencidos. O futebol, convém lembrar,
não é uma batalha tribal, é um espetáculo desportivo. Contudo, a regra
anacrónica, troglodita, manteve-se. E, no dia seguinte, nos títulos da festa,
aparecem "detenções", "casas de banho incendiadas",
"vidros partidos", "espancado pela polícia à frente dos filhos
menores".
Se
o futebol é um espetáculo, quem a ele deseja assistir não merece entrar num
cenário de desobediência civil, com escolta policial, na "caixa de
segurança", sob pena de, não o fazendo, ser barbaramente agredido. Pelos adeptos
rivais. Ou pela polícia. A atuação do comandante da esquadra de investigação
criminal da PSP de Guimarães foi, deveras, exagerada. Há uma provocação feia -
o adepto ter-lhe-á cuspido na cara. Se o fez, não o devia ter feito,
obviamente. Mas a reação agressiva do agente foi mais que desproporcionada. E
leva-nos a pensar: se um polícia atua assim no espaço público, em frente às
câmaras de televisão, há que temer encontrá-lo na solidão de uma esquadra.
O
espetáculo, assim, é miserável. Não basta os responsáveis dos clubes,
terminadas as incursões bárbaras, lamentarem os incidentes. Nas entrelinhas da
linguagem da bola no ar, o fogo continua por circunscrever. Enfim, os clubes
precisam de humanizar, de socializar as suas claques, sob pena de serem
responsabilizados pela guerra. Que não é santa, mas (a mim ainda) espanta - o
que assistimos no domingo é do domínio da selvajaria, da ausência de quaisquer
balizas sociais.
Editora-executiva-adjunta
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