Mário
Soares – Diário de Notícias, opinião
Na
passada semana, Pedro Passos Coelho fez vários discursos que caíram muito mal
àqueles que o ouviram. Os portugueses perceberam há muito, mesmo os que são
seus apoiantes, que o governo e a coligação que dirige estão no fim, sem
remédio.
A
coligação que em certa altura não era nada desejada passou a sê-lo, porque faz
alguma falta para as eleições que se aproximam e que o Presidente da República
quer que se façam o mais tarde possível. Passos Coelho - que nunca gostou de
Paulo Portas, bem como o Presidente Cavaco Silva, cujo único protegido sempre
foi Passos Coelho - também nunca falou, que se saiba, em favor de Paulo Portas.
Os
portugueses que ainda vivem em Portugal e têm fome, e os poucos da classe média
que ainda existem, esperam as eleições que se aproximam para o atual governo
ter finalmente de acabar.
Se
for só isso, repito, uma vez que os malefícios que fizeram ao país estão à
vista e poderão ter consequências mais sérias.
Na
passada sexta-feira, em Aguiar da Beira, Passos Coelho estava a comer queijos -
era o Dia do Trabalhador, note-se - e encontrou o seu amigo Dias Loureiro, que
foi em tempos ministro da Administração Interna e que ganhou muito dinheiro,
como, aliás, o atual Presidente da República, sem se saber bem como nem porquê.
Foi um encontro entre amigos solidários, não só pelo interesse dos queijos, ao
que dizem muito agradável. O elogio que Passos Coelho fez a Dias Loureiro, como
empresário-modelo, é verdadeiramente indigno.
UMA
DECISÃO ATUAL
No
dia 29 de abril fui ao Teatro da Trindade, que estava completamente cheio - à
craquer, como dizem os franceses -, para ouvir um discurso decisivo do
professor Sampaio da Nóvoa. Fiquei sentado ao lado do meu amigo e antigo
presidente da República, Jorge Sampaio, e de muitas outras personalidades de
grande vulto.
Além
das que enchiam o teatro, havia imensas pessoas na rua, mulheres e homens, por
não poderem entrar. Mas ficaram até ao fim.
De
que se tratou? Do excelente discurso que fez Sampaio da Nóvoa a anunciar a sua
candidatura à Presidência da República. Para ganhar. E o público, mesmo o que
não conseguiu entrar na sala do Trindade, aplaudiu e manifestou-se com muito
fervor. Oxalá que assim seja. Também eu e Jorge Sampaio o aplaudimos quanto
pudemos e recebemos o seu abraço quando saiu do palco.
Por
mim não tenho dúvidas. Sampaio da Nóvoa não vai cruzar os braços e vai ser o
nosso futuro presidente da República. A minha mulher diria "Deus o
proteja", mas eu, que não sou religioso, limito-me a pensar que vai ser
eleito, como é tão necessário para Portugal.
DE
NOVO A NATUREZA EM CAUSA
O
mundo está perigoso e extremamente difícil. Como antes talvez nunca tenha
acontecido. No plano da natureza, com os tufões, os tremores de terra, os
incêndios e a queda violenta das águas, como voltou a acontecer no Chile. Mas
não só.
As
guerras desenvolvem-se em vários continentes com o fundamento em divergências
entre as religiões. No Oriente, os muçulmanos não deixam de fazer estragos, e
Israel, sob a direção do ditador insuportável e perigoso, Benjamin Netanyahu,
radicaliza posições.
Felizmente
que há duas grandes figuras moderadas e extremamente inteligentes, que têm uma
visão do futuro que marca os seus e outros Estados. Refiro-me, como os meus
leitores já perceberam, ao presidente norte--americano Barack Obama e ao Papa
Francisco.
Barack
Obama, a dois anos do fim do seu mandato e com a oposição permanente dos
reacionários republicanos, tem vindo a desempenhar um papel extraordinário
tendo em vista o restabelecimento de relações com Cuba, abrindo as portas aos
dois Estados e oferecendo ao seu interlocutor uma excecional oportunidade que
está em marcha.
Quanto
ao Papa Francisco, todos os dias nos fala invocando as dificuldades das boas
causas e promovendo o diálogo e o entendimento entre as pessoas e as diferentes
religiões.
A
verdade, contudo, é que além das excelentes personalidades referidas e o papel
que desempenham há, por outro lado, os responsáveis pelos mercados usurários
que tão mal têm feito à humanidade, explorando desenfreadamente os recursos
naturais, nomeadamente o petróleo.
É
necessário e urgente que os geólogos e outros cientistas intervenham,
impondo-se também o apoio dos políticos e dos governantes que queiram defender
a Terra contra os mercados usurários.
É
preciso combater os efeitos decorrentes das ações agressivas contra a natureza
que favorecem fenómenos como o que ocorreu no Nepal, onde morreram até hoje
cerca de sete mil pessoas, afetando mais de oito milhões de pessoas.
O
mundo, como disse acima, está perigoso. Os conflitos e as guerras entre Estados
e religiões são cada vez maiores. O que é desastroso.
Quanto
à Europa, espero que tenha deixado de pensar e atuar como fez no tempo
dominante da senhora Merkel e dos seus apaniguados. O Parlamento Europeu está a
ter de novo líderes do socialismo democrático e da democracia cristã, ou seja,
dos partidos que construíram a Europa. E que impeça tragédias como as que temos
vindo a assistir com a fuga de milhares de pessoas vindas dos Estados do Sul do
Mediterrâneo.
Isto
é, a Europa tem de voltar a ser o que foi no passado e manter a sua relação com
os Estados Unidos de Barack Obama.
MARIANO
GAGO
Volto
a Mariano Gago para fazer uma referência à homenagem que a fundação que tem o
meu nome não podia deixar de levar a efeito. O auditório da Fundação esteve
completamente cheio, apesar de não ser pequeno. A família - e em particular a
mãe dele, tão triste - pediu-me que indicasse os nomes das personalidades a
usar da palavra na homenagem.
Assim
foi feito, sendo de assinalar a imediata aceitação e disponibilidade das
pessoas que o conheceram e que foram suas amigas. Uma sala cheia a transbordar
de carinho por Mariano Gago, a ouvir atentamente as palavras de Sobrinho
Simões, Vítor Malheiros e Gaspar Barreira.
UMA
DATA MEMORÁVEL
A
Maria de Jesus, minha companheira de sempre, fez no dia 2 de maio 90 anos,
tantos como eu já tenho. Casámo-nos em 1949 e assim nos mantemos desde sempre.
Os
nossos dois filhos resolveram fazer-lhe uma homenagem entre os nossos amigos de
sempre, o que foi um sucesso. Estiveram presentes os netos, inclusivamente os
mais pequenos, que são adoráveis, a irmã mais nova, Judite, a única que resta
de uma grande família, e os sobrinhos, primos e toda a família, a par de mais
de uma centena de amigos, alguns de velha data.
Foi
uma bela ocasião para rever velhos amigos que tanto gostam dela.
Por
mim, como cônjuge de sempre, limitei-me a ouvir, feliz por ela ter entrado,
como eu, nos 90 anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário