Os
deputados de São Tomé e Príncipe têm inovado extraordinariamente no que
concerne à discussão e aprovação de leis e a Organização das Nações Unidas não
têm, infelizmente, dado por isso.
Primeiramente,
os parlamentares são-tomenses adoptaram, para as sessões plenárias, as técnicas
de Wrestling, a luta profissional que mescla o teatro e a porrada a sério,
cuja origem remonta ao século XIX, nos Estados Unidos de América.
Em
Junho de 2014, assistimos todos ao primeiro combate profissional entre os
deputados do ADI e o resto do mundo constituído pelos camaradas do MLSTP-PSD,
PCD, UDD e MDFM. Na altura, movido pelo meu conhecido fanatismo pelas lutas
profissionais, registei dois momentos sublimes. Cena nº. 1: Levy Nazaré, do
ADI, ao rugir ininterruptamente “palerma pah, palerma pah, cala a boca”, aplica
umknock out técnico-político ao ex-Primeiro Ministro, Gabriel Costa. Cena
nº. 2: Levy Nazaré, ao vociferar “o senhor gosta de lutar, vem lutar”,
gesticulando letalmente o braço direito, encerra o combate com um submission ao
ex-Premier. “O senhor gosta de lutar, vem lutar” é uma forma bastante
amorosa de dizer “vem que te parto os cornos, seu medricas”. Adoro essas
demonstrações de virilidade.
Na
presente legislatura, os deputados decidiram mostrar aos são-tomeses que
atingiram a maturidade, assumindo o mutismo como forma de discussão nas
plenárias, o que representa uma evolução salutar e um exemplo público de
pacificação.
O
Parlamento aprovou, na generalidade, na semana passada, o Orçamento de Estado
de 150 milhões de euros e nem um sonido se ouviu durante a discussão. Reparem,
um debate sobre previsões monetárias e financeiras apresentadas sob forma de
complicados cálculos estatísticos em que nenhuma das parte emite o mínimo
rugido possível constitui uma tarefa bastante árdua. E os deputados
executaram-na com preciosismo.
-
Bom dia, senhores deputados. Alguém pretende intervir no debate sobre o
Orçamento apresentado pelo Governo? Questiona o presidente da Assembleia
Nacional.
-
Vá, malta, diga qualquer coisa. Assim não dá. A gente, no final, já conversa
sobre o subsídio de cada um. Insiste o presidente, num demonstrativo esforço de
incentivo.
- Zemé tã. Ouve-se uma trémula voz do fundo da sala.
De
acordo com as teorias da Psicologia, os deputados evoluíram do estádio de
adolescência rebelde, em que tudo se resvala para socos, pontapés e cotovelas
para o de zemé tã*. Não li nenhuma notícia que desse conta deste gritante
esforço de humanização do diálogo no Parlamento. Que ingratidão da comunicação
social!
Num
país com tantas praias de água azul e areia fina, não se percebe como os
deputados forjam motivação para se dedicar tanto ao trabalho. Baldar-se na
Praia Pomba com algumas cervejas fresquinhas sabia melhor. Neste caso, bastaria
uma nota ao Presidente da Assembleia: “Diogo, estás porreiro ou não queres
dizer? Ouve, o Orçamento de Estado está aprovado e não se fala mais nisso. Dá a
dica ao Primeiro-Ministro para o homenzinho avançar com o Dubai”.
*Zeme
tã é uma expressão típica de uma das línguas tradicionais são-tomenses que
significa resignação, conformismo, aceitação, embora com reservas. A expressão,
equivale, no Brasil, ao “falo nada, só observo”.
Ludmilo
S. Rosa - Téla Nón (st), opinião
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