terça-feira, 5 de maio de 2015

São Tomé e Príncipe. O ORÇAMENTO ESTÁ APROVADO E O RESTO É DUBAI




Os deputados de São Tomé e Príncipe têm  inovado extraordinariamente no que concerne à discussão e aprovação de leis e a Organização das Nações Unidas não têm, infelizmente, dado por isso.

Primeiramente, os parlamentares são-tomenses adoptaram, para as sessões plenárias, as técnicas de Wrestling, a luta profissional que mescla o teatro e a porrada a sério, cuja origem remonta ao século XIX, nos Estados Unidos de América.

Em Junho de 2014, assistimos todos ao primeiro combate profissional entre os deputados do ADI e o resto do mundo constituído pelos camaradas do MLSTP-PSD, PCD, UDD e MDFM. Na altura, movido pelo meu conhecido fanatismo pelas lutas profissionais, registei dois momentos sublimes. Cena nº. 1: Levy Nazaré, do ADI, ao rugir ininterruptamente “palerma pah, palerma pah, cala a boca”, aplica umknock out técnico-político ao ex-Primeiro Ministro, Gabriel Costa. Cena nº. 2: Levy Nazaré, ao vociferar “o senhor gosta de lutar, vem lutar”, gesticulando letalmente o braço direito, encerra o combate com um submission ao ex-Premier. “O senhor gosta de lutar, vem lutar” é uma forma bastante amorosa de dizer “vem que te parto os cornos, seu medricas”. Adoro essas demonstrações de virilidade.

Na presente legislatura, os deputados decidiram mostrar aos são-tomeses que atingiram a maturidade, assumindo o mutismo como forma de discussão nas plenárias, o que representa uma evolução salutar e um exemplo público de pacificação.

O Parlamento aprovou, na generalidade, na semana passada, o Orçamento de Estado de 150 milhões de euros e nem um sonido se ouviu durante a discussão. Reparem, um debate sobre previsões monetárias e financeiras apresentadas sob forma de complicados cálculos estatísticos em que nenhuma das parte emite o mínimo rugido possível constitui uma tarefa bastante árdua. E os deputados executaram-na com preciosismo.

- Bom dia, senhores deputados. Alguém pretende intervir no debate sobre o Orçamento apresentado pelo Governo? Questiona o presidente da Assembleia Nacional.

- Vá, malta, diga qualquer coisa. Assim não dá. A gente, no final, já conversa sobre o subsídio de cada um. Insiste o presidente, num demonstrativo esforço de incentivo.

- Zemé tã. Ouve-se uma trémula voz do fundo da sala.

De acordo com as teorias da Psicologia, os deputados evoluíram do estádio de adolescência rebelde, em que tudo se resvala para socos, pontapés e cotovelas para o de zemé tã*. Não li nenhuma notícia que desse conta deste gritante esforço de humanização do diálogo no Parlamento. Que ingratidão da comunicação social!

Num país com tantas praias de água azul e areia fina, não se percebe como os deputados forjam motivação para se dedicar tanto ao trabalho. Baldar-se na Praia Pomba com algumas cervejas fresquinhas sabia melhor. Neste caso, bastaria uma nota ao Presidente da Assembleia: “Diogo, estás porreiro ou não queres dizer? Ouve, o Orçamento de Estado está aprovado e não se fala mais nisso. Dá a dica ao Primeiro-Ministro para o homenzinho avançar com o Dubai”.

*Zeme tã é uma expressão típica de uma das línguas tradicionais são-tomenses que significa resignação, conformismo, aceitação, embora com reservas. A expressão, equivale, no Brasil, ao “falo nada, só observo”.

Ludmilo S. Rosa - Téla Nón (st), opinião

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