RECONSTRUIR A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA
William
Tonet – Folha 8 digital (ao)
No
mês de Maio decidi remeter-me a confidências.
A
primeira é a de estar no caminho de materializar um sonho, antes de morrer,
que é a de inundar os tribunais internacionais com denúncias dos vários
genocídios, que vêm ocorrendo em Angola ao longo dos anos, encobertos pela
força do petróleo.
Acredito
até, que tendo sobrevivido ao genocídio do 27 de Maio de 1977 (na minha família
fomos estúpida e cobardemente presos quatro: meu pai, eu e dois tios meus) os
dois últimos, foram enterrados vivos, pela escória assassina da DISA, polícia
política de Agostinho Neto.
Chega
de bloquear a minha mente, adiar a defesa da memória dos nossos camaradas,
amigos e familiares, barbaramente assassinados no 27 de Maio de 1977, por acreditarmos,
ingenuamente, que os assassinos e cúmplices, do genocídio de ontem, se possam
converter ao arrependimento e abrir avenidas de diálogo, numa Plataforma
Nacional Para a Reconciliação e Verdade.
A
insensibilidade é petulante. A arrogância é boçal. Os maus temem a verdade
como o diabo da cruz.
Uma
das especialidades deste regime, que ajudei (como muitos outros que
acreditaram, em rumo diferente), a chegar e manter-se no poder é o de subverter
o quadro da história, apagar as evidências dos crimes praticados, eliminar
adversários políticos internos e externos, espalhando o terror, para bloquear
as mentes dos milhões de autóctones indignados.
Temos
andado bloqueados, pelo sistema cruel e sanguinário de espionagem, da polícia
de Estado e das baionetas policiais e militares, que calcorreia por entre os
becos e esquinas das nossas casas e locais de trabalho, por isso nos calamos a
cada genocídio. O medo de reagir não nos pode, involuntariamente, tornar
cúmplices de um grupo que assaltou o poder e se sustenta com o sangue de
inocentes. Mudar é preciso. Hoje, o meu comandante Nito Alves saberá que eu,
o mais novo integrante do seu gabinete, pois o kota Santinho, já lhe vão
faltando as forças da idade e o Dedé, está acometido de uma doença, mas ainda
assim, continuam fiéis, tal como o Michel e muitos outros, que não traiem a tua
memória. Por isso, comandante Nito, pese Eduardo dos Santos me ter retirado
a carteira profissional de advogado e administrativamente, através de um acto
eivado de maldade e boçalismo, orientado o seu cacique do Ensino Superior a
não reconhecer o meu diploma, nada me tem afastado da cruzada de levar o
crime cometido contra ti e nossos camaradas, num total de 80.000, aos
tribunais internacionais.
Haia
vai, seguramente, começar por analisar este Genocídio que, felizmente, não
prescreve, levando os criminosos e assassinos a pagarem, por todos crimes
hediondos cometidos de 1977 à esta parte. Juridicamente estará, a denúncia,
melhor formatada e estruturada, para acolhimento processual.
Neste
Maio 2015, continua a repousar em Paz, sabendo que o teu legado, jamais será
esquecido. Hoje, a maioria te dá razão e, pese alguns excessos, quem não os
tem, sabem que eras um verdadeiro patriota, honesto e avesso a gatunagem dos
bens do erário público. Hoje é reconhecida a tua pureza e comprometimento com
as populações mais carenciadas, enquanto os teus algozes, são vistos como
traidores da esquerda e vendilhões do país.
A
podridão por onde trilha o país, a corrupção institucional, a discriminação, o
racismo, as injustiças, as prisões arbitrárias, os assassinatos selectivos e os
genocídios, são as imagens de marca de um MPLA transfigurado.
Nunca
imaginei, que nossos ex-camaradas fossem capazes do cometimento de tanta
maldade sanguinária, ao ponto de não se coibirem de através de balas
assassinas, recorrentemente, assassinarem quem lhes quer, por vezes, apenas,
sugerir outro caminho, diferente do da cultura da morte.
Não
foi para este quadro dantesco de Angola, que os verdadeiros nacionalistas
foram para os húmus libertários. Tinham o sonho de uma verdadeira
independência e da concessão e respeito por todos os institutos das liberdades,
nunca que para a manutenção do poder, fosse necessário “inaugurar” rios de
sangue...
Comandante
Nito Alves, acreditas-te no pedestal da tua inocência que Agostinho Neto
(cheguei a admirá-lo, numa certa fase), fosse um líder, comprometido com a
esquerda revolucionária. Não! Ele estava comprometido com o poder, o culto de
personalidade, a discriminação, o racismo, a eliminação física dos adversários
e o capitalismo voraz, que rouba ao país, para investir, no exterior...
Numa
só palavra, era um médico profundamente assassino. Um falso mito, um bluff!
Politicamente, para nossa desgraça colectiva, era uma nulidade, cujo maior
feito foi ter, colocado, nas estatísticas, 80.000 (oitenta mil) assassinatos
contra adversários políticos, internos e externos.
Por
isso o meu sonho, de ver todos aqueles que directa ou indirectamente, participaram
nos assassinatos do 27 de Maio de 1977, na Sexta-Feira Sangrenta e nos crimes
de Monte Sumi de 16 de Abril de 2015, possam responder pelos crimes de
GENOCÍDIO.
Continuar
calado é favorecer os algozes e estimular a perpetuação de outro crime maior. PAZ as almas de todos os camaradas do 27 de Maio de 1977. Paz a alma de todos
os compatriotas do Monte Sumi, mortos pela barbárie de um regime que nos
envergonha e todos deveríamos sair a rua até a sua saída do poder, para que
Angola, não mais conheça crimes de genocídio e volte a respirar LIBERDADE.
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