sábado, 20 de junho de 2015

Moçambique. Joaquim Chissano: Renamo foi criada por forças contrárias à independência




A guerra civil que devastou Moçambique durante 16 anos não foi iniciada por vontade dos moçambicanos e a Renamo foi criada por forças contrárias à independência e antidemocráticas, disse à Lusa Joaquim Chissano, antigo Presidente moçambicano.

O início da guerra em Moçambique "não é uma vontade de moçambicanos que tiveram contradições, que explodiu, (...) não vamos simplificar as coisas e dizer´ah, é vontade de uns jovens, porque reuniram-se numa mata e decidiram chamar-se Renamo'", afirmou Chissano, em entrevista à Lusa, alusiva aos 40 anos da independência do país, que se assinalam no próximo dia 25.

Segundo o antigo chefe de Estado moçambicano, entre os mentores da guerra desencadeada em Moçambique, um ano após a proclamação da independência, estão figuras ligadas ao regime colonial português e admiradores do ditador António Salazar, que eram contra a independência do país e prepararam as suas ações a partir da Rodésia, atual Zimbabué, e África do Sul, país que na altura eram dirigidos por regimes racistas.

"Não se chamava nem sequer isso [Renamo], não existia essa coisa que se chamava Resistência Nacional, o que havia era a Voz de Moçambique Livre e estava sedeada na África do Sul, eram portugueses que estavam lá", afirmou Joaquim Chissano, mencionando Jorge Jardim e Orlando Cristina, afetos ao regime colonial, como os precursores da organização.

Se o conflito tivesse sido instigado por moçambicanos, prosseguiu o ex-chefe de Estado e dirigente da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, o movimento que lançou a guerra não havia de se autodenominar através da sigla inglesa MNR, teria logo adotado a designação Renamo.

"[Quem estava por detrás da guerra] não era nenhum chamado Cossa ou Phiri [nomes de línguas nativas moçambicanas] ou qualquer coisa assim, era Orlando Cristina, português, que serviu nos serviços secretos portugueses", destacou Joaquim Chissano.

Sobre a reivindicação do que mais tarde viria a ser o líder da guerrilha da Renamo, Afonso Dhlakama, de que a sua luta visava a instauração da democracia em Moçambique, Chissano acusou o movimento de ter servido os interesses de forças contrárias à independência e à liberdade dos moçambicanos.

"Eu já disse a ele que ele não tem democracia nenhuma a ensinar, porque a Frelimo foi precisamente constituída para lutar pela democracia, a Frelimo estava a lutar contra quê, afinal? Estava a lutar contra a ditadura colonial fascista de Portugal, pela democracia, liberdade e direitos humanos, o que nos inspirou a nós todos foi a luta pelos direitos humanos", declarou.

Para Chissano, o facto de a Renamo ter sido abertamente apoiada por dois governos de minoria branca na África Austral e que estavam sob sanções da comunidade internacional, demonstra que a agenda do movimento nunca foi a implantação da democracia em Moçambique.

"Não é o Dhlakama que veio cá lutar pela democracia, ele foi lutar contra a democracia. Quem apoiou a Renamo? Foi a democracia ou foi 'apartheid', foi a democracia ou foi o regime minoritário racista da Rodésia?", questionou o antigo chefe de Estado moçambicano.

Após a independência, Moçambique mergulhou numa guerra civil durante 16 anos, opondo, por um lado, o Governo da Frelimo, e, por outro a guerrilha da Renamo, fundada com o apoio da Rodésia e da África do Sul do tempo do "apartheid".

O conflito foi encerrado a 04 de outubro de 1992 com a assinatura do Acordo Geral de Paz entre o Governo moçambicano e a Renamo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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