sábado, 1 de agosto de 2015

ANÁTEMA FEUDAL – I



Martinho Júnior, Luanda 

1 – A carga ideológica com sinal feudal, que anima as doutrinas indexadas ao capitalismo não foi suficientemente avaliada (ou reavaliada) e o papel de indústrias como as de armamento, assim como as leituras relativas aos “entendimentos geoestratégicos” sobre a utilização dos recursos e meios de inteligência, bem como as actividades militares, qualquer que seja a barricada, constituem evidente prova disso.

Como não pode deixar de ser, a carga ideológica de raiz feudal que anima a “nova” doutrina militar de Obama, reflecte-se no tipo de configuração da “ameaça”, ao colocar a Rússia e o Emirato Islâmico no mesmo pé de igualdade e fugindo como sempre à adequada consciência sobre a essência dos fenómenos e dos problemas.

A doutrina militar de Obama, sendo um reaproveitamento da doutrina militar de Bush, nesses termos possui toda a carga de “guerra psicológica”, coisa que as sucessivas administrações de turno nos Estados Unidos, nunca abandonaram desde a IIª Guerra Mundial, nem com o fim da “Guerra Fria”.

É evidente que não há interesse algum em políticas que visem o desarmamento e a complexa sociedade norte-americana é nesse sentido outra evidência.

A repressão acentua-se sobre as camadas mais desfavorecidas da população residente nos Estados Unidos, a ponto de serem as comunidades de afrodescendentes e de latino-americanos, aquelas que mais sofrem, aquelas que enchem as prisões em maior percentagem.

É evidente que os processos dialécticos de raiz cultural prevalecem, de modo a que por via das manipulações seja mais fácil ao capitalismo tal qual ele é entendido pelos falcões, fazer-se sentir aglutinando os processos de consumismo, de mercantilização e de deriva neo liberal.

O recurso a conceitos ideológicos ultra conservadores, está garantido desde as superestruturas da aristocracia financeira mundial, até às periferias instrumentalizadas, cabendo aos “think tanks” a modelagem doutrinária com o fito de melhor amarrar a panóplia de alianças, de “parcerias” (que palavra tão capciosamente agradável)  e a aplicação dos seus conceitos e decisões.

O grau de alienação nas sociedades do século XXI é comparativamente maior em relação às sociedades da época da “Guerra Fria”.

Os “think tanks” representativos, tornam-se assim elementos imprescindíveis para o exercício do domínio que se concentra nos propósitos da hegemonia unipolar, que tem sua base antropológica e cultural nos ambientes anglo-saxónicos, tirando histórico partido do que foi um dia o império britânico.

O inglês tornou-se, a par do dólar no sistema financeiro global, a língua tida como a mais vantajosa nos contactos internacionais de todo o tipo.

Num mundo caótico, onde o campo das alienações tem húmus para crescer e se multiplicar, é fácil recorrer a mais uma alienação, ainda que ela no fundo discorra a partir de elementos de interpretação marcadamente próprios das trevas feudais.

Perante o pântano ideológico a que o capitalismo nos conduziu, ainda assim há necessidade de avaliar quem detém a carga agressiva e quem articula os meios disponíveis de forma defensiva e simultaneamente de forma tão apassivante ou persuasiva quanto lhe é possível, uma contradição que afinal garante a longevidade do próprio capitalismo tornado processo de hegemonia unipolar.

Quero com isto dizer que é muito difícil hoje defender-se a paz não redutora de democracia e de liberdade, mais ainda que no tempo da “Guerra Fria”, pelo que a honestidade e a responsabilidade dos políticos que enveredem por essa trilha, tem de recorrer a uma dose maior de criatividade, de inteligência e de efectiva argumentação, escapando ao anátema feudal que mentaliza os falcões e torna tão disponível ao domínio o uso de armas… e escapando às grilhetas neo liberais capazes de estrangular povos inteiros com a bancarrota, ou um regime coercivo e prolongado de“austeridade”.

O próprio Vaticano é expoente dessa situação: quando surgiu um Papa que com consciência crítica passou a condenar o capitalismo selvagem, como agora com o Papa Francisco, os “mídia ocidentais” controlados pela aristocracia financeira mundial e pelas oligarquias vassalas, deixam de ser “caixa-de-ressonância” da Igreja Católica Apostólica Romana, mesmo onde ela é “igreja dominante”…

… E no entanto, ter presente a configuração das forças dos vários campos, é um recurso indispensável para quem, num ambiente humano tão alienado quão hostil, ousa ainda lutar pela paz!

*Integrado junto ao texto: Quadro ilustrativo das 35 mais potentes forças armadas do globo. (clicar para ampliar)

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