quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Portugal. O OVO E A GALINHA



Rafael Barbosa – Jornal de Notícias, opinião

1. Nunca se tinha anunciado tanto confronto de ideias. Só frente a frente entre os diferentes líderes dos partidos com representação parlamentar seriam 12 (com Costa e Passos a repetirem a dose três vezes). E mais dois debates com a presença simultânea de todos os candidatos da primeira liga. Ao todo, 14 oportunidades para uns quantos eleitores avaliarem os dotes de oratória e a consistência das propostas de cada um dos candidatos. Ainda que se deva admitir que, dado o atual nível de estima pela política e pelos políticos, para outros tantos fosse um pesadelo a evitar.

Na verdade, nunca saberemos se seria uma boa medida para diminuir a abstenção, ou se, pelo contrário, se corria o risco de fazer crescer o número dos que já não se dão ao trabalho de acorrer às mesas de voto, uma vez que a vertigem circense que sempre toma conta dos partidos nestas alturas se encarregou de provocar uma erosão nos debates, porventura até não sobrar nenhum. Seja porque a coligação PSD/CDS quis impor Portas, seja porque a Oposição vetou Portas - um enigma ao nível daquele do ovo e da galinha -, as comadres zangaram-se e o número de debates diminuiu de dia para dia.

Não tarda e ficaremos reduzidos ao que verdadeiramente interessa: duas ou três ideias repetidas até à náusea em sucessivos comícios, o som dos bombos nas arruadas, o entusiasmo dos convertidos que carregam as bandeirinhas nas feiras e os cartazes nas rotundas com fotos narcisistas e frases vazias.

Do mal, o menos, esta história já permitiu um daqueles momentos que marcam todas as campanhas: Paulo Portas, sentido de humor refinado, lembrou que "em nenhum país comunista haveria um debate com os adversários políticos, porque, se houvesse, era o último (...) Como sabem, ou lhes cortavam a cabeça ou os prendiam". Podem rir, era para ter graça.

2. Se a trapalhada da privatização da Metro e da STCP serve para alguma coisa é para demonstrar a urgência de uma reforma administrativa que permita atenuar a asfixia centralista que se acentuou nos últimos anos, chamem-lhe regionalização ou outra coisa qualquer. Entre as forças políticas do Porto, haverá quem não concorde de todo com a concessão de um serviço público a privados, como haverá quem a aceite, ainda que em termos diferentes dos que impõe o Terreiro do Paço. Com o que ninguém pode concordar é que uma decisão desta importância seja tomada à pressa e às escondidas do poder local, aquele que, com todos os seus defeitos, melhor conhece e defende os interesses dos habitantes da Área Metropolitana do Porto.

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