quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Laurinda Gouveia e Rosa Conde passam a arguidas no processo dos ativistas angolanos




As duas jovens angolanas respondem no mesmo processo de alegado golpe de Estado pelo qual outros 15 ativistas estão detidos desde junho.

Em Angola, mais dois nomes foram incluídos no processo dos mais de 15 ativistas detidos desde junho, por suposta tentativa de golpe de Estado. As jovens, Laurinda Gouveia e Rosa Conde que até esta segunda-feira (31.08) eram apenas declarantes, passaram agora a arguidas.

A DW África entrevistou Laurinda Gouveia sobre o desenvolvimento do caso.

DW África: Que novos dados foram apresentados para que as duas passassem de declarantes à condição de arguidas?

Laurinda Gouveia (LG): Na verdade foi devido às declarações que fizemos na sub-procuradoria , no edifício do bairro Kinaxixi, em Luanda, onde fomos notificadas para nos dizer que passávamos agora a ser arguidas e que no dia do julgamento poderíamos ser testemunhas. Então, comecei a falar e contei tudo o que vi e, em função das declarações que fiz, o sub-procurador depois de me fazer várias ameaças comunicou-me que passamos de declarantes a arguidas não detidas. Ele acrescentou que a decisão veio na sequência do interrogatório e com as respostas que demos podemos ir até ao tribunal juntamente com os ativistas que estão presos.

DW África: E que ameaças o senhor sub-procurador proferiu contra as duas?

LG: Por exemplo, dirigindo-se a mim disse que se publicasse ou desse a conhecer a alguns amigos mais uma vez qualquer notificação enviada pelas autoridades iria abrir um outro processo contra a minha pessoa e que a situação ficaria muito mais complicada. Em resposta disse-lhe que não podia estar a falar desta forma comigo. Foi então que me disse que não podia responder a ninguém sobre as perguntas que me tinha feito durante o interrogatório porque se o fizesse poderia estar a praticar um crime.

DW África: A Laurinda Gouveia esteve de facto envolvida numa suposta tentativa de golpe de Estado como afirma a polícia angolana?

LG: Não tenho experiência disso e em nenhum momento nos debates que tivemos (entre os ativistas) chegamos a falar disso. Até porque não temos condições para fazer um golpe de Estado e também porque não era a linha de pensamento dos debates que tivemos nos nossos encontros.

DW África: O que diz o seu advogado sobre este assunto?

LG: No momento da audição o advogado não disse absolutamente nada até porque na altura o sub-procurador exerceu praticamente uma tortura psicológica, forçando-me a falar e a dizer coisas, tentando dizer-me que tinha esquecido esta ou aquela informação. Então foi aqui que o meu advogado, que é também dos outros 15 ativistas, interveio para chamar a atenção do sub-procurador que insistia em questões que já nem me lembrava.

DW África: Soubemos que dois dos ativistas presos não estão bem de saúde. A Laurinda tem alguma informação sobre a saúde do Nito Alves e do Arante Kivuvu?

LG: Sei, até porque estive no domingo (30.08) com eles e o Arante está com uma inflamação na barriga, que surgiu depois de ele estar na prisão. E cada dia que passa essa inflamação aumenta de volume. Já o Nito Alves, está com problemas sérios de visão. Aliás desde o princípio tem dito que está a sofrer com dores de cabeça, muita febre e não teve ainda assistência médica. Assim, nestas últimas semanas como estava a sentir muitas dores o Nito pediu ao advogado para elaborar um documento para que fosse transferido para o hospital. O advogado fez a carta e as autoridades da própria cadeia onde ele está preso também assinaram a transferência mas até ao momento só transferiram o Arante. O Nito só está a receber injeções e disse-me que está muito preocupado com essas injeções porque nem sabe para que servem, se são para o matar ou para outra coisa qualquer. Mas o certo é que ele se encontra em más condições de saúde.

Nádia Issufo – Deutsche Welle

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