Díli,
30 set (Lusa) - A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) condenou hoje o
julgamento de dois jornalistas ingleses, Rebecca Prosser e Neil Bonner, detidos
pela marinha indonésia no estreito de Malaca, em maio, quando estavam a fazer
um documentário sobre pirataria.
"A
RSF apela às autoridades indonésias para que deixem de abusar da sua legislação
de imigração draconiana e suspenda de imediato o julgamento dos dois
jornalistas", que começou na terça-feira e deve continuar esta semana,
disse a organização.
Prosser
e Bonner, que foram detidos por estarem a filmar sem visto de jornalista,
estiveram presos 125 dias na ilha de Batam, tendo sido apresentados ao tribunal
acusados de violar a lei da imigração, cuja pena pode ir até cinco anos de
prisão.
Nove
indonésios estão igualmente a ser julgados por crimes punidos com penas máximas
de dois anos e multas de até 600 mil euros por apoiarem na realização do
documentário.
"É
inaceitável que os jornalistas sejam privados da sua liberdade e da sua família
durante mais de quatro meses simplesmente por uma mera irregularidade
burocrática", afirmou Benjamim Ismail, responsável da RSF na Ásia e
Pacífico.
"O
julgamento que começou ontem não deveria ocorrer. A única coisa sensata é o
juiz ilibar rapidamente os jornalistas e quem estava a trabalhar com eles.
Simplesmente estavam a fazer o seu trabalho numa zona de grande pirataria no
Sudeste Asiático", sublinhou.
A
RSF recorda que, no passado, os jornalistas que eram encontrados a trabalhar
sem visto eram deportados do país.
Prosser
e Bonner trabalham com a produtora inglesa Wall to Wall e foram para a
Indonésia em maio para realizar um documentário financiado pela National
Geographic sobre pirataria no estreito de Malaca, próximo de Singapura.
A
marinha indonésia deteve os jornalistas na ilha de Balakang Padang quando
estavam a filmar uma reconstrução de um ataque de piratas a um petroleiro.
Na
altura da detenção, o almirante indonésio Taufiqurrahman disse que o que o
grupo estava a filmar "poderia danificar a imagem do estreito de Malaca como
uma zona de crime".
Em
2004, os jornalistas franceses Valentine Bourrat e Thomas Dandois foram detidos
quando estavam a realizar um documentário para o canal franco-alemão Arte sobre
a ilha de Papua.
O
casal, que entrou na Indonésia com visto de turista, esteve detido durante dois
meses e meio e os dois foram condenados a uma pena equivalente ao tempo que
estiveram presos à espera do julgamento.
Este
caso foi visto como estabelecendo precedente para a posição das autoridades
indonésias relativamente a jornalistas estrangeiros no país.
ASP
// MP
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