quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Moçambique. TERRORISMO DE ESTADO OU TERRORISMO POLICIAL?




Há alguns dias escrevi aqui no Página Global sobre as buscas e apreensão de armamento em casa de Afonso Dhlakama. Porque a presidente da Liga de Direitos Humanos de Moçambique, Alice Mabote, se mostrou crítica da operação a casa de Dhlakama perguntava no título: ALICE MABOTE DEFENDE DIREITO DA POSSE DE ARSENAIS DE GUERRA EM CASA?. A pergunta mantém-se e creio ser pertinente.

O que não é pertinente é a policia ter atuado sem um mandado de busca sabendo que não pode, não deve, entrar em casa dos cidadãos moçambicanos sem uma ordem expressa do tribunal. Qualquer cidadão sabe isso, não sendo razoável que as autoridades infrinjam a lei. A ninguém passou pela cabeça que a busca feita em casa de Dhlakama foi ilegal. Tão ilegal quanto o armamento de que ele dispunha em casa. Ora, se Dhlakama tem o seu quinhão de terrorista, também é certo que a polícia ou alguém do Estado moçambicano tem o restante quinhão. Só falta saber quem ordenou a operação e em que moldes. O que significa que ficamos na incógnita se ali houve terrorismo de Estado ou terrorismo policial. Era muito útil que tudo fosse devidamente esclarecido e os responsáveis pela ilegalidade punidos.

É evidente que apesar da ilegalidade cometida, Dhlakama não pode pretender ser um cidadão diferente dos outros moçambicanos e possuir, sem licença, o armamento que possui, concorde ou não com esta evidência. Isso é terrorismo. Tal pertenção é tão repulsiva quanto o terrorismo de Estado ou o terrorismo policial. (LV/PG)

Polícia admite ter abusado da autoridade ao invadir a casa de Afonso Dhlakama na Beira

A Polícia da República de Moçambique (PRM) reconhece que o cerco e a invasão da residência do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, com vista a recolher as armas de fogo que estavam em poder dos seguranças deste, foi uma operação sem mandado judicial para o efeito, e uma acção que visava evitar que os instrumentos bélicos, que devem ser detidas exclusivamente pelas Forças de Defesa e Segurança, estivessem nas mãos de indivíduos sem licença para tal.

"Nós respeitamos os termos legais, mas neste caso foi uma acção para recolha de armas que estavam ilegalmente em mãos alheias e a criar situações de insegurança", disse Inácio Dina, porta-voz do Comando-Geral da PRM, acrescentando que “(...) o facto de alguém possuir uma arma de fogo, estar fardado e movimentar no meio das populações cria insegurança (...)”.

Afonso Dhlakama foi encurralado pela manhã da passada sexta-feira e os seus seguranças desarmados pela Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e pelo Grupo Operativo Especial (GOE) menos de 24 horas depois de ter reaparecido em Gorongosa, para onde se refugiou a 25 de Setembro último.

Na altura, estas duas forças governamentais repressivas e anti-motins, cercaram a casa de Dhlakama, sita no bairro das Palmeiras, e dominaram os seus seguranças, bloquearam também os acessos, forçaram os vizinhos a abandonarem as suas residências, e impediram a circulação de viaturas.

“Vocês têm vindo a acompanhar que a guarda do líder da Renamo tem estado a movimenta-se” em diversos pontos do país, “fardada e com armamento de diverso calibre”, o que cria pânico. “O dever da Polícia é evitar que situações desta natureza aconteçam (...)”, declarou o spokermam na terça-feira (13), à Imprensa, e sublinhou que o que aconteceu foi apenas a recolha de instrumentos que poderiam ser perigosos para o próprio Dhlakama, que, “agora, está em condições bem seguras".

"Nós estamos a falar de várias armas que estavam a ser detidas ilegalmente por indivíduos e serviam para hostilizar as populações, criando instabilidade", referiu Dina, que ao contrário do aconteceu e correu o mundo pela Imprensa, considerou que a recolha das armas que se encontravam com homens da Renamo e a proteger o seu líder foi mediante a persuasão (...), e tinha “informação bastante” sobre “a quantidade de armamento” em poder desta formação política, naquele lugar concreto.

@Verdade

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