Martinho Júnior, Luanda
1
– A campanha que os seguidores de Gene Sharp estão a congregar hoje, dentro e
fora das fronteiras de Angola, é algo que obriga a relembrar a própria história
do MPLA e dos primeiros anos de Angola independente e soberana.
É
evidente que o Movimento de Libertação não foi entendido e vivenciado por todos
em uníssono e algumas das correntes, evidenciavam interesses de muitos que
procuraram a todo o transe desvirtuar o rumo que se seguia.
Durante
a guerrilha e antes do 25 de Abril de 1974 o MPLA viveu:
-
Em Kinshasa, a crise provocada por Viriato da Cruz;
-
Em Lusaka, a crise providenciada através de Daniel Chipenda;
-
Em Brazzaville, a crise encomendada por via da Revolta Activa.
Todas
elas tinham suportes que contrariavam a linha seguida por Agostinho Neto,
suportes esses que tinham também vínculos com mecanismos de serviços de
inteligência de algumas potências e até, no caso de Lusaka, de cartéis
integrantes de “lobbies” tão poderosos como o dos minerais, que na
África do Sul foram formados por Cecil John Rhodes por alturas da formação da
própria União Sul Africana!
A
própria trajectória de Daniel Chipenda acabou por ser sintomática: foi ele que
conduziu efectivos que começaram por participar na “Operação Savanah” integrando
as South Africa Defence Forces (SADF) do “apartheid” e estiveram na
origem do Batalhão 32, o Batalhão Búfalo!
2
– Durante o período entre o 25 de Abril e o 11 de Novembro, outras correntes
fermentaram, entre elas:
-
Os Comités Amílcar Cabral, os “CACs”;
-
A Organização Comunista Angolana, a “OCA”;
-
O “fenómeno fraccionista” que viria a eclodir a 27 de Maio de 1977.
Se
os dois primeiros focos acabaram por ser neutralizados e muitos dos seus
componentes, apesar de suas ideologias, integrados nos esforços do MPLA, o
terceiro foco pôs em causa o poder soberano da República Popular de Angola por
via de processos violentos, utilizando as armas e acabando por assassinar
alguns dirigentes do estado angolano e do MPLA, o que motivou uma repressão
sangrenta em algumas regiões, repressão impossível de controlar que alguns, na
maior parte com insuficiente ou oportunista autoridade e fundamento, evocam até
hoje!
3
– Há síndromas que foram marcando comportamentos, atitudes e o emprego de
ideologias, espelhados e encadeados uns nos outros por que esse tipo de
sensibilidades buscaram duma forma ou de outra conexões externas que se
manifestaram com maior ou menor intensidade e por isso foram mais ou menos
impulsionadas para o radicalismo e até, em alguns casos para o ódio (os
compromissos ao trazerem responsabilidades recíprocas podem vir a ser assumidos
desse modo).
Esses
síndromas constatavam-se no radicalismo de sua expressão, como no comportamento
e na atitude psicológica de seus instrumentos humanos, de forma excludente e
não integradora, que fogem ao diálogo, ou à busca de alargados consensos, antes
se fecham, mobilizando quantas e quantas vezes no sentido do ódio e não no
sentido da esperança, uma esperança que tinha todo o sentido de ser por que
motivada pelo rumo que Angola, livre de colonialismo, livre de “apartheid” e
livre de suas mais importantes sequelas, acabou por vir a assumir com o início
da construção do estado democrático e de direito conforme hoje…
4
– A Universidade de Chicago, que é preciso não esquecer é uma criação do clã
Rockefeller, está intimamente associada a estes comportamentos, manifestos em
várias doutrinas e escolas; evidencio aqui duas delas:
-
Escola Económica de Chicago, (tendo como expoente máximo Milton Friedman,
Prémio Nobel em Ciências Económicas de 1976, incentivando o capitalismo neo
liberal);
-
Escola de “pensadores Straussians”, (responsável pela aplicação de
comportamentos que evoluem abrindo espaço ao caos, a partir da Faculdade de
Ciências Sociais, tendo como notável o Professor Emérito Leo Strauss);
A
essas correntes juntam-se por exemplo o Instituto Albert Einstein, com a
doutrina de Gene Sharp, referente à “teoria da resistência não violenta” e
George Soros, um híbrido de filantropo e especulador financeiro, com a “Open
Society” (por mim referenciado como fctor de desestabilização desde os
artigos que publiquei no Actual em 2003)…
5
– A esperança própria dum estado jovem, de 40 anos, independente, soberano,
estreando consensos e diálogos possíveis com o exercício da paz, da democracia
e do direito, não satisfaz portanto alguns, empurrados por interesses e
correntes com expressão internacional.
Ao
assumirem radicalismos que não respeitam a história de Angola, não respeitam o
Movimento de Libertação em África, não respeitam o estado democrático e de
direito, nem as suas instituições, aqueles que assumem a filosofia de qualquer
uma das referências acima enumeradas (e outras mais) e seus apoiantes internos
e internacionais, comportam-se e demonstram atitudes que Angola e o MPLA já
experimentaram noutras eras, com outras formas e em conjunturas distintas,
transportando-se para as conjunturas da actualidade agora inspirados por
acontecimentos como as“revoluções coloridas”, as “primaveras árabes” e
os golpes de estão a verificar-se em África como na América Latina, em muitos
casos com ingredientes comuns com comportamentos e atitudes que já foram vistos
e sentidos no passado!
A
exclusão que aqueles que demonstram esses comportamentos e atitudes radicais
elegem por que é o “produto energético para a sua luta”, são o resultado
duma cadeia de processos egoístas, filtrados do carácter das sociedades
capitalistas neo liberais e encontram eco e apoio desde alguns especuladores
financeiros internacionais que se dizem filantropos, até conspiradores
profissionais indexados a processos de inteligência, ou “média de
referência” de representantes dum elitismo como o de Bilderberg, num
emparceiramento privilegiado.
Esperaram
a ocasião para que a corrente que integram, uma corrente psico-socialmente
doente por que movida por interesses egocêntricos típicos nos países do norte
que não podem esconder, para colocar a tónica de sua presença onde quer que
seja…
Em
Angola esperaram pela crise do preço do barril do petróleo, esperaram pelas
repercussões humanas, económicas e financeiras dum Orçamento Geral do Estado
vulnerável e debilitado, para melhor se poderem fazer sentir, correspondendo
aos estímulos de seus donos e de seus inspiradores, conforme tenho continuado a
chamar a atenção em “O Laboratório AFRICOM”…
O “cavalo
de Tróia” dos 15+2 que estão a ser julgados pressupõe que há mais “células
adormecidas”que esperam sua ocasião para despontar, entre elas as que aguardam
sua vez conforme à série de minha autoria, “Ainda o Vale do Cuango”…
As
doenças psico-sócio-políticas, agravadas por traumas acumulados, não vão deixar
de existir em Angola tão cedo, pelo que há que se preparar para se lidar com
elas, de forma tão preventiva quanto é possível os angolanos!…
Foto: Presidente
Agostinho Neto, segundo desenho a carvão da autoria de Henrique Nogueira e Presidente
José Eduardo dos Santos, pintura a óleo sem veludo de Marcos Ntangu, em
exposição lado a lado à entrada da sala de exposições do Centro Cultural
Brasil-Angola (património da ENSA).
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