Ângelo
Alves*
Desde
2010 que a associação de editores de jornais e revistas da Alemanha entrega o
Prémio «Europeu do Ano». Na sua primeira edição o prémio foi atribuído a Durão
Barroso e nos anos subsequentes a figuras com Donald Tusk, presidente do
Conselho Europeu e ex-governante polaco ou a Enda Kenny, primeiro-ministro
iIrlandês e ex-vice-presidente do Partido Popular Europeu. Este ano foi
dedicado «aos 11 milhões de pessoas que vivem em Portugal». Quem o entregou, e
proferiu esta elucidativa frase, foi o comissário Günther Öttinger, actual
Comissário para a Economia, ex-vice-presidente da segunda Comissão Barroso,
conhecido pela aberta ingerência nos assuntos internos de vários estados e
célebre pela atoarda de que os países mais endividados deveriam ter as suas bandeiras
a meia haste nos edifícios da União Europeia. Segundo Öttinger o prémio é
entregue porque Portugal aplicou bem o programa da troika e conseguiu
«encontrar o caminho para mais emprego e competitividade». Mas disse mais: o
prémio era também um pedido para que os tais 11 milhões «possam manter uma
estabilidade» (…) «sem oscilações». Se parássemos por aqui a coisa dava para
rir.
Mas
não, o caso é mesmo grave e não dá para rir. Do lado do receptor do prémio
estava Rui Machete, o ainda ministro dos Negócios Estrangeiros que afirmou que
«cumprimos o que nos foi pedido e ajudámos a Alemanha a justificar o seu papel
de liderança», que destacou «o auxílio da Alemanha» e que notou que a língua
portuguesa é muito falada no Mundo e que isso tem permitido aos «investidores
alemães acesso a importantes mercados lusófonos». Falando em alemão realçou que
o Prémio era «uma grande responsabilidade para Portugal» e que portanto o
próximo governo «tem o dever de manter o rumo».
A
inqualificável e vergonhosa atitude de Machete, profundamente lesiva da
soberania, independência e dignidade nacionais só tem uma explicação: a seita
que tenta manter-se no poder em Portugal é a versão nacional de uma seita maior
da qual Öttinger é uma das sinistras figuras de proa. Mas Machete conseguiu o
impensável: não só insultou os portugueses e participou activamente na
chantagem e ingerência externa – com toda a gravidade que este facto comporta
quando falamos do MNE – como conseguiu ser mais cínico e hipócrita que
Öttinger. Da nossa parte, acaba de ganhar o Óscar da vergonha nacional.
*Edição
de 05 novembro do jornal Avante! - opinião
Sem comentários:
Enviar um comentário