Pedro
Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião
Faltava
apenas este pequeno passo. Um passo pequeno para o Presidente da República, que
finalmente dá posse ao novo Governo! Um passo de gigante para António Costa,
porque recai sobre os seus ombros a responsabilidade de concretizar a promessa
por que se bateram todas as forças políticas da Esquerda que apoiam o Governo
do PS: o compromisso de inverter o rumo de destruição económica, social,
cultural e cívica que a Direita pretendia perpetuar, contra uma vontade
democrática exuberantemente atestada pelo resultado das eleições para a
Assembleia da República do passado dia 4 de outubro.
Foram
precisos 40 anos para que a Esquerda se reencontrasse. Tratou-se, na verdade,
de reatar uma comum tradição de rebeldia que alimentou a resistência contra a
ditadura de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, contra as guerras de África -
injustas e inúteis - contra a subserviência e o medo, contra a resignação à
fatalidade da pobreza e da ignorância. Um reencontro que se inspirou nos
valores partilhados da liberdade e da igualdade, gravados a fogo na
Constituição de abril.
O
Governo que hoje inicia funções é um governo de combate, destinado ao
cumprimento de uma missão de "alto risco" - acudir, de imediato, à
urgente "recuperação das condições de vida" miseráveis que o Governo
da Direita infligiu à generalidade da população portuguesa, conforme sublinhava
o Presidente do Grupo Parlamentar do PS, Carlos César, na passada terça-feira.
É
uma equipa coesa e empenhada, em sintonia com o seu programa de Governo,
envolvida na sua conceção e na construção dos indispensáveis consensos com os
partidos políticos que vão garantir, no Parlamento, a maioria necessária para
conduzir a bom porto o projeto político em que se traduz esta viragem
histórica. Uma tarefa, enfim, que terá de ser cumprida e inteligentemente
articulada em duas frentes distintas: na prática governativa e no trabalho
parlamentar.
Os
desafios são muitos e a sua complexidade é elevada. No plano interno, há danos
irreparáveis e outros de difícil ou morosa solução, condicionada por múltiplas
interdependências no quadro da economia global e das instituições europeias de
que fazemos parte. O projeto da construção europeia confronta-se com uma
perversa descrença na generosidade dos seus propósitos fundadores, nos valores
da solidariedade e do respeito pela dignidade humana, nas promessas de paz e de
prosperidade que lhe valeram o prestígio e o reconhecimento dos outros povos.
Esmoreceu a esperança que os povos vizinhos depositavam nos europeus,
flagelados por guerras que os obrigam a abandonar os seus territórios e
desprezados por uma Europa desconfiada e mesquinha que resiste a dar-lhes
acolhimento.
Os
recentes atentados terroristas vieram incendiar velhos medos e preconceitos que
ameaçam as grandes aquisições civilizacionais arduamente conquistadas após a
Segunda Guerra Mundial. É missão indeclinável do Governo da Esquerda enfrentar
as terríveis ameaças que impendem sobre nós e os nossos vizinhos, que colocam
em sério perigo as nossas instituições, alteram os nossos modos de vida e
degradam o próprio regime democrático. É a hora!
*Deputado
e professor de direito constitucional
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