Para
já, não foi apresentada nenhuma justificação oficial para a decisão. Mas,
segundo o economista Carlos Rosado de Carvalho, uma coisa é certa: a notícia
afeta a reputação dos bancos angolanos e de Angola, em geral.
Segundo
a agência de notícias Reuters, o Bank of America, entidade que mais fornecia
dólares aos bancos angolanos, suspendeu esta segunda-feira (30.11) a venda de
dólares norte-americanos a Angola.
O
Rand Merchant Bank, da África do Sul, que fornece as notas do Bank of America a
Angola, também anunciou na semana passada que um banco norte-americano tinha
decidido parar de vender dólares, mas não citou nomes.
Em
entrevista à DW África, o economista Carlos Rosado de Carvalho disse que a
notícia afeta a reputação dos bancos angolanos e de Angola, em geral. "Os
bancos angolanos, aparentemente, não conseguem justificar o destino das notas
que vêm para Angola e que desaparecem."
DW
África: O que é que significa esta suspensão de vendas de dólares deste banco
para o bolso do consumidor comum?
Carlos
Rosado de Carvalho (CC): A principal consequência é o facto de o dólar no
mercado informal provavelmente ficar mais caro porque é sobretudo esse mercado
que vive das notas físicas. Portanto, havendo uma menor oferta de notas físicas
o que seguramente vai acontecer é o aumento da taxa de câmbio no mercado
informal. O kwanza vai desvalorizar, que é aliás uma coisa que se tem sentido
nos últimos dias. Esse é o efeito mais direto. Depois haverá outros
constrangimentos, nomeadamente para os angolanos que vão viajar e eles
normalmente precisariam de notas para levarem consigo para os países de
destino. Isto é algo que pode ser ultrapassado porque, por exemplo, alguém que
tenha conta no estrangeiro não precisa de levar dinheiro consigo. Quem tenha
cartão de crédito ou de débito internacional também não precisará teoricamente
de levar dinheiro porque pode abastecer-se de dinheiro com os respetivos
cartões.
DW
África: Portanto, uma forma de ultrapassar esta questão é, por exemplo, através
de transferências bancárias e do uso de cartões. Ou optar pelo euro?
CC: Eventualmente
os bancos terão uma maior disponibilidade de euros. Mas a disponilidade não
será assim tão grande. E o problema não é substituir-se uma moeda por outra. O
problema é justamente acabar com essas transações em moeda estrangeira física
que não faz sentido absolutamente nenhum.
DW
África: O que estará por detrás desta decisão de suspensão?
CC: Quem
compra as cédulas são os bancos angolanos e aparentemente os bancos angolanos
não conseguem justificar o destino dos dólares que chegam ou que venham para
Angola e que desaparecem. O que acontece é que a Reserva Federal e os Estados
Unidos têm regras muito restritas sobre este assunto. O Bank of America está
sujeito a multas, a penalidades por parte da Reserva Federal e não quer correr
esse risco. Basicamente é esse o problema que se supõe esteja na origem porque
não há de facto nenhuma declaração oficial, seja do Bank of America seja também
do banco sul-africano.
DW África: Portanto, de alguma forma a credibilidade do sistema financeiro angolano é posta em causa com esta decisão.
DW África: Portanto, de alguma forma a credibilidade do sistema financeiro angolano é posta em causa com esta decisão.
CC: Acho
que este é o principal problema desta decisão, que de facto não deixa de afetar
a situação dos bancos angolanos e de Angola em geral. Porque significa dizer
que não temos controlo sobre as notas que recebemos ou pelo menos não
conseguimos explicar isso aos bancos fornecedores. Essa terá sido a razão e,
portanto, existe aqui um risco reputacional. Acho que se fosse uma suspensão
decidida pelas autoridades angolanas até seria uma coisa razoável porque as
transações internamente devem ser conduzidas em kwanzas. As transações em
dólares deveriam ser exceções e não com valores da ordem de grandeza que se tem
falado: seis mil milhões de dólares anuais, que entretanto teriam caído para cerca
de metade (três mil milhões), mas que são ainda valores muito elevados. Quem
quer transacionar ou faz transações com dinheiro vivo são normalmente
transações ligadas a atividades criminosas e portanto não tenho dúvida nenhuma
sobre isso. Obviamente haverá, como disse, angolanos que viajam para o exterior
que precisam de notas e moedas, mas seriam valores muito mais baixos do que
esses que estamos a falar.
Guilherme
Correia da Silva – Deutsche Welle
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