Inês
Cardoso – Jornal de Notícias, opinião
À
partida para as eleições de ontem em Espanha, havia apenas um resultado
garantido: o fim do bipartidarismo. À exceção desta certeza, todas as
configurações e alianças eram possíveis, num cenário em que nem todos os quatro
candidatos esclareceram que casamentos pós-eleitorais admitem. O PP foi, como
indicavam as últimas sondagens, o mais votado e vencedor da noite, mas a
leitura final dos resultados poderá ser demorada. À semelhança do que aconteceu
em Portugal, a formação do Governo está dependente de negociações.
O
Podemos confirmou a sua força, mas também o movimento Cidadãos obteve um
resultado histórico. A grande questão é perceber a qual irá o PP pedir a mão.
Mas não entram apenas novas formações no Parlamento, como cai a tradição de o
partido mais votado se bastar a si próprio.
Foi
um ano de intensas mudanças pela Europa fora. Entre a explosão de partidos à
Esquerda, com expoente máximo na Grécia, e o crescimento assustador da
extrema-direita (que, apesar de não conseguir eleitos, teve há uma semana um
resultado recorde em França), assistimos à implosão dos tradicionais partidos
europeus do bloco central.
Fatores
para esta crise dos partidos haverá vários. Da recessão económica a múltiplos
escândalos de corrupção, do cansaço perante velhas receitas à entrada em cena
de desafios cada vez mais radicais e globais, como o terrorismo e a pressão dos
fluxos migratórios. Falta confiança nos decisores políticos. Sobra a sensação
de que é necessário mudar e criar novos modelos de ação com mais espaço para a
participação de quem vota.
Alguns
dos novos fenómenos eleitorais que têm vindo a crescer pela Europa resultam da
contraposição desgastada entre Esquerda e Direita, da fratura entre eleitos e
eleitores. Nem sempre têm soluções ou modelos credíveis de governação, mas sabem
fazer um diagnóstico que coincide com o dos cidadãos, na sensação de desencanto
com os que há tantos anos nos governam.
Falta
de qualidades de quem ocupa os lugares de poder, carreirismo, fechamento na
vida partidária: as principais razões para a queda dos partidos estão dentro
deles mesmos. A emergência de novos movimentos e correntes só pode significar
que a democracia funciona e que os eleitores são capazes de exigir que se vá
mais longe. Mais opções enriquecem, nunca o contrário. A democracia multiplica-se,
não se divide.
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