segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

CONTAS DE MULTIPLICAR



Inês Cardoso – Jornal de Notícias, opinião

À partida para as eleições de ontem em Espanha, havia apenas um resultado garantido: o fim do bipartidarismo. À exceção desta certeza, todas as configurações e alianças eram possíveis, num cenário em que nem todos os quatro candidatos esclareceram que casamentos pós-eleitorais admitem. O PP foi, como indicavam as últimas sondagens, o mais votado e vencedor da noite, mas a leitura final dos resultados poderá ser demorada. À semelhança do que aconteceu em Portugal, a formação do Governo está dependente de negociações.

O Podemos confirmou a sua força, mas também o movimento Cidadãos obteve um resultado histórico. A grande questão é perceber a qual irá o PP pedir a mão. Mas não entram apenas novas formações no Parlamento, como cai a tradição de o partido mais votado se bastar a si próprio.

Foi um ano de intensas mudanças pela Europa fora. Entre a explosão de partidos à Esquerda, com expoente máximo na Grécia, e o crescimento assustador da extrema-direita (que, apesar de não conseguir eleitos, teve há uma semana um resultado recorde em França), assistimos à implosão dos tradicionais partidos europeus do bloco central.

Fatores para esta crise dos partidos haverá vários. Da recessão económica a múltiplos escândalos de corrupção, do cansaço perante velhas receitas à entrada em cena de desafios cada vez mais radicais e globais, como o terrorismo e a pressão dos fluxos migratórios. Falta confiança nos decisores políticos. Sobra a sensação de que é necessário mudar e criar novos modelos de ação com mais espaço para a participação de quem vota.

Alguns dos novos fenómenos eleitorais que têm vindo a crescer pela Europa resultam da contraposição desgastada entre Esquerda e Direita, da fratura entre eleitos e eleitores. Nem sempre têm soluções ou modelos credíveis de governação, mas sabem fazer um diagnóstico que coincide com o dos cidadãos, na sensação de desencanto com os que há tantos anos nos governam.

Falta de qualidades de quem ocupa os lugares de poder, carreirismo, fechamento na vida partidária: as principais razões para a queda dos partidos estão dentro deles mesmos. A emergência de novos movimentos e correntes só pode significar que a democracia funciona e que os eleitores são capazes de exigir que se vá mais longe. Mais opções enriquecem, nunca o contrário. A democracia multiplica-se, não se divide.

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