terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Espanha. PSOE RECUSA APOIAR PP E NÃO DESCARTA ALIAR-SE AO PODEMOS



Sánchez e Rajoy vão recandidatar-se à liderança dos partidos. Iglesias impõe condições aos socialistas, enquanto Rivera avisa que não irá para o governo

No meio da incerteza política saída das eleições em Espanha deste domingo, ontem havia já duas certezas: o PSOE vai votar sempre contra um governo de Mariano Rajoy e do PP, o partido mais votado, mas com apenas 123 dos 176 deputados necessários para uma maioria absoluta, enquanto Albert Rivera garante que o Ciudadanos vai estar na oposição. O Podemos de Pablo Iglesias, o grande vencedor deste escrutínio, está disposto a apoiar um executivo socialista, mas mediante algumas condições. Proposta que Pedro Sánchez não rejeita por completo.

"O PSOE atuará com prudência e responsabilidade e é o PP que deve tentar formar governo, mas o PSOE vai votar não à tomada de posse de Mariano Rajoy", afirmou ontem o secretário de Ação Política do PSOE, César Luena, transmitindo uma decisão de Sánchez.

Como partido mais votado, cabe ao PP tentar formar governo. Mas a perda da sua maioria absoluta obrigará Mariano Rajoy a negociar alianças - precisaria do apoio ou abstenção do Ciudadanos e a abstenção do PSOE para evitar que todas as outras forças políticas bloqueassem a sua tomada de posse.

"Deve governar o partido com mais votos. Desde 1977 que sempre governou o partido com mais apoio", afirmou Rajoy, ontem ao início da noite, numa reunião da comissão executiva do PP. "Não falei nem tomei a decisão de começar negociações, mas não vou aceitar que se viole a soberania nacional", acrescentou, referindo que já havia falado com Sánchez, trocado mensagens com Rivera e recebido um sms de Iglesias. E admitiu que "não se pode governar sem apoio".

Esta reunião do PP ficou marcada pela presença de José María Aznar, após uma ausência de quatro anos. O ex-governante pediu a Rajoy para realizar um congresso "aberto" e garantiu que não iria candidatar-se à liderança. No final do encontro de ontem, Rajoy anunciou que vai recandidatar-se à chefia do PP no congresso, que se realiza na primavera, mas não disse se iria fazer a vontade a Aznar.

Do lado do Ciudadanos, agora o quarto maior partido de Espanha, com 40 deputados, uma coligação com o PP é carta fora do baralho. "Não vamos fazer parte de nenhum governo. Estaremos na oposição", declarou ontem à tarde o líder do partido.

Albert Rivera pediu ainda aos socialistas para esclarecerem o mais depressa possível se vão coligar-se à esquerda para formar governo, pois "a Espanha não pode esperar". "Precisamos de saber se o PSOE quer esta legislatura ou bloqueá-la, levando a novas eleições", afirmou. "Este país não pode estar parado. Peço ao PP e ao PSOE que pensem em Espanha e permitam o início da legislatura", acrescentou.

Outro cenário possível é uma coligação entre PSOE e Podemos, algo que, de acordo com o ABC, Pedro Sánchez admite como possibilidade, apesar da pressão de Felipe González e outros barões socialistas. Do lado dos socialistas, sabe-se já também que Sánchez irá concorrer à reeleição como secretário-geral no próximo congresso do partido.

Enquanto o PSOE não se decide publicamente sobre uma coligação com o Podemos, Pablo Iglesias garantiu ontem que não irão viabilizar, "nem com voto contra nem com abstenção", qualquer governo de Rajoy. E deixou um recado aos socialistas: só terão o apoio do Podemos se concordarem com um referendo na Catalunha.

Derrota da austeridade

Bruxelas reagiu ontem com cautela aos resultados das eleições em Espanha, pedindo que o novo governo seja "estável" apesar de "todas as dificuldades". "A Comissão Europeia toma nota dos resultados das eleições em Espanha. Felicitamos o presidente Rajoy por ter ganho o maior número de deputados", declarou uma porta-voz comunitária.

Cautela também parece ser a palavra de ordem na Alemanha. "A situação neste momento só nos permite felicitar o povo espanhol pela elevada participação, no entanto, não é claro quem se deve felicitar nesta situação", afirmou fonte do gabinete de Angela Merkel.
Já para o primeiro-ministro italiano, de centro-esquerda, o falhanço do PP em manter a maioria absoluta é a prova da insuficiência da austeridade implementada pela União Europeia. "Vai ser interessante ver se a Europa se aperceberá de que a política tacanha de rigor económico e austeridade não leva a lado nenhum", disse Matteo Renzi.

Também Alexis Tsipras, que ao contrário de Pablo Iglesias nas legislativas gregas não apoiou presencialmente a campanha do Podemos, considerou que os resultados das eleições espanholas foram um sinal de que "a Europa está a mudar". "A austeridade foi derrotada politicamente também em Espanha. As forças da defesa da sociedade entraram ativamente na cena política", afirmou o primeiro-ministro grego e líder do Syriza.

Ana Meireles – Diário de Notícias - Foto: Reuters / Sergio Perez

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