terça-feira, 1 de dezembro de 2015

TERRORISMO AVANÇA NO CONTINENTE AFRICANO



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

No curto espaço de quatro dias o terrorismo avançou mortalmente pelo continente africano e em três países diferentes provocou um total de 29 vítimas, sem que nada de substancialmente novo tivesse sido depois feito para evitar a repetição destes  condenáveis actos ou para punir, com a devida severidade, aqueles que foram os seus autores materiais.

O país mais visado pelos terroristas voltou a ser a Nigéria, onde um ataque do grupo Boko Haram contra um mercado localizado numa aldeia a norte do país causou 22 mortos, na sua maioria mulheres e crianças.

Estes actos, prontamente reivindicados pelo Boko Haram, serviram, de acordo com uma mensagem que o grupo ousou publicar nas redes sociais, para manifestar a sua “solidariedade” para com o chamado “Estado Islâmico” na luta para punir todos os árabes de etnia xiita.

Trata-se de um assunto complicado de entender, pois fica difícil perceber as razões que levam uma organização terrorista de raíz africana, ainda que islâmica, a intrometer-se voluntariamente numa guerra secular que opõe muçulmanos xiitas a sunitas.

O Boko Haram, que há cerca de seis meses recebeu a “bênção” do “Estado Islâmico”, passando a ser considerado o seu “braço armado” em África, talvez sendo nesse reconhecimento que ele vê a janela de intromissão nesse problema,  tem sido um dos grupos radicais islâmicos que mais se tem evidenciado pela série de atentados mortais contra a população nigeriana.

Um outro ataque terrorista contra um país africano ocorreu há menos de uma semana contra um acampamento das Nações Unidas localizado na cidade de Kidal, norte do país, e terá custado a morte a dois militares da Guiné e a um civil, bem como ferimentos graves a mais sete pessoas.

Este ataque, tal como um outro efectuado há duas semanas contra um hotel na capital maliana, Bamako, foi reivindicado pelo grupo  terrorista al-Mourabitoune, que se diz representar a al Qaeda para a região do Magreb e que tem estado muito activo na região norte do país.

Finalmente, pelo menos até agora, o terceiro ataque terrorista ocorreu 35 quilómetros a sul da cidade do Cairo, onde dois terroristas que se transportavam numa mota abateram a tiro quatro polícias que estavam num dos postos de controle localizados à entrada da capital egípcia.

Este ataque, tal como outros que anteriormente ocorreram na região do Sinai e mesmo no interior da cidade do Cairo, foi já reivindicado pelo “Estado Islâmico”, havendo a suspeita de que os seus autores morais possam ter sido membros da extinta Irmandade Muçulmana.


Antes destes últimos ataques é igualmente de sublinhar o rebentamento, na cidade de Tunis, de uma bomba dentro de um camião que transportava militares da guarda presidencial tunisina e de que resultou a morte de uma dezena de pessoas que não entraram nesta contabilidade mais recente das vítimas do terrorismo em África.

Todos estes ataques e, sobretudo, a forma cadenciada como eles ocorreram, deixam perceber a existência, por parte dos terroristas, de um plano organizado para desestabilizar o continente africano e que envolve grupos ligados tanto ao “Estado Islâmico” como à al Qaeda, embora existam justificadas suspeitas de que estas duas organizações mantêm, entre si, uma certa rivalidade para verem qual a que mais mata gente inocente.

Esse plano, infelizmente, conta com algumas cumplicidades internas de algumas organizações e pessoas singulares que vivem no interior do continente e que, nos seus respectivos países, provocam situações de autênticos desafios contra a lei e a ordem neles vigentes.

Essas organizações e pessoas singulares, algumas por pura ingenuidade e outras (a esmagadora maioria) por se terem deixado cair na fácil tentação de promessas de vida fácil, estão a fazer o jogo dessas organizações terroristas e a abrirem, assim, caminho para a instalação de situações que depois não conseguirão controlar.

Foi assim no preâmbulo da "Primavera Árabe", onde jovens, dotados de saber para manusear as redes sociais, criaram situações fictícias de contestação aos poderes legais para arrastarem centenas de milhares de pessoas a manifestações de rua que se transformariam, depois, em cenários de violentos confrontos e de modos de pressão contra esses poderes.

A esmagadora maioria desses jovens, no rescaldo dessa "Primavera Árabe", sofreram e ainda hoje sentem na pele os efeitos da desilusão por verem os seus sonhos de mudança transformados em verdadeiros pesadelos, estando muitos deles agora atrás das grades, a contas com uma justiça que eles pensavam poder manipular ao sabor dos seus desejos.

Alguma falta de experiência em lidar com o fenómeno do terrorismo, tal como ele é, sem romantismos ou desculpas esfarrapadas, tem feito com que as forças de segurança de alguns países tenham demorado muito tempo a compreender o desafio com que se deparam tardando, por isso, em usar de tudo o que está ao seu alcance para evitar que ele se instale nas respectivas sociedades.

Os mentores do terrorismo são pessoas inteligentes e que seguem um plano rigorosamente concebido para provocar o caos social, na sequência do qual tentam moldar os poderes de acordo com o que conceberam, não importando os meios para poderem justificar esse desejado fim.

Para concretizar esse objectivo eles interligam-se, do exterior para o interior do continente, e criam verdadeiras teias, manipulando grupos de pessoas, seja para os atentados directos ou para a mobilização popular de massas menos avisadas e, por isso, estão mais expostas às mentiras e calúnias que lhes são colocadas na frente para que possam contestar não importa o quê.

As últimas acções terroristas desencadeadas contra países africanos são a comprovação daquilo que se temia: o continente africano é uma parte integrante e significativa do roteiro daqueles que usam a violência desmedida como forma de imposição da sua vontade.


Ignorar esta realidade, como até aqui parece que vem sucedendo nalguns países, é um perigo que o continente não pode correr, sob pena de ver adiadas todas as suas legítimas aspirações à consolidação do seu crescimento e desenvolvimento económico e social.

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