segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O LABORATÓRIO AFRICOM – VI




Inventariada a situação, a partir de causas que vêm de longe e de causas recentes, não havendo dúvidas em relação ao trabalho “laboratorial” que deu substância e justificação à existência do AFRICOM em estreita conexão com a NATO e em função da perspectiva da hegemonia unipolar, como Angola deve encarar estas ameaças e riscos num momento em que é possível estabelecerem-se pontes entre factores de desestabilização interna e os factores externos, tendo em conta a laicidade do estado angolano, a evolução da situação económica e financeira global e local, a liberdade religiosa e o respeito pela lei e os direitos fundamentais?

O estado angolano não pode esquecer-se do que tem vindo a acontecer a estados laicos como o Iraque e a Síria no Médio Oriente, que ao invés de serem aproveitados no sentido da implementação da democracia representativa, são desmantelados deliberadamente, tal como a Líbia, a fim de instalar o caos jihadista em expansão, ao ponto de projectar a “guerra de civilizações”, não só a partir das “primaveras árabes”, mas sobretudo com intervenções directas dos países da NATO e de seus aliados monárquicos, do Marrocos às monarquias arábicas…

Sem dúvida que as políticas internas e externas de paz, por parte de Angola, são fundamentais, na perspectiva dos interesses de África e dos interesses geo estratégicos, mas estão perante desafios que se expandem no continente, multiplicando o caos endémico dos conflitos étnico-tribais.

Redesenhar o mapa de África é uma preocupação latente no “laboratório AFRICOM”, tendo em conta o que em tempo oportuno foi dito por Theresa Whelan, em relação às fronteiras africanas (“áreas sem governação”), explorando contenciosos que ocorreram durante a Guerra Fria, entre eles o último contencioso oportunista de Savimbi, que mudava de pontos cardeais opondo por fim“o interior” ao “litoral”, o angolano “autêntico” ao “crioulo” (em “Combats pour l’Afrique et la démocratie”), tudo isso em função do conhecimento físico-geográfico-ambiental que lhe foi transmitido pela potência colonial…

No caso angolano, tendo acabado a tentativa de divisão pelo paralelo (Angola Norte e Angola Sul), algo que tirava partido dos interesses do “apartheid”, está a surgir uma nova tentativa já sem Savimbi, tirando partido duma entidade como o Protectorado Lunda Tchokwe, considerando um meridiano divisório entre uma Angola a Ocidente e uma a Leste, algo que muito provavelmente por causa dos interesses do cartel dos diamantes, até já motivou uma série televisiva, em jeito de prospecção psicológica que ocorreu “com toda a naturalidade” nos Estados Unidos…

Também nessa perspectiva o “laboratório” prospecta a partir da correlação entre os fenómenos de natureza físico-geográfico-ambiental e as culturas humanas, seguindo a pista das bacias hidrográficas de Angola, tanto como do conhecimento que foi adquirido em tempo colonial, neste caso o acervo belga inscrito no Museu Antropológico da Lunda, por incentivo então da Diamang (instrumentalizada como é lógico pelo cartel).

As políticas que cultivam a paz possibilitam um esforço importante de inteligência, de modo a que Angola possa acompanhar de perto e até por dentro, todas as correntes que visem desestabilização, ao mesmo tempo que pode fortalecer laços com outras correntes que efectivamente também se identifiquem com a construção da paz.

Nesse sentido há que reequacionar as respostas sócio-políticas em termos de suas abrangências, levando em conta o papel de algumas classes no âmbito da Luta de Libertação em África, entre elas o papel dos camponeses.

Em relação aos factores externos, há basicamente um imenso e contínuo trabalho de pesquisa de inteligência a fazer em África e fora dela, tendo em conta as organizações terroristas, seus apoios funcionais, logísticos e humanos, suas características humanas, étnicas e religiosas, seus métodos e seus propósitos, assim como uma atenção muito substancial aos vínculos financeiros que as animam, levando em consideração que elas sintomaticamente indiciam usar os factores migratórios em seu proveito, assim como as assimetrias existentes e conceitos que tendem a semear o caos.

É evidente que interessa também recolha de informação sobre o trabalho de “laboratório”, que gerou as situações favoráveis à presença dominante e decisiva das potências em África em socorro das forçadas “parcerias africanas” arrastadas para a vassalagem, por causa da fragilidade e vulnerabilidade dos estados face ao tipo de ameaças e riscos como o terrorismo islâmico sunita, protagonizado sobretudo a partir da injecção de caos na Líbia.

Creio que há quatro círculos a levar em consideração nessas pesquisas:

- O longínquo na Europa, Estados Unidos, mas sobretudo no conturbado Médio Oriente;

- O que se deve confinar ao Sahara-Sahel-Ogaden, onde actuam as ramificações terroristas internacionais como o “AQMI”, o “Boko Haram” e o “al Shabaad”;

- O que abrange o Golfo da Guiné e os Grandes Lagos;

- O que se desenvolve nos dois Congos e a partir de nossas fronteiras com os dois Congos para dentro do nosso território, tendo em conta a costa noroeste angolana, Cabinda, o leste do país, o rio Kwango e as cidades, com particular atenção à capital, Luanda.

Em relação aos factores internos, o inventário de tudo o que seja escalonado no sentido da desestabilização do rumo de Angola, independente, soberana, garante de paz e de aprofundamento da democracia, é indispensável, tendo em conta uma abertura que se configura nos processos de políticas de harmonia, aquelas que se afiguram possíveis num continente tão fragilizado e vulnerável.

A situação arrasta-se para um cenário que foi criado “de raiz” pela administração de George W. Bush, a que se deu sequência com Barack Hussein Obama: provocar uma tensão constante entre islâmicos e cristãos, também no continente africano, como se fosse um ingrediente fulcral numa“guerra de civilizações”, agregando a essa tensão, outros factores de desestabilização ou de caos (foi precisamente nesse ambiente que se tomou a iniciativa, via Pentágono, para a gestação do“laboratório AFRICOM”).

Isso faz parte do quadro de “guerra psicológica” que os Estados Unidos nunca abandonaram depois da IIª Guerra Mundial, nem com o fim da “Guerra Fria”, algo que começa a ter poderosas clivagens por dentro de múltiplas correntes republicanas e democratas no próprio ambiente sócio-político dos Estados Unidos da América, com reflexos nas suas políticas externas.

É extraordinariamente difícil a Angola gerir um contencioso como esse, até por que os shihitas estão também presentes no seu espaço nacional em muito menor número, mas beneficiando do“espaço cristão” que para eles é um espaço de manobra, pelo que o apego à Constituição e ao corpo de leis que garantem independência e soberania deve merecer uma cultura reflexiva constante por parte do empenho angolano.

O rigor na gestão do estado angolano sem que os consensos de paz sejam beliscados, torna-se indispensável, de modo a que as coordenações que se vão ter de desenvolver entre os vários organismos e instituições não tenham pontos fracos e as acções mobilizem capacidades de luta contra o subdesenvolvimento, seguindo critérios de desenvolvimento sustentável, amigo do ambiente e tudo sem perder a capacidade de criar consensos e harmonizar.

Esse rigor não se pode circunscrever a uma elite sócio-política, mas terá de ser tão abrangente quanto o possível.

Essa integração por via da realização de obras e actividades, visa impedir o grau de alienação elevado que muitos sectores ideológicos cultivam, a alienação que é contraproducente em relação às políticas construtoras de paz que o estado angolano tem enunciado.

Na perspectiva do Movimento de Libertação em África, do MPLA e do estado angolano, torna-se necessário, na busca de diálogo e consensos, não perder de vista os imensos resgates que se impõem em estreita identidade com o povo angolano, com todos os povos de África e com o povo cubano, tendo em conta a raiz do subdesenvolvimento: as trevas da escravatura, do colonialismo, do“apartheid” e de suas respectivas sequelas.

A capacidade de resistência nesses termos inibirá alguns factores mais nocivos provocados pelo impacto da globalização segundo a perspectiva da hegemonia unipolar.

Realizar obras e actividades que se inscrevam na luta contra o subdesenvolvimento é integrar esse rumo, pelo que desse modo garantir-se-á, que a carga de alienação de que muitos sectores ideológicos fazem uso, esteja subordinada a uma mobilização com objectivos que nenhuma delas, pela sua própria natureza, poderá pôr em causa, sob os pontos de vista ético ou moral.

O rumo de Angola numa via de paz, de aprofundamento da democracia abrindo espaços à participação e de luta contra o subdesenvolvimento, é por si um imenso desafio de ordem ética e moral, que dá sequência justa à nossa história e garante a continuidade da lógica com sentido de vida.

Na harmonia que se pretende equacionar, há projectos que são suportados pela hegemonia unipolar que provavelmente não se poderão evitar em África, quase todos eles indexados por exemplo ao foral da USAID, a componente “civil” do AFRICOM-NATO.

Esses projectos devem ser todavia analisados tendo em conta o seu peso em termos de capitalismo neo liberal, ou de correntes que abrem caminho a ele, entre elas as doutrinas que foram fermentadas na Universidade de Chicago e universidades afins, fundada por um clã que é um dos expoentes máximos da aristocracia financeira mundial, o clã Rockefeller.

As doutrinas protagonizadas por Milton Friedmn, como as protagonizadas por Leo Strauss devem ser estudadas e colocadas presentes nas análises que estão ao serviço das políticas de harmonia, tendo em conta ainda doutrinas que as reforçam, como as protagonizadas por George Soros via Open Society, ou Gene Sharp via Albert Einstein Institution, ou Rafael Marques de Morais, um dos assalariados locais ao serviço do National Endowment for Democracy…

Os que preconizam o caos conforme à escola de Leo Strauss, polvilharam o Pentágono durante a administração republicana de George Bush pelo que Theresa Whelan é uma sua emanação, subordinada a seguidores como Paul Wolfowitz, ou Richard Perle, algo que está bem presente na matriz do “laboratório AFRICOM”.

Alguns “programas correntes”, no âmbito da administração democrata de Barack Hussein Obama reflectem ainda a essa matriz e desajustam-se face às aspirações da harmonia, tal como acontece em relação a muitas análises que no “ocidente” se tem feito sobre Angola!...

Os analistas correntes tendem a confundir seus próprios conhecimentos, desejos e aspirações, com a história e a antropologia de Angola e a imagem dum general norte-americano a dividir Angola entre num espaço a ocidente e um espaço “lunda tchokwe” a leste é disso claro exemplo mistificador!...

…Nem todos os desejos e aspirações do cartel dos diamantes, é preciso lembrá-lo, em Angola se tornaram exequíveis!
  
Fotos:
1 – Cena da série televisiva norte americana que divide Angola entre ocidente e oriente;
2 – Mapa local segundo o Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe;
3 – Mapa da África Austral segundo o Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe.

A consultar:
- A Pilhagem de África – e de Angola – contada por um jornalista do Financial Times – http://observador.pt/especiais/a-pilhagem-de-africa-com-angola-em-destaque/
- Gene Sharp e a estratégia do “golpe suave” – http://www.redeangola.info/opiniao/gene-sharp-e-a-estrategia-do-golpe-suave/
- Conozca el manual de Golpe Suave de Gene Sharp (+Video) – http://www.correodelorinoco.gob.ve/politica/conozca-manual-golpe-suave-gene-sharp-video/ 
- Sharp y la Fundación Einstein sobre el Golpe Blando y el Golpe Suave... cualquier parecido con la realidad es pura coincidencia! – https://www.facebook.com/notes/ariel-basteiro/sharp-y-la-fundaci%C3%B3n-einstein-sobre-el-golpe-blando-y-el-golpe-suave-cualquier-p/529190150460216
- Estados Unidos declaram guerra a Angola Ocidental – http://www.redeangola.info/eua-declaram-guerra-a-angola-ocidental/ 
- Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe – http://protectoradodalunda.blogspot.com/

Angola. Marcos Mavungo condenado a seis anos de prisão pelo Tribunal de Cabinda




O Tribunal de Cabinda condenou hoje o ativista José Marcos Mavungo a seis anos de prisão efetiva pela alegada prática de um crime de rebelião contra o Estado angolano, tendo a defesa anunciado que vai recorrer da decisão.

A informação foi prestada à Lusa pelo advogado Francisco Luemba, reafirmando que durante o julgamento não foi produzida prova contra o ativista, em prisão preventiva desde 14 de março, data em que se deveria ter realizado uma manifestação em Cabinda contra a alegada má governação e violação dos direitos humanos na província que o próprio Marcos Mavungo organizava.

"É a confirmação de que realmente, até prova em contrário, não temos tribunais independentes [em Angola] e que a maior parte dos procuradores e dos juízes, quando estão em causa ordens superiores, as cumprem fielmente", criticou o advogado.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola coloca o triplo da dívida pública no espaço de uma semana




A dívida pública colocada por Angola na última semana praticamente triplicou, face à anterior, para cerca de 190 milhões de euros, segundo dados do banco central angolano compilados hoje pela Lusa.

De acordo com o relatório semanal sobre a evolução dos mercados monetário e cambial do Banco Nacional de Angola (BNA), enquanto operador do Estado, o banco central colocou no mercado primário, entre 07 e 11 de setembro, 16,6 mil milhões de kwanzas (115,6 milhões de euros) em Bilhetes do Tesouro (BT) e 10,3 mil milhões de kwanzas (71,7 milhões de euros) em Obrigações do Tesouro (OT).

Ainda para a gestão corrente do Tesouro Nacional, no segmento de venda direta de títulos ao público, e no mesmo período, somam-se 329,3 milhões de kwanzas (2,3 milhões de euros) em dívida pública também colocada pelo BNA.

No total, neste período, o banco central colocou no mercado primário mais de 27,2 mil milhões de kwanzas (189,5 milhões de euros) em dívida pública, um aumento de 186 por cento face à primeira semana de setembro.

O Governo angolano prevê um endividamento público para 2015 a rondar os 20 mil milhões de dólares (17,6 mil milhões de euros), a captar também junto de investidores privados.

Este endividamento é necessário para garantir o financiamento do Orçamento Geral do Estado, compensando a quebra nas receitas petrolíferas (estimada em 50%), e distribui-se em partes iguais pelo mercado externo e interno.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe inicia digressão de 15 dias a vários países




O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada inicia hoje uma viagem de 15 dias aos Emirados Árabes Unidos, Argélia e os Estados Unidos da América.

Patrice Trovoada desloca-se primeiro aos Emirados árabes Unidos onde pretende mobilizar empresas privadas e autoridades governamentais dos países da região para uma mesa com doadores que o país quer realizar em Londres.

"Terei encontros, sobretudo, com o setor privado, mobilizando essas grandes empresas que convidamos para estarem presente na conferência e falar também com as autoridades dos Emirados Árabes Unidos no sentido de na reunião dos doadores podermos ter a presença não só dos emirados mas também de alguns países da região que nós convidamos", disse Patrice Trovoada momentos antes de viajar.

Argélia é a segunda etapa da tournée do chefe do governo são-tomense.
"Será uma visita oficial a convite do primeiro-ministro argelino que vai nos permitir reativar uma cooperação que já há muito tempo tem estado um pouco em banho-maria", explicou Patrice Trovoada.

Destacou a Argélia como um dos países que nos primeiros anos de independência apoiou o governo de São Tomé e Príncipe em vários domínios, sublinhando nesse âmbito a estação de telecomunicação de São Marçal como "o mais visível" desse apoio.

"Temos em vista voltar a rever todos os aspetos da cooperação que podem ser reativados", acrescentou o governante são-tomense que não precisou quanto tempo durará a visita de trabalho a Argélia.

Logo a seguir a Argélia, o chefe do governo são-tomense desloca-se a Nova Iorque para participar na cimeira sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável pós 2015 que decorre de 25 a 27 de setembro.

"Se será ocasião para nós darmos a nossa opinião sobre aquilo que foi feito até 2015. Como sabem muitos dos objetivos não foram alcançados", lembra o primeiro-ministro.

"No caso particular de São Tomé e Príncipe, nós somos um país que tem vindo a crescer entre 4 e 6 por cento ao ano, mas não conseguimos reduzir a pobreza, não conseguimos reduzir o desemprego", lamenta o governante.

Patrice Trovoada vai aproveitar a sua presença nesta cimeira para "mais uma vez ter contactos com os nossos parceiros e mobiliza-los no sentido podermos definir o que é que será o plano de ajuda para São Tomé e Príncipe nos próximos anos", disse.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. UM PM ORGANIZADOR DE PEDITÓRIOS E O RELVAS



Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião

1-Os governos não são eleitos para resolver problemas de lana-caprina. O colapso dum grande banco, duma instituição financeira onde se encontrava cerca de um quarto da riqueza nacional, é uma questão que tem de ser tratada diretamente pelos que elegemos para conduzir os destinos da comunidade. Nunca passando a responsabilidade dum problema desta magnitude para outras entidades. Muito menos para o Banco Central.

É evidente que o Banco de Portugal poderia apoiar o governo na resolução dos vários problemas, nomeadamente na questão da reprivatização, mas nunca ser o responsável pelo processo. Mas em que parte do mundo um regulador se transforma num vendedor? Em que parte do estatuto dum banco central consta as funções de mediação de negócios? Alguém é capaz de nomear um negócio que Carlos Costa tenha organizado - compra da casa e do carro não contam? Agora querem que tenha competência e experiência para fazer um negócio de muitos milhões? Por outro lado, pôr um regulador a vender uma entidade que depois vai ter de regular é um disparate sem nome.

Se encararmos a venda do Novo Banco como um assunto político - que o é -, jamais deveria ser a entidade que regula os bancos a tratar do assunto; se olharmos para a questão em termos de negócio, nunca poderia ser uma instituição que não tem como função ser uma Remax de bancos a tratar do assunto.

Os erros de base para a resolução do dossiê NB começaram aqui. Mas o pior foi a intenção por detrás dessas decisões: gerir com objetivos eleitorais um problema que afeta duma maneira vital a comunidade. Alijar a questão para o Banco Central, de forma a que se existissem prejuízos se desse a ideia de que a responsabilidade não era do governo.

Incompetência e eleitoralismo formam um cocktail mortal e, desta vez, correram contra quem o misturou e contra os do costume: nós, está claro. Carlos Costa, qual Jorge Mendes de aviário, não conseguiu gerir bem o dossiê de venda, e ficou absolutamente claro, a meia dúzia de dias das eleições, que, como era óbvio desde o início do processo, as perdas para a comunidade vão ser avultadas - digamos que eleitoralmente para a coligação PAF não será um tema fácil.

Mais, e ainda pior, é cada vez mais evidente que Vítor Bento tinha razão quando defendia que era preciso mais tempo para vender o banco e que era preciso capitalizá-lo para o valorizar. Numa palavra: a solução governo/Carlos Costa vai sair muito mais cara aos contribuintes.

A mentira, mil vezes repetida, de que os portugueses não iriam ter de pagar nem um tostão e as tentativas de mascarar o óbvio irão resultar em prejuízos ainda maiores. E foi uma mentira estúpida. Estúpida porque, por muito que nos custe, não há memória, em qualquer época, de que um problema desta dimensão não acarrete encargos para os cidadãos. Infelizmente, todos o sabemos.

Mas, não fossem a incompetência e o eleitoralismo suficientemente graves num processo deste interesse público, temos agora um primeiro-ministro que lança campanhas de subscrição. Custa a acreditar, mas é mesmo verdade: "Organizarei uma subscrição pública para os ajudar a ir a tribunal." Deve ser a primeira vez na história que um primeiro-ministro sugere uma angariação de fundos para um problema que ele tem, pelo menos, de ajudar a resolver. Por este caminho, ainda o vou ver lançar campanhas de recolha de fundos para os desempregados que não têm acesso ao subsídio de desemprego, outra para não deixar fugir os jovens do país, outra para ajudar a arranjar os 600 milhões para a Segurança Social ou até substituir a recolha de impostos por operações de crowdfunding.

Já tínhamos um primeiro-ministro que não quis resolver um problema que só o seu governo devia tratar, que nos vai fazer uma conta maior do que a que já sabíamos ir ter de pagar por causa dos seus cálculos politiqueiros, só faltava mesmo um primeiro-ministro que acha que deve organizar operações de caridade pública em vez de tentar resolver os problemas da comunidade.

Em vez de um primeiro-ministro temos um organizador de peditórios. Às tantas, Passos Coelho está a candidatar-se ao lugar de Isabel Jonet e ninguém se tinha apercebido.

2-Esta semana correu bem ao líder do PS. O debate deu um novo impulso à sua campanha e motivou os seus seguidores.

Costa e os socialistas não esperariam é pelo bambúrrio que foi o aparecimento do ex-doutor Miguel Relvas como comentador. Não serão precisas grandes explicações sobre a imagem do ex-ministro junto do eleitorado. Rever o cavalheiro fez-nos lembrar as suas peripécia pouco edificantes. Digamos que a coligação PAF não deve ter gostado muito de que as pessoas voltassem a lembrar-se de que Miguel Relvas foi ministro deste governo e uma das suas principais figuras.

Das duas uma: ou Relvas acha que as pessoas se esqueceram dele e considera que a sua imagem está recuperada ou quer contribuir para uma possível derrota eleitoral do partido de que é militante. Agora escolha.

Portugal. António Costa acusa Governo de ser um "permanente passa culpas"




O secretário-geral do PS acusou hoje o Governo de ser um "permanente passa culpas" ao negar responsabilidades como não conseguir proteger junto da União Europeia "os interesses da economia nacional na indústria, na agricultura e na pesca".

Falando em terra de pescadores, na Afurada, em Vila Nova de Gaia, perante uma plateia de perto de duas centenas de pessoas que o acompanharam ao longo de uma arruada pela rua central da freguesia, António Costa criticou o executivo PSD/CDS-PP de ser "permanentemente um Governo de passa culpas, em que nada é da sua responsabilidade e em que a responsabilidade vai sendo lavada nas mãos como se fosse Pilatos".

"Seja o que acontece com o sistema financeiro, como se o Governo nada tivesse a ver com isso, seja o que acontece na negociação que compete ao Governo fazer junto da União Europeia para proteger os interesses da economia nacional, seja na indústria, seja na agricultura, seja na pesca, porque o que compete a um Governo fazer é bater-se e defender os interesses dos portugueses, da economia portuguesa e de Portugal", sustentou Costa.

Momentos antes, quando se preparava para iniciar um discurso de mais de 15 minutos num palco improvisado no centro da Afurada, o secretário-geral do PS respondeu, sorrindo, a uma provocação vinda da plateia referindo o polémico caso dos submarinos, dizendo que, ali, só "há barcos de pesca, não há submarinos".

Numa referência ao debate televisivo da semana passada com Pedro Passos Coelho, em que a prestação de Costa foi por muitos elogiada, o cabeça de lista do PS pelo círculo de Lisboa considerou que o confronto "foi muito simples".

"É que -- sustentou - foi a primeira vez em quatro anos que foi possível dizer cara a cara ao primeiro-ministro aquilo que cada um de vocês tem para lhe dizer, não tem oportunidade de lhe dizer e todos os dias me pedem na rua que lhe diga na cara. E foi isso que eu fiz, disse-lhe na cara aquilo que vocês sentem".

Para António Costa - que hoje contou na Afurada com o apoio da antiga maratonista Rosa Mota, do presidente da Federação do Porto do PS, José Luís Carneiro, e do presidente da Câmara Gaia, Eduardo Vitor Rodrigues, para além de nomes como Elisa Ferreira, Manuel Pizarro, Gabriela Canavilhas e Augusto Santos Silva - os últimos quatro anos foram "ainda mais difíceis" do que seria de esperar "porque o Governo quis impor mais sacrifícios do que os impostos pela própria 'troika'", nomeadamente com os cortes efetuados nas pensões e com o aumento do IRS.

Mas, para o secretário-geral do PS, "não é só por causa do passado" que a maioria PSD/CDS-PP "não merece a confiança de ser reeleita".

"É, sobretudo, por aquilo que agora querem continuar a fazer para além das próximas eleições", disse, afirmando recusar uma sociedade onde direitos fundamentais como a educação, saúde, Segurança Social, habitação e acesso à justiça "são favores" ou "obra da caridade".

"Não queremos voltar a uma sociedade onde, em vez de termos uma escola pública que garante a todos o acesso à educação, esta dependa da contribuição e da subscrição pública que o Governo organize; não queremos que a saúde volte a ser um privilégio para alguns e que os outros só possam aceder à saúde porque há uma subscrição pública para se poder ir ao hospital ou para se poder ir comprar os remédios à farmácia", ironizou Costa numa crítica à disponibilidade manifestada no sábado pelo primeiro-ministro para organizar uma subscrição pública para auxiliar os lesados do BES.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Jerónimo de Sousa acredita que não vai haver maioria absoluta




O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, vaticinou hoje que nas próximas legislativas "não haverá maiorias absolutas para ninguém", tendo apelado ao voto dos eleitores que em outras eleições votaram noutros partidos.

"Eles [PS, PSD e CDS] pedem, mas sabem que não há maiorias absolutas para ninguém", vincou Jerónimo de Sousa num comício da Coligação Democrática Unitária (CDU, que junta PCP e PEV) em Loures.

Jerónimo de Sousa considerou também que "o país não lhes vai fazer a vontade, nem a eles, nem a Cavaco Silva e às suas manobras e pressões para que a política de exploração e empobrecimento prossiga, seja pela mão de PSD/CDS, seja pelo PS".

Admitindo partir para a batalha de dia 04 de outubro "com uma grande confiança na possibilidade de continuar o caminho de reforço da CDU com mais votos e mais deputados", o líder da CDU apelou ao voto e pediu confiança àqueles que votaram noutros partidos noutras eleições.

"Cada voto a mais na CDU, cada deputado a mais eleito pela CDU é um voto a menos e um deputado a menos naqueles partidos que são responsáveis por esta política que nos últimos 39 anos tem roubado direitos e rendimentos", afirmou.

Numa intervenção que foi interrompida várias vezes com palavras de apoio e palmas, o líder comunista referiu também o debate televisivo entre o líder da coligação Portugal à Frente, Pedro Passos Coelho, e o líder do Partido Socialista, António Costa.

Para Jerónimo de Sousa, o frente-a-frente foi "uma grande encenação para dar um fôlego à bipolarização da vida política portuguesa, e assim assegurar que a política de direita seguirá o seu rumo sem sobressaltos".

"Uma grande operação para vender a ideia de que a única opção seria escolher entre Costa e Passos, escolher entre a coligação PSD/CDS e o PS", continuou, acrescentando que a escolha é entre "dois males, sejam eles o maior ou o menor, ou seja, colocar os portugueses perante o velho dilema de escolher entre ficar a fritar na frigideira ou saltar para o lume".

O secretário-geral do PCP criticou ainda que PSD e PS por quererem manter "este rumo de exploração e dependência" e por falarem em "plafonamento vertical para aqui, plafonamento horizontal para acolá, para não dizerem na comum linguagem de todos os mortais, que as suas propostas, as de uns e de outros, são para cortar nas reformas e pensões e fragilizar a segurança social".

Jerónimo de Sousa aproveitou ainda para reiterar as medidas eleitorais da CDU, que incluem, entre outras medidas, o reforço do Serviço Nacional de Saúde, o desenvolvimento da produção nacional, o apoio às pequenas e médias empresa, e uma escola pública, gratuita e de qualidade.

Segundo a organização, no comício estiveram presentes cerca de mil pessoas.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. “NO CAPÍTULO DOS ERROS E FALÁCIAS, PASSOS ‘GANHOU’ O DEBATE”




Viriato Soromenho-Marques realça o cuidado a ter com as palavras na hora de debater

Não foram só as várias referências a José Sócrates que mereceram críticas a Passos Coelho. Num artigo que hoje assina no Diário de Notícias, Viriato Soromenho-Marques refere também que o debate foi pontuado por erros, que não deveriam ser cometidos por um político com as responsabilidades de Passos Coelho.

“Neste capítulo, dos erros e falácias, o ainda primeiro-ministro ‘ganhou’ o debate por acumulação de pontos”, escreve o professor universitário, fazendo depois referência ao uso do termo “biliões”, por parte de Passos Coelho, quando o correto em português seria, para números desta grandeza, falar em milhares de milhões e não em biliões.

“É lamentável para a qualidade e rigor do debate político que o primeiro-ministro não respeite o modo correto como devem ser ditos e escritos os grandes números”, escreve ainda Soromenho-Marques.

O “analfabetismo funcional em relação à matemática elementar”, salienta ainda o cronista, “afeta a vida quotidiana de muitos cidadãos e a sua capacidade de perceberem questões elementares de economia e finança”, pode ler-se.

Notícias ao Minuto

PREVISÕES PARA A ECONOMIA PORTUGUESA REVISTAS EM BAIXA




A análise é feita por economistas consultados pela Bloomberg

O PIB português deverá crescer 1,6%, porém o défice ficará acima dos 3%. Esta é a previsão feita por especialistas contactados pela Bloomberg, e de que o Jornal de Negócios dá conta.

O 1,6% de crescimento de PIB resulta da média de estimativas feitas pelos 25 economistas, sendo ligeiramente menor do que as previsões que apontavam para um crescimento na ordem dos 1,7%.

Os números mostram uma revisão em baixa das previsões dos especialistas, mas incluí ainda ‘boas notícias’, como a previsão de que a diminuição do desemprego será maior do que o previsto.

As previsões de crescimento para 2016 situam-se nos 1,7%, enquanto as previsões para 2017 apontam para os 1,5%.

Notícias ao Minuto

JEREMY CORBIN, O RADICAL DE ESQUERDA DO PARTIDO TRABALHISTA BRITÂNICO




Leiam bem a matéria, a começar pelo título, e analisem as politicas que JC defende. Ser socialista democrático hoje em dia é sinônimo de ser radical de esquerda.

Se vivessem hoje, um notável socialista-democrata como Olof Palme e um liberal-democrata como John Maynard Keynes, seriam taxados de radicais de esquerda pelas politicas de justiça social e pacifistas que defenderam. É tido como ''moderado'' quem é verdadeiramente extremista com suas politicas de belicismo hegemónico militar e financeiro, de ganância e austeridade que favorecem mais o 1% e aumentam o fosso entre ricos e pobres.

Essa narrativa de lavagem cerebral cantada e repetida em coro vezes sem conta por políticos ditos ''moderados'', seus assessores yuppies e pela imprensa-empresa começa felizmente a ser contestada e desconstruída por gente mais esclarecida, particularmente a juventude que abraçou  as ideias de Jeremy Corbin e foi o grande motor de sua vitoriosa campanha.
  
Alberto Castro, Londres 


POLÍTICAS ATUAIS AGRAVARÃO A CRISE – Paul Krugman




Não culpe a China por novos terremotos financeiros. Fragilidade da economia global tem causas profundas. Resposta convencional – cortar gastos públicos e elevar juros – é a pior possível

Paul Krugman – Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins

Que está causando as quedas abruptas das bolsas de valores? O que elas significam para o futuro? Ninguém tem muitas respostas.

Tentativas de explicar as oscilações diárias nos mercados são normalmente insanas: uma pesquisa em tempo real sobre o crash de 1987 da bolsa de Nova York não encontrou evidência alguma para nenhuma das explicações que os economistas e jornalistas ofereceram para o fato. Descobriram, ao invés disso, que as pessoas estavam vendendo ações porque – você adivinhou! – os preços caíam. E o mercado de ações é um péssimo guia sobre o futuro da economia. Paul Samuelson brincou, certa vez, que os mercados haviam previsto nove das cinco recessões anteriores, e nada havia mudado a este respeito…

De qualquer forma, os investidores estão claramente nervosos – e têm boas razões para isso. Nos EUA, as notícias econômicas mais recentes são boas (ainda que não ótimas), mas o mundo como um todo parece muito propenso a acidentes. Há sete anos, vivemos numa economia global que tropeça de crise em crise. Cada vez que uma parte do mundo finalmente parece colocar-se em pé, outra despenca.

Mas por que a economia mundial continua capengando?

Na superfície, parece uma sucessão incomum de azares. Primeiro, o estouro da bolha imobiliária e a crise bancária desencadeada em consequência. Então, quando o pior parecia haver passado, a Europa mergulhou numa crise de dívidas e numa recessão em dois mergulhos. A Europa ao fim alcançou uma estabilidade precária e começou a crescer de novo – mas agora, assistimos a grandes problemas na China e em outros mercados emergentes, que haviam sido pilares de força.

Contudo, não se trata de acidentes sem relação entre si. Estamos, na verdade, vivendo o que sempre ocorre quando muito dinheiro está em busca de poucas oportunidades de investimento.

Mais de uma década atrás, Ben Bernanke, então o presidente do banco central dos EUA (FED), argumento que a disparada do déficit comercial norte-americano não era o resultado de fatores domésticos, mas de uma “abundância global de poupança”. Um volume de poupança muito maior que o de investimentos – na China e em outras nações em desenvolvimento, provocado em parte pelas políticas adotadas em reação à crise asiática dos anos 1990 – estava deslocando-se para os EUA, em busca de lucros. Ele alertou levemente para o fato de que o capital que entrava não estava sendo canalizado para investimentos produtivos, mas para imóveis. É calro que o alerta deveria ter sido muito mais forte (alguns de nós o fizemos). Mas a sugestão de que o boom imobiliário dos EUA era em parte causado por fraqueza em economias de outros países permanece válido.

É claro que o boom converteu-se numa bolha, que provocou enorme estrago ao estourar. E não foi o fim da história. Houve também uma inundação de capitais, da Alemanha e outros países do norte da Europa, para a Espanha, Portugal e Grécia. Isso também provocou a formação de uma bolha, cujo estouro, em 2009-2010 precipitou a crise do euro.

E ainda não acabou. Quando os EUA e a Europa deixaram de ser destinos atraentes para o capital [devido à redução das taxas de juro a quase zero], a abundância global saiu em busca de novas bolhas a inflar, levando moedas como o real brasileiro a altas insustentáveis. Não poderia durar e agora estamos em meio a uma crise de mercados emergentes que faz alguns observadores lembrarem-se da Ásia nos anos 1990 – lembre-se, onde tudo começou.

Portanto, para onde o fluxo cambiante da abundância aponta agora? Talvez, de novo para os EUA, onde um novo fluxo de capitais externos provoca a alta do dólar e pode tornar a indústria novamente não-competitiva.

O que provoca a abundância global? Provavelmente, uma soma de fatores. O crescimento populacional está arrefecendo em todo o mundo e, apesar de toda a fanfarra com as últimas tecnologias, elas não parecem criar nem um grande aumento de produtividade, nem demanda para investimentos. A ideologia da austeridade, que conduziu a um enfraquecimento sem precedentes dos gastos públicos, ampliou o problema. E a inflação baixa, em todo mundo, que significa taxas de juros baixas, mesmo quando as economias estão crescendo aceleradamente, reduziu o espaço para cortar estas taxas, quando as economias se contraem. Qualquer que seja o mix preciso das causas, o importante agora é que os governos assumam seriamente a possibilidade – eu diria probabilidade – de que excesso de poupança e fraqueza econômica global tenha se tornado a nova normalidade.

Minha percepção é de que há, hoje, uma profunda falta de vontade política, mesmo entre governantes sofisticados, para aceitar esta realidade. Em parte, é devido a interesses especiais: Wall Street e os mercados não gostam de ouvir que um mundo instável requer regulação financeira, e os políticos que desejam matar o estado de bem-estar social não querem ouvir que os gastos governamentais não são um problema, no cenário atual.

Mas há também, estou convencido, uma espécie de preconceito emocional contra a própria noção de abundância global. Políticos e tecnocratas gostam de se enxergar como pessoas sérias, que tomam decisões difíceis – como cortar programas populares e elevar taxas de juros. Eles não querem ser informados de que estamos num mundo em que políticas aparentemente rigorosas irão tornar as coisas piores. Mas nós estamos, e elas vão.

GREAT NEWS FROM LONDON




Num despacho de Alberto Castro o destaque vai para o “dia histórico em Londres”, ocorrido há poucos dias. Também em Londres milhares marcharam a favor dos refugiados e das fronteiras abertas. (Redação PG)

Dia histórico em Londres. A esperança venceu o medo e Jeremy Corbyn, contra tudo e contra todos no establlishment politico e mediático, inclusive no seu próprio partido que viu em suas ideias de verdadeiro socialismo democrático e participativo como paradas no tempo, é o novo líder dos Trabalhistas e com cerca de 60% dos votos!!! Fim do New Labour, New Danger, de Blair.

Vale a pena ver e ouvir seu discurso de vitória. Ao mesmo tempo milhares e milhares marcharam em solidariedade com os refugiados e migrantes e por um mundo sem fronteiras. Este foi um dia que vivi com grande intensidade participativa e em que renovei em mim a esperança na Humanidade.
 
Alberto Castro* 
Mi casa és tu casa

Milhares marcham em Londres em favor de refugiados e de fronteiras abertas. Entre muitos, viam-se cartazes como ''Refugees welcome'' ''Refugees in, David Cameron out'', ''swap racistas for refugees'', ''We are all foreigners'', ''Mi casa es tu casa'', ''Refugee lives matter'', ''Take the wealth of the 1%'', ''Germany 10-England-0'' - video

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

ALEMANHA FECHA AS FRONTEIRAS




Governo alemão muda abruptamente a sua política para os refugiados e suspende o acordo de Schengen de livre circulação, fechando a fronteira com a Áustria e suspendendo também o tráfego ferroviário entre os dois países. Divisões deverão marcar cimeira europeia desta segunda-feira sobre a crise dos refugiados.

Até agora, a chanceler Angela Merkel afirmava que a Alemanha poderia receber até 800 mil refugiados sírios; o seu parceiro de coligação, Sigmar Gabriel, do Partido Social-Democrata, falava mesmo em receber meio milhão por ano. Mas neste domingo, o ministro do Interior do governo alemão, Thomas de Maizière, disse que já fora alcançado o limite de capacidade de acolhimento e anunciou a suspensão temporária do acordo de Schengen, de livre circulação na Europa, fechando na prática a sua fronteira com a Áustria.

"Precisamos de mais tempo e de uma certa dose de ordem nas nossas fronteiras", justificou o governante.

A Polícia Federal alemã mobilizou todas as suas unidades disponíveis para os controlos de fronteira.

A rede ferroviária da Áustria anunciou que o tráfego de comboios em direção à Alemanha está suspenso desde as 17h locais deste domingo, até segunda ordem.

A decisão significa uma viragem da política germânica para a crise dos refugiados.

Crítica do parceiro bávaro

A posição de Merkel já tinha ficado enfraquecida quando o seu principal aliado, Horst Seehofer, líder da União Cristã Social (CSU), o partido irmão da CDU da chanceler na Baviera, a criticou por, segundo ele, encorajar os refugiados chegados à Hungria a continuarem para a Alemanha. Segundo a Der Spiegel, Seehofer, que é também o governador da Baviera, convidou o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Urban, para a conferência do grupo parlamentar do seu partido, para “encontrar uma solução comum” para a crise dos refugiados.

Seehofer considerou que o afluxo de milhares de refugiados à Alemanha é produto de um erro de Merkel que acompanhará o país por muito tempo. “Em breve estaremos numa situação de emergência que já não conseguiremos controlar.”

Merkel cedeu e agora pode criar situações tensas na fronteira com a Áustria e também na fronteira da Sérvia com a Hungria, onde o governo de Budapeste está a acabar de construir uma vedação de 4 metros de altura nos 175 quilómetros da extensão da fronteira. A Hungria também está prestes a aprovar legislação que criminaliza com penas de cadeia quem atravesse a fronteira sem a documentação que o governo considera necessária.

Cimeira europeia

Em comunicado, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, sublinhou a urgência de um acordo para aprovar as medidas propostas por Bruxelas para gerir a crise dos refugiados, sublinhando a importância da reunião extraordinária dos ministros da Administração Interna da UE, que decorre esta segunda-feira, e a necessidade de serem aprovadas rapidamente as cotas de refugiados, para distribui-los por todos os países da União.

Depois de Angela Merkel ter afirmado que o país aceitaria os refugiados da guerra na Síria, a Alemanha passou a ser o destino prioritário dos refugiados. Em duas semanas chegaram a Munique cerca de 63.000, dos quais 13.000 só no sábado.

República Checa aumenta controlo de fronteira

A República Checa anunciou também o aumento do controlo da fronteira com a Áustria.

"A República Checa está a reforçar as medidas na sua fronteira com a Áustria. As etapas seguintes serão determinadas de acordo com o número de refugiados em direção à República Checa", disse o ministro do Interior Milan Chovanec.

A República Checa, junto com a Hungria, a Eslováquia e a Polónia rejeitam a política de cotas, da União Europeia, naquilo que um diplomata citado pela Der Spiegel chegou a chamar “Guerra Fria”.

Dia Europeu de Ação pelos Refugiados

Neste sábado, dezenas de milhares participaram numa manifestação a favor do acolhimento dos refugiados. No Reino Unidos foram dezenas de milhares de pessoas, numa manifestação em que participou o novo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn. Ainda no Reino Unido houve manifestações em Edinburgh, Glasgow e Cardiff. Outros capitais europeias onde houve também manifestações foram Paris (24 mil pessoas), Roma, Copenhaga (30 mil) e Lisboa.

Esquerda.net - Foto: Família síria exausta depois de ter sido recolhida por um navio italiano no Mediterrâneo. Foto de UNHCR - A. D'Amato 
  
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FORTALEÇA-SE, A LUTA CONTINUA




Este é um Expresso Curto que não vai ter grandes considerações da nossa parte. Possui algumas abordagens a atualidade de interesse à moda do Expresso e dos outros Expressos do “sistema”, mas é o que temos mais por aí. Aguentemos com discernimento esta comunicação social. Afinal, sabermos como não se deve fazer é útil. Aprendemos. Talvez um dia tudo melhore a favor de uma liberdade de expressão, de informar, de formar, de uma democracia de facto. A verdade é que as alternativas a estes impérios da comunicação social, comparativamente, são ténues e de continuidade incerta. Além de aparecem sempre uns chicos-espertos que acabam por devassar tudo e baralhar ainda mais a devassa. Existem algumas exceções de mídia alternativa, em português, mas poucas. e de continuidade e qualidade dúbias.Também é verdade que cada vez há mais iliteracia e os que dizem e fazem disso garbo: “a política é para os políticos”. Os tolos ignoram que é assim que vamos assistindo à degradação da democracia, ao aumento das abstenções eleitorais, ao aumento dos regimes ditatoriais com máscaras de democracia. Como compôs Bertolt Brecht:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Hoje é segunda-feira. Tenha uma semana melhor que a anterior. E que de semana para semana seja sempre assim. Fortaleça-se, porque a luta continua. 

Redação PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Pedro Candeias, coordenador do Expresso

Schengen: Espaço, a última fronteira

O problema com a morte é que ela existe, repete-se, todos a vemos e isso banaliza-a; pior do que isso, torna-a irrelevante, um número abstrato, se desprovido de contexto. Mas um número, na génese, é uma coisa concreta: um não é dois, dois mais um são três, três mais dois dá cinco. Ontem, cinco rapazes, cinco raparigas e quatro bébés morreram perto da ilha de Farmakonisi, na Grécia, quando o rudimentar barco de pesca de madeira se virou no sul do mar Egeu. Iam 112 pessoas lá dentro e 34 delas perderam a vida - este ano,o Mediterrâneo já engoliu 2700 refugiados/migrantes. Não é um número, é uma tragédia que não tem filiação nem pátria, com vários pontos de partida e um ponto de chegada.

"Não podemos permitir aos refugiados que escolham livremente onde querem ficar", avisou Thomas de Maizière, Ministro do Interior alemão. [Thomas de Maizière é ele próprio descendente de franceses protestantes que pediram asilo na Prússia no século XVII.]O país mais rico e poderoso da Europa fechou as suas fronteiras a sul e o acordo de Schengen, de 1995, ficou suspenso "provisoriamente". A polícia alemã diz o contrário - diz que está preparada para lá ficar "durante muito tempo". A Alemanha está a chegar ao limite da capacidade de alojamento e os migrantes que chegam, dormem ao relento e no chão e amontoados uns nos outros; em Munique, estão 63 mil refugiados desde há duas semanas.

Abriu-se o primeiro precedente:

Milan Chovonec, ministro do interior da República Checa, garantiu que o país dele também iria reforçar a fronteira. Viktor Orban, primeiro ministro da Hungria com tiques de outros tempos, bateu palmas à decisão de Angela Merkel. E Merkel telefonou a Claude Juncker para se justificar. Disse Juncker: "A situação atual na Alemanha, à primeira vista, parece ser uma situação abrangida pelas regras." Que regras são essas?

Economist diz-nos que a suspensão dos acordos de Schengen é permitida, se em causa estiver a segurança nacional de quem baixa as barreiras e aumenta os controlos. Estas exceções são legais desde que temporárias e é aqui que entra a semântica - temporário é provisório, provisório é transitório, e transitório é uma palavra vaga, como indeterminado. E a seguir a indeterminado, normalmente, vem o definitivo. E quanto mais tempo o espaço Schengen estiver limitado mais a ideia da Europa una e unida tenderá a perder-se.

É por isso que, hoje, os ministros do Interior da zona Euro se reúnem de emergência em Bruxelas para discutirem a crise dos refugiados que bateu agora à porta do Velho Continente mas que anda de porta em porta pelo resto do planeta há décadas. AFrança já pediu o "respeito escrupuloso" do acordo Schengen por parte da UE.

P.S.: Nesta madrugada, soube-se que turistas mexicanos e guias egípcios foram mortos no deserto do Egito pelas autoridades locais que os confundiram com terroristas do auto-denominado Estado Islâmico.12 mortos e 10 feridos - ou a estúpida irrelevância da vida.

OUTRAS NOTÍCIAS

Em Inglaterra, só dá Jeremy Corbyn. No primeiro dia como novo líder do Partido Trabalhista, Corbyn manteve a sua agenda: apanhou um táxi, foi a uma acção de solidariedade contra doenças mentais, falou de depressão e de Alzheimer, e não respondeu a perguntas de jornalistas. Aparentemente, nada mudou na vida dele. Talvez não tenha espreitado o Twitter de David Cameron, que o considerou uma "ameaça à segurança nacional, à segurança económica e à segurança das famílias". Ou talvez não tenha visto o seu número 2, Tom Watson, a dar uma entrevista em que disse estar contra duas medidas dos novos trabalhistas: a saída da NATO e o fim das negociações à renovação da frota dos submarinos nucleares, o tal programa Trident.

Por cá também temos histórias com submarinos, mas estas ficaram debaixo de água. À tona está um banco ruim que foi partido em dois: um mau, que é realmente mau, e um bom, que não é assim tão bom e até deu um prejuízo de €850 milhões num ano. Em pré-campanha eleitoral, Passos Coelho disse-se disposto a criar uma subscrição pública para angariar fundos para quem ficou mal na vida com o banco mau, mas avisou que não valia a pena pressioná-lo pois oGoverno não se metia na Justiça. António Costa aproveitou a deixa para dizer que mal seria de um país se os seus cidadãos tivessem de depender "da caridade do primeiro-ministro".

E por falar em primeiro-ministro, hoje regressa o Prós & Contras na RTP1 e o programa será votado ao tema: "A independência da Justiça". A promo deste P&C tem 'aquela' pergunta de Paulo Rangel que implica um ex-PM, que agora vive no número 33 da Abade Faria, e um partido que não o PSD. Os socialistas fizeram-se ouvir. Ou ler. Ascenso Simões, no Facebook: "Mais não posso que considerar que a RTP fez uma opção partidária, que nestas eleições optou por atacar o PS, maltratar os seus militantes e provocar os seus votantes”. João Galamba, no Twitter: "O diretor de informação da RTP, Paulo Dentinho, só tem uma alternativa: demitir-se". Edite Estrela, no Facebook: "A televisão estatal vai mesmo dedicar um Prós e Contras ao dislate de Paulo Rangel?". E José Lello, o único destes quatro a aparecer 'naquela' foto, no Twitter: "A RTP está ao serviço da campanha do PSD/CDS."

Ainda da série Sócrates, temos isto: Eduardo Catroga escreveu uma carta aberta a António Costa, acusando-o de inverdades no debate com Passos Coelho no episódio quem-chamou-a-troika-foram-vocês-e-não-nós. Catroga descreve Pedro Silva Pereira, braço direito de quem-vocês-sabem, como o interlocutor do Governo que não quis conversas com o PSD; e Pedro Silva Pereira puxou a mola do PEC IV para fazer saltar a Troika cá para fora.

O que é que Kennedy dizia? "Não procuremos a resposta Republicana ou a resposta Democrata, mas a resposta certa. Não devemos procurar quem culpar pelo passado. Devemos aceitar a nossa responsabilidade para o futuro." Adiante.

A acabar, dois programas para começarem a noite: o debate António Costa/Catarina Martins, na TVi 24, e o regresso dos Gato Fedorento à TV com "Isto é tudo muito bonito, mas", no Jornal da Noite da TVi. O primeiro convidado é Jerónimo de Sousa..

FRASES

"Estou a tentar ser simpático" Donald Trump, candidato a candidato à nomeação Republicana para as eleições presidenciais, versão Dr. Jekyll

"Quem me atacar, está condenado." Donald Trump, versão Mr. Hyde

"É o funeral do blairismo e o regresso ao socialismo." Manuel Alegre, o barão vermelho, ao jornal i

"Novo Banco é uma batata frita. Não é bom para qualquer Governo." Marcelo Rebelo de Sousa e a lógica da batata quente, no comentário semanal à TVi

"Muitas vezes me pergunto como será a minha cruz". Papa Francisco, em entrevista à Rádio Renascença

"Estava muito mais preocupado se o Sporting sofresse mais golos do que marcasse" , Jorge 'contas-são-comigo' Jesus, após a vitória por 2-1 em Vila do Conde

"Estou a gostar mais deste ano do que dos anteriores, porque agora sou marido e pai e isso torna tudo melhor" Novak Djokovic, vencedor do US Open

O QUE ANDO A LER

Há uma teoria americana que diz que os assassinos têm três nomes e são estes os exemplos: Lee Harvey Oswald (JKF) , James Earl Ray (Martin Luther King), John Wilkes Booth (Lincoln), Mark David Chapman (John Lennon), Gary Leon Ridgway (43 mortes de Green River), John Wayne Gacy (Killer Clown) e Paul John Knowles (Casanova Killer).

"Mao: A História Desconhecida" de Jung Chang (Cisnes Selvagens) e John Halliday é o livro que pretende desmistificar o ditador que liderou a China durante décadas do século XX. Nele, Mao é retratado como um menino bem e da mamã, que detestava o trabalho forçado e os camponeses. Era hipocondríaco e vaidoso - e traficante de ópio. E um tirano oportunista, que deixou mulheres e filhos para trás em busca da glória pessoal, atingida através da manipulação, perseguição e assassínio de quem lhe fazia frente. Chang e Halliday recuperam documentos antigos (como cartas pessoais e atas institucionais) que mostram que Mao teve o apoio de Estaline e da Rússia para chegar ao poder do PCC e tentam provar que a Grande Marcha foi uma grande ilusão panfletária.

Mao Tsé-Tung é um nome com três letras.

Com duas letras apenas se escreve Bernardo Ferrão, o editor de política do Expresso que tem sempre uma coisinha ou outra de bastidores para vos contar. É dele o Expresso Curto de amanhã.

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