sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ALGUNS QUÊS E PORQUÊS DA CRISE POLÍTICA QUE CRESCE EM TIMOR-LESTE




Em Timor-Leste há uma crise política declarada e a subir de decibéis. Uma guerra de palavras e opções de índole política entre o Presidente da República e os líderes dos dois principais partidos (CNRT, de Xanana e Fretilin, de Alkatiri). Partidos políticos que há cerca de um ano se aliaram e formaram um governo conjunto a que o PR deu posse sem que realizasse eleições antecipadas, como devia.

O PR, Taur Matan Ruak, está abalançado na formação de um partido inspirado por si. Prepara-se para governar o país depois de terminar este mandato na presidência. Esse já é um problema. Nem Fretilin, nem CNRT, vêem com bons olhos a formação desse novo partido liderado por Taur. Fácil será perceber que o mais certo é ele vencer as eleições e vir a ser primeiro-ministro. Taur é muito bem quisto por grande parte dos timorenses, principalmente os do interior e mais carenciados. Ora, esses, são a maioria dos timorenses.

O pano de fundo é exatamente esse. O desagrado do CNRT e da Fretilin acerca dessa manobra política do atual PR. A crise por alguma circunstância tinha de acontecer. Foi agora. O pretexto serviu-se da exoneração do Chefe de Estado Maior das Forças de Defesa timorenses. O brigadeiro-general Lere Anan. Lere Anan atingiu os 60 anos de idade e parte para a reforma. É assim que mandam os regulamentos. O substituto, nomeado pelo PR foi o major general Filomeno Paixão. Só que o PR não cumpriu os trâmites necessários e obrigatórios na nomeação do novo CEMG. Constitucionalmente deve propor o nome do indigitado ao governo, que aceitará ou não. Ficando obrigados a encontrarem um consenso sobre quem ocupará o cargo.

Constata-se que as formalidades constitucionais não foram cumpridas por parte do PR Taur. Na verdade houve uma falha grave no seu procedimento. Essa foi a gota de água para o despoletar da crise. Foi o pretexto. A Fretilin e o CNRT viram aqui a grande oportunidade de desgastarem Taur Matan Ruak e combaterem o mentor do novo partido que temem, o de Taur. Desgastando politicamente Taur as consequências para o seu partido em formação podem vir a ser significativas ou até devastadoras. O que asseguraria à Fretilin e ao CNRT, aliados, a continuidade da detenção do poder governativo e outros. Para além de essa continuidade poder assegurar a manutenção da opacidade sobre “negócios” de Xanana Gusmão e CNRT, assim como também da grande família que é a Fretilin. 

É voz corrente em Timor-Leste que predomina a opacidade acerca de vantagens proporcionadas à Fretilin e à família Alkatiri, assim como que é igualmente comentado sobre Xanana ter "metido no bolso a Fretilin" ao partilhar algumas vantagens. Esses são rumores em Timor-Leste. O que pode não corresponder à verdade. E isso é mau. Os rumores sempre foram uma das vertentes prejudiciais em TL. Não raras vezes se concluiu que não passavam de férteis imaginações a divagarem e a sujarem os nomes de gente honesta. Importa recolher provas e isso ainda está por fazer. A presunção de inocência é pomo de extrema importância em democracia.

Os receios sobre o alastrar da crise política que se desenha relembram 2006 e toda a espécie de crimes horrendos que Xanana provocou para se apoderar do poder governativo. Essa crise arrastou-se por cerca de dois anos. Muita destruição, muitas mortes, muitos feridos. Com o elevar de tom nesta chamada guerra entre Taur, Xanana e Alkatiri (entre PR e Governo) há quem tema uma nova cruzada de violência como em 2006. Isso mesmo pode constatar no título da peça escrita por António Veríssimo: LUTA DE GALOS. QUEM QUER O QUÊ DOS PODERES EM TIMOR-LESTE?

São receios legítimos de quem vive em Timor-Leste ou vive e ama Timor-Leste, como esse meu bom irmão e colega nestas lides de blogues e da vida, o AV. Mas, sobre esses receios, caiu hoje uma certeza, uma garantia expressa por Xanana Gusmão, que diz que os “timorenses não permitirão repetição de crise de 2006”. Até onde podemos acreditar em Xanana? Haja bom senso.

O melhor é dizer à portuguesa o tradicional “ficamos à espera que assim seja, logo veremos”.

Da atualidade de hoje, sobre o assunto, colamos a esta peça dois artigos com origem na Agência Lusa.

Tomo a liberdade de convidar os interessados sobre Timor-Leste a visitar o Timor Agora – com o qual o Página Global tem uma parceria – e inteirar-se sobre a atualidade timorense, daquela região do sudeste asiático, oceânia e CPLP. Que pode ler em português ou em tétum.

Para isso adianto aqui e faço constar alguns links:


Ao estilo de condensado informativo:

Xanana Gusmão garante que timorenses não permitirão repetição de crise de 2006

Díli, 26 fev (Lusa) - O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste Xanana Gusmão disse hoje que apesar da atual tensão política, os timorenses não permitirão que volte a repetir-se a crise de 2006 e que o país volte a ser descrito como "falhado".

"Timor-Leste foi chamado um país falhado, em 2006, há 10 anos. Acredito que os senhores não estão alheios ao desenvolvimento atual de política interna do país", disse o atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico timorense.

"Quero garantir que não será a segunda vez que a comunidade internacional nos chamará de Estado falhado ou da possibilidade de Estado falhado", disse, na abertura de uma conferência inserida no 1.º Fórum Económico Global da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

Xanana Gusmão referia-se ao conflito que se viveu em Timor-Leste em 2006 - quando o país esteve à beira de uma guerra civil - e ao discurso que o Presidente da República, Taur Matan Ruak, proferiu na quinta-feira no Parlamento Nacional.

O chefe de Estado comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse ainda o chefe de Estado.

No seu primeiro comentário público sobre as declarações, Xanana Gusmão deixou uma mensagem de tranquilidade aos empresários presentes em Díli, ironizando com as declarações do Presidente da República.

"A minha única experiência em economia é dar contratos aos meus familiares. Uma profissão que está em voga agora", disse.

Ao mesmo tempo, falou em "'nuances' de fragilidade" dos próprios líderes e das instituições do Estado, que estão ainda "na fase de consolidação".

A intervenção de Xanana Gusmão foi feita no arranque de vários debates temáticos que pretendem analisar os laços comerciais, económicos e de investimento entre a CPLP e a Ásia e Pacífico, capitalizando nas oportunidades da localização geográfica de Timor-Leste.

Delegados de 25 países, entre os quais a Indonésia, hoje representada pelo ministro do Comércio, Thomas Lembong, participam naquele que é o maior encontro empresarial de sempre em Timor-Leste.

"Estamos ainda na fase de consolidação das instituições do Estado. Um processo novo que é de construção da nação", disse, referindo que desde 2002 os empresários timorenses são cada vez mais parte desse processo.

ASP // MP

Xanana Gusmão devolveu medalha que recebeu do PR timorense em 2015

Díli, 26 fev (Lusa) -- O ex-primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão devolveu hoje a condecoração com que foi agraciado a 20 de maio do ano passado pelo chefe de Estado, descontente com os comentários que este proferiu na quinta-feira no Parlamento.

"A condecoração foi entregue nos serviços de correspondência do Palácio da Presidência da República às 14:30 de hoje", confirmou à Lusa fonte do gabinete de Xanana Gusmão, atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico.

A mesma fonte confirmou que a condecoração foi acompanhada de uma carta em que Xanana Gusmão explica o motivo da devolução, que ocorre 24 horas depois de uma polémica intervenção do chefe de Estado timorense, Taur Matan Ruak, no parlamento.

O Presidente comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse ainda o chefe de Estado.

Na carta endereçada ao chefe da Casa Civil, e a que a Lusa teve acesso, Xanana Gusmão explicou que devolve a medalha por considerar que não a merece, pedindo que seja entregue a outros que a mereçam mais.

"Eu Xanana Gusmão quero informar sua excelência chefe da Casa Civil que eu não sou veterano. Porque não fiz o procedimento da Lei dos Combatentes da Libertação Nacional. Só podem ser considerados veteranos as pessoas que se registaram e assim obtêm os benefícios previstos na lei", disse.

"Até à data eu ainda não sinto que mereço e como tal não posso ser considerado veterano", disse Xanana Gusmão, afirmando ter ficado um pouco nervoso pela decisão de a medalha lhe ser conferida.

O ministro timorense disse que foi "obrigado" por muitos a ir receber a condecoração mas que se sentiu "constrangido" por a receber.

"Assim gostaria de informar sua excelência que, eu humildemente peço para aceitar o devolver desta medalha, para a poder entregar a outras pessoas que a merecem mais", explicou.

"Despeço-me e peço desculpa por interferir com o seu trabalho", concluiu o ex-primeiro-ministro.

Xanana Gusmão já hoje, numa intervenção no 1.º Fórum Económico Global da CPLP, em Díli, fez referência a esse discurso, sem o mencionar diretamente.

"Timor-Leste foi chamado um país falhado, em 2006, há 10 anos. Acredito que os senhores não estão alheios ao desenvolvimento atual de política interna do país", disse o atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico timorense.

"Quero garantir que não será a segunda vez que a comunidade internacional nos chamará de Estado falhado ou da possibilidade de Estado falhado", acrescentou.

No seu primeiro comentário público sobre as declarações, Xanana Gusmão falou aos empresários presentes em Díli, ironizando com as declarações do Presidente da República.

"A minha única experiência em economia é dar contratos aos meus familiares. Uma profissão que está em voga agora", disse.

Xanana Gusmão foi condecorado por Taur Matan Ruak a 20 de agosto do ano passado "pela sua inexcedível liderança na luta da libertação nacional", num momento que assinalou os 40 anos da criação das Falintil, o braço armado da resistência timorense.

"Pelo seu exemplo, em momentos-chave da nossa história, e pela capacidade de liderança, Xanana Gusmão foi verdadeiramente um pai fundador de Timor-Leste", disse na altura Taur Matan Ruak.

"A sua visão - antes e depois da Independência - está na base da política de reconciliação, paz e estabilidade que o nosso país e o nosso povo adotaram e implementaram com grande determinação e de coração aberto", afirmou.

ASP // VM

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