sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

UM EXERCÍCIO CLARIVIDENTE E COERENTE


EVOLUÇÕES RÁPIDAS NO ÂMBITO DA IIIª GUERRA MUNDIAL 

Martinho Júnior, Luanda 

1 – A Rússia está a demonstrar na conjuntura internacional em curso, para além de suas surpreendentes leituras geoestratégicas transformadas em vantajosos processos, que está a ser capaz de, a quente, lidar de forma clarividente e coerente com os problemas globais e particularmente com aqueles problemas sócio-políticos que manifestam carácter neofascista e neonazi, provocados pelas alianças formuladas e instrumentalizadas pelo exercício da hegemonia unipolar e seus falcões, em prol dos interesses e conveniências de 1% (aristocracia financeira mundial) no seu afã de domínio sobre o resto da humanidade!

Essa clarividência e essa coerência estão fora do alcance do campo de caos e de suas próprias contradições internas, o campo criado pelo exercício no âmbito da insana procura de hegemonia unipolar desde o final da chamada Guerra Fria e foram elas que estimularam as surpreendentes vantagens geo estratégicas que a Rússia está a demonstrar, de tal forma que se vão tornando evidentes tanto as areias movediças, quanto os movimentos telúricos das placas tectónias que dão substância aos conteúdos sócio-políticos das projecções de seus adversários.

O exercício russo, tem sido produzido em função das experiências resultantes da implosão do socialismo real e particularmente da URSS, aproveitando com sabedoria as muitas iniciativas que tiveram suas raízes e trajectos no passado, como as Academias, autênticas articulações de conhecimento científico e tecnológico que têm sido excepcionalmente bem-sucedidas, nas profundidades antropológica e histórica dos seus termos, pela energia que vão demonstrando no presente e consolidando de forma a ainda melhor a Rússia poder exercitar sua afirmação clarividente e coerente no futuro.

2 – A Rússia respeita o relacionamento internacional entre os estados, as nações e os povos, nos termos do direito internacional vigente, demarcando-se contudo das falácias geradas pelos processos de hegemonia unipolar e seus falcões: tem sido nesse quadro que tem exercido o seu papel face às ameaças e aos riscos que têm sido contra ela tão diligentemente estimulados.

Para alguns esse é um exercício meramente “conservador”, mas no meu entender é de facto um sinal de clarividência e coerêncis.

Assumiu-o por exemplo nas duas guerras travadas na Chechénia, como em relação às provocações sistematizadas pelos percursos da Geórgia e da Ucrânia, não se deixando enredar por esses expedientes que lhe foram e são nocivos aos termos de sua afirmação.

As experiências acumuladas particularmente pela via político-diplomático tornaram a Rússia apta e aberta à clarividência e à coerência na leitura que seu governo tem feito no âmbito das relações internacionais, ao mesmo tempo que a nível interno faz prova de renascimento económico, científico, técnico e tecnológico, aproveitando o incontornável papel histórico e antropológico das Academias herdadas dos sovietes.

A base que projecta a Rússia nessa afirmação estimulou assim sua potencialidade geo estratégica, muito para além dum exercício limitado ao seu enorme espaço físico-geográfico (a Rússia é o único estado cujo território se estende por dois continentes).

3 – A superioridade geo estratégica que a Rússia está a demonstrar no quadro do socorro à Síria impedindo a sua fragmentação estimulada por tão traumáticas pressões externas via NATO e seus aliados feudais das monarquias arábicas, está a conseguir que o campo que semeou o caos experimente alguns dos efeitos boomerang dos seus projectos tenebrosos e se torne por isso pasto de suas próprias contradições.

Essas contradições estão patentes nos exercícios de relacionamento da União Europeia, dos Estados Unidos e da NATO, presos às teias que urdiram e estimularam, como nos casos de âmbito mais circunscrito como os da Ucrânia (governo Porochenco), da Turquia (governo Erdogan), de Israel (sionismo), da Arábia Saudita, ou do Qatar (monarquias arábicas de carácter feudal, salafista e wahabista).

A consistência da Rússia no quadro de sua superioridade geo estratégica foi gerada outrossim em função das capacidades inscritas nas manobras de inteligência e militares (o acervo de experiências à sua disposição é enorme), tirando substancial vantagem dos conceitos científicos, técnicos e tecnológicos criados ainda a partir das suas Academias e tendo em conta as equiparáveis capacidades científicas, técnicas e tecnológicas dos seus adversários reais, virtuais ou potenciais.

O poder de manobra da inteligência e do esforço militar russo na Síria está a provar a sua superioridade geo estratégica, científica, técnica e tecnológica, que se vai consumando e traduzindo rapidamente nos resultados favoráveis de suas vantagens sobre o terreno, a ponto de alguns dos poderosos adversários se verem obrigados a reconhecer finalmente e às pressas que o governo sírio ocupa um lugar central na mesa de quaisquer negociações, pois a indivisibilidade do território sírio já não mais se poderá pôr em causa.

Comparativamente à seriedade das opções russas na Síria, as da coligação liderada pelos Estados Unidos assemelham-se a um grotesco baile de mascarados, num carnaval (e numa carnificina) preparada nos laboratórios dantescos do caos e do neo liberalismo sem limites e sem qualquer tipo de escrúpulos ou responsabilidades planetárias!

A Rússia está a conseguir realizar essas vantagens, sem recorrer a todas as suas capacidades em termos de inteligência ou esforço militar, muito menos usando capacidades científicas, técnicas e tecnológicas que prudentemente guarda em reserva, num momento em que o caudal de inovações tende a aumentar.

Essas capacidades em reserva estão a ser testadas nos exercícios militares em larga escala, entre eles um que terminou esta semana no sul e sudoeste do território da Federação.

Face a esses esforços que tendem a consolidar vantagens no terreno, agora que se trava a batalha decisiva de Alepo, a última vértebra na coluna vertebral da Síria que falta ser tomada pelas forças governamentais, crescem as manobras de mascaramento da coligação liderada pelos Estados Unidos e a confusão que se estabeleceu no seu campo, com os mais diversos expedientes de propaganda, de contra propaganda e de até posicionamentos contraditórios e com efeitos em tensões intestinas recíprocas!...

Face a essa confusão, a Rússia de certo modo tem a chave em direcção à paz na mão, algo que se referirá à progressão que as forças que reforçam os dispositivos do governo sírio estão a fazer no terreno em Alepo.

Todos os esforços inscrevem-se na nova doutrina de Segurança da Rússia, que entre outras coisas leva em muita atenção a ameaça das “revoluções coloridas” tendo em conta seu potencial na procura de implosões dentro da Federação, reconhece as fórmulas independentes das capacidades russas face aos instrumentos dos Estados Unidos em razão das medidas políticas, económicas, militares e informativas que a hegemonia unipolar tem desencadeado e faz uma detalhada análise do que se passa nas periferias, particularmente nas periferias oeste e sudoeste, Ucrânia, Turquia, Israel, Síria e Iraque incluídos.

4 – No momento em que uma nova aproximação entre Angola e a Rússia indicia estar na forja (não foi por acaso que o cruzador Moskva visitou Luanda em saudação aos 40 anos de independência de Angola), Angola apresentou na ONU, onde pela segunda vez integra o quadro dos Membros Não Permanentes do Conselho de Segurança, uma proposta de desarmamento dos arsenais nucleares à escala global.

Por aquilo que está a demonstrar a Rússia em relação às suas capacidades de inteligência e militares convencionais e às potencialidades de inovação de que se serve, as armas nucleares tornaram-se perfeitamente dispensáveis, senão supérfluas: as vantagens podem ser garantidas com recurso a processos correntes considerados como convencionais.

Assim sendo há potências que são Membros Permanentes do Conselho de Segurança da ONU, como a Rússia, que podem à mesa de negociações perfilhar a proposta angolana, o que conta a favor dos estímulos em prol dos relacionamentos bilaterais, aproximando Angola e Rússia e a favor da paz que Angola tanto persegue.

Creio que a paz na Síria está ao alcance por via da mesa de conversações, explorando o diálogo entre as partes com a exclusão dos terroristas do Estado Islâmico e da Frente Al Nushra, apesar do fogo cruzado das contradições no campo da coligação liderada pelos Estados Unidos e dos factores retrógrados dessa coligação.

Angola com base na leitura de sua própria experiência traumática em relação ao quadro da“guerra dos diamantes de sangue” que se estendeu durante uma década (entre 1992 e 2002), pode e deve incentivar os governos de Al Assad e de Putin, particularmente, na incessante busca da paz, até por que as vantagens no terreno são cada vez mais evidentes.

No quadro das potencialidades emergentes que animam os conceitos de globalização multipolar, essa aproximação em muitos aspectos pode também favorecer os esforços não só nos caminhos da paz em África, como em prol das necessidades no âmbito do renascimento africano, tendo em conta os factores, os aspectos e as questões que se levantam na luta contra o subdesenvolvimento.

Habituadas aos desafios inerentes à gestão da equação homem-ambiente nos enormes espaços nacionais da Federação Russa, as Academias russas podem inspirar os africanos, neste caso os angolanos em relação aos seus próprios espaços, priorizando a leitura relativa à equação omem-ambiente tendo como fulcro a questão da água interior em Angola e em África.

Uma das bases capazes de fazer incrementar as iniciativas de reaproximação recíproca é a indústria mineira, onde os russos possuem interesses importantes em Angola, como o caso da Alrosa; a Alrosa poderá ser um elemento facilitador importante na dinamização dos novos vínculos que importa criar.

O potencial de intercâmbio inteligente entre as Academias russas e as universidades angolanas recentemente instaladas é enorme, sabendo os angolanos de antemão que para se melhor afirmarem internamente e no contexto africano, afirmando os incentivos à paz, o conhecimento inteligente é indispensável, pois será ele que alimentará a geo estratégia de domínio e segurança em relação à água interior de Angola e de África e com isso os termos garantes, a muito longo prazo, de desenvolvimento sustentável.

Ilustrações e fotos:
- Disseminação do “Estado Islâmico”;
- Presidentes Al Assad e Putin;
- Presidentes José Eduardo dos Santos e Putin.

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