Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
Aconteceu
e em simultâneo. No dia em que Marcelo Rebelo de Sousa dá a sua última aula de
direito administrativo na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
Passos Coelho apresenta a sua última moção de estratégia à liderança do PSD.
Sob o lema de um "Compromisso reformista", o presidente
social-democrata avança sem oposição mas não se antecipa sem confronto. Nos
tempos próximos, navegando à vista da governação socialista e das alianças à
Esquerda, espera que o seu fatalismo histórico se confirme: não especula sobre
o papel do presidente da República face a uma eventual crise política mas
depende dessa crise para evitar que os ditos sociais-democratas do partido o
reformem compulsivamente. Sem compromisso. Só há futuro político para Passos
Coelho caso o vento não sopre de feição a António Costa. E, ainda assim, muito
depende daquele a quem apelidou - no último Congresso do partido - de
"cata-vento" e a quem criou todos os obstáculos possíveis no caminho
para Belém. Após ter "catado" o eleitorado ao Centro, quererá o
social-democrata Marcelo mostrar administrativamente ao liberal Passos para que
lado sopra o vento?
No
campo dos fenómenos naturais não se pode dizer que Passos, por concorrer
sozinho e sem ninguém à ilharga em eleições directas, tenha acabado com o PSD.
Independentemente do vento que sopre de Belém, há sempre um Rio que corre. Ou
um Morais Sarmento que emerge. Daqui a seis meses, a luta pela bandeira da
social democracia será impiedosa. A "segunda geração de reformas" a
que Passos Coelho se compromete perante um crescimento económico socialista
minguado, terá que ser dirigida para dentro do próprio partido, agora que não
conta com a execução orçamental forçada dos amigos de Bruxelas. Os amigos de
Bruxelas são de ocasião e a ocasião é o momento. E o momento é de Costa.
Ninguém acredita que Passos resista quatro anos na Oposição sem concorrência
interna. Paulo Portas percebeu-o há muito e já teve essa Assunção. A sua.
Passos
prefere assumir outro caminho e, ao contrário de Portas, encerra-se no seu
semicírculo, não procurando descendência. Continua a ser irrazoável,
acreditando agora que o cenário macroeconómico que fielmente serviu durante
quatro anos, o possa salvar. No fundo, Passos Coelho ainda não tirou o
"pin" da lapela apesar de ter abandonado o discurso da ilegitimidade
governativa da Esquerda. Como fez questão de nos informar no dia anterior à
apresentação da sua moção ao congresso, caso estivesse no Governo "estaria
a bombar para afastar a crise". É essa a sua assunção. Alguém lhe explique
que continua a bombar para o que já devia ter acabado mas continua.
O
autor escreve segundo a antiga ortografia
`Músico
e advogado
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