quinta-feira, 31 de março de 2016

Portugal. SE PASSOS RENOVAR “É PARA CONTINUAR RODEADO DE YES MAN”



António Capucho saiu do PSD há dois anos, mas segue a vida política e antecipa um congresso social-democrata 'sem história', que será apenas o cumprimento do calendário num partido transformado em "rebanho fiel" que não contraria o líder.

"Sigo a vida política e de todos os congressos este é talvez o menos interessante, na justa medida em que está tudo decidido, não há alternativa à liderança ou, se há, não apareceu, não se assumiu como tal por enquanto", disse à Agência Lusa o ex-autarca de Cascais, em jeito de antecipação do 36.º congresso do PSD, que decorre entre sexta-feira e domingo em Espinho.

Com a liderança do partido decidida em diretas e uma única moção de estratégia global em discussão, António Capucho lamenta a ausência de debate, considerando que a reunião magna dos sociais-democratas será "apenas o cumprimento do calendário" e "mais nada do que isso".

"Sinceramente não tenho nenhuma expetativa que seja o que for de relevante possa acontecer neste congresso", confessa, admitindo, contudo, ter alguma esperança que o líder social-democrata renove a direção, porque "há companhias de que certamente Pedro Passos Coelho se deve querer libertar".

"Só se não tem o mínimo discernimento é que não fará alguma renovação. Mas isso em nada vai alterar, porque se ele fizer renovação é para continuar rodeado de 'yes man'", acrescenta.

Atribuindo a baixa nas sondagens "fundamentalmente a fenómenos de tiros no pé", como o apoio "desnecessário e disparatado" à ex-ministra das Finanças no caso da sua contratação pela gestora de crédito britânica Arrow Global, ou a "birra" de Passos Coelho na discussão do Orçamento do Estado para 2016 (em que o PSD não apresentou propostas de alteração), o antigo deputado disse não acreditar, contudo, que algum delegado queira levantar ou suscitar estas questões ou mesmo falar sobre o "grito de Ipiranga" do CDS-PP, que mudou a liderança.

"O CDS, como qualquer partido pequeno que esteja fora da bipolarização PSD/PS, sofre com o voto útil, evidentemente que tende a não crescer à sombra, debaixo das saias do PSD. Eu compreendo perfeitamente a atitude do CDS", sustentou António Capucho, considerando, contudo, que os sociais-democratas deviam reagir.

"O CDS deixou de estar à direita do PSD, portanto, não espanta esta atitude do CDS, julgo que é uma atitude inteligente, mas que merecia uma reposta do PSD", sublinhou.

Numa análise critica à direção de Pedro Passos Coelho, o também antigo conselheiro de Estado recusa elaborar cenários para o futuro, porque ainda "vai passar muita água debaixo das pontes", mas diz que se o atual líder social-democrata voltar ao poder "não será por mérito próprio, mas porque a outra parte ou a outra alternativa não levou a água ao seu moinho".

Quanto à ausência de opositores, António Capucho atribui a falta de alternativas ao facto do partido estar "transformado num conjunto de lideranças de âmbito distrital e concelhio que a única coisa que fazem é garantir a fidelidade ao chefe".

"Não aparece ninguém porque não vale a pena, os dados estão lançados e o partido como rebanho fiel não está ali para contrariar o líder", argumentou, lamentando, porém, se não existir pelo menos uma alternativa ao conselho nacional do partido, o órgão máximo do partido entre congressos, onde se assumisse "uma tendência social-democrata a sério".

De qualquer forma, acrescenta António Capucho, Pedro Passos Coelho ainda tem a simpatia dos militantes, porque estiveram a gravitar à volta do Governo e têm a expetativa que possam voltar ao poder.

António Capucho, antigo presidente da Câmara de Cascais e ex-secretário-geral social-democrata, foi expulso do PSD em fevereiro de 2014, ao fim de 40 anos de militância por ter apresentado uma candidatura independente à Assembleia Municipal de Sintra, adversária à do partido.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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