segunda-feira, 18 de abril de 2016

O VAI-E-VEM DAS CARAVELAS




Figuras: Soros, o integralismo lusitano e Agualusa… “dilatando a fé e o império” .

1 – A observação histórico-antropológica dos relacionamentos internacionais entre Portugal e Angola permitem-nos tirar muitas conclusões de ordem sócio-política, económica e financeira em época de “democracias representativas”, até pelo carácter da “representatividade” que nelas se espelha no âmbito dos impactos capitalistas neo liberais, que permite no caso português a estreita conexão entre a oligarquia nacional agenciada e o poder, ao jeito dum zelador “Bilderberg” que a nível aberto (com toda a panóplia de “medias” ao seu dispor) rege publicamente o jogo dos intervenientes, uns “tradicionais”, como os que se inscrevem no PS, no PSD e no CDS, outros espreitando a janela da alternativa, como no caso do BE… num processo similar aliás ao que acontece com a indústria portuguesa do futebol!

Esse não é um rescaldo do 25 de Abril, mas é um efectivo rescaldo do que foi conseguido pela aristocracia financeira mundial com o 25 de Novembro em Portugal, a partir do qual se imprimiram às instituições um quadro europeu de democracia burguesa, onde as oligarquias nacionais se sentem à vontade e onde à vontade se estabelecem os nexos conservadores apropriados que as têm vindo a agenciar e motivar, avassalando-as sobretudo às poderosas oligarquias britânica, alemã e francesa, sem as quais seria muito difícil a elas haverem negócios favoráveis, que providenciassem em época das grandes especulações financeiras não só muitos lucros, mas sobretudo a “financeirização” da própria economia, algo que tem a ver também com os alicerces de sustentabilidade das “correias de transmissão” para com África…

Esse foi um processo que interessou por outro lado à própria NATO, que desde a origem, tirando partido de sua geo-estratégia, havia levado a que Portugal mesmo com um governo fascista e colonial fosse membro fundador do pacto.

Foi aliás a NATO, ou países seus membros, que propiciaram ao Portugal do Estado Novo o armamento, o equipamento e os suportes de toda a ordem para que os sucessivos governos fizessem durante tanto tempo as campanhas de África e passassem ao “apartheid” sul-africano uma parte dos meios para o engenho e a arte da defesa dos seus interesses e o agenciamento de Savimbi, apesar das bastantes (mas quantas vezes insuficientes) pressões internacionais em contrário.

Como Portugal após o 25 de Novembro é contudo um país periférico mas não desprezível nos seus“bons ofícios” em relação a projectos de “correias de transmissão” histórica e antropologicamente à disposição dos mais poderosos circuitos capitalistas neo liberais, os factores disponíveis não são negligenciáveis nos relacionamentos internacionais, particularmente em relação à costa Atlântica africana e tendo Angola como o horizonte mais apetecível (sem deixar de considerar as“especialidades” de Cabo Verde, da Guiné Bissau e de São Tomé e Príncipe), algo que o neo liberalismo teve a oportunidade em traduzir no espectro bancário, nos negócios, nos relacionamentos sócio-políticos “à direita” e, como não podia deixar de ser, no espectro de relacionamentos de inteligência que “preferencialmente” se cultivou a partir do eixo da inteligência económica que se distendem até aos “nexos invisíveis” com “cobertura” da NATO.
  
2 – As imensas necessidades tecnológicas e de “know how” para que Angola avance em termos de emergência económica e num quadro de luta contra o subdesenvolvimento colocam-se de há décadas com toda a acuidade e essa é a garantia maior para o trabalho de sapa que vai sendo feito, aproveitando a paz para a instalação da terapia de choque e, com ela formatar as “novas” elites e“burilar” o estado angolano até os seus níveis mais elevados, e com eles, por via sócio-política, procurar “deep inside”, assumir as posições mais nevrálgicas dentro do próprio MPLA.

Em Lisboa, por exemplo, quer o CAP do MPLA, quer a Casa de Angola, estão a “ser tomados” por dentro por antigos simpatizantes da UNITA (e retornados próximos ao ELP e a Jaime Nogueira Pinto); eles estão a aproveitar desse “desembarque” para um novo “para Angola e em força”, indiciando objectivos próprios, com a cobertura de servirem o MPLA…

Em contraste, um caso público, crítico e singular “de rotura” (haverá regra sem excepção?) deu-se no quadro da CPLP quando Angola propôs a Guiné Equatorial para membro permanente, algo que o governo português tem tido muitas dificuldades em digerir por que atípico em relação segundo argumentam, à língua, algo de que se nutrem alguns argumentos estritamente conservadores em Portugal…

…Para Angola não é atípico numa estratégia de paz assente nos vínculos gerados a partir do petróleo e do gás em direcção ao Golfo da Guiné, tendo em conta a progressão da disseminação do caos, de há cinco anos a esta parte, depois do fim da “revolução verde” na Líbia e os aspectos históricos daquele pequeno país africano, meio continental, meio insular, que física-geograficamente envolve São Tomé e Príncipe!

São pois os processos decorrentes do 25 de Novembro em Portugal que nos relacionamentos bilaterais Portugal-Angola se têm vindo a tornar integrantes da terapia neo liberal introduzida em Angola após o choque protagonizado por Savimbi com os dez anos que durou a “guerra dos diamantes de sangue” (de 1992 a 2002), já que antes e em tempo de guerra contra o “apartheid” há toda uma história por fazer, particularmente no que diz respeito ao espectro da inteligência portuguesa e seus alinhamentos tão subtis quão discretos com o “apartheid”, como no que toca aos vínculos inscritos diligentemente nos fenómenos de desestabilização da vanguarda que constituía o Partido do Trabalho, como com os governos mais retrógrados de África, como os de Mobutu no Zaíre, de Boigny na Costa do Marfim, ou de Senghor no Senegal… “pré carré oblige”!

3 – Os vínculos de desestabilização da vanguarda PT, são por si toda uma imensa história por contar, que combinam os posicionamentos dos relacionamentos portugueses post 25 de Novembro, com a textura humana do próprio MPLA, (o núcleo duro constituído em torno da geração do Presidente Agostinho Neto e as gerações que foram engrossando as fileiras, vulneráveis a expedientes de inteligência ocidental e de assimilação, inclusive vulneráveis aos “retornados”)…

A presença da diplomacia portuguesa nos acordos de paz que foram sendo gizados para Angola pode ser entendida num quadro desses mesmos “bons ofícios” (Alvor antes do 25 de Novembro e Bicesse depois, algo que seria interessante comparar nos seus meandros e postulados), com a particularidade de em Bicesse haver a aliciante da possibilidade do incremento dos relacionamentos económicos bilaterais Portugal-Angola, algo que se tornou tão atraente para o espectro sócio-político do PSD e do CDS, quão para os nexos de inteligência que a partir daí se propiciaram aos serviços portugueses filtrados a partir do 25 de Novembro pela NATO, pelos interesses das oligarquias europeias e pela aristocracia financeira mundial.

Em Bicesse pode-se reconhecer os sinais do incremento dos “bons ofícios" do estado português post 25 de Novembro em direcção à terapia de choque, pois é a partir daí que melhor se passou a recordar quanta falta fazia a Angola os quadros que regressaram à “mãe-pátria”, retirados atabalhoadamente e com uma campanha a condizer pela ponte aérea financiada pelos norte-americanos e desde logo filtrada estrategicamente pela inteligência de Frank Charles Carlucci (“o regresso das caravelas”).

O “regresso das caravelas” possibilitou assim a sobrevivência de doutrinas e ideologias de indexação fascista, que se manifestaram de forma mais “operacional” com o ELP (em Angola e Portugal) e ainda com o FRA, ESINA e algumas franjas d FUA (em Angola), suportando hoje resíduos do saudosismo colonial que se podem observar em páginas como o SanzalAngola, algo que está a ser aproveitado em processos de tentativa de desestabilização simultânea do MPLA e de Angola como o corrente, surpreendentemente (para alguns), ao sabor das iniciativas combinadas entre sectores do PS e o BE, por um lado e a tentativa da deriva de “retornados” da UNITA para dentro do MPLA, por outro, tendo como “sinalizador” (ainda a língua) uma figura como Agualusa…

4 – Entregava-se assim aos norte-americanos a possibilidade de decidir estrategicamente sobre o“vai-e-vem das caravelas”, como sobre o carácter da “alternativa” BE (a contradição manipulada por processos subtis de ingerência em Portugal), que os relacionamentos económicos davam garantia e sustentabilidade para o resto e, entre o resto, os “novos” vínculos de inteligência que haveria que cultivar, imprescindíveis para os “novos” métodos de assimilação de que o capitalismo neo liberal tanto necessita para criar impactos afins em Angola dadas as imensas insuficiências e carências tecnológicas e de “know how”, para além das dificuldades em gerar desenvolvimento sustentável abrangente e equilibrado.

Por tabela com esse tipo de agências foi possível a aliciante da corrupção e os enlaces entre entidades corruptoras (uma parte delas portuguesas, ao nível dos relacionamentos intermédios dos executivos) e as corrompidas para dentro do estado angolano, ávidas de “cabritismo”, pois previamente a evolução das conjunturas internas em Angola propiciaram essa deriva.

De facto o colapso da vanguarda com o fim do Partido do Trabalho, o fusível que se instalou nos serviços de inteligência de Angola (quem os comandar deve ir para lá com conhecimento de causa desse risco) e o fim das gloriosas FAPLA que haviam saído vitoriosas nas batalhas contra o“apartheid” e as sequelas coloniais (e suas próprias sequelas), deixaram um espaço vazio imenso a partir do qual se instalou primeiro o choque neo liberal (instrumentalizando Savimbi entre 1992 e 2002), para depois de sua morte, aproveitando o “petróleo enquanto desenvolvimento” e as políticas de reconciliação, reconstrução nacional e reinserção social (segundo as iniciativas da administração de George W Bush para África e os fundamentos iniciais do laboratório AFRICOM, por um lado, por outro da evolução conjuntural interna), se instalar a terapia neo liberal afeiçoada às “correias de transmissão” a partir da plataforma portuguesa post 25 de Novembro.

5 – A “open society” de George Soros só poderia progredir e chegar à manipulação contraditória que se está a assistir em Angola, graças aos “bons ofícios” da plataforma portuguesa providencialmente instalada face às inadiáveis dificuldades que o país tinha de enfrentar, não sendo nesse âmbito de estranhar os laços, por tabela e por exemplo, entre Ana Gomes, o BE e os “revus”, com papeis bem definidos na aplicação “providencial” da doutrina oportuna de Gene Sharp, algo que tem também a ver com a repescagem das linhas ultra conservadoras entre elas a dos saudosismos dos “retornados”.

É também George Soros que “providenciou” entre outros a “fuga” tão oportuna em função da evolução da conjuntura internacional e interna de muitos países, (desde a Rússia a Angola, passando pelo Brasil), dos “Panama Papers”, algo que tem a ver com a instalação propositada da desestabilização em vários países do mundo e também no MPLA e em Angola.

Ele próprio dono de “offshores”, Soros pode decidir que listas fazer sair e que listas se manterão em segredo… conforme o “diktat” das conveniências e interesses dos grandes patrões da aristocracia financeira mundial.

O fenómeno de corrupção-assimilação dentro do estado angolano, (quando entre os maiores corruptores se podem contar entidades portuguesas, inclusive no quadro dos fenómenos inerentes à banca de feição neo liberal que rege também uma parte substancial da vida portuguesa ao ponto de ser parte integrante e indispensável para as “políticas de austeridade”), sendo um processo lógico eminentemente económico e financeiro, deu origem ao contraditório da manipulação, ou seja o surgimento lógico duma oposição sócio-política difusa, que não se coíbe no socorro à doutrina aliciadora de Gene Sharp, tal a sua pressa em assumir a “alternância democrática” que apregoa e faz mover uma parte da juventude, mesmo sabendo quão as “revoluções coloridas” e as“primaveras árabes” são choques neoliberais e não “golpes suaves” que utilizam a candura energética da massas juvenis para abrir caminho aos seus inconfessáveis fins!

Uma análise antropológica das distintas espécies comportamentais humanas componentes dessas duas esferas de manipulação e ingerência, a da corrupção por um lado e a dos seguidores de Gene Sharp por outro, em Portugal e em Angola, permitiria avaliar quão o processo português post 25 de Novembro se acoplou ao processo de “portas abertas” imposto a Angola no âmbito da terapia de choque e as “correias de transmissão” se tornaram em processos “novos” de assimilação dirigidos à tentativa de formatação das “novas” elites angolanas, em grande parte aliás responsáveis pelo quadro de alienações que se assiste em Angola até nas televisões públicas do estado angolano.

A entidade portuguesa modelada em Portugal sob o peso da austeridade com algumas notáveis e compreensíveis excepções, tornou-se assim numa entidade subserviente e parasitária no quadro dos impactos capitalistas neo liberais dirigidos para dentro de Angola em função das necessidades urgentes de ordem tecnológica e de “know how” e isso serve para justificar na profundidade o “vai-e-vem das caravelas”!...

6 – Por outro lado, esses vínculos possibilitam o afã da inteligência ocidental com contribuição dos serviços portugueses que minam muito dos laços económicos e comerciais, bem como “o mundo”dos negócios e dos bancos, que preenchem o vazio deixado com o contínuo enfraquecimento dos serviços de inteligência angolanos que nos dez primeiros anos de independência haviam garantido a soberania com um inusitado rigor, obstáculo insuportável para a “abertura de portas” que sobreveio depois de 1985…

É cada vez mais evidente que todo esse processo se distende também por dentro do MPLA podendo-se constatar a instalação progressiva de expedientes humanos indexados aos impactos do capitalismo neo liberal, procurando marginalizar paulatinamente, com maior ou menor grau de consciência disso, muitos outros membros que antes estiveram vinculados a expedientes anteriores que vigoraram na década primeira da independência, particularmente aqueles com maior e mais responsável rigor e sentido crítico, assumidos mesmo nas situações com que se depararam em tempo de guerra e de agressão a Angola

Rigor e sentido de responsabilidade patriótica, assim como falta de capacidade de análise e de crítica, vão-se tornando cada vez mais dispensáveis por parte de algumas dessas correntes“ascendentes”, ainda que hajam outros animados de espírito construtivo e chamem a atenção para o desencadear de extensivos fenómenos que em cheio vão atingindo a vida do país e do próprio MPLA, uma parte crítica deles por dentro do miolo das instituições...

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