Líder
comunista teme que contradições entre o projecto de desenvolvimento do país e
os constrangimentos europeus venham a resultar num retrocesso.
Jerónimo
de Sousa foi esta terça-feira dizer ao Presidente da República que o PCP
"não apoia o Programa de Estabilidade" apresentado pelo Governo e que na
quarta-feira é debatido no Parlamento, juntamente com o Programa Nacional de
Reformas (PNR). E só não diz se votaria contra porque o documento não vai a
votos – "logo, a questão está resolvida", disse o líder comunista aos
jornalistas à saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa.
Os
partidos da esquerda parlamentar estão a ser ouvidos esta terça-feira pelo
Presidente da República, a convite deste, e o facto de estas audiências
acontecerem na véspera da discussão dos Programas Nacional de Reformas e de
Estabilidade não esgotam o conteúdo das conversas. Mas estão no centro das
preocupações, pois será com base nestes dois documentos que será elaborado o
Orçamento do Estado para 2017.
Para
o PCP, o Programa de Estabilidade e o PNR "são filhos do semestre europeu,
do Tratado Orçamental, que contém obstáculos ao investimento" desejado
pelo partido. "Se é criticado o aumento do Salário Mínimo Nacional, como é
possível termos perspectiva de maior justiça social? Há uma contradição entre
este desejo de desenvolvimento económico e estes constrangimentos que nos
amarram de pés e mãos", sublinhou Jerónimo de Sousa.
Olhando
para o Programa de Estabilidade e para as regras europeias, o PCP vê uma
"crescente contradição" entre o projecto de desenvolvimento que os
comunistas apoiam e os "constrangimentos europeus". Colocando o tom
crítico em Bruxelas, e não no Governo, o líder comunista insistiu: "Esta
contradição tem de ser resolvida".
Não
voltou a falar da renegociação da dívida, muito menos da saída do euro, mas
repetiu em tom pessimista: "Os constrangimentos têm de ser resolvidos,
senão sabemos qual vai ser o resultado. E infelizmente a vida dará razão ao
PCP, mais uma vez".
Mas
para já, a situação política não será abalada. É que, se o PCP não apoia o
Programa de Estabilidade, nem por isso vai votar a favor do projecto de resolução do CDS. Porque
este tem duas resoluções: "A primeira é voltar para trás nas políticas, um
retrocesso, a segunda impõe uma votação sem propor a rejeição do programa"
. Ou seja, diz Jerónimo de Sousa, "tem uma visão instrumental a roçar a
chicana política".
PEV
afirma-se "parte da solução"
Uma
visão mais optimista transmitiu a porta-voz do Partido Ecologista Os Verdes,
Heloísa Apolónia, após cerca de uma hora de reunião com o chefe de Estado.
"Os Verdes querem ser parte da solução, não o problema", querem
contribuir "para esse feito extraordinário" de parar a "política
de austeridade" e "reconquistar o poder de compra".
Considerando
que o Governo está a cumprir os acordos com os partidos da esquerda e por isso
"não pensa em cortes salariais nem aumento de impostos", a deputada
não deixou, no entanto, de também relevar a preocupação do partido com os
ditames de Bruxelas: "A União Europeia está a servir como travão à
dinâmica da vida política", disse. E não escondeu a posição d"Os
Verdes na defesa da renegociação da dívida e na oposição ao Tratado Orçamental.
Mas
isso não põe em causa, pelo menos para já, o apoio do partido ao Governo
socialista. "Os Verdes são um projecto sério e de palavra, somos leais,
mas as nossas preocupações não deixamos de as dizer, isso também é
lealdade", afirmou.
O
primeiro partido a ser recebido esta terça-feira pelo Presidente foi o PAN e
também este deixou claro que não haverá amanhã nenhuma surpresa no Parlamento.
O deputado do PAN, André Silva, considerou que levar os dois documentos a votos
é uma decisão que "deve caber ao Governo", não tendo ainda analisado
o projecto de resolução do CDS-PP a este propósito.
Segundo
o deputado, a questão do Programa de Estabilidade foi falada "de uma forma
muito genérica" com o Presidente da República nesta reunião, considerando
o parlamentar que "sobretudo é necessário que haja estabilidade ao nível
interno no país".
Leonete
Botelho – Público, com Lusa
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