quinta-feira, 16 de junho de 2016

Angola. TORTURA DA CATANA CONTINUA NA REGIÃO DIAMANTÍFERA DAS LUNDAS - vídeo



Veja o vídeo. “Eu sou angolano!” grita repetidamente o garimpeiro, chorando de dor enquanto um guarda o espanca com uma catana. Inútil. De nada lhe valem os direitos de cidadania. Grita então, várias vezes, pela mãe: “ai mãe, ai mãe” à medida que o guarda intensifica os golpes com a catana. De nada lhe vale ser humano. É a selvajaria.

“Porra! Não existe perdão!”, grita, às gargalhadas, um dos guardas, identificado como Bonifácio, que comanda os espancamentos contra cerca de 10 garimpeiros.

Os guardas das empresas privadas de segurança continuam a espancar violenta e sadicamente os garimpeiros na zona diamantífera de Cafunfo, município do Cuango, província da Lunda-Norte.

Com cenas profundamente angustiantes, as imagens foram captadas a 21 de Abril de 2016 na área do Dambi. Em detalhes que não poupam, este vídeo mostra os guardas a usarem catanas para intimidar, bater e cortar homens desarmados sentados no chão.

Implacáveis, os guardas aplicam golpes sucessivos nas palmas das mãos, nas plantas pés e noutras partes do corpo, enquanto as vítimas gritam e uivam de dor.

Os agressores foram identificados como guardas de segurança da empresa de segurança privada Bicuar, que opera sob contrato com a famigerada empresa de exploração de diamantes Sociedade Mineira do Cuango (SMC), uma parceria entre a empresa estatal de diamantes Endiama, a ITM-Mining e a Lumanhe. Na imagem identifica-se um dos guardas, de camisola branca, como sendo o Bonifácio.

A Lumanhe, que tem uma participação de 21% na SMC, é detida pelos principais membros do partido MPLA, em parceria com membros do alto escalão das forças armadas, o que a tornou popularmente conhecida em Angola como “a empresa dos generais”.

As atrocidades por guardas de segurança privada na Lunda-Norte têm sido documentadas ao longo de vários anos e publicadas em vários relatórios sobre os direitos humanos, assim como no livro “Diamantes de Sangue”, escrito por Rafael Marques de Morais.

A Endiama, a sua subsidiária Sodiam e pareceiros lidam directa e diariamente com os “garimpeiros”, comprando todas as pedras que são encontrados pelos prospectores individuais. Actualmente, a Sodiam, em parceria com o casal Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, comercializa também esses diamantes adquiridos aos garimpeiros no exterior do país. Com o seu aparente glamour, fazem esquecer que esses garimpeiros são vítimas constantes de tortura, alguns dos quais chegando a morrer, por serem considerados ilegais. Todavia, quando vendem os diamantes ao próprio Estado e seus associados, os diamantes são considerados limpos e legítimos. Só os vendedores se mantêm ilegais e merecedores de tratamento bárbaro e desumano.

A empresa privada Mi-Diamond, propriedade do director-geral da Endiama, Carlos Sumbula, também compra diamantes aos garimpeiros. Queixas enviadas ao procurador-geral da República não têm resultado em quaisquer procedimentos tendentes a acabar com a violência gratuita dos seguranças privados nas Lundas.

Maka Angola, em Folha 8


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