Não
é por o regime angolano não falar do problema de Cabinda que esse problema
deixa de existir. No sentido de ajudar a perceber o que será a FLEC na era pós
Nzita Henriques Tiago, o Folha 8 publica em exclusivo um artigo de Osvaldo
Franque Buela, Chefe do Gabinete da Presidência da FLEC.
“Já
fez um mês que essa data de 3 de Junho de 2016 ficará para sempre gravado em
nossas memórias, como uma data histórica pela perda do líder carismático da
causa cabindense, Nzita Henriques Tiago.
Mal
amado por alguns e bem amado por outros, muitas vezes combatido mas nunca
vencido, importa realçar a força das convicções que caracterizou Nzita
Henriques Tiago que deu toda a sua vida pela causa de Cabinda.
Ao
contrário do que as fofocas dizem, ele contactou os seus próximos e distantes
colaboradores, ex-comandantes, comandantes operacionais, parentes e o seu
ultimo e próximo conselheiro José Nkusu Tiaba , durante os últimos dias de sua
longa doença.
E
ao deixar este mundo, como bom chefe de família e como qualquer bom chefe da
aldeia, foi digno em respeitar as tradições que são nossas, as tradições
invioláveis do costume de Cabinda na sua profundeza, com a qual dirigiu e
conciliou a FLEC entre o choque de culturas do mundo político moderno, com as
raízes tradicionais do nosso território.
Ele
teve o cuidado de preparar a sua partida, com garantias de que a casa não vai
ficar vazia, sem um guia, sem direcção a quem confiar os arquivos que são a
memória de todas as suas acções tomadas durante sua longa e permanente
consulado como chefe da maior da organização independentista de Cabinda.
Transmissão
pontuada por palavras que não enganam ninguém sobre o caminho a seguir e para
onde ir.
Tomai
e ide trabalhar com todos os Cabindas, organizai, unificai e reconciliai a luta
permanecendo abertos ao diálogo. Estas foram as suas últimas palavras antes de
sua última hospitalização e também as suas últimas recomendações.
Nesta
perspectiva, Emmanuel Nzita wa Nzita não é uma escolha por padrão, nem uma
sucessão autoproclamada, mas uma indicação clara para realizar recomendações
específicas.
Reorganizar,
estruturar e unir o movimento
Tão
logo anunciada, a reorganização foi engajado através da nomeação do chefe do
gabinete presidencial e do Secretário-Geral, uma abertura considerada positiva
pelo regresso de alguém que assumiu durante muito tempo essa função e a chegada
de uma figura estratégica do chamado grupo de cinco que ainda era chamada a
cintura diplomática FLEC, ex-grupo da FLEC de Antoine grupo Nzita Mbemba.
Uma
empreitada que vai continuar com a reestruturação de toda a Direcção política
do movimento partindo da Europa para África, e já está em marcha com a criação
de um Vice-Presidente na Europa e outro Vice-Presidente para a região de África
e do interior do território, afim de dotar a organização dos estatutos e
regulamentos que estejam à altura das suas ambições.
Nessa
fase do trabalho que consiste em dotar a organização de estruturas legais,
operacionais e adaptados por um modelo de funcionamento democrático não pode
ser confundida com uma ideia de reunificação ou reconciliação com facções
dissidentes. Essa nossa união que é necessária não o pode ser a qualquer preço.
Será baseada em mecanismos internos, simples e claros de acordo sobretudo com
as orientações que foram dadas aos comandantes operacionais que já estão a
trabalhar nesse sentido. Nunca nos vamos deixar dividir por aqueles que
escolheram tudo estragar graças às suas ambições pessoais, com intenções de
ignorar o quadro e a estrutura organizacional da Europa, onde nosso líder viveu
os últimos dias da sua vida.
A
disciplina, o entendimento mútuo, a compreensão, o respeito pela diferença e o
capítulo sobre os direitos humanos são balizas sobre as quais vamos gravar as
nossas marcas de luta contra a ocupação e opressão do regime angolano do MPLA.
A FLEC de hoje e de amanhã não será a Coreia do Norte onde existe apenas um único
pensamento e de forma obrigatória. Os irmãos de uma mesma família não precisam
de um mediador para voltar para casa, a porta esteve e estará sempre aberta.
A
autodeterminação
É,
e continuará a ser o ponto culminante de nossos objectivos, é o nosso direito
elementar sobre o qual vamos colocar todo os nossos esforços. A nossa
determinação é total e inflexível.
A
nossa opinião permanece inalterada e intacta sobre a questão do diálogo com
Angola, mas terá de ser um diálogo com uma arbitragem neutra para garantir a
transparência e respeito dos compromissos que serão aceites por ambas as
partes. Para tal, vários mecanismos podem ser estudados afim de nomear um
mediador neutro, no plano nacional, regional e internacional.
Neste
contexto, a FLEC não estará sozinho e não irá impor qualquer regra ou os seus
pontos de vista no caso de um possível diálogo aberto e inclusivo com Angola,
porque a questão de consulta ou coesão interna é necessário para um consenso.
Mas como alcançar uma verdadeira consulta interna sem desconfiança e influência
externa a não ser de próprios Cabindas? Como organizá-lo? Quem para organizar e
financiar?
Estas
são questões que sempre tem feito com que todas as iniciativas de Cabindas
nunca foram capazes de alcançar os resultados esperados. Não podemos ser
actores e ao mesmo tempo ser parte integrante a encabeçar a concepção de uma
tal organização. Apenas uma órgão credível de resolução de conflitos pode
reunir as diferentes tendências e criar uma verdadeira plataforma consensual
para um bom entendimento.
Nós
ainda pensamos que é o nosso dever aprender com as lições do passado, sobretudo
da última experiência da Holanda e corrigi-las. Sobre esta questão, a FLEC será
muito exigente para não repetir os mesmos erros, e deixar claro que qualquer
iniciativa unilateral sobre Cabinda será de nenhuma utilidade.
Nós
os Cabindas, FLEC’s, sociedade civil, homems, mulheres, estudantes, padres,
pastores, funcionários públicos, empresários, etc. devemos abandonar todas as
formas de acomodações mentais ou espirituais e lutar juntos ao lado de
organizações internacionais para fazer ouvir as nossas vozes e nossos gritos de
angústia e de injustiça, resultantes da nossa condição de escravos modernos
perpetrado por um outro povo africano como nós, porque os dirigentes angolanos do
MPLA e o seu sistema de exploração colonial e de ocupação não consideram os
Cabindas como um povo, como seus cidadãos e nem tão pouco como irmãos.
Não
acreditamos na teoria do MPLA de ser o único interlocutor valido, pois isso é
um argumento estúpido para enganar a comunidade internacional e os fracos
enquanto financiam as divisões entre nós. A verdade é que entre os partidos
políticos Angolanos, é mesmo o MPLA e os seus dirigentes corruptos que já não
são interlocutores válidos para resolver o problema de Cabinda.
Estes
corruptos do MPLA continuam a esconder-se atrás do argumento de que estamos
muito divididos em várias facções e que é difícil para eles saber com quem
falar. Será que é foi difícil para eles encontrar António Bento Bembe?
Quando
Portugal decidiu resolver o problema da independência de Angola, não hesitou em
convidar os três movimentos da luta de libertação de Angola.
Os
líderes políticos angolanos devem fazer o mesmo, ter a vontade política e a
coragem de convidar todos os nacionalistas e movimentos Cabindas à volta de uma
mesa de negociações e a solução será encontrada. O resto é demagogia e a
paciência tem limites.
Partindo
do princípio de que só é vencido aquele que deixa de lutar, Cabinda vencerá por
que a sua causa é justa.”
Folha
8
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