Ainda
não há dados oficiais, mas sabe-se que um número considerável de portugueses
saiu de Moçambique nos últimos meses, sobretudo devido às dificuldades
económicas. Tensão político-militar também é motivo de receio.
Todas
as semanas, às segundas, quartas, sextas e domingos, chegam à capital
portuguesa, Lisboa, quatro voos provenientes de Maputo. Na zona das chegadas do
Aeroporto da Portela, familiares e amigos esperam pelos passageiros. Em todos
os voos, há cidadãos portugueses que chegam para passar férias, mas também
outros que estão a deixar Moçambique, em consequência dos efeitos da situação
económica difícil naquele país.
Com
a crise em Portugal, Carlos Figueiredo, empresário com conhecimentos em
marketing, foi para Moçambique em setembro de 2013 tentar a sorte na área da
restauração, por intermédio de convites feitos por amigos.
"Fui
tentar perceber como é que funciona", recorda, "e saber o que é que
se podia fazer e como, qual era a área de negócio mais interessante".
Depois de um mês de "prospeção", chegou à conclusão que havia algumas
áreas de negócios que eventualmente podia explorar.
Porém,
o empresário acabou por confrontar-se com outra realidade. Algumas dificuldades
que encontrou no terreno, nomeadamente as condições de trabalho que limitavam
as quotas de expatriados nalgumas empresas, determinaram a sua decisão de
voltar a Portugal.
"Não
fechei nunca a porta de Moçambique, aliás gostei muito da experiência social.
Mas se houvesse algumas condições eu voltaria - e não estamos a falar de
condições megalómanas", esclarece. Carlos Figueiredo acabou por regressar
a Lisboa em dezembro de 2013, onde viria a descobrir uma alternativa na área da
formação.
"Emagrecimento"
empresarial
Muitos
trabalhadores portugueses continuam a deixar Moçambique, tanto por receio da
instabilidade político-militar que se vive atualmente nalgumas províncias, por
causa do conflito entre as forças governamentais e elementos armados da
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição,
como por razões económicas.
"A
situação é débil em termos económicos", confirma Paulo Oliveira, que
desembarcou recentemente em Lisboa. "O país está a atravessar um período
muito difícil e existe um emagrecimento das empresas, que têm reduzido os seus
quadros, quando não é mesmo uma deslocalização total ao ponto de fechar".
Segundo
o administrador delegado da portuguesa Salvador Caetano, devido à contração do
mercado nestes últimos anos, muitas pequenas e médias empresas que acolhiam
mão-de-obra estrangeira têm encerrado atividade em Moçambique.
"Interesse
português mantém-se"
Geraldo
Saranga, cônsul-geral de Moçambique em Portugal, reconhece que o país atravessa
momentos difíceis, que se caraterizam por dificuldades de tesouraria do próprio
Estado. Explica que o Estado moçambicano, que continua a ser aquele que mais
serviços presta, "está neste momento com dificuldades de tesouraria muito
sérias" e, por isso, "não tem conseguido honrar os seus compromissos
em tempo útil, fazendo pagamentos aos serviços que recebe", tanto públicos
como privados.
E
isso torna mais débil a capacidade das empresas, obrigadas a mudar a sua
estratégia por falta de liquidez. No entanto, Geraldo Saranga evita falar de
abandono, referindo que o interesse dos portugueses por Moçambique mantém-se,
apesar da atual conjuntura.
O
que se tem registado é uma queda dos fluxos a partir de 2014. "Nos anos de
crise estamos a falar de números acima de 10 mil vistos que emitíamos por ano.
E quando a situação normaliza, portanto, a partir dos finais de 2014, 2015,
voltámos aos 7 mil a 8 mil vistos emitidos por ano. E esse número foi mais ou
menos o mesmo que alcançamos em 2015", lembra o cônsul.
De
acordo com o diplomata, os mais procurados são os vistos de negócios, seguidos
dos vistos de visita e de turismo. Saranga recorda o apelo feito pelo chefe de
Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua recente
visita a Moçambique para a manutenção do investimento português:
"Cabe aos moçambicanos encontrar a solução para estes problemas, de modo a
não desencorajar os investimentos portugueses ".
João
Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle
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