É
uma pergunta a que a petrolífera estatal angolana devia responder, dizem
analistas, depois da notícia de que mais de 100 consultores portugueses deverão
ser recrutados para reforçar posições estratégicas na Sonangol.
A
informação foi avançada pelo portal angolano MakaAngola e pelo semanário
português Expresso. Os especialistas que deverão ser recrutados nos
próximos meses juntar-se-ão aos cerca de 50, maioritariamente portugueses, que
atualmente assessoram Isabel dos Santos, a nova presidente do conselho de
administração da Sonangol, no quadro da restruturação da empresa.
A
notícia da contratação de mais de uma centena de consultores portugueses ainda
não foi confirmada oficialmente, mas isso não tem impedido vários setores da
sociedade de questionarem onde estão os angolanos que têm estado a ser formados
há vários anos pela maior empresa pública de Angola, dentro e fora do país.
"Essa
é uma boa pergunta a que a Sonangol devia responder", afirma Francisco
Miguel Paulo. O economista do Centro de Estudos e Investigação Científica da
Universidade Católica de Angola defende que é preciso saber como está a gestão
dos quadros, quando irão voltar e se serão integrados ou não.
"Se
a Sonangol gasta milhões e milhões de dólares para formar técnicos no exterior,
tem como contactá-los", acrescenta.
Além
do apoio à formação de quadros nacionais em Angola e no estrangeiro, a Sonangol
conta ainda com dois institutos superiores no país: o Instituto Superior
Politécnico de Tecnologias e Ciências, em Luanda, e o Instituto Nacional de
Petróleos, na província do Kwanza Sul.
A
economista Regina Santos acredita que a vinda dos mais de 100 especialistas
estrangeiros terá como base o contrato assiando entre a Sonangol e três
consultoras internacionais: o Boston Consulting Group, a PricewaterhouseCoopers
e a Vieira de Almeida e Associados. "Eu parto do princípio que esses
especialistas estão a vir na base dos contratos celebrados entre a Sonangol e
essas grandes empresas. Não creio que sejam contratos individuais",
explica.
Contratação
sem concurso público
Durante
a tomada de posse, no início de junho, como presidente da Sonangol, Isabel dos
Santos prometeu aumentar
a rentabilidade da empresa e pautar por uma "gestão transparente".
Mas,
entre o discurso e a prática, o certo é que a contratação das três consultoras
foi feita sem concurso público, sublinha a economista Regina Santos. "Em
princípio, a lei da contratação assim o indica: antes de contratar uma empresa
tem que se proceder a concurso publico", lembra.
O
economista Francisco Miguel Paulo considera que face à crise no mercado
petrolífero e à perspetiva da continuidade de Isabel dos Santos à frente da
Sonangol, é preciso saber onde é que a petrolífera irá buscar dinheiro para
contratar tanta mão-de-obra estrangeira.
"A
questão é como vai proceder ao pagamento num momento em que estamos em
dificuldades de obter divisas, mesmo para importar bens de primeira necessidade
como medicamentos e alimentos", sublinha.
Outra
questão que se põe, segundo o analista, é saber qual é valor agregado que este
consultores vão trazer à Sonangol. "Chamamos a isso análise
custo-beneficio. Qual é o custo desses consultores e qual é o proveito que vão
trazer à Sonangol?", pergunta Francisco Paulo. "Estamos a falar em
termos de possibilidade, porque até agora a Sonangol não confirmou essa
informação".
A
DW África contactou o departamento de comunicação e imagem da Sonangol, sem
sucesso
Nelson
Sul D'Angola (Benguela) – Deutsche Welle
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