Afonso
Camões* – Jornal de Notícias, opinião
Têm
fama de quem se lava pouco, pelo que cultivam em perfumaria, para além de
inventores do champô seco e do bidé. Inspirados num tal Chauvin, soldado de
Napoleão que 10 vezes tombou e outras tantas se levantou, os franceses
inventaram para si próprios a palavra chauvinismo, a que os dicionários
associam a ideia de um patriotismo tão grande quanto o desprezo pelos outros, a
quem olham por cima da burra.
Descontando
isso, devemos ao general Loison, que também alinhava na equipa de Napoleão
quando os franceses tentaram tomar-nos conta do campo, uma das nossas piedosas expressões
do falar. Era, na 1ª invasão, o braço-direito de Junot, porque já perdera o
esquerdo, era maneta. E de tão temerário, com rasto e cadastro de pilhagens e
violações, o perpetuamos na memória, quando, por condenação, mandamos alguém
para o maneta!
E
já que falamos mal deles, a quem temos de ganhar mais logo, atravessa-se-me o
chinês Sun Tsu, dotado nas artes da guerra e em dar bitaites para crónicas de
domingo: "Se conheces o adversário e te conheces a ti próprio, não temas o
resultado de 100 batalhas. Se te conheces mas não conheces o adversário, por
cada vitória ganha sofrerás também uma derrota. Se não conheces nem o
adversário nem a ti mesmo, perderás todas as batalhas".
Conhecemo-los
bem e, em campo, são 11 como nós. De um lado e outro há sangue português e
francês. Mas hoje é para lhes ganhar, e na França que também amamos, mesmo à
boca pequena, esse berço e farol do iluminismo e da modernidade, nas artes, na
ciência, na cultura. Mas também colo imigrante e multirracial que abriu as
portas da Gare de Austerlitz a milhões dos nossos, mesmo que na banlieue e nós
de porteiros.
Enquanto
tal, no balneário português reina a confiança, palavra de capitão Cristiano.
Quanto ao outro, Marcelo, sei de boa fonte que o nosso presidente passou as
últimas horas a recato, confiante na sorte do jogo e a descansar destes dias
turbulentos. É bom augúrio senti-lo tranquilo. Os folhetins do défice, das
sanções, do Brexit hão de esperar por terça-feira, depois da bola e das festas
que precisamos.
A
história da final de hoje só há de lembrar o vencedor. Pois é preciso ganhá-la,
nem que seja com a mão, mandá-los para o maneta! A UEFA calcula que mais de 300
milhões de telespectadores estarão a ver o desafio, mas há outra coisa que
sabemos. Logo mais, há uma pátria parada em todas as latitudes onde se fala a
língua portuguesa. Um Mundo que sabe o que significa "anda, tu bates
bem!"
*Diretor
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