Quaraí
de outros tempos,
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da minha infância ! (Quaraí – Lila Ripoll)
Neste
ano de 2016, no mês de agosto, completaram-se os 111 anos do nascimento de uma
grande intelectual e expressiva figura humana. Entre tantas gaúchas que, desde
o século XIX, despontaram no campo literário, Lila Ripoll se destacou, com
maestria, como poetisa, jornalista, pianista, professora, além de ter realizado
importante trabalho no campo político, sendo uma presença marcante no Partido
Comunista brasileiro (PCB).
Nascida
na cidade de Quaraí, no Rio Grande do Sul , em 12 de agosto de 1905, Lila era
filha do casal Florentino Ripoll e Dora Pinto de Ripoll. A origem da sua
família está ligada a um antepassado espanhol , nascido na cidade de
Ripoll, que veio para a América.
Ao
atingir a idade de oito anos, nossa poetisa iniciou, com dedicação absoluta,
seus estudos de piano. Sonhando em ser concertista, de acordo com o livro “Lila
Ripoll / Obra completa”, de Alice Campos Moreira, Lila Ripoll , em sua
adolescência, passou a dar aulas de piano em Quaraí (RS).
A
família se muda para Porto Alegre
Diante
dos seus pendores artísticos, em 1927, ou segundo outras fontes, em 1928, o
casal se mudou para Porto Alegre, visando a viabilizar o aprimoramento
intelectual de sua única filha. Já nesse período, Lila compartilha a companhia
de seu primo Waldemar que havia sido adotado por seus pais.
O
Magistério
Ao
encerrar os seus estudos no Conservatório de Música, na Escola de Belas Artes
da UFRGS, ela não conseguiu dar continuidade à sua vida acadêmica, no Rio de
Janeiro, devido a problemas de ordem financeira. Ainda como estudante da UFRGS,
colaborou na Revista Universitária. O caminho que se descortinou, após
concluir o curso superior, foi o ingresso no magistério. Em 1930, ela
começou a lecionar, na Escola Estadual Venezuela, em seu Coro Orfeônico. Esta
atividade foi exercida, por Lila Ripoll, com extrema paixão e dedicação
sacerdotal.
Seu
primo Waldemar da Silva Ripoll (1906- 1934) estudou na Escola Militar de Porto
Alegre e formou-se, em Direito, no ano de 1930. Atuante nos processos
políticos, ele participou da Revolução de 30, que colocou o gaúcho Getúlio
Vargas (1882-1954) no poder. Adepto do Partido Libertador (PL), o jovem
Waldemar acabou divergindo da política centralizadora do presidente Vargas e
apoiou o levante paulista de 1932, que exigia uma nova Constituição e a
indicação de um paulista para governar o Estado de São Paulo.
O
assassinato que mudou a vida de Lila Ripoll
O
posicionamento político, de seu primo e irmão adotivo, desagradou o poder
constituído, naquele momento, resultando na prisão do mesmo e exílio, em
Portugal. Ao retornar para o Brasil, Waldemar Ripoll passou a viver na zona de
fronteira com o Uruguai, defendendo a luta armada. Assumindo, às claras, sua
simpatia pelas ideias comunistas, no dia 31 de janeiro de 1934, ele foi
assassinado a machadadas enquanto dormia. Segundo o pesquisador e especialista
em imprensa operária, João Batista Marçal, esse crime fora encomendado por
figuras ligadas a Flores da Cunha (1880-1959). Este fato abalaria profundamente
a nossa poetisa, resultando em sua adesão incondicional ao Partido Comunista
Brasileiro. A partir daquele momento, um novo caminho marcado por preocupações
e engajamentos de cunho sociopolítico passou a ser trilhado por Lila Ripoll.
O
Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Lila
Ripoll se filiou ao Partido Comunista num momento bastante delicado, pois o
Partido não era reconhecido. Sobrevivendo na clandestinidade, havia a
perseguição política e a rejeição por parte da ala conservadora da Igreja
Católica. Nossa poetisa admirava Luiz Carlos Prestes (1898-1990) e
intensificou, em 1935, ano da Aliança Libertadora Nacional, a ação do “Cavaleiro
da Esperança” junto à Frente Intelectual do Partido Comunista.
Como
professora, ela atuou no Departamento Cultural do Sindicato dos Metalúrgicos
(1935-1939), ministrando aulas de música e literatura, além de realizar
espetáculos teatrais e fundar o Coral dos Metalúrgicos. Ao lado de Delmar
Mancuso, montou a peça “Orfeu da Conceição” de Vinícius de Moraes (1913-1980) e
também criou o Grupo de Arte que era voltado ao teatro.
Nossa
poetisa e jornalista pertenceu à geração de 30, que era composta por nomes importantes
do cenário literário do Rio Grande Sul, a exemplo de Dyonélio Machado
(1895-1985) Reynaldo Moura (1900-1965), Manoelito de Ornellas (1903-1969), Cyro
Martins (1908- 1995), Carlos Reverbel (1912-1997) , Athos Damasceno
(1912-1975), Mário Quintana (1906-1994) entre outros nomes importantes.
A
poetisa e seus três primeiros livros
No
ano de 1938, Lila Ripoll lançou seu primeiro livro “De mãos postas“, no qual
está presente a dor e a saudade do seu primo e irmão adotivo que foi
brutalmente assassinado. Nesta obra, composta por 24 poemas, as questões
sociais e libertárias ainda não estavam presentes com a intensidade que, ao
longo do tempo, far-se-ão no conjunto da sua obra.
“De
mãos postas” nos revela uma poetisa que maneja com intensidade as palavras
carregadas de musicalidade, intensa emoção e rara sensibilidade. O
Correio do Povo registrou o lançamento dessa obra, em 07 de agosto de 1938, na
sessão “Livros Novos” e o Diário de Notícias (1925-1979) declarou: “Uma das
mais vivas e sutis expressões da poesia feminina do Brasil”. Já no Jornal do
Brasil (1891-2010), do Rio de Janeiro, o jornalista e crítico Múcio Carneiro
leão (1898-1969) afirmou acerca de Lila Ripoll : “tornou-se, desde sua estréia,
a grande voz poética da mulher gaúcha”.
O
poema “Vim ao mundo em agosto”, extraído do livro “De mãos postas (1938)”, p.
29, é bastante representativo, pois traz à tona o sentimento de tristeza, que
acompanha a poetisa desde o seu nascimento. Segue a primeira estrofe:
Sou
triste de nascença e sem remédio.
Vim
ao mundo no triste mês de agosto
o
mês fatal das chuvas e do tédio,
e
nasci quando o sol estava posto.
Vim
ao mundo chorando... (o meu presságio!)
Um
vento mau marcava na vidraça
O
plangente compasso de um adágio,
Anunciando
agoirento uma desgraça. (...).
Ao
analisarmos a poesia acima, podemos concluir que o sujeito mulher se sente
sufocado pela sua condição, ao afirmar que carrega consigo a tristeza acerca de
seu nascimento. Essa atitude parece se alinhar com a época em que Lila Ripoll
escreveu o poema, haja vista que apenas uma minoria de mulheres haviam
conquistado a sua independência profissional e econômica.
De
acordo com Bordini, nas primeiras décadas do século XX, quando não tinham a
possibilidade de sobreviver, por meio do casamento, as moças da pequena
burguesia saíam do interior do estado, em direção a capital gaúcha, para
completar sua educação, visando à profissionalização. Assim ocorreu com a
poetisa Lila Ripoll, que saiu de Quaraí (RS), em 1927, para desenvolver seus
estudos de piano na capital (1987, p. 20).
Na
realidade, essa não era a condição da maioria das mulheres da época que, em
geral, ainda dependiam, exclusivamente, do casamento, não tendo nenhuma
perspectiva de se profissionalizar. Poucas eram as mulheres, até a primeira
metade do século XX, no Rio Grande do Sul, que tiveram a possibilidade e o
caráter ousado de Lila em atuar na esfera pública, território então ocupado de
forma ostensiva pelo sexo masculino.
O
seu segundo livro, “Céu vazio”, publicado, em julho de 1943, ela dedicou “in
memoriam” ao seu pai e também aos amigos. A obra mereceu o registro de Cyro
Martins (1908-1995) na importante Revista do Globo (1929-1967), nº 300, p.16. Segue
um breve trecho:
“...
Não há lugar para o artifício na poesia de Lila Ripoll, porque toda ela está
tomada das refrações da alma (...). Todo o livro é um pronunciamento de si
mesma, porém diluído no sortilégio das líricas alusões ao inacessível.”
A
imprensa da época
O
Diário de Notícias (1925-1979) de Porto Alegre, em 20 de julho de 1943 ,
comentou acerca da homenagem que a Associação Riograndense de Imprensa (ARI)
prestaria à Lila Ripoll no dia 24 de julho daquele ano. A ARI, com esta
iniciativa, reconhecia, publicamente, o talento da nossa poetisa, que,
aliás, era jornalista. Graças à obra “Céu Vazio”, ela recebeu o Prêmio Olavo
Bilac da Academia Brasileira de Letras (ABL). Esta obra consta de 30 poemas e
foi editada também pela famosa Livraria do Globo, a exemplo do seu primeiro
livro “De mãos postas”. O livro “Céu Vazio” mereceu também o registro de
Cyro Martins no Correio do Povo de julho de 1943, e Justino Martins, na
importante Revista do Globo (1929-1967), homenageou na edição 344, em forma de
artigo, a figura de Lila Ripoll.
No
ano de 1945, com a legalização do Partido Comunista, Lila Ripoll intensificou
sua participação política, lutando por reivindicações do operariado e também
passou a colaborar na importante revista Província de São Pedro, criada
por Moysés Vellinho (1902-1980), em 1945,circulando por alguns anos, até
1957.
Seu
terceiro livro “Por Quê?” contém 25 poemas e foi editado, no Rio de Janeiro,
pela Editora Vitória, em 1947. Esta era considerada a porta-voz dos
intelectuais comunistas do Brasil. Lila Ripoll dedicou esta obra à sua mãe e ao
engenheiro Alfredo Luis Guedes com o qual se casou, em 1944. Após
cinco anos de convívio, ele faleceu de derrame cerebral, e a nossa poetisa
passou a dedicar-se, de forma ainda mais intensa, à militância política. Nesta
obra, podemos perceber a proximidade poética de Lila Ripoll com Cecília
Meireles (1901-1964). Esta última nutria uma solidão das ilhas oceânicas,
herdada da avó açoriana, e a nossa poetisa, em seus primeiros livros, sempre se
volta às memórias da infância.
O
conjunto da obra
A
obra completa de Lila Ripoll totaliza oito livros, que foram editados, de 1938
a 1965, nesta respectiva ordem: “De mão postas “, “Céu Vazio”, “Por quê?”, “
Novos poemas”, “ Primeiro de Maio”, “Poemas e canções” , “ O Coração
descoberto” e “ Águas Móveis”. Além destes livros, há poemas inéditos
recuperados e organizados por Alice C. Moreira na publicação “ Lila Ripoll –
Obra completa”, cuja pesquisa se efetivou no Centro de Memória do Programa de
Pós-graduação da Faculdade de Letras (PUCRS). Nossa poetisa escreveu também uma
peça chamada ”Um colar de vidro” (1958) que é uma crítica aos valores
burgueses. Em Porto Alegre, a peça teve uma excelente aceitação pelo
público e pela crítica, resultando num sucesso expressivo no Teatro São Pedro.
A
campanha eleitoral em 1950
Em
1950, Lila Ripoll foi candidata à deputada estadual pelo Partido, porém
enfrentou intensa reação da elite conservadora e de determinadas correntes
religiosas, que inviabilizaram a sua vitória. Nossa poetisa chegou a
percorrer, em campanha, um número considerável de cidades do Rio Grande do Sul.
Em Quaraí, sua terra natal, durante seu discurso na Praça Gen. Osório, ela foi
agredida com vaias e pedradas. Uma pedra chegou a atingir um dos candidatos que
se encontravam no palanque com Lila, porém nossa poetisa não interrompeu o seu
discurso e nem se intimidou com esta ostensiva demostração de hostilidade.
Nossa
poetisa manteve uma intensa ligação com a importante revista gaúcha
“Horizonte”, no período de 1949 a 1956, exercendo, em 1951, o jornalismo no
comitê editorial da revista. Esta publicação contou com escritores, jornalistas
e artistas visuais ligados à esquerda, que difundiam os ideais do Partido
Comunista. Nela, participaram importantes artistas plásticos do Rio
Grande do Sul, como Carlos Scliar (1920-2001), Iberê Camargo (1914-1994), Vasco
Prado (1914-1998), entre outros nomes. Objetivando apoiar economicamente a
“Horizonte’, o Clube de Gravura de Porto Alegre (CGPA) foi criado no ano 1950.
Na realidade, a agremiação foi mais do que financiadora da revista, pois, por
meio de cursos de formação artística e de exposições, otimizou o ambiente
cultural local. Ainda em 1951, Lila Ripoll participou da organização do 4º
Congresso Brasileiro de Escritores.
O
Museu de Comunicação Hipólito José da Costa (Musecom) criado, em 10 de setembro
de 1974, pelo jornalista e escritor Sérgio Dillenburg, com o apoio da
Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e por meio do seu saudoso presidente
Alberto André (1915-2001), guarda e preserva, em seu acervo de periódicos,
alguns exemplares da importante revista “Horizonte”, cuja circulação se
constituiu num marco da história da nossa imprensa regional e nacional.
De
acordo com Luciana H. Balbueno: “A revista “Horizonte” nasce como um dos
aparelhos de difusão cultural ”revolucionário” que divulga não somente a causa
do Partido como reflexo dos movimentos soviéticos, mas também a preocupação com
os fenômenos sociais no Brasil, a luta pela paz mundial, pelo antifascismo,
pela educação para todos, enfim, por causas universais, mais amplas dos que os
condicionados pelo esquema soviético.” (Balbueno, p.15).
Ao
publicar os seus poemas, na importante revista “Horizonte”, com forte apelo
social de transformação da mentalidade burguesa, individualista e competitiva,
Lila Ripoll denunciou as desigualdades sociais e suas mazelas, cuja
consequência é o sofrimento humano, a exemplo do poema “Andantino”. Nele,
ela retrata a árdua luta, pela sobrevivência, de um menino negro e morador de
rua, que deseja ser reconhecido e visto como um ser humano pela sociedade.
Já no poema intitulado “Retrato”, Lila Ripoll enaltece a figura de Luíz
Carlos Prestes (1898-1990), que ficou conhecido como “ O Cavaleiro da
Esperança” ; e noutro importante poema, chamado “Elegia”, ocorre uma
exaltação aos mártires da causa socialista.
O
poema Andantino: infância, exclusão e o racismo
Em
“Andantino”, publicado no ano de 1951, no seu livro “Novos Poemas”, Lila Ripoll
traz a lume um sério problema social: o menino de rua, pobre e
negro, excluído pela sociedade classista e preconceituosa. Segue um
trecho, em forma de poema, desta denúncia social:
“MENINO
pretinho vestido de andrajos, teu rosto rebrilha debaixo da chuva que cai e se
esvai. Teu cesto de flores, molhado, desfeito, sugere motivos que fazem
pensar... ..ANDEMOS, menino, andemos, andemos com chuva ou luar. - O chão não
floresce sozinho por nós. E é tempo de andar. Nas altas montanhas, nas rasas
planícies, com chuva ou luar, plantemos, menino, que é tempo de andar!” (Novos
Poemas, 1951).
O
livro “Novos Poemas” fez com que Lila Ripoll, em 1951, fosse agraciada com o
Prêmio Neruda da Paz, em Praga, na Tchecoslováquia, representando um orgulho
para todos os gaúchos e um marco importante para a literatura presente em nosso
estado.
Os
intelectuais da época
No
Rio grande do Sul, colaboravam na propagação dos ideários do Partido Comunista
nomes importantes do nosso cenário cultural, a exemplo de Cyro Martins
(1908-1995), Dyonélio Machado (1895-1985), Josué Guimarães (1921-1986), entre
outros. Na época, o grupo de intelectuais conhecidos internacionalmente e
que apoiava as causas socialistas, era composto por personalidades, como: Pablo
Neruda (1904-1973), Paul Éluard (1895 -1952), Jean Paul Sartre (1905- 1980),
Bertold Brecht (1898-1956), Gabriela Mistral (1889-1957), entre outras figuras
de destaque no cenário mundial. Dentro deste contexto, Lila Ripoll estava
vinculada, admirava e lia a produção desses artistas, filósofos e escritores.
No ano de 1953, Lila Ripoll participa de um encontro internacional pela paz em
Buenos Aires.
1ª
de maio: O massacre dos operários na cidade de Rio Grande (RS) / 1950
Em
1954, Lila Ripoll lançou o livro ”Primeiro de Maio”, no qual ela registrou o
massacre ocorrido no Dia Internacional do Trabalho, na cidade de Rio Grande, no
Rio Grande do Sul. A passeata operária foi interrompida com os disparos das
armas dos policiais, que cumpriam ordens superiores. O governo de Walter Jobim
(1892-1974), de acordo com o jornalista e pesquisador João Batista Marçal, irá
se despedir com as mãos “sujas de sangue”. Além de Angelita, foram mortos,
pelos cães da repressão, o líder operário Euclides Pinto, o portuário Honório
Porto e o ferroviário Osvaldino Correia. O vereador Antônio Réchia, durante o
confronto, foi atingido por um disparo que atingiu a sua espinha dorsal,
ficando este paralítico. O sangue operário foi derramado no pampa gaúcho...
O
poema “Angelina”, que faz parte dessa obra, trata do assassinato de uma jovem
tecelã durante uma passeata de operários ocorrida em 1º de maio de 1950. A
jovem Angelina Gonçalves carregava a bandeira do Brasil e trazia pela mão a sua
filha de 9 anos, quando foi atingida por um disparo e caiu morta. Este fato se
constitui numa página muito triste e de profunda consternação na história do
movimento operário no Rio Grande do Sul.
Observem
a densidade das duas primeiras estrofes deste poema:
A
massa resiste
rebelde,
indomável,
Erguendo
muralhas,
de
peitos e braços,
Às
frias espadas,
Aos
altos fuzis.
A
rua tranquila
Tão
cheia de cantos, encheu-se de cinza,
De
sangue e de pó. (...)
A
Tribuna Gaúcha: o jornal maldito
Em
1955, Lila Ripoll passou a colaborar no importante periódico “Tribuna Gaúcha’
que era ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). O nome desse periódico se
alternava entre Tribuna Gaúcha ou simplesmente Tribuna. Esta mudança no título
do periódico se dava quando havia a necessidade dos comunistas em confundirem a
vigilância policial, principalmente, no período em que o Partido esteve
proibido de atuar, funcionando de forma clandestina no Brasil. Seu primeiro
número começou a circular em 17 de fevereiro de 1946. Durante um decênio, seus
diretores, repórteres e redatores vivenciaram a rotina de entradas e saídas das
prisões metropolitanas. A sede, que ficou famosa, localizava -se na Rua
da Ladeira, atual General Câmara). Este local foi cenário de confrontos, com
prisões e espancamentos, manchando com sangue esta tradicional rua
do centro de Porto Alegre, Ainda no ano de 1955, a nossa poetisa e
jornalista vai a Moscou para o Congresso Internacional dos Partidários da Paz
como delegada do Brasil.
Manoelito
de Ornellas e Lila Ripoll
Lila
Ripoll era amiga do círculo familiar do escritor Manoelito de Ornellas
(1903-1969), que fez parte da geração de 30, em nosso Estado, e escreveu um
clássico da nossa literatura: “Gaúchos e Beduínos” – a origem étnica e a
formação social do Rio Grande do Sul” (1948). Nossa poetisa figura entre os
destaques literários presentes em “Máscaras e murais de minha terra” que foi
publicado em 1965. Nesta obra, o escritor faz uma referência extremamente
positiva em relação à figura de Lila Ripoll, considerando o trabalho da poetisa
repleto de sensibilidade e de extrema compreensão quanto aos problemas humanos.
Manoelito de Ornellas também registrou, nesta obra, a sua admiração (1965),
considerando louvável o senso de justiça e de igualdade social presentes na
obra de Lila Ripoll. O escritor Manoelito de Ornellas assim definiu a nossa
poetisa: “o poeta sofre o drama que surpreende, a cada passo, e a sua angústia
se transforma em canto“ (idem, p.62)
Os
pesquisadores da obra de Lila Ripoll
Ao
longo do tempo, qualificados pesquisadores têm contribuído para divulgar o
talento e as atividades às quais Lila Ripoll se dedicou durante a sua
profícua existência. Importante, entre outras, as seguintes produções:
“Antologia poética “(1967) de Walmyr Ayala , “Ilha difícil – antologia poética”
de Maria da Glória Bordini e “Lila Ripoll - Obra Completa” (1998) de
Alice Campos Moreira. A autora Maria da Glória Bordini também é
responsável pela análise do conjunto da obra de Lila Ripoll que foi publicada,
em 1987, no fascículo nº 9, do Instituto Estadual do Livro (IEL).
Importante
também que se registre a dissertação de Luciana Haesbaert. Com o título
“A produção de Lila Ripoll na Revista Horizonte”, ela foi defendida, em 2001,
na PUCRS. Nela, a autora demonstrou que a revista foi um marco
referencial da nossa poetisa ligada às causas sociais, sendo ferrenha defensora
dos direitos políticos como militante do Partido Comunista Brasileiro. De
acordo com a autora, o período mais rico e produtivo de Lila Ripoll foi
quando estava atuante na importante revista gaúcha “Horizonte” (1949-1956).
A
prisão em 1964 e a doença
As
atividades políticas e intelectuais de Lila Ripoll, ligadas ao Partido
Comunista Brasileiro, foram de encontro a Ditatura Militar (1964-1985) que se
instalaria no País em 1964. O resultado foi a prisão da nossa poetisa, que,
devido a um câncer em estágio bastante avançado, acabou sendo liberta.
Ao
pressentir que seus dias se esvaiam e a morte era inevitável, ela deixou um
recado para os amigos em forma de poema:
Agradeço
tudo a todos,
Não
merecia tanto.
Levo
esta única saudade: deixá-los
Aos
amigos desejo incorporar
Mais
os novos amigos que conhecemos.
E
aos inúmeros amigos que conhecemos
Deixo
a minha grande saudade, (Moreira. p.7)
A
morte de Lila Ripoll
Em
07 de fevereiro de 67, a foice - um símbolo arquétipo da morte-, cortou o fio
da sua existência, que nos deixou um legado de luta e de esperança, por dias
melhores, numa sociedade que, infelizmente, ainda exclui e relega à
invisibilidade social e ao abandono milhares de pessoas às quais foi sonegado o
passaporte da cidadania. Com certeza, Lila Ripoll vive nos corações de todos
que acreditam na fraternidade e na construção de uma sociedade mais igualitária
e com menos desigualdades, onde as promessas governamentais e eleitoreiras se
tornem uma realidade palpável e não apenas palavras verbalizadas e impressas.
O
crítico Sérgio Ribeiro Rosa, em 29 de janeiro de 1967, ao falar da nossa
poetisa, no Diário de Notícias (1925-1979), em seu ensaio “Lila Ripoll solidão
e êxtase”, comentou:
“Sua
poética impõe-se no concerto internacional da arte lírica como solidão que se
sublimou em êxtase de expressividade total. (,,,) ”
No
Correio do povo, de fevereiro de 1967, Hugo Ramirez escreveu “Lembrança de Lila
Ripoll”, onde afirmou: “Com Lila Ripoll a contribuição feminina à poesia, no
RGS, atingiu a um ponto de singular destaque”. Nossa poetisa é patrona da
cadeira nº 26 da Academia Literária do Rio Grande do Sul e a sala de eventos no
Instituto Estadual do Livro (IEL) chama-se, numa justa homenagem, Lila Ripoll.
Em sua homenagem, criou-se, no ano de 2005, o Prêmio Lila Ripoll de
Poesia, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, sendo
aberto a todos que desejarem se expressar sobre assuntos vinculados às causas
sociais e ao gênero.
No
dia 07 fevereiro de 1967, Lila Ripoll faleceu em Porto Alegre, aos sessenta e
um anos, e seu corpo foi enterrado por seus companheiros partidários no
Cemitério da Santa Casa de Misericórdia. Sua obra e sua voz libertária
seguem encantando a todos, que lutam e sonham com um mundo melhor...
Bibliografia
BALBUENO,
Luciana Haesbaert. A Produção de Lila Ripoll na revista horizonte.
Dissertação de mestrado. PUCRS, 2001.
BORDINI,
Maria da Glória. Ilha difícil. – antologia poética. Porto Alegre: Editora da
Universidade, 1987.
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Lila Ripoll. Letras Rio Grandenses. nº 09. Porto Alegre: IEL, 1987.
BRAGA,
Maria Alice da Silva. Manoelito de Ornellas / Vida e obra de um ex-presidente
da ARI. Porto Alegre: Megalupa, 2015.
FlORES,
Hilda A. Hübner. Presença Literária / 2005. Porto Alegre: Ediplat, 2005.
MARÇAL,
João Batista ; MARTINS, Mariângela. Dicionário Ilustrado da Esquerda Gaúcha. Porto
Alegre: Libretos, 2008.
MOREIRA,
Alice Campos. (org,). Lila Ripoll - obra completa. Porto Alegre: IEL/
Movimento, 1998.
SCHULER,
Donaldo. A poesia no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto,1987.
Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite é pesquisador
e coordenador do Setor de Imprensa do Musecom
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