sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

PEQUENA REFLEXÃO SOBRE “A PAZ QUE ESTAMOS COM ELA”!



Martinho Júnior, Luanda 

1 – Angola conseguiu perfazer 13 anos em que não mais se fizeram sentir as armas, algo que duma forma geral tem suscitado os mais diversos comentários, a nível interno e a nível internacional, quase todos eles claramente favoráveis ao percurso que foi iniciado a 4 de Abril de 2002, 26 anos após a declaração da independência nacional.

Quando é fresca a paz e a guerra deixou tantas feridas na África Austral, em Angola também, é justo que as pessoas além do mais se interroguem sobre a guerra e sobre a paz, ao invés de alguma vez afirmarem “o fim da história”, ou de reinventá-la, quiçá em nome de alguma doutrina alienatória tão do interesse neo liberal.

Alguns dizem: agora estamos em paz e por isso devemos esquecer o passado de guerras, sepultá-lo… acho que é uma posição que, em termos de memória, vai suscitar sempre a controvérsia que inibe a construção da paz e da própria unidade nacional, não aproveitando o rumo que deriva do Movimento de Libertação em África, que é o húmus da luta contra o subdesenvolvimento, que deve mobilizar as gerações presentes e futuras.

Desse modo também não se faz o inventário de tudo o que se associou às guerras, particularmente do lado das forças retrógradas que tentaram a manutenção do seu poder e possuíam aliados externos poderosos o que pode tolher aqueles que, para encontrar os caminhos da paz e da harmonia, não os podem perder de vista, nem menosprezá-los.

A cultura da paz é extensiva a todos e é essa a norma que deve prevalecer!

Constata-se que a paz possível que foi construída pelos angolanos (e só entre angolanos) na sequência do 4 de Abril de 2002, sendo sequência do Movimento de Libertação em África, reflecte as imensas e justas aspirações de todo o povo angolano, no fundo algo que implica resgatar África do subdesenvolvimento crónico, sabendo que esse subdesenvolvimento é histórico e é resultado do passado de trevas que envolveu escravatura, colonialismo, “apartheid” e todas as suas sequelas.

África, berço da humanidade, tem direito à vida e por isso é tão legítima a lógica com sentido de vida, que dá sequência ao Movimento de Libertação e a construção da paz e da identidade nacional nesses termos!

O povo angolano, as nossas instituições, os nossos intelectuais, os nossos jovens, devem-se pois interrogar sobre si próprios em relação a esse rumo que só se tornou possível depois da IIª Guerra Mundial, ela própria também tão importante no que a África diz respeito e a muitos africanos, desde o que ocorreu no norte, onde os nazis alemães e os fascistas italianos foram derrotados pelos aliados, até à participação da África do Sul ao lado desses mesmos aliados, passando pelo facto de Brazzaville, ter sido com o General Charles De Gaulle, a capital provisória da “França Livre”, ou pelo engajamento e participação dos heróicos “atiradores senegaleses” na libertação da Europa das forças do Eixo…

Depois da IIª Guerra Mundial, não mais era possível aplicar no espírito e à letra, os conceitos e as práticas derivados da Conferência de Berlim, nem de regimes como os que integraram o Eixo e aqueles que assim o quiseram fazer, não tiraram lições suficientes do significado amplo da vitória dos aliados e por isso, mesmo que estivessem no poder de potências como os Estados Unidos, o Reino Unido, ou a Alemanha, acabaram por se constituir em resíduos, ou em sequelas, dos nazis e dos fascistas, mesmo que integrassem, ou fossem fundadores de pactos como o da NATO!
  
2 – Houve três guerras praticamente sucessivas e em cadeia em Angola, com início em 1961 e até 2002 e todas elas são resultado da teimosia e intransigência absoluta de um dos lados face ao Movimento de Libertação, um resultado aliás de doutrinas e sequelas fascizantes e retrógradas que haviam sido derrotadas na IIª Guerra Mundial e persistiram de armas na mão e ao retardador em África, como autênticos resíduos de natureza criminosa e por que algumas potências assim o quiseram:

- A teimosia do Estado Novo de Portugal, membro fundador da NATO, intransigente na sua afirmação colonial num momento em que se assistia ao nascimento das independências africanas e quando várias independências haviam sido arrancadas a ferro e fogo, incluindo a do Quénia e a da Argélia (1961 – 1975);

- A teimosia do “apartheid” que dilacerava a África Austral espreitando a possibilidade de construir constelações de dóceis “bantustões” e impedia África de partir para o imprescindível renascimento de si própria, ultrapassando as vulnerabilidades decorrentes à história terrível do Congo (1975 – 1992);

- A teimosia de Savimbi, ele mesmo uma sequela do colonialismo (Operação Madeira) e do“apartheid”, que tanto procurou fazer por disseminar “bantustões” a partir dos frutos da sua“border war” e dum Zaíre cujo poder era sustentado pelos sectores internacionais mais retrógrados, que alimentavam uma “autenticité” que apenas servia à clique de Mobutu e ao tribalismo em relação ao qual essa clique vegetou, assim como àqueles que por causa disso, beneficiavam da exploração desenfreada das riquezas de África, tornando o Congo “um corpo inerte onde cada abutre vinha depenicar o seu pedaço” (1992 – 2002).

3 – Foi legítima a consciência africana assumir com inteligência, clarividência, coragem e determinação a sua liberdade, perante tão execráveis propósitos que persistiam no continente no rescaldo da IIª Guerra Mundial e essa legitimidade tornou justas as lutas armadas que se tiveram sucessivamente de se travar em Angola entre 1961 e 2002, apesar de tantos obstáculos e sacrifícios.

Nem todos chegaram ao mesmo tempo a essa compreensão em África, constituindo-se nesse sentido o Movimento de Libertação numa autêntica vanguarda ideológica, de armas na mão e por isso o primeiro Presidente de Angola afirmava que o “MPLA é a vanguarda do povo angolano”, mas as vanguardas legítimas devem ser autoras de paz no seu rumo e por isso chega-se sempre a uma altura que a cultura da paz deve ser compreendida pela esmagadora maioria, até por que só assim se poderá construir também a identidade nacional.

A paz alcançada pelo Movimento de Libertação em África, é o resultado de sua própria maturidade e da sequência lógica do seu rumo.

É por essa razão que essa legitimidade atraiu no mundo tantos aliados e também imensa compreensão: no fundo a aspiração à liberdade, faz intrinsecamente parte de toda a humanidade e a IIª Guerra Mundial foi uma experiência que possibilitava o virar de página face ao fascismo, ao colonialismo e às opções retrógradas do “apartheid”, bem como de suas próprias sequelas e mesmo os poderes “cristãos e ocidentais” que a seu tempo não o entenderam, sabem hoje que está a ser efectivamente assim, a começar pelas transformações progressistas na América Latina e no próprio Vaticano!

Imagem: Mapa do Mundo antigo: será por acaso que África era representada bem no seu centro e com seus contornos tão perfeitos?

SEGURANÇA: A SÍNDROMA DOS SURICATOS



Rui Peralta, Luanda 

O tema sacrossanto da segurança tem, nos últimos tempos, assumido uma importância tal, que aparece já diluído em todas as verborreias dos fazedores de opinião, discursos políticos e no quotidiano da Humanidade. Surgiu em virtude dos actos terroristas que têm assolado, com cada vez maior frequência, as sociedades humanas. E foi rapidamente camuflado pela necessidade de “assegurar a liberdade” e defender os “valores”.

Esta camuflagem esconde intenções e objectivos que não se destinam a impedir actos de terrorismo mas, antes, a fazer um aproveitamento destes actos. O objectivo é estabelecer uma nova relação entre cidadãos, assente no controlo generalizado e ilimitado, priorizando os dispositivos de controlo dos bancos de dados e das tecnologias da comunicação.

Da mesma forma o “estado de emergência” não é um escudo protector da democracia. Geralmente proporciona um marco legitimador para a implementação de ditaduras e regimes autoritários. Implica uma alteração de raiz do modelo de Estado e abre as portas aos mais diversos tipos de totalitarismo. A História regista os mais variados casos em que isto ocorreu e - para não recuarmos á Grécia Antiga ou a Roma – podemos observar o que ocorreu na Alemanha durante o período denominado de Republica de Weimar, durante os anos que precederam á tomada do Poder por Hitler, em que os governantes social-democratas estabeleceram tantas medidas de excepção que o país deixou de ser, desde 1933, uma democracia parlamentar. O primeiro acto dos nazis quando chegaram ao poder foi proclamar o estado emergência, que nunca (durante o regime nazi) chegou a ser derrogado.

Este cenário não deve ser afastado na actualidade. Um país que viva um prolongado estado de emergência, ou um prolongado período de medidas de excepção, é “normal” que as forças policiais se substituam, gradualmente, ao Poder judicial e exista uma rápida e irreversível deterioração das instituições públicas. Imagine-se que uma poderosa força de extrema-direita (alimentada pelo quadro excepcional) vença as eleições e forme governo…Basta-lhe “normalizar a excepção”.

O clima em que actualmente se vive, á escala global, provocado pelo terrorismo levado a cabo por grupos fascistas islâmicos (e em colaboração estreita com bandos fascistas baseados no fundamentalismo cristão e pela extrema-direita judaica) leva á incubação de uma nova forma de Estado: o Estado de Segurança (Security State, conforme a ciência politica norte-americana, que já viveu um período singular na guerra fria, período denominado de “caça ás bruxas”). 

O Estado de Segurança é um regime hibrido, em que a “razão de Estado” é substituída pela “razão de Segurança”. É um Estado fundado no medo, fonte da sua legitimidade. É estabelecido um controlo generalizado em função da relação terrorismo / Segurança de Estado. E é, também, a utopia do núcleo duro da nova “indústria da segurança” um monopólio global que após a II Guerra Mundial andou apagado até aos anos 80, época em que começou a dar os primeiros sinais de vitalidade e é hoje um dos sectores mais lucrativos do mercado mundial. A receita é simples: o Estado de Segurança necessita do medo, que é a sua fonte de legitimação. Torna-se, então, necessário produzir o terror ou, pelo menos, não impedir que se produza. Daí que muitos países adoptem uma politica externa de apoio camuflado ao terrorismo – sempre sob a capa do combate ao terror – vendendo armas e equipamentos a Estados que financiam as actividades terroristas.

No Estado de Segurança o medo substitui a soberania popular. Existe uma tendência acelerada para a despolitização e para o afastamento da participação dos cidadãos na Polis. Reina a passividade, a acefalia, o espirito acrítico e o ódio ao estrangeiro, ao alienígena cultural, na figura do imigrante, o horror e o asco ao Outro. Este factor foi visível no fascismo italiano durante a promulgação da lei da nacionalidade, em 1926, que eliminou a dupla nacionalidade e desnacionalizou os cidadãos de origem judaica e os considerados “indignos”. É visível hoje, nas propostas da “fortaleza europeia” ou na militarização da fronteira USA/México.

Uma outra característica do Estado de Segurança é a alteração dos critérios judiciais. O crime é automaticamente imputado. Todo o cidadão é suspeito e não existe a presunção da inocência. É uma absoluta renúncia ao estabelecimento da certeza jurídica. O crime deixa de ser comprovado mediante a intervenção judicial e passa a sê-lo pela policia e pelos órgão da comunicação social (o populismo judicial). É o reino da imprecisão e da falsificação de factos. A arbitrariedade torna-se norma. Os advogados tornam-se espantalhos e o Juízes funcionários do aparelho repressivo.

Imprecisão é, também, o fulcro do conceito de guerra contra o terrorismo. O estado de guerra define-se pela capacidade de identificar o inimigo. Na perspectiva securitária o inimigo é indefinido, seja interno ou externo e qualquer um pode ser identificado como tal.

Medo, despolitização e renúncia á efectividade da lei, são as três características do Estado de Segurança, um Estado policial que eclipsa o Poder Judicial e generaliza a arbitrariedade da polícia, tornando o estado de emergência permanente e soberano. Todos passamos a ser terroristas potenciais, deixamos de ter vida privada e assumimos o modelo da vigilância permanente.

É a síndroma dos suricatos….

ARÁBIA SAUDITA EM DIREÇÃO AO COLAPSO



Thierry Meyssan*

Enquanto os Saud gozam os últimos momentos da sua ditadura, a decapitação do líder da sua oposição, Nimr al-Nimr, priva metade da população saudita de qualquer esperança. Para Thierry Meyssan a queda do reino tornou-se inevitável. Ela deverá ser acompanhada por um longo período de violência extrema.

Num ano, o novo rei da Arábia, Salman, 25º filho do fundador da dinastia, conseguiu consolidar a sua autoridade pessoal em detrimento dos outros ramos da sua família, entre os quais o clã do príncipe Bandar bin Sultan e o do antigo rei Abdulla. Entretanto, ignora-se o que Washington prometeu aos perdedores para que eles não empreendessem nada no sentido de recuperar o seu poder perdido. De qualquer forma cartas anónimas, surgidas na imprensa britânica, permitem pensar que eles não desistiram de suas ambições.

Forçado pelos seus irmãos a nomear como herdeiro o príncipe Mohammad bin Nayef o rei Salman rapidamente o isolou, e limitou as suas competências, em proveito do seu próprio filho, o príncipe Mohammed bin Salman, cuja impulsividade e brutalidade não são refreadas pelo Conselho de Família, que não se reúne mais. De facto, são agora ele e o seu pai quem governa a sós, como autocratas, sem nenhum contra-poder, num país que nunca elegeu qualquer parlamento e onde os partidos políticos estão interditos.

Assim, vimos o príncipe Mohammed bin Salman assumir a presidência do Conselho de Assuntos Económicos e do Desenvolvimento, impôr uma nova direcção ao Bin Laden Group e apoderar-se da Aramco. Em cada jogada tratou-se, para ele, de afastar os seus primos e de colocar religiosos à frente das grandes empresas do Reino.

Em matéria de política interna, o regime assenta apenas na metade da população sunita ou wahhabita, e discrimina a outra metade da população. O príncipe Mohammed bin Salman aconselhou ao seu pai a decapitação do xeque Nimr Baqir al-Nimr porque este ousara desafiá-lo. Por outras palavras, o Estado condenou à morte e executou o principal líder da sua oposição, cujo único crime é o de ter formulado e repetido o slogan: « O despotismo é ilegítimo». O facto que este líder seja um xeque xiita só reforça o sentimento de “apartheid” dos não-sunitas, que estão impedidos de seguir uma educação religiosa e que estão todos proibidos de aceder ao trabalho na função pública. Quanto aos não-muçulmanos, ou seja um terço da população, não estão autorizados a praticar a sua religião e não podem esperar aceder à nacionalidade saudita.

No plano internacional, o príncipe Mohammed e o seu pai, o rei Salman, conduzem uma política apoiada nas tribos beduínas do Reino. Só assim é possível compreender o prosseguir, ao mesmo tempo, do financiamento dos Talibãs afegãos e da Corrente do Futuro libanesa, a repressão saudita contra a Revolução no Barein, o apoio aos jiadistas na Síria e no Iraque e a invasão do Iémene. Em todo o lado, os Saud apoiam os sunitas –-que eles consideram como os mais próximos do seu wahhabismo de Estado---, não apenas contra os xiitas, mas, primeiro, contra os sunitas esclarecidos, depois contra todas as outras religiões (ismaelitas, zaiditas, alevitas, alauítas, drusos, siques, católicos, ortodoxos, sabateus, yazidis, zoroastristas, hindus, etc.). Acima de tudo, em qualquer caso, eles apoiam exclusivamente líderes saídos de grandes tribos Sauditas sunitas.

De passagem, nota-se que a execução do xeque al-Nimr segue-se ao anúncio da criação de uma vasta Coligação(coalizão-br) anti-terrorista de 34 Estados em torno de Riade. Sabendo que o supliciado, que sempre rejeitou o uso da violência, foi condenado à morte por «terrorismo» (sic), deve-se entender que esta Coligação é, na verdade, uma aliança sunita contra as outras religiões.

O príncipe Mohammed tomou em mãos a decisão de lançar a guerra ao Iémene, alegadamente para socorrer o presidente Abd Rabbo Mansour Hadi, derrubado por uma aliança entre os Hutis e o Exército do antigo presidente Ali Abdullah Saleh, mas, na realidade, para se apoderar dos campos de petróleo e os explorar junto com Israel. Como se podia prever a guerra corre mal e os insurgentes lançam incursões na própria Arábia Saudita, onde o exército debanda abandonando o seu material.

A Arábia Saudita é, pois, o único Estado do mundo propriedade de um único homem, regido por este autocrata e seu filho, recusando qualquer debate de ideias, não tolerando nenhuma forma de oposição, e não aceitando mais que a vassalagem tribal. O que foi, por muito tempo, considerado como resquício de um mundo ultrapassado, chamado a adaptar-se ao mundo moderno, esclerosou-se até tornar-se na identificação própria de um reino anacrónico.

A queda da Casa Saud poderá ser provocada pela baixa dos preços do petróleo. Incapaz de reformar o seu nível de gastos, o Reino pede emprestado à larga, de modo que assim, segundo os analistas financeiros, deverá cair na falência daqui a dois anos. A venda parcial da Aramco poderá dar uma prorrogação a esta agonia, mas ela se fará ao preço de uma perda de autonomia.

A decapitação do xeque al-Nimr terá sido o capricho mais elevado. O colapso é agora inevitável na Arábia porque não há aí nenhuma esperança para os que lá vivem. O país encontrar-se-á, então, mergulhado numa mistura de revoltas tribais e de revoluções sociais, que serão muito mais mortíferas que os precedentes conflitos do Próximo-Oriente.

Longe de se oporem a este fim trágico, os protectores norte-americanos do Reino aguardam-no com impaciência. Eles não param de louvar a «sabedoria» do príncipe Mohammed como um meio para o encorajar a cometer mais erros. Já em Setembro de 2001 a Junta de Chefes de Estado-Maior(JCOS-ndT) trabalhava num mapa de Remodelagem do «Médio-Oriente Alargado», que previa a divisão do país em cinco Estados. Além de que, em julho de 2002, Washington avaliava a maneira de se livrar dos Saud, no decorrer de uma célebre reunião do Defense Policy Board(Conselho da Política de Defesa-ndT). Agora, é apenas uma questão de tempo.

A reter :
style='orphans: auto;text-align:start;widows: 1;-webkit-text-stroke-width: 0px; word-spacing:0px' alt=- class=puce v:shapes="_x0000_i1025"> Os Estados Unidos conseguiram resolver a questão da sucessão do rei Abdallah, mas empurram hoje em dia a Arábia Saudita para a queda. O seu objectivo é, agora, dividir o país em cinco.
- O wahhabismo é a religião de Estado, mas os Saud apoiam-se no interior e no exterior unicamente sobre as tribos sunitas e mantêm as outras populações em estado de “apartheid”.
- O rei Salman (80 anos) deixa o exercício do poder a um dos seus filhos, o príncipe Mohammed (30 anos). Este apoderou-se das grandes empresas do país, declarou guerra ao Iémene, e acaba de fazer executar o chefe da sua oposição, o xeque al-Nimr.

Thierry Meyssan – Voltaire.net - Tradução Alva

Foto: O príncipe Mohammed ben Salman Al Saoud, 30 anos, príncipe herdeiro suplente, segundo Primeiro-ministro suplente, ministro de Estado, ministro da Defesa, secretário-geral do Tribunal real, presidente do Conselho para os Assuntos Económicos e o Desenvolvimento.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

BRUXELAS ENREDA-SE NA TEIA QUE CRIOU




A Comissão Europeia decidiu colocar pela primeira vez em movimento os procedimentos previstos no Tratado de Lisboa contra suspeitas de alegadas violações do Estado de Direito cometidas pelos Estados membros. O alvo escolhido é a Polónia, na sequência de decisões recentes do governo de extrema-direita que atingem a independência da Justiça e da Comunicação Social através de medidas de controlo do Tribunal Constitucional e dos média públicos.

Independentemente das razões para lançamento desde processo que, no limite, poderia conduzir à aplicação de sanções a Varsóvia, existe um contexto intrigante que não escapa aos bastidores de Bruxelas, onde se sabe que as relações entre a Comissão e a Presidência do Conselho, a cargo do polaco Donald Tusk, não são as melhores. Numerosos são os eurocratas para quem a abertura deste procedimento poderá conduzir a uma “argumentação de troca de culpas e acusações” sobre o comportamento padrão da União Europeia em matéria de Estado de Direito e diretos humanos, argumentação essa que acabará por enredar e diluir o processo.

“Dá-se enfase ao facto de esta ser a abertura do primeiro procedimento quando, na verdade, já é tardia e acabará enovelada na burocrática teia de interesses e contradições em que vive a União”, considera um funcionário da Comissão familiarizado com as questões que levaram o comissário Frans Timmermans a lançar o processo. O que o funcionário pretende dizer é que não faltaram à Comissão desde Março de 2014 – altura em que o mecanismo foi regulamentado - muitas razões para abrir processos contra outros Estados Membros relacionados com atitudes susceptíveis de desrespeitar o Estado de Direito. É o caso, por exemplo, da situação de ditadura política vigente na Hungria; das práticas de segregação de minorias linguísticas existentes na Estónia e na Letónia – idênticas à praticada pelo governo fascista da Ucrânia -; de numerosas medidas austeritárias contra populações indefesas aceites por governos às ordens das troikas, e até largamente excedidas, como aconteceu nos casos de Portugal e da Grécia; da discriminação de comunidades étnicas na Croácia; ou ainda da declaração do estado de excepção em França violando direitos elementares dos cidadãos. Sem esquecer o modo autoritário como a Alemanha utiliza as estruturas da União e a moeda única em proveito próprio.

O que se reconhece nas instituições europeias é que antes da Polónia outros governos deveriam ter ser alvo de procedimentos para avaliação de atitudes passíveis de violar o Estado de Direito. Sendo certo também, como lembra o mesmo funcionário, que as instituições europeias têm estado prioritariamente focadas nas “violações do direito dos mercados, assim confundido com o Estado de Direito, pelo que esta medida surge fora do contexto habitual”.

A primeira fase do processo relativo à Polónia, aberta no dia 13, é a de “avaliação e diálogo” entre Bruxelas e Varsóvia sobre as polémicas medidas que governamentalizam o Tribunal Constitucional e a comunicação social na Polónia, o que, neste caso, significa a implantação da censura. Depois seguir-se-á uma fase de “recomendações”, no caso de Bruxelas entender que existe incumprimento. Só depois se avaliará se haverá razões ou não para a aplicação de sanções.

O Partido da Lei e da Justiça, entidade da extrema-direita nacionalista que domina com maioria absoluta o panorama político polaco, reagiu com surpresa e acrimónia à atitude de Bruxelas, por não ser este o tom habitual usado pelas instituições europeias perante abusos de poder em Estados Membros. Segundo o governo de Varsóvia, trata-se apenas de um processo de informação “baseado em especulações surgidas na Europa Ocidental”. Para o ministro da Justiça polaco, Zbigniew Ziobro, governamentalizar o Tribunal Constitucional e os meios de comunicação social é “uma acusação injustificada e uma conclusão injusta”.

A Polónia é a 6ª economia da União Europeia e um pivot do rearmamento da NATO e do apoio à ditadura ucraniana num cenário geral e prioritariamente estratégico de pressão sobre a Rússia. “Este processo contra o governo de Varsóvia é completamente deslocado no tempo e nas realidades”, queixa-se um diplomata da NATO em Bruxelas.

O ambiente de polémica que envolve o procedimento, enquanto outras agressões ao Estado de Direito passam em claro, é o prenúncio de que, mais tarde ou mais cedo, a iniciativa dará em nada. Ao mesmo tempo que envolve a União Europeia na teia de contradições e de agressões a princípios democráticos que tem vindo a tolerar, o seu fracasso deixará campo ainda mais aberto para a anarquia absoluta na Europa em matéria de respeito pelo Estado de Direito. Se o caso polaco for o único sob a alçada de Bruxelas, o mais certo é terminar com vantagem para Varsóvia devido a uma espécie de jurisprudência tácita: por quê a Polónia e não os outros? Assim se criarão as condições para que o Estado de Direito venha a ser espezinhado no que resta da União Europeia porque, como revela o exemplo polaco, o que está a acontecer e estará para vir é ainda bem pior ainda do que o que ficou para trás.

A única atitude corajosa de Bruxelas, reconhecem experientes quadros das instituições europeias, seria abrir processos contra os múltiplos casos de violações do Estado de Direito em vigência na União, e não apenas contra a Polónia de Kaczinsky. Ora isso não passa pela cabeça de Timmermans ou qualquer outro membro da Comissão, a começar por Jean-Claude Juncker, porque até agora o seu forte e o dos seus antecessores tem sido a coragem contra os mais fracos, isto é, contra os povos e não contra os governos. A Polónia será apenas uma frágil excepção que virá confirmar a regra: a manipulação do conceito de Estado de Direito à medida de conveniências, interesse e circunstâncias. 

*Mundo Cão

Portugal. Governo “melhorzinho” que o anterior não aumenta as pensões de miséria. Viva a fome!




Mário Motta, Lisboa

O título em Notícias ao Minuto, de onde compilamos a notícia, é elucidativo. PCP quer mais aumentos nas pensões. O governo diz que não é possível. Já era de esperar.

Se fosse um rombo causado por especuladores, banqueiros vigaristas ou outros da mesma espécie já o governo corria a safar a situação com milhares de milhões de euros a fundo perdido, à custa dos portugueses, da fome e da miséria, claro. Como é para aliviar as carências impostas por pensões de pouco mais de 100 euros, de 200 e até que não chegam aos 500 ou 600 euros mensais, já não é possível.

Pois. Assim não é possível. O possível é não existir um teto que não permita pensões supervalorizadas e que atingem dezenas de milhares de euros (olhem o exemplo da pensão de Ricardo Salgado), ou mais de uma dezena de euros, como o exemplo de Cavaco Silva e outros da espécie gananciosa que tão bem conhecemos. Se umas são pagas por contas dos bancos (via roubos) outras são pagas por contribuições de todos os portugueses. Essas, pelo menos, devem ter um teto que não deveria poder ultrapassar os 4 mil euros mensais. Quanto às pensões escandalosamente milionárias são imorais e algo deve ser feito para as travar. Não é possível? Dá Deus nozes a quem não quer ter dentes.

O PCP quer mas não pode decidir por ele somente. O governo pode decidir e reformular todo o sistema de pensões mas não quer. Assim se vê quem é quem e ao que vêm e vão os partidos políticos de um sistema absolutamente apodrecido que aceita que existam portugueses de primeira, segunda, terceira e até de quarta categoria. Uns quantos podem dispor diariamente de pensões  escandalosas da ordem de mais de 3 mil euros por dia, em número muito maior podem existir os que podem contar diariamente com cerca de 400 euros por dia (caso de Cavaco)… Nesta selva desumana a plebe, farta de trabalhar, de enriquecer os parasitas e salafrários do costume, conta com pensões de 5 a 9 euros por dia, com sorte de 12 a 25 euros por dia – que não é a maioria.

Os critérios deste governo, como de outros anteriores, inserem-se na devassa dos direitos, liberdades e garantias da maioria dos cidadãos para produzir benefícios imorais para uma elite que nos recorda os “Vampiros” do Zeca Afonso e as verdades na canção-poema contidas.

É evidente que este governo PS não está a conseguir sacudir os seus tiques do “arco da governação” à direita, só tem o mérito de se estar a esforçar para ser um governo melhorzinho que o dos da direita radical que por quatro anos condenou os portugueses à miséria, à fome, às cantinas fascizantes da caridadezinha do Mota Soares, então ministro da pseudo Segurança Social.

Um governo PS “melhorzinho” que o de Cavaco-Passos-Portas não basta para tornar possível mitigar tantas injustiças. Costa, sobreviver nesta vida custa-nos muito, Costa!

A notícia. (MM/PG)

PCP quer mais aumentos nas pensões, Costa diz não ser possível

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, instou hoje o primeiro-ministro a aumentar ainda mais os rendimentos dos pensionistas, mas António Costa afirmou não haver condições para "ir mais longe" durante o ano de 2016.

Durante o debate quinzenal que decorreu hoje na Assembleia da República, o deputado Jerónimo de Sousa questionou o Governo acerca do aumento das pensões e reformas.

"Depois de anos de congelamento da grande maioria das pensões, e os cortes vários e por várias vias do seu valor - particularmente nestes últimos quatro anos - a decisão de descongelamento pelo seu Governo é claramente insuficiente, tendo em conta a elevada perda do poder de compra verificado", afirmou o deputado.

Em resposta, o primeiro-ministro referiu que o Governo também gostaria de "poder ir mais longe", não havendo, porém, condições para tal.

"Gostaríamos de ir, sim, gostaríamos de poder recuperar nos anos futuros, sim, mas neste ano de 2016, neste condicionamento, não temos condições de poder assumir que iremos mais longe do que aquilo que fomos e que anunciámos ir", sublinhou Costa.

O chefe do Governo frisou que grande parte das medidas que o seu executivo tem adotado "não constituem novos avanços, constituem simplesmente a reposição de direitos que tinham sido sacrificados".

"Em grande medida é simplesmente fazer uma coisa que até devia ser simples e que nem devia merecer grande espanto, que é simplesmente cumprir a Constituição da República Portuguesa, como lei fundamental do nosso Estado de direito", firmou.

António Costa defendeu também que a atualização de pensões já feita "é bastante superior àquela que tinha existido nos Governos anteriores e àquela que se manteria se o Governo não tivesse mudado", e que permite "abranger dois milhões de pensionistas, comparativamente aos 520 mil que eram anteriormente atingidos".

Durante a sua intervenção, Jerónimo de Sousa argumentou não estar a "inventar direitos novos", mas sim "a repor aquilo que é justo, aquilo que pertencia e pertence aos trabalhadores e aos reformados e pensionistas", ressalvando que a realidade de agora "é diferente" daquela que se vivia há um ano.

Os seis minutos a que o PCP tem direito para intervir permitiram ainda ao líder comunista abordar as privatizações programadas pelo anterior Governo, alegando ser necessário "devolver ao país aquilo que é do país, as suas empresas e setores estratégicos".

"Estou confiante que iremos conseguir cumprir o que está estabelecido no programa de Governo", afirmou o primeiro-ministro relativamente à TAP.

Quanto à Carris e ao Metro, António Costa sublinhou que o Governo "não vai concluir os contratos que não estavam concluídos", advogando ser fundamental "manutenção [destas empresas] na esfera pública, quer quanto à propriedade quer quanto à gestão, numa lógica de descentralização pelas autarquias locais".

Relativamente à CP carga, o primeiro-ministro vincou que "nos próximos anos o país vai ter que melhorar cada vez mais a quota de mercadorias que circulam pela ferrovia", considerando "essencial a ligação da ferrovia a Sines", assim como "as melhorias na linha de Aveiro à Europa" e a boa articulação entre o transporte marítimo e ferroviário".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. FURACÃO ALEX ESTÁ A CHEGAR AOS AÇORES




Furacão Alex a 80 quilómetros da ilha Terceira

Há "uma elevada probabilidade de sofrer o impacto direto do furacão"

O furacão 'Alex' estava às 11:00 dos Açores (mais uma hora em Lisboa) a 80 quilómetros a sul da Terceira, ilha que tem "uma elevada probabilidade de sofrer o impacto direto do furacão".

Segundo o meteorologista Carlos Ramalho, da delegação regional dos Açores do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), às 11:00 "o furacão estava a 80 quilómetros a su-sueste da Terceira, deslocando-se para norte, a cerca de 39 quilómetros/hora".

"Isto significa na próxima hora, no máximo duas horas, um aumento significativo do vento, em especial na ilha Terceira, que tem uma elevada probabilidade de sofrer o impacto direto do furacão", explicou o responsável.

Carlos Ramalho adiantou que nesta ilha do grupo central "é expectável que o vento médio sopre de 100 a 120 quilómetros/hora [km/h] e a rajada seja de 150 a 170 kms/hora".

O meteorologista referiu que "o olho do furacão poderá passar pela Terceira cerca das 13:00, sendo que durante a sua passagem pode haver melhoria temporária do tempo, mas depois agrava novamente".

O grupo central compreende ainda as ilhas de São Jorge, Faial, Pico e Graciosa.

"Quando ao grupo oriental [ilhas de Santa Maria e São Miguel], o vento médio já atingiu os 72 kms/hora, o equivalente a uma tempestade tropical, e as rajadas foram na ordem dos 100 kms/hora", esclareceu.

O furacão 'Alex' é o primeiro fenómeno meteorológico desta natureza a acontecer no mês de janeiro em quase 80 anos, de acordo com meteorologistas norte-americanos, motivando a emissão de avisos vermelhos para vento, agitação marítima e chuva para os dois grupos, que vigoram até ao início da tarde.

O aviso vermelho é o mais grave numa escala de quatro e representa uma situação meteorológica de risco extremo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. PARLAMENTO APROVOU REPOSIÇÃO DAS 35 HORAS DE TRABALHO




É oficial, as 35 horas de trabalho semanais estão de volta

A Assembleia da República aprovou hoje, na generalidade, os projetos do PCP, "Os Verdes", Bloco de Esquerda e PS para a reposição aos trabalhadores em funções públicas do horário de trabalho de 35 horas semanais.

Perante estes quatro diplomas, PSD e CDS-PP votaram contra, mas o deputado do PAN (Pessoas Animais e Natureza) esteve com a esquerda parlamentar na aprovação dos projetos.

Entre os quatro projetos aprovados, o do PS distingue-se por remeter a entrada em vigor da jornada de 35 horas de trabalho para julho, enquanto os restantes da esquerda parlamentar têm aplicação imediata após a publicação da nova lei em Diário da República.

Outra diferença reside no facto de os diplomas do PCP e de "os Verdes" já terem um mês de discussão pública, o que não aconteceu seguramente com o do PS.

Os socialistas alegam que, no âmbito da administração pública, alguns serviços necessitam de um período de adaptação em termos de organização interna para responder à redução do horário de trabalho.

Também o ministro das Finanças, Mário Centeno, advertiu que a redução do horário de trabalho em funções públicas deverá fazer-se sem custos adicionais para o Estado.

Na mesma sessão de votações, foi ainda aprovada uma proposta sobre 35 horas semanais de trabalho provenientes da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, diploma apoiado pela esquerda parlamentar, que teve a abstenção do PSD e voto contra do CDS-PP.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. LIVRAI-NOS DO MAL



Foi dia de debate quinzenal. Já terminou. A TSF oferece-nos um cheirinho que repescámos. Algo nestes debates mostra a grande lata do descarado Passos Coelho. Não é que ele não esteja no seu direito, como deputado, de interpelar o governo. 

Passos preocupado com o défice. Só dá para rir. Passos e Portas - que varreram para debaixo dos tapetes a sujidade do Banif e outras - vem agora mostrar-se muito cauteloso e preocupado com o défice. Passos mostra a sua raça condizente do epíteto com que o marcaram poucos dias depois de ter sido eleito há quatro anos e se mantém: aldrabão-mor sem-vergonha.

Também o PAN, partido estreante na AR, levantou uma questão sobre a exploração de petróleo no Algarve e Costa Alentejana deixando a clareza de não concordar com a devassa da natureza, do ambiente para petrodolarizar a economia de Portugal. PAN, Pessoas-Animais-Natureza, agradável surpresa pelo desempenho no Parlamento.

De resto, entre outros temas, a destacar a Educação. Outra treta surgiu, da parte do CDS. Preocupação com a educação, com os não exames do 6º ano no ensino básico. Deviam ter vergonha mas isso é coisa que naquele irreversível partido não existe. Foi governo e arrasou a Educação. Está à vista. Agora mostra-se preocupado. E assim se vê o que aquela gentinha não presta e por que nos andaram a roubar e ludibriar durante quatro anos. Portas vai embora, de líder… Ainda não foi. Miguel morreu. A morte é cega.

Livrai-nos do Mal corporizado no PSD de Passos e no CDS de Portas/Cristas… ou outros do mesmo jaez.

Ámen.

Redação PG / MM

PM: Défice de 3% "praticamente assegurado"

Em resposta à pergunta de Passos Coelho, o primeiro-ministro disse que a meta de um défice abaixo de 3% está "praticamente assegurada".

O líder do PSD tinha insinuado que o governo poderia estar a utilizar o caso Banif para "ganhar margem de manobra" nas negociações com Bruxelas. António Costa considerou essa visão "perversa" e garantiu que o atual governo "tudo fará" para que "nos 20 dias" que estão sob responsabilidade do executivo, a meta seja cumprida.

Sobre classificação do caso Banif, o primeiro-ministro afirmou que as negociações com a Comissão Europeia continuam.

Quanto ao próximo ano, mantém-se o objetivo de reduzir défice para 2,8%.

Judith Menezes e Sousa – Foto Tiago Petinga/Lusa

EXPRESSO CURTO, À FALTA DE MELHOR NO GÉNERO



Diretamente do produtor. Bom fim-de-semana, se possível.

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques – Expresso

As ilhas de Alex

A noite não foi boa, mas, sem vítimas nem grandes estragos, não foi tão má como se antecipou.

A esta hora estamos ainda na fase crítica da passagem do estranho e improvável Furacão Alex pelos grupos Central e Oriental do arquipélago dos Açores, ambos em alerta vermelho desde ontem à noite. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera anunciou vento muito forte, chuva intensa e ondas entre seis a 12 metros, estando previstas vagas com até 18 metros de altura.

O mar já galgou algumas estradas e o vento sopra com força nas zonas ribeirinhas. Devido à chuva das últimas semanas, que deixou os solos saturados, teme-se que possam ocorrer deslizamentos de terras. A situação deverá começar a melhorar ao início da tarde, mas durante todo o dia mais de metade das ilhas açorianas vão estar a menos de meio gás. Pelas piores razões, o fim de semana chegou mais cedo.

Por decisão do Governo regional, que instalou um centro de operações na Terceira, foram fechadas todas as escolas, creches e jardins de infâncias, e emitidos alertas para o risco de qualquer atividade junto à beira-mar. As autoridades relembraram a importância de desobstruir os sistemas de escoamento de águas e de consolidar a segurança de todas as estruturas provisórias. Os trabalhos de preparação começaram cedo, refere o Açoriano Oriental.

O Alex é uma raridade meteorológica, como explica o meteorologista Pedro Viterbo, do IPMA, neste artigo. É a primeira grande tempestade do ano, é também a primeira vez, desde 1978, que o primeiro nome da lista de tempestades violentas vai para um fenómeno formado no Atlântico e, por fim, é também o primeiro furacão registado em janeiro desde 1938. Se quiser ficar a saber a lista completa de nomes de furacões até dezembro pode consultá-la aqui, na versão americana do National Hurricane Center, ou dar um salto aBerlim para ver como se baptizam tempestades na Europa (onde qualquer um pode fazê-lo, desde que faça antes uma doação).

OUTRAS NOTÍCIAS

Nuno Melo decidiu que não entra na corrida à liderança e escolheu quem vai apoiar. Saiu do palco mesmo antes de entrar e apontou o holofote na direção de Assunção Cristas. A ex-ministra da Agricultura e do Mar parece ser a senhora que se segue. É a primeira candidata oficial e, tudo indica, poderá ser ela a entrar pela porta que Paulo decidiu abrir ao deixar a liderança do CDS.

Tem aqui um primeiro retrato da possível futura líder (muitos se vão seguir) e algumas leituras sobre o rumo que Assunção quer impor ao CDS: a do Expresso, a do Observador e a do Público.

A campanha presidencial está na rua - ainda que mal se dê por isso - e os candidatos andam às voltas pelo país à procura da estrada que os leve a Belém. Um à frente, nove atrás dele. Ontem foi mais um dia morno. Maria de Belém discutiu o papel da NATO numa sala cheia de embaixadores, Sampaio da Nóvoa foi candidato e professor numa aula estranha, Marisa Matias encontrou família e amigos em Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa falou de filmes e exames escolares, Henrique Neto comparou o Governo de António Costa ao de José Sócrates, Edgar Silva discutiu a corrupção e Paulo Morais virou o discurso para a segurança. Hoje há mais e estará tudo na página especial que o Expresso criou.

Nas manchetes dos jornais há de tudo e para todos os gostos: o Correio da Manhã escreve que a "Gripe A deixa 31 em risco de vida"; o JN lembra que Manuel Godinho, o sucateiro que deu origem ao processo Face Oculta, deve 40 milhões de euros ao Fisco; o Público e o i dão conta do impacto do Banif poode ter na saída de Portugal do procedimento por défice excessivo e o DN anuncia que a pílula para prevenir o VIH vai ser testada em Portugal.

Lá por fora, houve novo debate para as presidenciais norte-americanas. Foi o sexto no campo Republicano e o The New York Times levou a jogo o departamento de "fact checking" , preparado para confirmar ou desmentir rapidamente aquilo que cada candidato diz.

Em Espanha, soma e segue o ata e desata das eleições legislativas. Discute-se a possibilidade de um "gobierno a la portuguesa", como ainda ontem lembrou um dos embaixadores que esteve à conversa com Maria de Belém. O El Espanol, jornal digital, não é exceção. Mas anuncia uma outratempestade, ao olhar para o síndrome Volkswagen e dar contada queda brutal das ações da Renault depois de o ministério da Justiça francês ter anunciado uma investigação à marca automóvel por suspeita de ter alterado os resultados dos testes de emissões nos seus veículos - que há anos são os mais vendidos em Portugal.

Tempestuosa e animada vai também a situação política na ainda bolivariana Venezuela, onde as contas e continhas de deputados (a oposição perdeu três e agora ninguém se entende sobre quantos são precisos para formar uma maioria qualificada) andam de mão dada com a celebração do culto da Divina Pastora.

Vale sempre a pena estar a par do que sucede por terras venezuelanas. Não só porque lá moram milhares de portugueses e de luso descendentes, não só porque é um dos principais produtores de petróleo do mundo, mas acima de tudo porque é, de facto, um país peculiar. A terra onde uma garrafa pequena de água é mais cara do que um depósito cheio de gasolina e onde, há uns anos, o atual presidente, Nicolas Maduro, foi abordado numa Igreja por um passarinho (na verdade, disse Maduro, era o espírito de Hugo Chavez) que lhe piou ao ouvido a certeza de que seria ele a ganhar as eleições. Hoje há mais uma sessão parlamentar e há três jornais venezuelanos que pode espreitar: umdoistrês.

Depois de Istambul, o Daesh reivindicou o ataque terrorista de ontem em Jacarta - que terá sido ordenado a partir da Síria. À conversa com um amigo português que mora na capital indonésia, ao início da noite, retive duas frases:"Isto esteve caótico" e "O problema maior é que eles estão preparados para morrer".

O que nos assusta ainda mais é não saber onde "eles" vão atacar a seguir.

Ontem foram conhecidos os nomeados para os Óscares. Na americana The New Yorker, o barbudo Richard Brody, que anda desde 1999 a ver filmes e mais filmes, atira-se aos membros da Academia. No Expresso, pode encontrar a lista completa - para imprimir, assinalar os seus favoritos e guardar até 28 fevereiro.

(Segue-se uma frase feita)

Esta história podia dar um filme: A família de Jonas Savimbiprocessou os criadores de um videojogo por difamação.

E este filme, o do Charlie Hebdo, é outra história.

Paulo Gonçalves está fora do Dakar. O piloto português - que ainda há dias tinha parado a moto para ajudar um adversário caído - sofreu um acidente e acabou a 11.º etapa (entre La Rioja e San Juan, na Argentina) no hospital 

A segunda volta do campeonato está aí: O Sporting joga hoje (20h30). O Benfica amanhã (20h45). E o Porto no domingo (20h30).

Morreu Alan Rickman, o professor Slate da saga Harry Potter, protagonista de inúmeros filmes e peças de teatro.

Rickman tinha 69 anos e é a segunda figura pública com essa idade a morrer esta semana. O primeiro foi David Bowie e, por falar nele, está já nas bancas uma edição especial da Blitzsobre a carreira do homem que nos garantiu que podemos ser heróis, para sempre. É um número para colecionadoresfeito em tempo recorde, e com qualidade máxima, pela equipa da Blitz - que também dá cartas na Internet.

Por ser sexta-feira (a que na Venezuela chamam sábado pequeno), ficam mais três notas rápidas.

Uma para o futuro, ou como David Cameron está a preparar o referendo sobre a permanência britânica na União Europeia. A inspiração vem do referendo sobre a permanência da Escócia no Reino Unido. A conservadora The Spectator chama-lhe "Projeto Medo" e pergunta como pode um euro-cético liderar a campanha pelo sim à Europa?

A segunda sobre o passado. As primaveras árabes foram há cinco anos e, como se pode ler neste artigo do Nouvelle Observateur, é provável que tudo ainda piore bastante antes de começar a melhorar.

A última é uma lista, e toda a gente adora listas. Foi publicado esta semana o ranking das companhias aéreas mais seguras para 2016, de acordo com o site Airline Ratings. A Qantas australiana surge no topo da lista, a TAP não está nas 20 primeiras. A The Economist tem um bom resumo, mas pode ser explorar o original aqui

FRASES

"O meu filho de 17 anos morreu de fome. Por favor, ajude-me a salvar os outros" - apelo de uma mãe de seis filhos que se lançou nos braços de Hanaa Singer, representante máxima da UNICEF na Síria, que esta semana esteve na cidade sitiada de Madaia.

"Nada foi feito nas costas do povo, aqui nas costas do Ministério Público, não se podendo dizer que em qualquer das decisões do Tribunal da Relação houve um efeito surpresa" -Decisão do Juiz Rui Rangel que considerou não admissível um recurso do Ministério Público a contestar uma decisão do juiz Rui Rangel, no âmbito da operação Marquês.

"Portugal está em dia com as suas obrigações com o FMI. Na verdade, está adiantado, já que no ano passado foram feitos pagamentos antecipados”. Reação de um responsável do FMI à notícia de que Portugal vai abrandar o pagamento dos reembolso antecipados à instituição dirigida por Christine Lagarde

"Consigo ver o ridículo em todas as coisas do mundo. E quanto mais as pessoas se levam a sério mais ridículo se torna, e mais fácil é fazer pouco disso". Hugo Tavares, criador de "A criada malcriada" e "Cavaca para Presidenta", entrevistado pelo Expresso Diário

O QUE ANDO A LER

Um livro, dois artigos e mais um livro (que começa amanhã)

"Vaidade e ganância no século XXI" é o livro.

Pode parecer preguiçoso começar assim? Admito que sim. Mas às vezes é certeiro. A primeira das três citações na contracapa deste livro apresenta-o bem. "Sendo um comentário filosófico arguto sobre um tópico cultural de enorme importância, este livro apresenta um crítica mordaz ao narcisismo e a outros vícios do ego desmedido", diz Rae Langton, do MIT sobre o trabalho de Simon Blackburn.

Blackburn, que ensinou filosofia em Oxford e Cambridge, faz um retrato muito detalhado deste complicado mundo em que vivemos. Não vale a pena elaborar muito (embora fique por fazer uma série de merecidos elogios), o melhor mesmo é deixar três passagens (estas são mesmo do livro):

"O smartphone é a maldição do espaço públicoenquanto as pessoas continuam a clicar com a lente apontada principalmente para si mesmas e apenas secundariamente para aquilo que as rodeia. O egoísta imagina todos os seus amigos fascinados com aquilo que comeram ao pequeno-almoço ou com o aspeto que têm postados em frente da Mona Lisa ou do Taj Mahal, ou obscurecendo-os parcialmente"

"Um homem (são habitualmente homens) no conselho de administração de um banco poderá convencer-se de que é requerido um génio extraordinário para oferecer àqueles que emprestam dinheiro ao banco (os clientes) um por cento dos juros, mas só o emprestar a quem dele precisa com 16,5 por cento de juros, e embolsar dessa diferença o máximo que conseguir"

"As pessoas geralmente razoáveis, rodeadas por cortesãos, precisam de acreditar, e por conseguinte acham que é fácil acreditar, que são merecedoras devido às suas excecionais aptidões, bom-senso e inteligência. Qualquer coisa inferior a, digamos, quatrocentas vezes o rendimento médio dos trabalhadores das suas empresas seria injusto, uma simples incapacidade de lhes recompensar adequadamente os seus espantosos dotes. Esta crença pode dominar até as pessoas razoáveis, mas como se sabe, nós já falámos da prevalência dos tipos de personalidade psicopática no cimo da escala empresarial"

Já que se fala de extremos, do topo e da base, deixo-lhe aqui os dois artigos. São ambos do The New York Times e capazes de baralhar a escala a qualquer um.

No primeiro discute-se a grande destruição e as formas que o homem lhe vai dando. Na Coreia do Norte, o regime anunciou há dias o ensaio de uma bomba de hidrogénio. Coisa em grande, portanto. Os americanos, ao contrário, estão a fazer pequeno o que já foi muito maior.

No segundo fala-se de como pode ser civilizada uma troca de murros entre dois homens adultos nas traseiras de uma casa à beira da estrada. Em especial quando a alternativa é resolverem os problemas a tiro. É o retrato de uma América que, mesmo sabendo que existe, não vemos muitas vezes com tanta nitidez.

Um sugestão. O Expresso oferece amanhã o primeiro fascículo do livro "Cultura, tudo o que é preciso saber", de Dietrich Schwanitz. A propósito, e para os que ainda não tiveram oportunidade, fica mais uma vez o link para a excelente entrevista que a Luciana Leiderfarb fez a Eduardo Lourenço.

Não se esqueça: às seis da tarde, o Expresso Diário. Amanhã, o Expresso do costume. E segunda-feira, primeiro dia da última semana de campanha eleitoral, o madrugador Expresso Curto com a assinatura, politicamente certificada, do Bernardo Ferrão.

Bom fim de semana.

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