sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Petróleo de Sangue. DENÚNCIAS RUSSAS CONDUZIRAM TURQUIA PARA UM BECO SEM SAÍDA



O polêmico tema do envolvimento da Turquia no comércio de petróleo do grupo terrorista Daesh (Estado Islâmico) voltou à tona com recentes declarações dos ministros da Defesa de Israel e da Grécia, que acusaram os turcos de comprar petróleo dos terroristas.

Sputnik, opinião

O fato ganhou repercussão especial por ter sido anunciado por um representante oficial de um país parceiro da Turquia, bem como pelas declarações terem sido feitas numa coletiva de imprensa, em Atenas, após uma reunião de Jalonen com seu colega de pasta da Grécia.

Entrevistado pela Sputnik, o cientista político e escritor turco Özgür Şen, autor do livro "Secularismo e esquerda na Turquia", acredita que as revelações do ministro israelense, feitas na capital grega, expuseram ainda mais a difícil situação da Turquia na arena internacional.

O especialistas atentou para o fato de as declarações de Jalonen terem sido feitas num período de aproximação das relações turco-israelenses.

"O governo turco do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que vem gradativamente perdendo suas posições na arena internacional, passou a sofrer abertamente uma séria pressão por parte da comunidade internacional. Israel decidiu se aproveitar dessa oportunidade. Apesar de observarmos uma melhora nas relações turco-israelenses nos últimos tempos, Tel Aviv quer lucrar com a difícil situação do AKP, que se viu praticamente conduzido para um beco sem saída após o surgimento de informações sobre sua cooperação com os jihadistas" – explicou Şen.

O observador destacou ainda que uma parte significativa do petróleo do Daesh chega aos mercados internacionais através da Turquia, onde é disfarçado ao ser misturado com petróleos vindos de outras regiões, para então ser comprado por outros países.

"Para organizar esse processo é ativamente utilizado o petróleo vendido pelo Curdistão iraquiano, contornando o governo central do Iraque. Há provas comprovando isso. O mais interessante é que Israel supre 75% de sua demanda por petróleo graças a compras do Curdistão iraquiano, e a Turquia é um ponto de trânsito nesse comércio" – explicou o especialista.

Şen destacou que o petróleo curdo é igualmente comprado por Chipre, Grécia, Itália e França, em um comércio regido por métodos totalmente contraditórios com relação às normas internacionais.

"Turquia, Grécia, Chipre, Curdistão iraquiano e Israel… Essa lista reflete a atual situação não apenas no Oriente Médio, mas no mundo como um todo. Um quadro sombrio comprovando que todos pensam, antes de tudo, em seus próprios lucros, e que o problema do comércio do petróleo do Daesh é muito mais sério, complexo e multifacetado do que parece, ou do que estão tentando nos convencer" – concluiu Şen.

Na quarta-feira (27) os ministros da Defesa de Israel e Grécia denunciaram o envolvimento direto da Turquia no comércio de petróleo ilegal do grupo terrorista Daesh (Estado Islâmico), confirmando as acusações da Rússia contra o governo de Erdogan nesse sentido. Os ministros disseram que, há tempos, grande parte do petróleo comercializado pelo Daesh passa pela Turquia, que acaba financiando o terrorismo através dessas transações.

REUTERS/ Christian Hartmann

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O RUIDOSO SILÊNCIO EUROPEU




Notícias de Israel: o Ministério da Defesa autorizou a construção de mais 153 casas em colonatos situados na Cisjordânia ocupada; e um jornal israelita defende a liquidação da ministra sueca dos Negócios Estrangeiros, Margo Wallstrom, por condenar as execuções extrajudiciais de cidadãos palestinianos.

Quem procurar reacções de dirigentes da União Europeia a estes atentados ao direito internacional – seja de governos, seja das instituições comunitárias – não as encontrará. Bruxelas come e cala perante as constantes exibições de impunidade dos dirigentes israelitas e dos arruaceiros que os servem.

Os novos alojamentos traduzem a ampliação de colonatos já existentes em três regiões da Cisjordânia e, naturalmente, a expansão das zonas assim ocupadas. Os mais poderosos dirigentes mundiais continuam a falar na “solução de dois Estados” para a questão israelo-palestiniana enquanto, paulatinamente, o regime sionista prossegue o processo de anexação dos territórios onde deveria ser fundado um Estado palestiniano soberano e viável. Pelo que, cada vez mais, o “processo de paz” e o seu desfecho de “dois Estados” soa a história da Carochinha, com a diferença que nada tem de inocente. Quem insiste em narrá-la sabe que o faz enganando os ouvintes, porque é impossível não adivinhar o desfecho da mistificação se não forem tomadas medidas sérias para fazer prevalecer o direito internacional.

O facto de ser o Ministério da Defesa israelita a gerir a expansão dos colonatos é o testemunho mais evidente de que não se trata de uma operação comum de urbanização de terrenos loteados em espaço próprio, mas sim de um processo de ocupação realizado com apoio militar. Só não vê quem não quer ver e, a respeito da colonização israelita, os principais dirigentes mundiais são deliberadamente cegos e mudos. Dizem-se tão preocupados com o terrorismo e deixam que actuações como esta decorram sob os seus narizes.

Quanto à condenação à morte da ministra sueca dos Negócios Estrangeiros, vem estampada em letra de forma e em editorial no jornal israelita Makor Rishon (“De fonte segura”). Margo Wallstrom fez declarações condenando as execuções extrajudiciais de presos palestinianos, que, aliás, são do conhecimento da chamada “comunidade internacional” – esse é o crime que serve de base à sentença ditada pelo editorialista. Para este, a chefe da diplomacia sueca é “uma antissemita como foi Folke Bernadotte” e, escreve ele, “estou convencido de que conhecerá o mesmo fim”. O conde Folke Bernadotte, diplomata sueco, foi assassinado em 17 de Setembro de 1948 pelo grupo terrorista sionista Stern quando tentava negociar um cessar-fogo na Palestina entre os exércitos árabes e judaico.

Não creia o leitor que o jornal punitivo é uma qualquer folha de couve impressa e distribuída por lunáticos. Pertence ao grupo do magnata mafioso norte-americano Sheldon Adelson, senhor dos casinos com relações muito próximas do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. A senhora Wallstrom tem razões para se precaver e, ao mesmo tempo, fica a perceber que as cedências como as que recentemente fez a Marrocos e ao Ikea, a propósito do Sahara Ocidental, não a tornam mais imune a quem não olha a meios.

Dos Estados Unidos não haveria que esperar qualquer reacção a estes desmandos israelitas, que aliás fazem parte da rede de comportamentos minuciosamente fiada entre Washington e Telavive.

Já das instâncias e dos governos da União Europeu ainda seria possível alimentar a tímida ilusão de uma qualquer chamada de atenção. A notícia sobre novos colonatos, é certo, pode ser considerada um dado corriqueiro do dia-a-dia, tão banal que não merece o esbanjamento sequer do precioso tempo dos doutos telejornalistas; mas, que diabo, há incitamentos que ameaçam a vida de uma ministra de um governo da União. Não seria motivo para alguma solidariedade, pelo menos de outros colegas?
Santa ingenuidade a do escriba!

Na foto: Netanyahu com Sheldon Adelson, o proprietário do jornal que pede a morte da ministra sueca dos Negócios Estrangeiros

*Mundo Cão

A ALEMANHA E A ONU CONTRA A SÍRIA



Thierry Meyssan*

Os neo-conservadores e os falcões liberais que demoradamente prepararam, desde 2001, a guerra contra a Síria, apoiaram-se a partir de 2005 sobre vários Estados da Otan e do Conselho de Cooperação do Golfo. Se já se conhecia o papel jogado pelo general David Petraeus, em lançar e manter a guerra até aos dias de hoje, duas personalidades —Jeffrey Feltman (numero 2 da Onu) e Volker Perthes (director do principal think tank alemão)— ficaram na sombra. Em conjunto, com o apoio de Berlim, eles utilizaram, e continuam a manipular, as Nações Unidas para destruir a Síria.

Em 2005, quando Jeffrey Feltman — então embaixador dos E.U. em Beirute — supervisionava o assassínio de Rafic Hariri, ele apoiou-se na Alemanha, tanto para o assassínio em si próprio(Berlim forneceu a arma) [1], como para a acção da Comissão de investigação da Onu encarregue de acusar os presidentes el-Assad e Lahoud (o procurador Detlev Mehlis, o comissário da polícia Gerhard Lehmann e a sua equipe). A campanha internacional contra os dois presidentes foi, nomeadamente, animada pelo politólogo alemão Volker Perthes [2]

Volker Perthes estudou a Síria, no quadro de uma bolsa de investigação alemã, em Damasco, em 1986-87. Em seguida ele encetou uma carreira como um professor de ciências políticas na Alemanha, à excepção do período de 1991-1993, no decurso do qual ele lecionou na Universidade Americana de Beirute. Desde 2005 ele é o diretor do Stiftung Wissenschaft und Politik (SWP) (Fundação para a Ciência e Política- ndT), o principal think tank alemão, empregando mais de 130 especialistas, dos quais metade são universitários.

Pelo contrário, quando Feltman organizou o ataque israelita contra o Líbano, em 2006, ele implicou apenas os Estados Unidos, esperando que uma vez o Hezbolla vencido a Síria viria em socorro de Beirute, e que isso forneceria um pretexto para uma intervenção dos EUA . No fim, Berlim contentou-se em enviar a sua marinha para se juntar à Força das Nações Unidas (Finul).

Foi durante a reunião anual, que se realizou de 5 a 8 de junho de 2008 —cinco anos antes da guerra—, que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, colocou ao Grupo de Bilderberg a necessidade de derrubar o governo sírio. Para o fazer ela estava acompanhada pela directora da Arab Reform Initiative (Iniciativa para a Reforma Árabe-ndT) [3], Bassma Kodmani (futura fundadora do Conselho Nacional Sírio), e do director do SWP, Volker Perthes. O Grupo de Bilderberg é uma iniciativa da Otan, que assegura directamente a sua segurança [4].

Segundo um telegrama revelado pelo Wikileaks, Volker Perthes aconselhou C. Rice em relação ao Irão. Segundo ele, era perigoso lançar uma operação militar de consequências regionais imprevisíveis. Por outro lado, ele foi mais eficaz a sabotar a sua economia. Os conselhos de Volker Perthes foram seguidos, em 2010, com a operação de destruição dos computadores das centrais nucleares iranianas pelo vírus Stuxnet [5].

Em Março de 2011, Volker Perthes publicou um artigo de opinião no New York Times afim de ridicularizar o discurso do presidente el-Assad à Assembleia do Povo, no decurso do qual ele havia denunciado uma «conspiração» contra a Síria [6]. Segundo ele, a «revolução» estava em marcha na Síria e o presidente devia partir.

Em meados de 2011, o governo alemão patrocinou o avanço do Irmãos Muçulmanos na Tunísia e no Egipto. Lembremos que abrigava, a pedido da CIA, a coordenação internacional da Irmandade em Aachen(ou Aix-la-Chapelle). Berlim decidiu, então, apoiar os Irmãos em todo o lado onde eles chegassem ao poder, à excepção do Hamas, na Palestina, de modo a não prejudicar Israel. Sob a influência de Volker Perthes, o Ministério dos Negócios Estrangeiros Alemão —à época com Guido Westerwelle— convenceu-se que os Irmãos não eram «islamistas», mas, sim, que eram «orientados pelo Islão». Ele criou uma célula de diálogo com os movimentos «islamistas moderados» (sic) e uma Força-Tarefa para a Síria. Perthes, quanto a si, organizou, em Julho, a recepção no Ministério de uma delegação da oposição síria, dirigida pelo Irmão Radwan Ziadeh.

A 6 de Outubro de 2011, Volker Perthes participou, por proposição do Departamento de Estado, na conferência organizada à porta fechada pela Turkish Industry & Business Association (Tusiad) (Associação Industrial & Comercial Turca-ndT) e pela empresa, de Inteligência privada dos EUA, Startfor, para simular as opções energéticas da Turquia e as eventuais respostas de oito outros países, entre os quais a Alemanha [7]. Estavam presentes as dez primeiras fortunas turcas e Taner Yildiz —então ministro da Energia—, o homem que iria ajudar a família Erdoğan a organizar o financiamento da guerra com o petróleo roubado pelo Daesh.

Em janeiro de 2012, Jeffrey Feltman —então responsável pelo Próximo-Oriente no Departamento de Estado— pediu a Volker Perthes para dirigir o programa «O Dia Seguinte», encarregue de urdir o próximo regime na Síria. Durante seis meses foram realizadas reuniões para chegar nomeadamente a um relatório, tornado público após a Conferência de Genebra.

«O Dia Seguinte» mobilizou 45 opositores sírios, entre os quais Bassma Kodmani e os Irmãos Muçulmanos. Ele foi financiado pelo Instituto da Paz dos E.U, equivalente à National Endowment for Democracy (NED), mas dependente do Departamento de Defesa. Foram igualmente solicitadas a Alemanha, a França, a Noruega, os Países Baixos e a Suíça.
«O Dia Seguinte» esquematizou o rascunho do plano de capitulação total e incondicional da Síria, que se tornou a obsessão das Nações Unidas quando Jeffrey Feltman foi nela nomeado director de Assuntos Políticos, em Julho de 2012.

Eis os princípios do plano Perthes-Feltman :  

- a soberania do Povo Sírio será abolida;

- a Constituição será abolida;

style='orphans: auto;text-align:start;widows: 1;-webkit-text-stroke-width: 0px; word-spacing:0px' alt=- class=puce v:shapes="_x0000_i1027"> o presidente será destituído (mas um vice-presidente permanecerá encarregue de funções protocolares) ;

- a Assembleia do Povo será dissolvida;

- pelo menos 120 dirigentes serão considerados como culpados e interditos de qualquer função política, depois julgados e condenados por um Tribunal Internacional ;

- a Direcção dos Serviços Secretos militares, a Direcção da Segurança política e a Direcção de Segurança geral serão decapitadas ou dissolvidas;

- os prisioneiros «políticos» serão libertados e as medidas anti-terroristas revogadas ;

- o Hezbolla e os Guardiões da Revolução deverão retirar-se ; então, e só então, a comunidade internacional lutará contra o terrorismo [8].

Simultaneamente Volker Perthes organizou o «Working Group on Economic Recovery and Development» (Grupo de Trabalho sobre Recuperação e Desenvolvimento Económico-ndT) dos «Amigos da Síria». Em junho de 2012, sob a co-presidência da Alemanha e dos Emirados Árabes Unidos, este grupo distribuiu aos Estados-membros dos «Amigos da Síria» concessões de exploração do gás sírio, a conquistar em troca do seu apoio ao derrube do regime [9].

Volker Perthes também organizou o “Working Group on Transition Planning” da Liga Árabe.

Finalmente, ele instalou a “Syrian Transition Support Network” em Istanbul.

A partir da Conferência de Genebra (30 de Junho de 2012) e da reunião dos «Amigos da Síria», em Paris (6 de julho de 2012), não se encontra mais traços públicos do papel de Volker Perthes, exceptuando as suas publicações visando manter o apoio da Alemanha aos Irmãos Muçulmanos. A Alemanha prosseguiu a sua política e, após a abdicação do Emir do Catar e da ascensão em influência da Arábia Saudita, designou Boris Ruge, o responsável pela Síria no Ministério dos Negócios Estrangeiros, como embaixador em Riade.

No verão de 2015, aquando de uma deslocação a Damasco, o governo sírio exigiu explicações a Staffan De Mistura a propósito do Plano Perthes-Feltman, do qual acabava de tomar conhecimento. Muito embaraçado o enviado especial do Secretário-Geral da ONU afirmou que esses documentos não o implicavam e assegurou que os rejeitava. Parece que Moscovo havia ameaçado torná-los públicos no Conselho de Segurança, por ocasião da presença dos chefes de Estado na abertura da Assembleia-Geral, em Setembro de 2015. A divulgação destes documentos não ocorreu, ela teria posto em causa a própria existência da ONU. Na mesma altura, Berlim retomou o contacto com Damasco, sem que os Sírios pudessem avaliar se esta abordagem secreta reflectia uma nova política da chancelerina Merkel ou uma enésima tentativa de infiltração.

Entretanto, no mesmo momento, Volker Perthes era nomeado por Staffan De Mistura [10] e o seu superior Jeffrey Feltman, «negociador de paz» (sic) para a próxima reunião de Genebra. Ele será encarregue de fazer o vai-e-vêm entre a delegação da oposição síria e a da República Árabe Síria.

Durante três anos, em violação da sua própria Carta, as Nações Unidas, longe de fazer fosse o que fosse para ajudar a restabelecer a paz na Síria, acusam, sem apresentar a menor prova, a República Árabe Síria de ter reprimido uma revolução, de utilizar armas químicas contra a sua própria população, de aplicar maciçamente tortura, e de matar à fome os seus opositores. Mais importante ainda, ela faz arrastar todas as iniciativas de paz, de modo a dar tempo à Otan e ao Conselho de Cooperação do Golfo de fazer derrubar o regime por mercenários estrangeiros, na ocorrência as organizações terroristas al-Qaida e Daesh(E.I.).

A reter: 

- Desde 2005, o grupo encarregue de preparar a guerra na Síria é dirigido pelo diplomata dos E.U. Jeffrey Feltman, assistido pelo académico alemão Volker Perthes.
style='orphans: auto;text-align:start;widows: 1;-webkit-text-stroke-width: 0px; word-spacing:0px' alt=- class=puce v:shapes="_x0000_i1034"> Em 2005, Feltman organizou o assassínio de Rafic Hariri (já que a segurança do Líbano era então assegurada pela Síria); em 2006, a guerra de Israel contra o Líbano (porque o Hezbolla era então armado pela Síria); em 2011, ele dirigiu a guerra de 4ª geração a partir do Departamento de Estado; desde 2012, ele tenta, a partir das Nações Unidas, da qual se tornou o número 2, fazer durar a guerra o tempo necessário para que os jiadistas cheguem à vitória.
- Perthes associou-se com Feltman, e o grupo privado Statfor, afim de influenciar a política alemã no Próximo-Oriente. Em 2008, ele apresentou o projecto de mudança de regime em Damasco ao Grupo de Bilderberg. Em 2011, convenceu o governo Merkel a apoiar os Irmãos Muçulmanos durante a «Primavera Árabe». Em 2012, ele presidiu a um grupo de trabalho encarregue de preparar o novo regime, depois, redigiu um plano de capitulação total e incondicional da Síria. Ele está agora encarregue, pela ONU, das negociações de paz em Genebra.

Thierry Meyssan* - Tradução Alva - Fonte Al-Watan (Síria) - Voltaire.net

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Na foto: Desde 2005, o académico alemão Volker Perthes participou, ao lado da CIA, na preparação da guerra contra a Síria. Ele dirige o mais poderoso think tank europeu, a Stiftung Wissenschaft und Politik (SWP).

O EIXO SECRETO EUA-ARÁBIA SAUDITA



Manlio Dinucci*

Nome de código “Timber Sycamore”: assim se denomina a operação de armamento e treinamento dos “rebeldes” na Síria, “autorizada secretamente pelo presidente Obama em 2013”. É o que documenta uma investigação publicada no domingo (24) peloNew York Times [1].

Quando foi encarregada pelo presidente de efetuar esta operação encoberta, “a CIA já sabia que tinha um parceiro disposto a financiá-la: a Arábia Saudita”. Com o Catar, “esta forneceu armas e bilhões de dólares, ao passo que a CIA dirigiu o treinamento dos rebeldes”. O fornecimento de armas aos “rebeldes”, inclusive os “grupos radicais como Al Qaeda”, tinha começado no verão de 2012 quando, através de uma rede disposta pela CIA, agentes secretos sauditas tinham comprado na Croácia, na Europa Oriental, milhares de fuzis de assalto AK-47 com milhões de projéteis, e quando os catarianos infiltraram na Síria, através da Turquia, mísseis portáteis chineses FN-6 comprados no mercado internacional. Como o fornecimento de armas era feito livremente, no fim de 2012 o diretor da CIA David Petraeus convocou os aliados na Jordânia, impondo-lhes um controle mais estrito por parte da Agência sobre o conjunto da operação. Alguns meses mais tarde, na primavera de 2013, Obama autorizou a CIA a treinar os “rebeldes” em uma base na Jordânia, e em outra no Catar, e a lhes fornecer armas incluindo mísseis antitanques TOW. Sempre com os bilhões do “maior contribuinte”, a Arábia Saudita. Nenhuma novidade nesse tipo de operações.

Nos anos 1970 e 1980, esta ajudou a CIA em uma série de operações secretas. Na África, notadamente em Angola, onde, com financiamento saudita, a CIA apoiou os rebeldes contra o governo aliado à URSS. No Afeganistão, onde “para armar os moudjaedins contra os soviéticos, os Estados Unidos lançaram uma operação ao custo anual de milhões de dólares, que os sauditas pagaram dólar por dólar em uma conta da CIA num banco suíço”. Na Nicarágua, quando a administração Reagan lança o plano secreto para ajudar os contras, os sauditas financiaram a operação da CIA com 32 milhões de dólares por intermédio de um banco nas Ilhas Cayman. Com essas operações e algumas outras, secretas, até a atual na Síria, cimentou-se a “longa reação entre os serviços secretos dos Estados Unidos e da Arábia Saudita”. Apesar da “reaproximação diplomática” de Washington com o Irã, não apreciada em Riad, “ a aliança persiste, mantida à tona sobre um mar de dinheiro saudita e sobre o reconhecimento de seus interesses mútuos”. Isto explica por que “os Estados Unidos são reticentes em criticar a Arábia Saudita sobre a violação dos direitos humanos, o tratamento às mulheres e o apoio à ala extremista do Islã, o wahabismo, que inspira numerosos grupos terroristas”, e por que “Obama não condenou a Arábia Saudita pela decapitação do Sheik Nimr al-Nimr, o dissidente religioso xiita que tinha desafiado a família real”.

Acrescenta-se o fato, sobre o qual o New York Times não fala, de que o secretário de Estado John Kerry, em visita a Riad em 23 de janeiro, reafirmou que “no Iêmen onde a insurreição Houthi ameaça a Arábia Saudita, os EUA estão do lado de seus amigos sauditas”. Os amigos que desde há quase um ano massacram civis no Iêmen, bombardeando até mesmo hospitais, com a ajuda dos EUA que lhes fornecem indicações (ou seja, mostrando os alvos a atingir), armas (inclusive bombas de fragmentação) e um apoio logístico (incluindo abastecimento em voo dos caças-bombardeiros sauditas). Esses mesmos amigos que o primeiro–ministro italiano Renzi encontrou oficialmente em novembro último em Riad, garantindo-lhe o apoio e as bombas da Itália na “luta comum contra o terrorismo”.

Manlio Dinucci* – Voltaire.net - Tradução José Reinaldo Carvalho - Editor do site Resistência - Fonte Il Manifesto (Itália)

*Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações :Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

VIAGEM INSÓLITA À PERIFERIA DOS EUA



Retratos da Desigualdade: em Baltimore, 25% da população está abaixo da linha de pobreza; índice de homicídios é duas vezes maior que no Rio; polícia agride negros e há bizarros “desertos de comida”

Pedro Abramovay, no Quebrando o Tabu – em Outras Palavras - imagens: Patrick Joust

A cerca de 40 minutos de trem da capital dos EUA e um pouco mais de duas horas de Nova York fica a cidade de Baltimore, capital do estado de Maryland.

Acabo de sair de lá depois de um dia bastante intenso visitando projetos da Fundação Open Society na cidade.

Logo de manhã ouvi o depoimento de uma moça chamada Jabria. Jabria, quando tinha 16 anos, estava discutindo com sua avó. A avó teve um ataque do coração durante a discussão. Jabria foi presa, em um estabelecimento para adultos, por homicídio. Após cerca de um ano experimentando todo tipo de violências no cárcere, Jabria poderia ter direito a liberdade condicional. O pedido foi negado pelo juiz pelo fato de Jabria ter tido mais de 30 suspensões na escola. As suspensões foram ocasionadas por Jabria chegar na escola com o uniforme sujo, pois sua avó não a deixava lavar o uniforme quando elas discutiam.

Jabria hoje lidera uma iniciativa contra a prisão de adolescentes nos Estados Unidos e sabe que histórias como essa são a regra na sua comunidade.

Depois fui a uma escola. Uma escola que, como todas as outras nos bairros pobres de Baltimore convivia com altos níveis de violência, de suspensão de alunos e, não surpreendentemente, péssimos resultados acadêmicos.

Vale dizer que, até recentemente, Baltimore distribuía seus recursos educacionais da mesma forma perversa com que esses recursos são distribuídos na maioria dos EUA. A escola recebe impostos de acordo com a arrecadação de IPTU no bairro em que ela fica. Assim, escolas de bairros ricos recebem uma enormidade de recursos públicos. Em bairros pobres, vivem na miséria. Felizmente, após uma batalha judicial, foi possível mudar isso em Baltimore.

Fiquei muito impressionado ao entrar na escola. Cinquenta anos após os movimentos contra a segregação racial nos EUA, todos, todos, os alunos na escola são negros. O trabalho de justiça restaurativa feito na escola em que eu fui era incrível. As brigas caíram, as suspensões praticamente acabaram e os níveis acadêmicos melhoraram muito. Mas isso ainda é uma gota no oceano em um bairro onde 1/3 dos alunos foram suspensos no ano passado.

Depois da escola fui a uma igreja, ver o trabalho social que eles faziam. Uma senhora, especialista em segurança alimentar, me explicou que um dos maiores problemas da cidade, que contabiliza 25% dos seus habitantes abaixo da linha de pobreza, eram os food deserts (algo como desertos de comida). Áreas da cidade nas quais os moradores não têm acesso a comida. Não há um supermercado ou uma loja que venda comida em um raio de mais de 8 quilômetros. O sistema de transporte público é precário. Assim, as pessoas têm que andar grandes distância para ter acesso a comida. Muitas vezes elas não fazem isso. E acabam comprando Doritos e balas na loja da esquina para alimentar suas famílias, gastando muito mais do que gastariam se comprassem alimentação decente. Ou, simplesmente, passam fome.

Vale lembrar que essa é uma cidade na qual o comparecimento eleitoral chega a 17% da população com idade de votar. O voto, como em todos os EUA, é facultativo.

A taxa de homicídios em Baltimore é altíssima (55 por 100.000 habitantes), equivalente à taxa de cidades da baixada fluminense. Mais que o dobro da taxa do Rio de Janeiro.

Em abril, a polícia matou um rapaz, negro, chamado Freddie Gray. Jovens negros incendiaram a cidade em protesto.

Esse panorama é fundamental para que possamos entender que o capitalismo norte-americano não pode ser visto como um modelo a ser replicado. Baltimore não é um caso isolado nos EUA, não é um acidente. Baltimore é produto de uma sociedade desigual, racista, violenta, injusta e pouco democrática.

Atualmente, sempre que alguém faz um comentário em defesa de mais justiça social, rapidamente ouve-se a resposta: Vai pra Cuba! Não considero Cuba um modelo a ser seguido pelo Brasil. Mas um dia em Baltimore reforçou a ideia de que o modelo de sociedade baseado em um Estado que pune adolescentes, que fortalece o capital privado na decisão de como alocar recursos públicos, que ignora as desigualdades raciais, que acha que o voto facultativo salva a política, esse modelo de sociedade defendido por tanta gente raivosa na internet e inspirada nos EUA. Esse modelo não nos leva ao mundo mágico da Disneyworld. Esse modelo nos leva a Baltimore.

E não vou responder aos #vaipraCuba! que eu ouço com um #vaipraBaltimore. A Baltimore que eu conheci hoje não desejo para ninguém.

Talvez seja difícil saber o que queremos para o Brasil. Mas certamente começar o debate sabendo que não queremos ser nem Cuba nem Baltimore já seria um bom começo.

UM SISTEMA PARA O 1%



Conselheiro da Oxfam, que denunciou hiper-concentração global de riqueza, sustenta: desigualdade tem sido meticulosamente fabricada, por elite que controla poder ou refugia-se em paraísos fiscais

Mikhail Maslennikov, entrevistado por Elena Llorente, no Página 12 – em Outras Palavras -  Tradução: Cepat

O relatório da organização internacional Oxfam sobre a desigualdade no mundo, An economy for the 1% (“Uma economia para o 1%”), divulgado nesta semana, mostra que as 62 pessoas mais ricas do mundo – 53 delas homens, com os estadunidenses Bill Gates eWarren Buffet e o mexicano Carlos Slim na liderança – detêm em conjunto a mesma riqueza de 3,6 bilhões de pobres do mundo. Isto equivale dizer que possuem a riqueza de quase a metade da população mundial, que hoje soma pouco mais de 7,3 bilhões.

Os números são apavorantes, caso se acrescente, além disso, que o abismo está crescendo mais rápido do que a própria Oxfam havia predito, há um ano, e que as mulheres são desproporcionalmente atingidas por esta desigualdade. A Oxfam – cujo nome deriva de Oxford, Inglaterra, onde foi fundada em 1942, e de ‘famine’ que em inglês significa fome – é uma confederação de 17 organizações não governamentais que trabalha em 94 países para encontrar soluções à pobreza.

Mikhail Maslennikov é um matemático e econometrista que trabalha na Oxfam Itália como conselheiro político sobre temas de desigualdade econômica e justiça fiscal. Eis sua entrevista.

Segundo o relatório da Oxfam, 62 multimilionários tem a mesma riqueza que quase a metade do mundo. Como se chegou a esta conclusão?

Analisamos a distribuição da receita em escala global. A desigualdade é um sintoma de grande mal-estar social tão forte que até mesmo organizações econômicas internacionais como FMI, OCDE(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e Banco Mundial estão sendo obrigadas a levá-la em conta. Porque se as desigualdades econômicas não fossem tão extremas como agora, o crescimento econômico interno em diferentes regiões do mundo haveria sido favorecido. Na Itália, por exemplo, estima-se que a queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 8%, nos úlitmos anos, deu-se também em razão das desigualdades econômicas.

E os governos, que papel têm cumprido em tudo isto?

Em geral, os governos subestimaram o fenômeno e o favoreceram, em certo sentido, com certas decisões em nível de política pública. AOxfam concentrou-se nos efeitos produzidos pelas políticas fiscais, especialmente nos sistemas fiscais nacionais que não são suficientemente progressivos (quanto mais se ganha, mais se paga). Em muitos países – um caso eloquente são os Estados Unidos – as alíquotas fiscais para as receitas mais altas foram reduzidas ao mínimo, nos últimos trinta anos. Isto permitiu a concentração da receita nos setores mais favorecidos da população, que pagaram menos tributos para o Estado. Um exemplo de pouca progressividade em matéria fiscal é a Itália, onde a alíquota paga por uma pessoa que ganha 80.000 e por outra que ganha 8 milhões, ao ano, é a mesma.

Você também mencionou os salários…

Para analisar a desigualdade também observamos a receita do trabalho nos últimos 25 e 30 anos, analisamos a receita global em razão da receita do trabalho. E concluímos que sobre a ampla desigualdade econômica também incidem as variações remunerativas.

O abismo entre os que ocupam cargos de direção e os empregados médios foi ampliada, com o passar dos anos. No relatório, analisamos casos significativos de grandes companhias estadunidenses. Há dados de vários países, como Estados Unidos, Índia e Reino Unido, mas nem todas as companhias têm a obrigação de publicar os salários dos grandes dirigentes. Em outros países, não há qualquer obrigação de torná-los públicos. Nos países em que foi possível analisar, a diferença está se acentuando.

Outros fatores que influíram para aumentar a distância entre ricos e pobres?

Também influíram as políticas econômicas dos últimos 30 anos. Houve uma redução dos investimentos nos serviços públicos essenciais, em geral. Para nós, a desigualdade econômica também é uma demonstração de que este modelo econômico fracassou.

Quanto mais poder econômico se tem, mais riqueza se possui e mais é possível condicionar as decisões em matéria de política econômica por parte dos governos.

Qual foi o papel do dinheiro enviado aos chamados paraísos fiscais?

Quando a concentração da riqueza chega ao pico da pirâmide, tenta-se conservá-la. Uma das formas para isso é defender os privilégios fiscais ou esconder essa riqueza em algum paraíso fiscal. Alguns economistas e a Oxfam têm estimado que cerca de 7,6 trilhões de dólares estão escondidos nos paraísos fiscais. Se fossem pagos os impostos sobre esta riqueza, as receitas fiscais para os governos seriam de 190 bilhões por ano. Além disso, os paraísos fiscais são o ponto de chegada dos lucros transferidos pelas grandes multinacionais, mas também pelos indivíduos, fora das jurisdições fiscais dos países onde realmente fazem sua atividade. O exemplo é o informe 2012 de grandes companhias estadunidenses que declararam receitas nas ilhas Bermudas – um paraíso fiscal – por 80 bilhões de euros. Significa 3,3% de todas as suas receitas globais. No entanto, esse número não reflete a real presença econômica dessas companhias nas Bermudas, onde possuem apenas 0,3% de suas vendas globais e 0,01% do custo trabalhista global.

Nesses dias, acontece o tradicional Foro de Davos, na Suíça, que reúne políticos, economistas e empresários de todo o mundo. O que a Oxfam apresentará lá?

Queremos fazer um chamado às elites e aos governos, lançando a reivindicação de maior justiça fiscal. Queremos também recordar às elites o nível de desigualdade em que vivemos e a responsabilidade que elas têm. Aoxfam demonstrou que das 200 companhias analisadas – entre as quais estão incluídas as 120 maiores do mundo e uns 100 sócios estratégicos do Fórum –, nove em cada dez estão presentes nos paraísos fiscais.

Queremos dizer que o dinheiro enviado para os paraísos fiscais acentua a desigualdade. Ou seja, chamaremos atenção sobre os níveis insustentáveis da desigualdade. Também alertaremos de forma provocadora contra a evasão fiscal das corporações que estejam presentes em Davos.

Em sua opinião, o que cada país deveria fazer para diminuir as diferenças entre ricos e pobres?

Como prioridade, acredito que seria preciso redefinir os sistemas fiscais para que sejam mais progressivos e analisar o impacto de novos sistemas sobre os níveis de desigualdade. Além disso, maiores investimentos em serviços públicos essenciais como Educação e Saúde, e políticas de apoio ao Trabalho. E, em plano internacional, os governos deveriam contribuir para uma reforma da fiscalidade internacional, acabando com os paraísos fiscais.

Na foto: Opulência e miséria misturam-se em Manila, Filipinas. Uma cena cada vez mais frequente, num mundo dominado por políticas de “austeridade” e “ajustes fiscais”

O INSUPORTÁVEL PESO DA DESIGUALDADE



António Bagão Félix – Público, opinião

A credível e prestigiada organização não-governamental Oxfam publicou os últimos dados sobre a desigualdade social no mundo, imediatamente antes da realização do Fórum Económico Mundial de Davos.

Vale a pena sumariar alguns dos pontos do relatório:

– A riqueza acumulada por 1% da população mundial foi, em 2015, equivalente ao património dos 99% restantes.

– As 62 pessoas mais ricas acumularam o equivalente à riqueza dos 50% mais pobres da população mundial (em 2010 eram 388 pessoas).

– Um em cada nove seres humanos não tem o suficiente para comer.

– Mais de mil milhões de pessoas ainda vivem com menos de 1,25 dólares (pouco mais de um euro) por dia.

Estes números e a sua evolução falam por si. A desigualdade na distribuição dos bens é avassaladora e tende ainda a ser mais cavada. A crise por que vem passando o mundo agudizou a situação, tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Os paraísos fiscais continuam inamovíveis e a corrupção alastra endemicamente. Vivemos perigosos tempos de “politeísmo” de dinheiro, poder, nacionalismos e integrismos
.
Como há 70 anos já protestava Gandhi, “há riqueza suficiente no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição”.

 E o que nos legou Davos na sua conferência deste ano? Silêncio, tão-só.

QUEM ESTÁ PERSEGUINDO ANGELA MERKEL?



Continua a operação premeditada de estupros de Ano Novo, em Colônia e em outros lugares, com a denúncia da responsabilidade da Chanceler Federal Angela Merkel. Um estudo do tráfego de mensagens de computador mostra que as contas de Twitter que organizaram esse protesto baseiam-se na costa oeste dos Estados Unidos.

Andrey Fomin*

Em Setembro passado, publicamos um resumo da análise produzida pelo investigador russo Vladimir Shalak sobre os aspectos ocultos da campanha baseada no Twitter para atrair os refugiados do Oriente Médio à Alemanha. Tendo estudado 19000 tweets originais relacionados com refugiados, Shalak alegou que o grande êxodo para a Europa continental foi artificialmente organizado por atores não-europeus. A mais recente onda de violência causada por migrantes em inúmeras cidades europeias na véspera de Ano Novo provocou outra intensa campanha anti-Merkel em mídias sociais alemãs e europeias, e rendeu dados adicionais para uma investigação aprofundada de Shalak.

Abaixo, vamos compartilhar seus resultados preliminares. Mas, antes, nós vamos dar uma olhada em duas fotos demonstrando uma mudança drástica na narrativa pública sobre refugiados, na Alemanha, em apenas 4 meses:

Foi essa mudança um desenvolvimento trágico mas espontâneo, ou uma PSYOP [PSYOP: do inglês psychological operation; operação psicológica] deliberada por um agente externo? Para chegarmos a uma conclusão informada, temos que olhar brevemente as relações atuais entre EUA e Alemanha.

Desde a reunificação da Crimeia em março de 2014 com a Rússia, a Chanceler alemã Angela Merkel encontrou-se entre o martelo e a bigorna. Sob forte pressão de Washington, ela teve que levar a família europeia a reforçar as crescentes sanções contra a Rússia, enquanto as grandes empresas e seus adversários políticos ficavam cada vez mais relutantes em sustentá-las perante as terríveis consequências para a economia alemã. Pesando duas abordagens contraditórias, ela optou por realizar o contrato comercial de 2011 para construir a Segunda Fase do Gasoduto Nord Stream [Torrente do Norte], que traria mais gás natural da Rússia para a Alemanha através do mar Báltico, apesar de um crescente rugido do exterior.

Outra dimensão das tensões transatlânticas está conectada às conversações sobre o acordo TTIP [do inglês Transatlantic Trade and Investment Partnership: Parceria Transatlântica de Comércio de Investimento] desde 2013, a portas fechadas. A névoa de propaganda maciça em torno dessas conversações dificilmente pode ocultar o fato de que a questão principal, onde as espadas são cruzadas, é o status dos tribunais de arbitragem privada americana dentro do sistema jurídico europeu. As empresas transnacionais (do inglês Transnational Corporations: TNC) globais pressionam para que essas empresas possam processar Estados em tribunais de arbitragem privada por qualquer ação que influencie negativamente seus lucros. Em termos práticos, isso significa a perda total da soberania dos Estados europeus, visto que os tribunais de arbitragem privada serão capazes de ditar os direitos aduaneiros dos Estados-nação (influenciando diretamente os lucros, é claro), as normas sanitárias e fitossanitárias (a UE terá que revogar suas barreiras rígidas aos OGMs [Organismos Geneticamente Modificados] e aos produtos de carne com hormônio), as regras financeiras e de investimento de bancos europeus e até mesmo subsídios. Não é de admirar que uma coalizão de partidos governistas na Alemanha categoricamente protesta contra as negociações do TTIP. Uma manifestação pública de massa anti-TTIP atingiu Berlim em outubro de 2015. Como resultado, agora, Frau Merkel está sendo enfaticamente cuidadosa em sua avaliação do projeto TTIP.

Agora, a imagem é mais ou menos clara: a Bundeskanzlerin [Chanceler Federal, em alemão] joga um jogo inteligente, tentando manter a soberania europeia enquanto, formalmente, respeitando as exigências dos EUA nas faixas secundárias. Sem dúvida esse jogo já foi decodificado por Washington e o único fator que impede a imediata expulsão dela de seu posto é a ausência de um sucessor preparado e gerenciável. No entanto, uma campanha da mídia contra Frau Merkel, a pretexto do escândalo dos estupros dos refugiados, está em pleno andamento.

No início de janeiro, o famoso especulador e patrocinador confesso do tráfego de refugiados para a Europa, George Soros, deu uma entrevista explícita para Wirtschafts Woche onde ele amargamente criticou a política europeia de refugiados rigorosa de Merkel, sugerindo que "custaria sua Chancelaria". Simultaneamente, a hashtag #ArrestMerkel [#PrendaMerkel] e o lema "Merkel Tem Que Sair" apareceram no Twitter e ganharam uma impressionante circulação. Uma análise realizada mostrou que essa hashtag #ArrestMerkel foi originalmente transmitida por duas grandes contas de Twitter, @Trainspotter001 e @AmyMek. Ela foi retomada e espalhada por diversas outras contas poderosas.

A atividade mínima é observada entre 07:00 e 3 PM GMT, que provavelmente corresponde ao horário na região do Pacífico nos das Montanhas Rochosas. Estes ativistas do Twitter estão, portanto, ativos durante o dia na costa oeste dos EEUU.

Agora, a conta de @Trainspotter001 fez quase 27K [27000] tweets desde março de 2015, ou cerca de 88 tweets por dia, o que é muito para um operador humano (por exemplo, toda a equipe de Twitter CNN está fazendo cerca de 23 tweets/dia). Concluímos que @Trainspotter001 é um robô [bot] programado, enquanto a @AmyMek (27K tweets desde 2012) é provável que também seja.

Indo ainda mais adiante e examinando um grande número de retweeters vemos que @Genophilia é o robô líder aqui (107K tweets desde setembro de 2012, ou aproximadamente 87 tweets/dia). Sua região não é indicada; mas, pesquisa de hora média de atividade mostra que é operado da costa do Pacífico dos EEUU também. Duas outras contas notáveis são: @jjauthor, um robô baseado em Nevada fazendo 300 posts por dia desde 2010 (!), e @LadyAodh, um outro perfil artificial loiro, criado nos Estados Unidos e lutando contra o "genocídio branco" desde março de 2015. Como você viu no primeiro gráfico, todas essas contas-robô estão intimamente entrelaçadas e, assim, multiplicam o efeito de uma e de outra ao cobrir audiências de milhões de pessoas.

A evidência apresentada demonstra claramente que todo o Agrupamento de Refugiados foi organizado por agentes baseados nos EUA para enquadrar a Chanceler Merkel e avisá-la contra sua rebeldia e posicionamento independente pela soberania europeia. Bastante notável é que plataformas de polo aparentemente oposto (a ultra liberal de George Soros e a vagamente de extrema-direita dos robôs do Twitter localizados nos EEUU) eventualmente prosseguem com o mesmo objetivo político - expulsar a líder alemã de seu posto e impor o TTIP à Europa.

*Andrey Fomin - Tradução Marisa Choguill - Pravda.ru

Portugal. VETOS INACEITÁVEIS



Paula Santos – Expresso, opinião

Nesta segunda-feira, no dia a seguir às eleições presidenciais, o país tomou conhecimento dos vetos do Presidente da República quanto aos diplomas aprovados na Assembleia da República, o primeiro que possibilita a adoção por casais do mesmo sexo e o segundo que repõe o quadro legal da interrupção voluntária da gravidez (IVG).

O Presidente da República, Cavaco Silva, propositadamente aguardou pelo fim das eleições presidenciais para divulgar a sua decisão em relação aos referidos diplomas.

A decisão de Cavaco Silva é seguramente uma opção política e ideológica, de quem nunca aceitou, por exemplo a consagração em lei, dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, nos quais se enquadra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.

Não podemos esquecer a luta de milhares de mulheres em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos e pelo direito à livre opção, assim como não podemos esquecer as muitas e muitas mulheres vítimas do flagelo social que foi o aborto clandestino, sujeitando-se a condições indignas e humilhantes, e que nalguns casos custou a sua própria vida.

Mas esta decisão de Cavaco Silva é também revanchista perante a nova correlação de forças da Assembleia da República que permitiu a formação de um governo contrário à sua vontade.

O novo quadro político da Assembleia da República já permitiu avanços neste início de legislatura: por um lado, a adoção por casais do mesmo sexo e a defesa do superior interesse das crianças, permitiu que estas crianças possam ser adotadas por famílias que as amem e que as protejam, assegurando o seu adequado desenvolvimento, por outro lado repôs o quadro legal da IVG, alterado à pressa no final da anterior legislatura, por PSD e CDS, pondo fim à coação sobre a mulher e aos condicionalismos inaceitáveis que impunha, para condicionar e limitar a livre opção da mulher.

A poucas semanas do fim do seu mandato como Presidente da República, a sua decisão de não promulgação destes dois diplomas, revelam bem as conceções retrógradas presentes na análise destas questões; tentando impor retrocessos sociais que rejeitamos liminarmente.

A Assembleia da República deve, assim que possível, confirmar os decretos já aprovados quanto à adoção pelos casais do mesmo sexo e à reposição do quadro legal relativo à IVG. Estes diplomas devem, sem nenhuma dúvida ser leis.

Portugal. SANTANDER COMPROU BANIF COM DESCONTO DE 75%



O Banif que o Estado vendeu ao Santander Totta valia 600 milhões de euros, mas o preço de compra foi 150 milhões

O pacote de ativos e passivos do Banif que o Estado vendeu ao Santander Totta tinha um valor contabilístico de 600 milhões de euros no momento em que o negócio foi concretizado, mas o banco espanhol pagou apenas 150 milhões. Este preço tem um implicíto um desconto de 75%, noticia o "Jornal de Negócios".

De acordo com a notícia publicada esta sexta-feira neste matutino, após adquirir o Banif o Santander Totta decidiu registar uma provisão de 316 milhões de euros para eventuais perdas que o banco detecte em situações inesperadas. António Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta, revelou esta quarta-feira que tinham sido identificadas algumas "surpresas" ao nivel do crédito e outras situações.

Após criar esta almofada adicional de 316 milhões de euros, o Santander Totta assumiu que o valor de balanço do pacote de ativos e passivos que recebeu do Banif era de pelo menos 283 milhões de euros, o que, ainda assim, representa um desconto de 47%, refere a notícia do "Jornal de Negócios".

Expresso – Foto: Tiago Miranda

Portugal. Costa acusa Passos de ter enganado Bruxelas sobre medidas temporárias



Líder do PSD “nada tranquilo” com Orçamento do Estado para 2016

O primeiro-ministro António Costa acusou o anterior chefe de Governo Passos Coelho de ter induzido em erro a Comissão Europeia ao ter assegurado que medidas como a sobretaxa ou os cortes nos rendimentos eram temporárias. António Costa justificou assim, no debate quinzenal, no Parlamento nesta sexta-feira, as dúvidas de Bruxelas sobre o esboço orçamental para 2016.

Na interpelação ao Governo, o líder do PSD disse não estar “nada traquilo”sobre o esboço apresentado, sustentando-se nas dúvidas manifestadas pelaprópria Comissão Europeia, a opinião da Unidade Técnica Orçamental da Assembleia da República e do Conselho de Finanças Públicas.

“Medidas como a sobretaxa ou corte dos rendimentos foram apresentadas como medidas temporárias. Pôr termo a medidas temporárias não é fazer alterações estruturais. Ou o anterior Governo comunicou à Comissão Europeia que as medidas que tinham informado o país eram temporárias e eram definitivas e a Comissão Europeia julga que estamos a alterar medidas que são definitivas”, afirmou António Costa.  O primeiro-ministro sustentou ainda que as previsões sobre o défice para este ano não andam muito longe das estimativas do Governo PSD/CDS. E deu o exemplo da estimativa que constava do Pacto de Estabilidade e Crescimento do anterior Governo que apontava para um défice de 2% para este ano, menos uma décima prevista pelo actual Executivo.

“As previsões que temos são conservadoras e realistas, agora sim, é um Orçamento que não se conforma com as políticas e quer marcar a viragem de página das políticas”, sustentou o primeiro-ministro.

Num tom muito prudente, Passos Coelho voltou a mostrar dúvidas. “O Governo apresenta medidas estruturais que não o são. Agrava o défice estrututral e é por isso que Bruxelas está preocupada”, afirmou, fazendo a distinção entre o trabalho “técnico” e o “não ter um exercício sério”. O líder social-democrata assinalou ainda nunca ter passado pelo “embaraço” de ter um ministro das Finanças a ser “corrigido”. “O que conhecemos são medidas que aumentam a despesa e diminuem a receita. Como não são conhecidas chegamos à conclusão de que não tem consistência e contrasta com o que tem vindo a dizer”, disse.

Pela bancada do CDS, Nuno Magalhães também apontou as críticas de “irrealismo” em torno do esboço orçamental. O líder da bancada centrista questionou sobre possíveis medidas tradicionais ou qual o plano B que o Governo tem se Bruxelas travar o Orçamento. António Costa reafirmou que o diálogo com a Comissão Europeia é “construtivo” e admitiu que estar disponível “para ajustar o que for possível ajustar”. “Uma coisa pode estar certo: Não desistiremos dos compromissos assumidos com os portugueses”. 

Sofia Rodrigues - Público

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