sábado, 13 de fevereiro de 2016

ÁFRICA-MULHER, ÁFRICA-FUTURO



Rui Peralta, Luanda

Especiais agradecimentos a Mahawa Kaba Wheeler (Libéria), directora da Comissão da União Africana para as Mulheres, Género e Desenvolvimento, órgão executivo da UA.

Apesar de todos os desafios que África enfrenta, os representantes dos 1,2 milhões de habitantes decidiram assumir os Direitos Humanos, com um especial enfase para os Direitos da Mulher, durante a XXVI Cimeira celebrada em Addis-Abeba, Etiópia, no período de 21 a 31 de Janeiro último.

Chegou o momento de actuar contra os muitos obstáculos e barreiras á igualdade do género, obstáculos que incluem a exclusão económica e os sistemas financeiros que perpetuam a descriminação das mulheres, a sua limitada participação na vida pública, na Politica, a constante falta de acesso á educação e a escassa assiduidade das estudantes nas escolas, a violência baseada no género, as práticas culturais nocivas e a exclusão das mulheres nas negociações de paz, seja como mediadoras ou como parte integrante das equipas de negociação.

A UA tem plena consciência que estas barreiras impedem as mulheres de desfrutar em pleno dos seus direitos e que a eliminação destes obstáculos potenciará o continente, que neste momento se encontra num ponto de inflexão. África é uma das regiões da economia-mundo onde se processou um rápido desenvolvimento económico, com níveis de crescimento entre os 2% e os 11%. Embora as mulheres façam enormes esforços, contribuindo de forma impar e resoluta para o desenvolvimento das economias africanas, continuam a ser afectadas de forma desproporcionada pela pobreza, pela descriminação e exploração. As desvantagens socioeconómicas que as mulheres sofrem manifestam-se nas desigualdades de acesso ao mercado de emprego, ao direito á propriedade e á obtenção de serviços sociais, incluindo a saúde e a educação.

A 26ª cimeira da UA proclamou o ano de 2016 como o “Ano Africano dos Direitos do Homem, com especial enfase sobre os Direitos da Mulher”. 2016 é um ano que marca importantes datas na agenda das mulheres, tanto no continente, como mundialmente. A nível continental este ano comemora-se os 30 anos da entrada em vigor da Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos, de 1986 e o começo da segunda fase da década das mulheres africanas 2010/2020. A nível mundial comemora-se os 36 anos da aprovação da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Descriminação contra a Mulher (CEDAW), considerada uma declaração internacional de direitos das mulheres. Comemora-se, também o 21º aniversário da Declaração de Beijing e da sua Plataforma de Acção, de 1995, crucial nas políticas globais de igualdade do género.

15 Estados africanos figuram entre os primeiros 37 da classificação mundial de participação feminina nos parlamentos nacionais, com mais de 30%: Ruanda (63,8%), Seychelles (43,8%), Senegal (42,7%) África do Sul (42%), Namíbia (41%), Moçambique (39,6%), Etiópia (38,8%), Angola (36,6%), Burundi (36,4%), Uganda (35%), Zimbabwe (31,5%), Camarões (31,3%), Tunísia (31,3%), Argélia (31%) e Sudão (30,5%). Ao nível dos Executivos os números são substancialmente diferentes. Enquanto o Ruanda encabeça a lista mundial em matéria de representação feminina no Poder Legislativo, no que respeita a cargos no Executivo esta representação é nula e em contraste Cabo Verde tem o maior número de mulheres a ocupar cargos ministeriais em África: dos seus 17 ministros, 9 são mulheres. Dos 54 chefes de Estado e do Governo, 3 são mulheres: a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf; a presidente das Maurícias, Ameenah Gurib-Fakim; e a presidente interina da República Centro-Africana, Catherine Samba Panza.

A UA estabelece que as mulheres representem 50% dos cargos de tomada de decisão e é o inico organismo multilateral que mantem a paridade do género no seu mais alto nível de decisões. Com uma mulher na presidência, 5 comissárias (num total de 10), a UA esforçasse para que a paridade de género seja uma realidade nos demais órgãos e instituições como a Comissão dos Direitos Humanos e dos Povos ou o Tribunal Penal Africano, onde as mulheres são a maioria. Para a UA, uma vez que as mulheres representam metade da população do continente, o objectivo da paridade do género gerará um efeito de dominó nas sociedades africanas, á medida que as mulheres sejam impulsionadas a aspirar a postos de direcção. Contar com as mulheres em posições de liderança, nos diversos sectores da sociedade, conduz a uma melhor qualidade de vida para as famílias, em geral, e para as crianças em particular.

Embora existam grandes avanços em matéria de participação política democrática no continente, as mulheres africanas continuam sofrendo de uma significativa descriminação. Em alguns países africanos a legislação e as constituições nacionais afectam negativamente a participação feminina na vida pública ao limitar o seu papel através de cláusulas de exclusão, absolutamente discriminatórias. Ainda que muitas constituições articulem um compromisso com a igualdade do género, as normas consuetudinárias minam seriamente este compromisso, ao impedirem que as mulheres recorram às esferas jurídicas e que sejam reguladas pelas tradições.

Por outro lado as mulheres africanas produzem mais de 60% da agricultura, constituem mais de 50% da população rural e são as principais guardiãs da segurança alimentar, mas encontram-se muito afastadas da capacidade de investimento e estão sujeitas a baixo rendimento, o que não lhes permite aproveitar devidamente o seu potencial. Dedicam 80% do seu tempo na produção agrícola e nos sectores secundários relacionados com as actividades rurais, contribuem de forma dominante para a produção de alimentos, cuidam da família, exercem actividades de assistência social, são a maioria do sector dito informal, mas o seu esforço não se contabiliza no PIB nem nas estatísticas nacionais. Não possuem terras e carecem de acesso às infra-estruturas agrícolas, têm dificuldades em aceder ao crédito e são excluídas do direito á terra, á tecnologia da agricultura moderna e aos serviços de capacitação. A maioria das mulheres residem em zonas rurais sem acesso a boas estradas, á água e electricidade.

A maioria das mulheres não são donas da terra mas produzem a maior parte dos produtos agrícolas na situação de simples arrendatárias sem direitos de herança. O direito á terra para as mulheres (e em alguns países para os cidadãos em geral) é uma das causas do empobrecimento económico e social. Apenas 1% das mulheres africanas possuem terras, embora produzam mais de 65% da produção de alimentos.

A grande maioria da população feminina africana vive com menos de 1 USD por dia. Segundo dados de 2012 mais de meio milhão de mulheres morrem anualmente, no mundo, por razões relacionadas com problemas de parto e gravidez. 99% destas mortes ocorrem nos países em desenvolvimento, sendo 50% ocorrem em África (excepto no norte do continente e na África do Sul). Por cada morte, 20 outras mulheres sofrem enfermidades ou lesões relacionadas com o parto e gravidez. Uma em cada 22 mulheres morrem durante a gravidez ou o parto (contra uma em cada 8 mil no mundo industrializado). 80% dessas mortes poderiam prevenir-se mediante acções simples, básicas e de baixo custo.

É, pois, longa a caminhada da mulher africana. Que 2016 seja um marco fundamental neste longo trilho da libertação, um contributo essencial para o desenvolvimento social, económico e político do continente e um passo importante no aprofundamento da democracia em todo o continente.

OS EUA ESTÃO PRONTOS PARA UM PRESIDENTE SOCIALISTA?



Sanders nunca escondeu suas ideias, mas suas propostas para universalizar o sistema de saúde e reduzir as despesas de ensino fazem dele uma ameaça perigosa

The Guardian, em Carta Maior

A Dra. Krissy Haglund não se importa por ser rotulada como “socialista” ou “purista ideológica”. Nem com qualquer dos demais epítetos lançados sobre os americanos que estão se reunindo em apoio aBernie Sanders para a nomeação presidencial democrata. Ela sabe quem é: uma mulher farta.

"Eu tenho pacientes que estão optando por não ter filhos. Outros que não podem comprar uma casa devido aos gastos com empréstimos estudantis",disse a médica de família de Minneapolis, que nesta semana viajou quatro horas com os dois filhos para ver o senador discursar em Iowa.

"Meu empréstimo vale agora $283 mil dólares", diz ela. "Ele subiu em $60 mil nos últimos seis anos desde que me formei na escola de medicina. Esta é uma crise nacional que precisa de profunda e imediata atenção".

Como único candidato que propõe a supressão das despesas de ensino nas universidades públicas, Sanders frequentemente assume o papel de um leiloeiro às avessas, pedindo ao público, durante seus comícios, para gritar o tamanho da dívida estudantil que eles ainda têm a pagar. Por algum tempo, o recorde era de $300 mil. Mas agora ele conheceu um dentista que se formou com empréstimos de $400 mil..

Mas pagar as faculdades através de tributação sobre as especulações de Wall Street não é a única política que torna o senador de Vermont uma ameaça perigosa - inclusive para membros de seu próprio partido. Apesar das limitadas reformas no sistema de saúde passadas por Barack Obama, 29 milhões de americanos continuam sem qualquer cobertura e muitos mais estão subcobertos de tal forma que não podem se dar ao luxo de ver um médico.

Então Sanders faz o mesmo com os planos de saúde, pedindo ao público para competir quanto ao tamanho de sua franquia - o valor fixo por procedimento que deve ser pago pelo paciente antes que sua seguradora contribua com qualquer fração do tratamento. Em quase todos os comícios, alguém chega a $5 mil dólares, muitas vezes em lágrimas.

Seu plano para expandir o Medicare e substituir o atual sistema burocrático e dispendioso é semelhante ao modelo de seguro usado no Canadá, com um "único pagador" (ao invés da prestação direta do Estado, como no caso do Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha). A intenção é reduzir os altos custos causados %u20B%u20Bpor hospitais e empresas farmacêuticas que cobram os pequenos consumidores americanos muitas vezes o equivalente a outros países que se beneficiam do poder de compra em atacado.

No entanto, quando inevitavelmente alguém questiona se os EUA podem mesmo se dar ao luxo de seguir o caminho de outros países ricos que universalizaram a cobertura de saúde e o acesso ao ensino superior, Sanders gosta de lembrá-los dos trilhões de dólares de redistribuição de renda que já foram encaminhados na direção oposta: uma tendência que coloca em queda o salário médio, mas que garante 58% de todos os novos rendimentos indo para o top 1% (desde a crise do Subprime\2007).

"Basta" [ou “Enough is Enough”], gritam os membros da audiência.

"Há alguns anos atrás, você poderia terminar o ensino médio e conseguir um emprego. Se trabalhasse muito duro, talvez você fosse capaz de conseguir o que queria", concorda Anna Mead, 22, estudante de New Jersey, no comício de New Hampshire. "Agora as coisas certamente não funcionam mais assim. A desigualdade cresceu de tal forma ao longo das últimas décadas, que o top 1% acumulou uma quantidade de riqueza que excede os 40% mais pobres da população americana. Eu sinto que os Estados Unidos sempre avançaram quando presidentes agiram de modo a estender a classe média. Quando você constrói todo mundo, todo mundo pode fazer melhor".

Talvez pareça simplista essa noção, proposta por Sanders, de que um corrupto sistema de financiamento de campanha é a única coisa que impede os eleitores de transformarem toda essa realidade. Mas ela está se provando muito popular.

Do início da campanha até a abertura da corrida nas primárias democratas, Sanders fechou a diferença entre ele e Hillary Clinton, de 36% para apenas 2%, de acordo com pesquisa nacional divulgada na semana passada.

Embora poucos acreditem que esta sondagem possa ser um indicativo consistente do cenário nacional, a votação no caucus de Iowa resultou em um Sanders apenas 0,3% atrás de Clinton.

Em New Hampshire, na votação para o candidato democrata da terça-feira, Sanders derrotou Hillary com uma margem gigantesca: 60,4% para o socialista e apenas 38% para a ex-secretária de Estado. Os assessores da candidata já previam a derrota, mas torceram até o final por uma diferença menor do que dois dígitos. A esperança é a última que morre.

Algumas pessoas, porém, afirmam que New Hampshire foi seduzida principalmente pela proximidade com Vermont [estado do senador Sanders], um bastião progressista a que os iconoclastas mais libertários se referem com suspeita.

Este argumento ignora que o estado representado por Hillary Clinton no Congresso Nacional fica a apenas 50 milhas da fronteira com New Hampshire, além de que New York alegadamente guarda sentimentos ambíguos em relação à sua ex-senadora. De acordo com a campanha de Sanders, ela recusou os pedidos de realizar um debate ali.

No entanto, por mais que doa a seus apoiadores reconhecer qualquer fragilidade, Sanders está sob crescente pressão de Clinton durante os seus debates. A estratégia de ataque varia. Às vezes, ela argumenta que eles estão girando em falso ao debater quem é o verdadeiro progressista. Outras vezes ela afirma que as propostas do Sanders são irrealistas.

Em privado, a máquina de ataque da Clinton foi mais longe, acusando o candidato de simpatias comunistas. O que serve de prelúdio caso Sanders venha a enfrentar os republicanos, no evento ainda improvável de que ele vença as primárias democratas.

Sanders nunca escondeu o seu passado político e deixou muito pano na manga para os críticos. Mas é a sua firme determinação de não esconder o rótulo de "socialista democrático" que provoca ainda mais confusão.

Em um longo discurso na Universidade de Georgetown, em novembro passado, ele argumentou que sua filosofia política caminha em harmonia com a de Franklin D Roosevelt, que também propôs algo semelhante a uma mistura de obras públicas, auxílio aos pobres e reformas para tirar os EUA da Grande Depressão.

"Eu não sei o que queremos dizer quando dizemos que ele é um socialista, porque na minha concepção Bernie Sanders é um liberal FDR", concorda Sharon Ranzavage, 69, um advogado de Flemington, Nova Jersey. "Ele está de volta para o futuro. É por isso que eu estou animado. Eu acho que o Partido Democrata se desviou muito para a direita. Nós temos que voltar ao que somos, o que significa tomar conta uns dos outros. Nós somos um país capitalista, mas é preciso modular os extremos do capitalismo''.

A confusão também decorre do fato de que Sanders usa a frase "socialista democrático", em parte para enfatizar sua crença de que a mudança deve vir através das urnas, mas também porque, na Europa continental, pelo menos, ele provavelmente seria conhecido como um social-democrata, etiqueta que não se traduz com facilidade para os EUA.

''Democrata", no jargão dos EUA, é algo que o senador independente de Vermont só se tornou quando decidiu procurar a nomeação presidencial do partido em maio. Qualquer um que usa a palavra "social" na política americana poderia muito bem ir até o final e se dizer "socialista", antes que outra pessoa o faça.

Num contexto britânico, também seria difícil de categorizar Sanders. Muitas de suas propostas fundamentais - acesso universal aos cuidados de saúde, licença maternidade paga e um salário mínimo mais generoso - são aceitas, pelo menos em princípio, por todos os principais partidos britânicos, inclusive os conservadores, que recentemente defenderam um aumento salário mínimo como peça central do seu orçamento.

Em termos relativos, Sanders representa uma guinada para a esquerda no partido democrata, o que é análogo a recente vitória de Jeremy Corbyn na liderança da campanha trabalhista. Mas em termos de política externa e de comparações absolutas no que se refere a políticas domésticas, ele provavelmente se aproximaria mais das reformas trabalhistas pré-Blairistas dos anos 1980 e 90, como Neil Kinnock ou John Smith.

De volta a Nova Hampshire, nas últimas semanas, um estado de espírito radical é evocado em comícios que pedem uma "revolução política" e entoam Power to the People de John Lennon. Mas quando Sanders ergue seu punho para cima, ele rapidamente volta atrás, para evitar uma imagem muito estridente.

Vamos ter de esperar por vários resultados das primárias para saber se a política americana está pronta para um socialista auto-declarado. A resposta de apoiadores indica que esta é a pergunta errada: ''Eu sinto que finalmente tenho um político que irá corresponder meus sentimentos e esperanças para este país", diz Haglund.

Os EUA estão prontos para o socialismo? Provavelmente não. Mas podem estar prontos para Sanders

Perguntas

O que é errado em ser um socialista?

Dwayne Hamm, 23 anos, de New Brunswick, New Jersey:

''Eu acredito que as pessoas se confundem sobre o que significa ser um socialista e temem um supostamente perigoso comunismo(...). Você vai ver que não há nada errado. Tudo o que estamos pedindo é igualdade. E para aqueles que tem privilégios, isso pode parecer desconcertante. E eu sinto que esse é o problema''.

- É possível ser um socialista democrático?

Anna Mead, 22, de Long Beach, New Jersey:

''Eu não acho que o socialismo possa existir adequadamente sem democracia. O socialismo implica regulamentação comunitária dos meios de produção e distribuição''.

**Tradução por Allan Brum - Créditos da foto: Wikimedia Commons

O TEMÍVEL ESTERTOR NEOLIBERAL




O regime de anarquia económica e financeira que matou a política, fez da guerra o instrumento favorito de rapina e desregulação, deixou a Terra em agonia climática e ambiental, criou milhões e milhões de novos pobres, famintos, deslocados e refugiados está caduco. Porém, os estertores finais em que se debate ameaçam ser longos e catastróficos, porque tentará deitar a mão a tudo para sobreviver e, como sempre, não olhará a meios para alcançar esse fim.

Os sinais são muitos e, além disso, indubitáveis. Poderia citar o desespero em que vive a União Europeia como consequência dos efeitos perversos da ortodoxia neoliberal; além disso, os ricochetes da cultura de guerra e do terrorismo estão a atingir aqueles que a puseram em prática, cuidando que poderiam beneficiar de imunidade total e impunidade absoluta; as massas desesperadas, já com pouco ou nada a perder, movem-se em ondas de pânico por todo o planeta, desaquietando as sociedades “civilizadas” que lhes deram origem e, mesmo quando não reclamam vinganças, despertam memórias de crimes que muitos julgavam enterradas e provocam transtornos insanáveis.

Outro sinal gritante é o que se passa na política, tornada vazia de ideias e de conceitos pelas práticas inquisitoriais do mercado desde os anos oitenta do século passado, e ressurgindo agora do vazio, razão pela qual é ainda um magma onde escasseia substância consolidada.

É fácil identificar a situação existente na Europa como exemplo do que ficou escrito; aqui abundam as provas da falência do sistema bipartidário – na verdade escondendo uma prática monolítica entregue aos grumetes do mercado. O que acontece em Portugal, Espanha, Grécia, França, Itália, países nórdicos, países de Leste e na própria Alemanha demonstra que a ordem política neoliberal se esgotou e, no deserto político e de ideias que impôs durante décadas, despontam múltiplas correntes, restauradas e de nova geração, reveladoras da saturação dos cidadãos com a ordem estabelecida e os efeitos que gerou.

Essas opções aparecem, naturalmente, fora do contexto bipartidário, à esquerda, por um lado, e ainda mais à direita daquele, assumindo de maneira ostensiva o cariz fascista e populista, onde não é difícil detectar o desespero neoliberal, o plano B do mercado, a fusão absoluta das ditaduras política e económico-financeira.

Exemplo flagrante de tal é o que está a acontecer nos Estados Unidos da América. E quando isso ocorre na pátria do bipartidarismo monolítico e da ditadura económico-financeira posta em prática pelo neoliberalismo, estamos perante a mais contundente e reveladora prova de que o sistema entrou, de facto, em agonia.

Talvez seja cedo para tirar conclusões da pouca substância produzida ainda no início do longo processo de designação de um novo presidente norte-americano, mas os sinais estão lá: o descrédito atinge em cheio as figuras mais identificadas com o regime, dando espaço, como acontece também na Europa, ao aparecimento de opções para levar a sério tanto à esquerda – o que quer que seja isso nos Estados Unidos da América – como ainda mais à direita, neste caso o fascismo sem máscara de Donald Trump.

Ao contrário do que tanto intriga a comunicação de “referência”, o que está em causa nos Estados Unidos não são os problemas de afirmação propagandística da senhora Clinton, do gusano Cruz ou de outras e outros da mesma extracção. Alguns anos depois, Trump é aquilo que a fascista Sara Pallin não conseguiu ser com o Tea Party. E Bernie Sanders afirma-se como aquele que surge de mãos limpas, capaz de recuperar as ilusões perdidas com o que Obama não quis ser, precisamente porque surge do exterior do sistema, não traz colado o rótulo do establishment.

O tempo é ainda de ler e tentar interpretar os sinais dados por este cenário, embora seja prematuro dele tirar conclusões. No entanto, os fenómenos de Donald Trump e Bernie Sanders configuram a manifestação muito mais poderosa de comportamentos e tendências que outrora estiveram por detrás de Sara Pallin e Barack Obama. Deve ressalvar-se, porém, que Trump é uma espécie de plano B do establishment, o recurso claro ao fascismo dentro do sistema, porque este sente que terá perdido condições para sobreviver de outra forma; e que Bernie Sanders surge do exterior do sistema neoliberal, trazendo ao encontro de vastas camadas saturadas com a situação, entre elas a da juventude, uma bem-intencionada memória romântica do keynesianismo de Roosevelt, tal como Jeremy Corbin surge no Reino Unido evocando os tempos áureos do trabalhismo com referências laborais, nos antípodas da traição de Blair.

Sem fazer futurologia, mas tendo a noção de que, mesmo em desespero, o establishment é o poder nos Estados Unidos, poderá prever-se que Donald Trump continuará com firmeza o seu caminho. Porém, não tardará que Sanders comece a percorrer o terreno minado pela NSA e as suas equivalentes mediáticas oficiais da espionagem e da conspiração, de modo a que a senhora Clinton, ou alguém por ela, o ponha fora da corrida. Surpresa, surpresa mesmo, será que Sanders consiga a nomeação democrática; nesse caso assistiríamos à mobilização total do circo financeiro e propagandístico do sistema no apoio ao candidato republicano, ainda que este venha a ser o fascista Trump.

Do que parece não haver dúvidas é que estamos a assistir ao estertor do neoliberalismo. Sabendo, por experiência histórica, que um sistema autoritário nunca se dá por vencido, a sua agonia terá repercussões temíveis, talvez trágicas, porque na verdade ele continua em vigor e sustenta-se na conjugação mais terrorista de todas: a que funde a guerra com a arbitrariedade económico-financeira e a ditadura política, cada vez menos encapotada.

*Mundo Cão

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FISK. OS VENTOS DE 1914 SOPRAM NA SÍRIA



Tudo mudou: ISIS já não é invencível. Governos saudita e turco, contrariados, podem intervir. EUA ameaçam. Como às vésperas da I Guerra, uma fagulha pode deflagrar conflito global

Robert Fisk – Outras Palavras -Tradução: Inês Castilho - Imagem: Cândido Portinari, Guerra, 1945 (detalhe)

Depois de perder mais de 60 mil soldados em cinco anos de luta, o exército sírio conquistou de repente sua maior vitória na guerra – ao abrir caminho para Aleppo, arrasando a Jabhat al-Nusra [filial da Al Quaeda na Síria, principal aliada do ISIS] e outras forças combatentes, e selar o destino desta batalha, enquanto a Rússia fazia operações de ataque aéreo fora da cidade.

As linhas de abastecimento dos combatentes, da Turquia para Aleppo, foram cortadas, mas isso não significa o fim da história. Durante vários meses, as próprias autoridades militares do regime — juntamente com dezenas de milhares de civis, inclusive muitos cristãos — ficaram presos em Aleppo, à mercê dos bombardeios e morteiros dos membros al-Nusra que os cercavam, até que o exército abriu a estrada principal para o sul.

Durante esse período, o único caminho para Aleppo era por avião, porque o exército ocupava uma pequenina península do território no caminho até aeroporto. Voei por lá uma noite, num avião militar lotado de soldados sírios feridos.

Mas o vento mudou. Agora, é o próprio Jabhat al-Nusra que está cercado, junto com dezenas de milhares de civis daquela parte da cidade – mas sem aeroporto para lhes dar sustentação. Com base em outras tantas batalhas desta guerra horrenda, é improvável que haja qualquer ofensiva para o centro dessa cidade que é a maior da Síria. Ao contrário, será necessário um lento e tortuoso cerco para forçar os combatentes a se render.

Numa irônica virada na história recente, os dois povoados xiitas, Nub e Zahra – cuja população esteve cercada e durante três anos passou fome, alimentada somente por víveres lançados de pára-quedas  –, foram retomados pelos militares sírios. Os xiitas, entre os quais incluiu-se o ramo alauíta, origem do presidente Bashar al-Assad, têm sido encurralados em vários povoados da região, embora sua dor tenham sido amplamente silenciada.

Agora os moradores da parte de Aleppo mantida em mãos dos rebeldes vão sentir a mesma sensação de isolamento – e, sem dúvida, o fogo da artilharia dos sitiadores. Sempre houve movimentação de pessoas entre as duas áreas da cidade. Serão essas passagens fechadas, agora? E o que dizer do fluxo de milhares de civis para o norte, em direção à Turquia?

A própria cidade de Aleppo demorou a entrar na guerra. Por uma espécie de milagre histórico, manteve-se desvinculada do conflito até 2012, quando os combatentes – pensando estar na rota de Damasco – conseguiram infiltrar-se na velha cidade. Suas ruas ficaram então em chamas, em meses de luta. Agora, parece ser a primeira grande cidade da Síria a voltar, efetivamente, para as mãos do regime. O que virá a seguir? A retomada da cidade romana de Palmira? A desobstrução das terras em torno de Deraa (famosas por causa de Lawrence da Arábia)?

E, muito mais drástico, quando irá o exército sírio, junto com o do Hezbollah e com seus aliados da força aérea russa, tomar seu rumo em direção à “capital” do ISIS, Raqqa?

O ISIS, que domina [a cidade romana histórica de] Palmira, deve estar acompanhando os extraordinários acontecimentos das últimas horas com profunda preocupação. O eterno “Califado Islâmico” sunita na Síria não parece mais tão eterno. Será por isso que os sauditas sunitas ofereceram tropas terrestres à Síria, repentinamente? E a razão por que os turcos estão tão perturbados? Duvido que haja alguém chorando no Irã xiita.

Os militares sauditas já estão com seus pés atolados na vergonhosa guerra do Iêmen. Mas se a Turquia enviar seus próprios soldados – que fazem parte da OTAN – através da fronteira síria, irá arriscar-se a vê-los atacados pelos russos. Este é um pesadelo que deve ser evitado, tanto por Washington como por Moscou. Do contrário, iremos nos encontrar em outro momento Gavrilo Princip [1]. E todos sabemos o que aconteceu em 1914.

[1] Referência ao estudante sérvio que assassinou, em 28/6/1914, em Sarajevo (Bósnia), o arquiduque Francisco Ferdinando, possível herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. Em resposta, o império lançou um ultimato afrontoso à Sérvia e em seguida invadiu-a militarmente, deflagrando um conflito que rapidamente envolveria Rússia, Alemanha e França e Inglaterra, convertendo-se na I Guerra Mundial. Suas causas foram, é claro, muito mais profundas. As tensões entre os países envolvidos eram graves e crescentes — como parecem ser, hoje, os riscos de confrontos no Oriente Médio e em outras partes do mundo. O gesto de Princip foi a fagulha, num barril de gasolina. Ler também, a respeito, “Depois da Ponte”, de José Luís Fiori [Nota da Tradução].

Portugal. A MÁFIA LABORAL (work4u)



José Soeiro – Expresso, opinião

“Receba sem compromisso um estagiário durante dois dias. Experimente grátis." São estes os termos do anúncio da work4u, um empresa especializada na angariação de estagiários. Lê-se e não se acredita. O estagiário tem de pagar 30 euros à empresa angariadora em troca da fantástica oferta de cinco entrevistas com “empresas acolhedoras”. As despesas para as entrevistas ficam por conta do candidato. Se alguma delas proporcionar um estágio, ainda que à borla, o trabalhador paga mais 30 euros como taxa de “ativação do estágio”. É mau de mais mas não fica por aqui.

Segundo o anúncio da work4u, as “empresas acolhedoras” pagam 95€ por mês se o estágio for mensal. Se optarem por um estágio de um ano, poupam 15% e só têm de pagar 969€, isto é, cerca de 80 euros mensais. Quanto recebe o estagiário? “É a sua empresa”, esclarece a work4u dirigindo-se aos empregadores, “que define o valor mensal de apoio que pretende pagar ao Estagiário, para custo de transporte e alimentação”. Ou seja, recebe o que a empresa quiser. Nem mais nem menos: a selva. Os 80 euros mensais servem para remunerar a work4u “pelo serviço de consultadoria que prestamos na angariação do estagiário”. Bem vindos ao maravilhoso mundo da escravatura moderna.

Quem se aproveita do desespero e da ausência de oportunidades para fazer negócio com a angariação de pessoas não é só velhaco. É criminoso. Afinal de contas, com base em que enquadramento é que poderia desenvolver-se esta atividade? Como classificar, se não como escravatura, um trabalho sem qualquer garantia de remuneração?

Como é possível termos chegado até aqui? O processo não começou agora, mas acelerou-se vertiginosamente nos últimos anos. A ideia de fundo é simples: “dar trabalho” a alguém é um favor, ter um emprego não é um direito, mas um privilégio. Para fazer vingar esta ideologia foi preciso impor a precariedade como regra (falsos recibos verdes, falsas bolsas, trabalho temporário, subcontratação, aniquilação da contratação coletiva), reinventar modalidades de trabalho forçado (como os contratos de emprego inserção), generalizar os estágios como o único enquadramento para os jovens e desproteger os desempregados, para submete-los a todo o tipo de pressão e de chantagem. O resultado está à vista. O salário médio dos novos empregos ronda o salário mínimo. Um em cada dez trabalhadores é pobre, mesmo tendo emprego. 150 mil trabalhadores ganham menos que 300 euros. O país foi transformado num offshore laboral.

Nada disto foi um acaso. Foi uma estratégia. Os seus pilares foram duas obsessões: flexibilizar sempre mais a legislação laboral e insistir que a reforma que faltava ao país era a redução dos custos de trabalho. A estratégia teve os seus intérpretes locais e os seus pontífices europeus. “Se der impressão de que está a inverter o caminho que tem percorrido”, dizia ontem o ministro das finanças alemão, Portugal “pode perturbar os mercados financeiros”. A ameaça está feita. Por isso, precisamos de responder-lhe à altura: somos gente e não fomos feitos para rastejar. Se a precariedade foi uma escolha, combate-la é uma questão de dignidade. Ou o fazemos já, e sem tréguas, ou Portugal será, a breve prazo, uma gigantesca máfia laboral.

TEMPO INCLEMENTE. PORTUGAL SUBMERSO



Autoridade Marítima pede às pessoas que se afastem da linha da costa

A agitação marítima fechou já sete barras marítimas no continente, sendo esperada ondulação que pode atingir os 12 metros, o que levou hoje a Autoridade Marítima Nacional a pedir que as pessoas se afastem da linha da costa.

Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da Autoridade Marítima Nacional (AMN) referiu que há um aviso de mau tempo para toda a costa ocidental e que neste momento há sete barras marítimas fechadas a toda a navegação - Caminha, Esposende, Póvoa do Varzim, Vila do Conde, Figueira da Foz e Douro.

"A barra de Aveiro está condicionada e tudo isso é fruto da forte agitação marítima que neste momento se está a sentir", apontou Paulo Vicente.

De acordo com o responsável, a ondulação está neste momento com cinco a seis metros de altura, sendo expectável que a situação piore nas próximas 24 horas e a ondulação atinja os 12 metros a partir da manhã de domingo e até ao final da tarde.

Dadas as condições do mar e o agravamento que se espera do estado do tempo, Paulo Vicente pede a que todos aqueles que têm no mar a sua atividade profissional ou de recreio uma "cultura de segurança marítima", respeitando os avisos de mau tempo, bem como os condicionamentos e as interdições à navegação.

O conselho alarga-se a todos os cidadãos, dado que ultimamente têm-se registado alguns acidentes por causa de quem procura o melhor enquadramento para a uma fotografia do mar.

"Apelamos e avisamos todas as pessoas para se manterem longe da linha marítima, porque realmente a ondulação vai ser forte e tem que se manter uma distância segura para que não haja acidentes. É essa a nossa recomendação", disse Paulo Vicente.

O responsável disse ainda que a costa ocidental será a mais afetada, já que está ondulação de noroeste/oeste, e que o agravamento do estado do tempo pode vir a obrigar a fechar mais barras marítimas, caso seja o entendimento da autoridade marítima local.

SV // JLG – Lusa

Coimbra aciona plano de emergência para cheias

A Comissão Municipal de Proteção Civil de Coimbra acionou hoje o Plano Especial de Emergência para Cheias e Inundações para fazer face a incidentes provocados pelo mau tempo e à subida das águas do Mondego.

"A ativação deste plano prende-se com o registo de várias cheias e inundações que levaram ao corte da circulação em algumas vias e de o débito de água na ponte-açude superar 1.200 m3 de água por segundo", segundo uma nota da Câmara de Coimbra.

O Plano Especial de Emergência para Cheias e Inundações (PEECI) colocou em estado de prontidão várias dezenas de elementos da Companhia de Bombeiros Sapadores de Coimbra (CBSC), Bombeiros Voluntários de Coimbra e Brasfemes, que procederam ao reforço das suas equipas.

Foram ainda mobilizados meios humanos e técnicos da Câmara Municipal de Coimbra, bem como de juntas e uniões de freguesia.

A decisão de acionar o PEECI foi tomada durante uma reunião em que participaram representantes do Serviço Municipal de Proteção Civil, Câmara Municipal de Coimbra, Junta de Freguesia de Brasfemes, Companhia de Bombeiros Sapadores de Coimbra, Bombeiros Voluntários de Coimbra e de Brasfemes, Polícia Municipal, PSP, GNR, Delegado de Saúde de Coimbra e Águas de Coimbra.

Mesmo antes do acionamento do PEECI, refere a nota da autarquia presidida por Manuel Machado, "foram efetuados vários avisos nas áreas mais críticas, colocados sacos de areia em alguns pontos e sinalizadas áreas interditadas".

Os bombeiros estão também a acompanhar a situação em pontos historicamente críticos como o Cabouco, Parque Verde e Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, mas até agora não há registo de situações graves.

A companhia de Sapadores Bombeiros de Coimbra registou nas últimas horas diversos casos de inundações em garagens, e os serviços de proteção civil mantêm uma vigilância apertada ao rio Mondego em Cabouco, para onde foram deslocados dois mergulhadores e uma embarcação.

"O rio está a debitar normalmente, a barragem da Aguieira não fez descargas e as populações estão devidamente alertadas para os efeitos do mau tempo", disse à Lusa fonte do CDOS de Coimbra.

RBF // JLG – Lusa

Proteção Civil registou 152 ocorrências até as 11:00, a maioria inundações

A Autoridade Nacional da Proteção Civil registou hoje 152 ocorrências devido ao mau tempo, a maioria cheias, inundações e deslizamentos de terras, e ainda a suspensão de comboios em três linhas ferroviárias do país.

"No dia de hoje, até às 11:00, registaram-se 152 ocorrências, das quais 71 cheias e inundações, 34 movimentos de massas [deslizamento de terras], 31 vias obstruídas e 13 quedas de árvores, entre outras ocorrências de menor peso", afirmou à Lusa fonte da proteção civil.

Segundo a mesma fonte, o balanço do mau tempo nas primeiras horas de hoje mostra que aconteceu "o que era expetável", e que foi nas bacias previstas que se registaram as maiores cheias e inundações.

Aveiro, com 29 ocorrências, foi o distrito mais fustigado pelo mau tempo, seguindo-se Braga (27 ocorrências), Coimbra (24) e o Porto (23), segundo dados da mesma fonte.

"Mas as ocorrências registadas não estão a criar constrangimentos à população em geral", afirmou, adiantando que, além das estradas que foram cortadas devido ao mau tempo, por estarem inundadas, as cheias e inundações levaram a suspender a circulação ferroviária nas linhas da Beira Alta, no concelho Mortágua (distrito de Viseu), do Norte, em Estarreja (distrito de Aveiro) e, a mais recente, a linha do Douro no concelho de Baião (distrito do Porto).

Ao início da manhã de hoje, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) aumentou para dez o número de distritos sob aviso meteorológico laranja, mais seis do que no final do dia de sexta-feira.

Faro, Setúbal, Lisboa, Leiria, Beja e Coimbra constam hoje também da lista de aviso meteorológicos de chuva intensa e forte agitação marítima, juntando-se a Porto, Viana do Castelo, Aveiro e Braga.

Nesses dez distritos, o IPMA espera ondas com cinco a sete metros, mas que durante o dia podem vir a atingir dez a 12 metros de altura máxima, e chuva persistente e por vezes forte.

O balanço da Proteção Civil durante as 24 horas do dia de sexta-feira era de 458 ocorrências em todo o país relacionadas com episódios de mau tempo, sobretudo inundações e deslizamentos de terra.

VP (MSE) // ZO – Lusa

Rio volta a subir em Águeda e baixa da cidade deve ser evitada

A proteção civil de Águeda aconselhou esta manhã as pessoas a não saírem de casa e a evitarem a zona baixa da cidade, prevendo um agravamento das cheias nas próximas horas.

O vice-presidente da Câmara Municipal de Águeda, Jorge Almeida, que está a coordenar no terreno as operações da proteção civil, afirmou à agência Lusa que a situação melhorou durante a noite, mas está de novo a agravar-se, sabendo-se que "há uma grande massa de água que está a caminho desde o Caramulo".

"Aconselho as pessoas a que só saiam de casa de for absolutamente necessário, até a situação acalmar, e sobretudo que não vão para a baixa da cidade porque as condições de circulação vão estar bastante difíceis", disse hoje de manhã Jorge Almeida.

De acordo com o autarca, a situação melhorou durante a noite, fruto da acalmia das condições de tempo ontem [sexta-feira] ao final da tarde, mas o Rio já está outra vez a subir, devido à chuva que cai ininterruptamente desde as 03:00 na zona do Caramulo.

"O mais problemático é a partir de agora porque o rio reiniciou o processo de subida e sabemos que há uma massa de água bastante grande que está a caminho desde o Caramulo, através do rio Águeda e dos seus afluentes, pelo que temos a situação dificultada, até porque é difícil saber qual vai ser a cota máxima, apesar dos instrumentos de medição, que têm um intervalo de cerca de uma hora", disse.

Jorge Almeida revelou à Lusa que algumas das estradas que já haviam sido reabertas estão a ser novamente encerradas, "nomeadamente a rotunda de Assequins e junto à antiga estação de tratamento de água", e que a ligação a Aveiro está encerrada junto à Ponte da Rata".

Jorge Almeida admitiu que o dia de hoje pode vir a ser "bastante complicado", pelo que a proteção civil municipal tem todo o sistema de vigilância montado e o parque de máquinas operacional para acorrer aos vários deslizamentos de barreiras.

"Estamos a acompanhar a evolução à volta da cidade. Ontem [sexta-feira], tivemos vários pedidos de auxílio, em que os barcos dos bombeiros tiveram de ajudar as pessoas que pretendiam sair ou entrar em casa nas zonas inundadas, mas a noite foi tranquila. A Rua Vasco da Gama e a Rua Manuel Pinto [na baixa da cidade] ainda não deixaram de ter água e vamos ver onde é que atinge o pico máximo", comentou.

MSO // ZO - Lusa

PORTUGAL QUESTIONADO SOBRE COMPRA DA EFACEC POR ISABEL DOS SANTOS



A Comissão Europeia (CE) questionou as autoridades portuguesas sobre a venda de 66,1% da Efacec à empresária angolana Isabel dos Santos, no âmbito da legislação europeia de prevenção e combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo.

De acordo com uma nota a que a Lusa teve hoje acesso e datada de quinta-feira, no passado dia 05 de fevereiro a comissária europeia Vera Jourova informou os eurodeputados do Intergrupo do Parlamento Europeu sobre Integridade e Transparência, Corrupção e Crime Organizado, que a Comissão questionou Portugal sobre "a conformidade da compra da empresa portuguesa Efacec por Isabel dos Santos, filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos".

Em outubro de 2015, os deputados enviaram para a Comissão Europeia (CE), a Autoridade Bancária Europeia (ABE) e o Grupo de Ação Financeira (GAFI) uma carta a solicitar a investigação sobre a legalidade da compra da Efacec por Isabel dos Santos e dirigiram uma pergunta ao Banco de Portugal (BdP) a este propósito, refere a nota.

De acordo com as regras da União Europeia, as entidades portuguesas, nomeadamente, as instituições financeiras envolvidas na operação, "têm o dever legal de executar diligência reforçada sobre quaisquer operações que envolvam Pessoas Politicamente Expostas (PEP na sigla inglesa) - ou seja, o dever de estabelecer a origem dos fundos de PEP estrangeiros, ter uma imagem clara de como o PEP adquiriu a riqueza, de forma geral, ou para o negócio particular em que estão envolvidos", refere o documento.

Os eurodeputados tinham pedido ao Banco Central Europeu (BCE), à CE e à ABE, enquanto agentes da supervisão da integridade do sistema financeiro europeu, para determinarem se o BdP - a autoridade de supervisão nacional - e as instituições financeiras em causa estariam a cumprir a legislação europeia no que respeita a esta aquisição, bem como a outras participações significativas de Isabel dos Santos em empresas em Portugal, particularmente, no setor de petróleo, através Galp, na banca, através do BPI e do BIC, e em telecomunicações, através do operador NOS, bem como em outros investimentos imobiliários.

No passado dia 28 de dezembro de 2015, o BdP afirmou que, de acordo com a sua abordagem de supervisão e leis aplicáveis, não tem poderes para suspender ou bloquear a execução das operações financeiras concretas destinadas a adquirir ou aumentar a participação numa determinada empresa, salientando que a sua ação fiscalizadora "necessariamente consiste numa abordagem baseada no risco, cuja natureza periódica, corrente e preventiva é incompatível com o controlo 'a priori' de operações financeiras concretas".

No que diz respeito à compra da Efacec, o regulador assinala, numa carta enviada a Bruxelas, "que tomou medidas de supervisão que entendeu convenientes para obter informações detalhadas sobre se os bancos que financiaram a operação cumpriram com as medidas preventivas prescritas no quadro da prevenção do branqueamento de capitais", acrescentando que "procedeu à verificação da origem dos fundos próprios envolvidos nessa aquisição e de que o seu financiamento foi aprovado com base numa análise sólida e procedimentos de risco adequados".

A venda de 66,1% da Efacec Power Solutions (EPS) pelos grupos José de Mello e Têxtil Manuel Gonçalves à empresária angolana Isabel dos Santos foi concluída a 23 de outubro último.

A Efacec Power Solutions agrupa as atividades centrais do grupo Efacec, que inclui a energia, com transformadores, aparelhagem, automação e mobilidade elétrica, e engenharia, registando um volume de negócios de cerca de 500 milhões de euros anuais, tem uma equipa de 2.500 colaboradores e atividade em 80 países.

Os grupos José de Mello e Têxtil Manuel Gonçalves são os acionistas minoritários da EPS, através da sociedade MGI capital.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PORTUGAL TEM UMA DAS ECONOMIAS MAIS INOVADORAS DO MUNDO



Dados da Bloomberg colocam território nacional no mapa de países que melhor apoiam o desenvolvimento de novas ideias.

A economia portuguesa é a 29ª economia mais inovadora do mundo. A conclusão é da Bloomberg, que divulgou o ranking dos países que mais ajudam o desenvolvimento e criação de novas ideias, com destaque para o setor da tecnologia.

Os 200 países analisados foram classificados através da análise em sete categorias, recebendo notas equivalentes à qualidade de cada sector.

Intensidade de pesquisa e desenvolvimento, valor acrescentado pela manufatura, produtividade, densidade de alta tecnologia, eficiência do sector terciário, concentração de investigadores e atividade de patentes foram as áreas analisadas pela Bloomberg, que classificou cada país e revelou as 50 economias mais inovadoras. Veja na galeria os setores destacados em Portugal e os dez países que estão na linha da frente da inovação.

Bruno Mourão com Elsa Pereira – Notícias ao Minuto

Portugal. Rotas do Porto geram prejuízos de oito milhões. TAP não comenta



Um total de 18 ligações diárias Porto-Lisboa compensa a perda de rotas com destino à Europa.

Ainda que com taxas de ocupação de 100%, as rotas que ligam o Porto a Bruxelas, Milão, Barcelona e Roma geram prejuízos de oito milhões de euros por ano. A informação foi avançada esta manhã pelo Jornal de Notícias e confirmada pelo Notícias ao Minuto.

Contactada sobre esta questão, a companhia aérea recusou-se a comentar os valores avançados pelo diário, justificando a decisão de interromper quatro rotas a partir do Aeroporto Sá Carneiro por estas serem “deficitárias”.

Os custos fixos (onde se incluiu, por exemplo, o de exploração do espaço aéreo e as taxas aeroportuárias) não permitem que os lucros se sobreponham às despesas, o que levou a TAP a adotar uma “nova estratégia”. A concorrência a que a companhia aérea está sujeita impede, igualmente, que sejam aumentados os preços dos bilhetes mantendo a procura.

“A TAP anunciou a criação de uma ‘Ponte Aérea’ entre Lisboa e Porto, com voos a toda a hora (18 ligações por dia em cada sentido), que garantem aos utilizadores do aeroporto do Porto um acesso otimizado não só aos voos diretos à partida do Porto, mas a toda a rede de destinos da TAP”, frisa a companhia em declarações ao Notícias ao Minuto.

A aeroportuária portuguesa destaca ainda que, após uma “rigorosa análise a todas as rotas da TAP”, também em Lisboa houve supressões.

Goreti Pera – Notícias ao Minuto

O PORTO APAGOU A LUZ NA LUZ. CHAMEM O ELETRICISTA!



Um pouco como em diferido desenterramos o futebol de ontem para o abordar hoje. Benfica - FC Porto foi o prato forte da noite de ontem. Uma sexta-feira chuvosa que transbordou rios e causou cheias em algumas cidades do norte e centro de Portugal. Em Lisboa a cheia foi no estádio da Luz: o Benfica meteu água em vez de golos. Ultimamente tem sido assim. Jesus abandonou o Benfica, os milagres foram-se embora e assentaram arraiais um pouco mais acima da mesma segunda-circular onde as águias e os leões partilham espaço com seus estádios. São clubes da mesma rua mas de cores diferentes. Jesus preferiu o verde, talvez tenha virado ecologista. Bronco como é esperemos que faça alguma coisa de útil pela natureza e denuncie os abusos dos que não respeitam nem pessoas, nem natureza, nem animais. Era uma boa “ola” para Jorge Jesus.

Não. Não viemos aqui para isto. Que se lixe Jesus, que se lixe o futebol ultra-milionário e parasita das mentes dos que necessitam de se alienar porque as suas vidas são uma merda e se pensarem a sério na realidade que os rodeiam dão em malucos. A alienação é um bem que nos faz parecer gente normal. Pena que tenham mudado o fado e que Fátima já não seja o que era: um milagre. Agora até deixou de o ser para se constituir num grande negócio, como o futebol ultra-milionário. O fado evoluiu, deixou de ser dos desgraçadinhos, dos do Portugal pequenino, dos encornados e traídos por mulheres megeras ou machistas gabarolas que papavam todas e mais algumas (só de imaginação e de pívia). O fado tem gente nova, de qualidade, culta, jovem, do melhor, que tem vindo a construir um novo fado, um novo destino para a canção nacional que é atualmente Património da Humanidade. O fado deu com os chanatos no salazar-fascismo e democratizou-se. Saiu das ruelas para largas avenidas e para o mundo. Agora a dona Amália já não teria hipótese de fazer birras nem males e caramunhas com exigências por que se sentia a maior, a diva. Atualmente existem uma caterva de divas que são machos e fêmeas… do fado. Atualmente o fado já não é só dos manguelas, dos pintas, dos morcões, dos chulos e das putas. O fado é de todos. Democratizou-se, sacudiu a desgraça, encostou-se a autores literários de alto gabarito. É mais português. Muito mais português que os plantéis dos clubes de futebol. Portugueses nas equipas dos clubes chamados grandes é coisa rara. Lá aparece um ou outro com jeitinho para nem sempre chutar enviesado ou para o sol e lua, para o céu. O céu da senhora da Fátima a abarrotar de euros e a lixar-nos com políticos de meia-tijela-quebrada, inúteis. Só úteis pelo que roubam… para eles, familiares e amigos dos bandos que constituem. Bandos a que chamam lobies. Isto está uma grande porra, na realidade existe uma profusa distribuição de riqueza mas só entre uns quantos. Riqueza que é roubada a milhões. Àqueles que vão ao futebol e o alimentam. Àqueles que gostam muito mais do fado da atualidade e se borrifaram para a desgraça e fatalidades aceites mansamente como em tempo de Salazar e Cerejeira (o grande cardeal-animal). Vai daí, que viva o futebol!

São três grandes clubes, Benfica, Porto e Sporting, que mobilizam milhões de desgraçados(as) com farta necessidade de alienação. Falar de política não resulta. O futebol é que está a dar. Até a Fátima anda a ficar lixada e suspira pelo salazarismo e o cerejeirismo abençoado por Papas que deram os braços aos fascistas portugueses e os vinham visitar, assim como à Fátima. O mundo mudou, Portugal também. Roma não. Vai a todas e continua a evangelizar a desgraça. Fá-lo, atualmente, à revelia deste Papa, o Francisco. Mas esse não vai estar vivo por muito mais tempo. É diferente, luta contra as seitas instaladas na igreja católica-apostólica-romana. São montanhas os bandos que o arrenegam com ares de santos mas tendo por patronos os diabos que oprimem, exploram e assassinam os povos do mundo. Grande Francisco. Que se lixe a vida se não a pudermos viver na plenitude!

Estávamos no futebol. Vejam bem as voltas saloias que este texto já deu. Provavelmente já ninguém chega a ler esta parte. Ficam taralhoucos com tantas voltas e reviravoltas. E queixam-se, de tonturas. Tonturas que também António Costa, agora primeiro-ministro sem favor mas sim legitimamente, anda a causar a Cavaco, a Passos, a Portas, à UE, aos que nos andaram e andam a roubar durante décadas e enriqueceram como não sabem explicar transparentemente. Chutaram e deram com potes repletos de ouro, casarões, joias, euros... Meteram golos sem saberem por que acertavam nas redes tecidas pelas máfias políticas-económico-financeiras que se formaram a partir de Abril de 1974. Redes que arrebanham tudo. E se roubam!

Por certo que já estou a escrever para o maneta ou para o mais e maior tradicional boneco das Caldas. Não houve pachorra para aqui chegarem, como o fazem durante os dias úteis da semana com o Expresso Curto. Desculpem lá qualquer-coisinha, vou terminar…

Agora por maneta. Esse tipo deve estar muito rico. Vai tudo para ele sempre que calha. Muito mais rico que Cavaco e outros desse jaez. O Cavaco das pantufas, o que saca em silêncio, tipo bufa. Mas cheira. E muito. As máfias compensam… a esses, dos bandos.

O que interessa de tudo isto é que o Porto venceu o Benfica. Os estrangeiros meteram golos… à falta de portugueses nas equipas. Os portugueses nas bancadas do estádio, nas suas casas, nos cafés, nos automóveis, nas retretes e outros locais menos recomendados, exultaram. No norte, os portistas, gritaram bibó Porto! Na mouraria lisboeta, por todo o Portugal, ex-colónias, pelo mundo, foram milhões que amaldiçoaram o Rui Vitória, mister das águias vermelhas. Em casa de muitos benfiquistas frustrados, quando lá chegaram, deram porrada nas mulheres, nos filhos e partiram a loiça toda. Foi golo trágico, mas foi golo. Hoje estão todos na ressaca. A alienação é sempre uma panaceia útil. Já dizia o outro: "felizes dos pobres de espírito".

Se chegaram aqui, se conseguiram ler todo este texto mais a luz que se apagou na Luz, como compilado da TSF, podem acreditar que são uns grandes necessitados de alienação. Fico feliz por ajudar.

Bom fim-de-semana e siga para a TSF. TSF que já foi uma grande rádio mas que faz já tempos que anda a minguar. O Baldaia anda a baldar-se e dirige aquilo como seja uma mercearia fina. O patrão obriga e as contas lá em casa são grandes. O mesmo sentem os profissionais que o são. Alguns deviam ir fazer consultas aos que já estão na reforma ou quase e deram toda a sabedoria, experiência, profissionalismo, amor e vida à rádio que em tempos mudou as rádios. Agora está a acontecer ao contrário, as que mudou estão a mudá-la. Mesmo assim, ainda é uma das poucas que escapam a despejar só esgoto e trastes no éter. Melhores dias virão se fizerem por isso.

Abra os olhos se fizer o favor. Essa coisa de fazer que está a ler de olhos fechados é tanga. Você estava era a dormir. Pois. O costume.

A seguir não vai ler o Expresso Curto do tio Balsemão, mas sim a luz que se apagou na Luz. Chame o eletricista. Que coisa! Que prosa inútil você conseguiu ler. Vá ao médico. Cure-se. Sorria. Isto está tudo difícil mas ainda respiramos. Já não é mau.

Bom fim-de-semana. Se conseguirem.

Redação PG / MM

Apagou-se a Luz. Porto ganhou, 2-1

O FC Porto deu a volta ao marcador. Primeiro marcou Mitroglou, mas depois Herrera e Aboubakar fizeram os golos dos azuis e brancos. Os "dragões" ficam a 3 pontos do Benfica no campeonato.

Ganhou quem marcou. O chavão futebolístico aplica-se na perfeição ao "Clássico" da Luz. O Benfica criou 10 oportunidades de golo, marcou um golo. O Porto criou 5 e marcou... dois.

Os "dragões" chegaram à 22ª jornada (supostamente) debilitados, vindos de uma derrota em casa com o Arouca, mas isso, ao que parece, só lhes afinou a pontaria. A entrada no jogo não foi muito fácil, e o Benfica marcou primeiro, por Mitroglou. Mas depois, ainda na primeira parte, o Porto empatou. Hector Herrera surgiu sozinho à entrada da área encarnada e disparou, rasteiro, batendo Júlio César.

Na segunda parte o Benfica viu o "filme" da primeira repetir-se, mas desta vez sem conseguir bater Casillas, que foi uma autêntica parede. O guarda-redes espanhol negou o golo a Gaitán com um mergulho extraordinário para a esquerda, perante o argentino isolado. Ora, vamos a mais uma verdade futebolística daquelas que se reptem mil vezes? Quem não marca sofre. E o Benfica sofreu.

Aboubakar deu o final que merecia a excelente combinação entre André André, Brahimi e ele próprio. Aboubakar apareceu dentro da área e rematou, de pé esquerdo, para o fundo da baliza de Júlio César. O Benfica até reagiu bem. Mas... lá estava Casillas. Sempre ele. Duas/três defesas decisivas e o marcador já não se mexeu mais.

Foi a 91ª vitória do Porto em "Clássicos" frente ao Benfica, em 234.

Aqui acompanhámos "tudo o que se passou" na Luz, ao minuto. (continua no original TSF)

Ricardo de Oliveira Duarte – TSF

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