segunda-feira, 4 de abril de 2016

ANGOLA SOB O CHOQUE E A TERAPIA NEOLIBERAL




O cessar dos combates em Angola ocorreu há 14 anos, num país com 40 anos de independência e onde foi necessário travarem-se as justas lutas contra o colonialismo e o “apartheid” no âmbito da Luta de Libertação em África.

O momento do fim do “apartheid” na África do Sul, garantindo as independências da Namíbia e do Zimbabwe com processos mais ou menos atribulados, coincidiu praticamente com o fim do Pacto de Varsóvia e do bloco socialista do leste europeu, assim como com a implosão da URSS, o que não foi por acaso.

De facto a hegemonia unipolar tutora da globalização capitalista neoliberal, iniciada ao nível das grandes potências nos Estados Unidos com a administração republicana de Ronald Reagan e na Grã-Bretanha com Margaret Thatcher, ficou de “mãos livres” para explorar o êxito, impondo suas“correias de transmissão” neoconservadoras, alienantes e sob os auspícios dos falcões liberais, a tal ponto que nem as administrações democratas (nos Estados Unidos) se puderam esquivar desse “diktat”.

O continente africano começou a ter sintomas do desamparo em que caiu e os Grandes Lagos e o Zaíre (República Democrática do Congo), tal como Angola, sentiram na carne dos seus povos o choque sangrento da guerra neoliberal.

O Ruanda e os Kivus experimentaram mesmo o terror do holocausto, em pleno exercício da administração do democrata Bill Clinton!...

Em Angola foi Savimbi que assumiu por inteiro o choque neo liberal entre 1992 e 2002,“somalizando” ao ponto de levar a guerra às cidades, por que nem o enfraquecimento dos instrumentos de poder do estado angolano (fragilização da Segurança do Estado e fim das FAPLA), nem o fim do Partido do Trabalho em que se havia constituído o MPLA, demoveu a ele e aos seus tutores da opção pela guerra.

Savimbi aliás, para executar o choque neo liberal sob encomenda neoconservadora e dos falcões liberais, tirou mesmo partido do exacto momento das transformações do MPLA e do próprio estado angolano, tão débeis passaram a ser as respostas em relação sobretudo aos diamantes, que ele haveria de procurar a todo o transe monopolizar enquanto “diamantes de sangue”.

Fez em Março trinta anos que foi fragilizada a Segurança do Estado, com a detenção daqueles que garantiam políticas de rigor no exercício do estado angolano e davam simultaneamente luta ao tráfico ilegal de diamantes…

Foi a partir do sector de petróleo que o estado angolano alicerçou sua capacidade de resposta e para isso contou com a flexibilização deliberada dos Estados Unidos, tirando partido das multinacionais petroleiras presentes em Angola e dos seus associados.

Perdida a vanguarda enquadrada no MPLA, um MPLA visando a social-democracia e com características de “partido de massas” seguiu-se-lhe ao mesmo tempo que o capitalismo neo liberal procurava provocar em Angola uma apetecível “open society” num processo que se estende até aos nossos dias e visível nos acontecimentos sócio-políticos, económicos e financeiros correntes.

No final do choque provocado com a instrumentalização de Savimbi, a hegemonia unipolar, utilizando a esteira do sector do petróleo que era (e ainda é) tão essencial a Angola, desencadeou a partir de 2002 a terapia de choque neoliberal, com impactos em múltiplos sectores da vida do país e com vista a garantir subtis formas de ingerência e manipulação.

À tese ocupada pelo MPLA e o estado angolano, a manipulação no âmbito da terapia neo liberal expande uma antítese gerada numa difusa oposição com “geometria variável”, pouco se importando para a necessidade de paz a fim de que Angola possa fazer vingar uma cultura de luta contra o subdesenvolvimento, com equilíbrio e justiça social.

O próprio Comando África do Pentágono foi lançado uma altura em que a cessação das hostilidades já havia ocorrido há 5 anos em Angola (2007) e quando o estado angolano iniciava um conjunto de dispositivos que visavam a extensão de políticas de paz em África.

O AFRICOM “preparado em laboratório” foi constituído com componentes civis e militares, para que tivesse desde logo um leque mais abrangente de subtis opções de ingerência e manipulação.

O fim da época do “petróleo para o desenvolvimento”, conforme à administração republicana do texano George W. Bush e o início da época do “petróleo enquanto excremento do diabo” já com a administração do democrata Barack Hussein Obama, permitiu no início da segunda década do século XXI, o choque das “primaveras árabes”, do assassinato de Kadafi e da proliferação do terrorismo em África sobretudo a norte do Equador e, ao mesmo tempo, o delineamento da“terapia de choque” particularmente em relação à Nigéria, como a Angola, os maiores produtores de petróleo a sul do Sahara.

A crise em curso espelha-se de forma mais evidente em Angola, tornando possível aos menos avisados por via da corrente crise, sentirem a armadilha que se distende em África, abrindo espaço ao neo colonialismo e ao saque.

A cultura de paz em Angola deve corresponder com inteligência e clarividência perante tais desafios, por que agora se torna imperativo optar uma vez mais pela independência, pela soberania e pela emergência justa do país nos relacionamentos internacionais.

Até que ponto um MPLA social-democrata e um estado que tem sido tão permissivo, tão “aberto” à terapia neoliberal vão poder resistir, é algo que está em balanço, por que as ingerências e as manipulações, inclusive aquelas que providenciam, potenciam e estimulam agentes “intestinos”estão aí com seu cortejo de projectos alienantes, de misérias, de desequilíbrios e até de morte (é só constatar o que continua a acontecer no quadro da saúde em Angola).

Só um estado angolano capaz de recuperar o rigor dos tempos do Partido do Trabalho poderá ser capaz de alguma resposta, algo que pode passar ao lado das fragilidades sociais-democratas do MPLA de massas que tantas “aberturas” (e descaracterizações) providenciou no que à doutrina, à ideologia à organização e à disciplina diz respeito.

Foto: O Presidente José Eduardo dos Santos e Lúcio Lara, duas evocações históricas que são indispensáveis para que o estado angolano possa recuperar a capacidade de rigor possível que leve a aprofundar e estimular a cultura de paz num exercício saudável de independência e soberania face aos impactos e riscos próprios do capitalismo neoliberal que impendem sobre Angola.

Angola. CONTRA AS INGERÊNCIAS



Jornal de Angola, editorial - 2 de Abril, 2016

Mais de cinquenta anos depois do histórico processo de descolonização, da consolidação das independências nacionais, soberania e integridade territorial dos antigos países colonizados, persistem tentações nalgumas partes do mundo para o retrocesso.

Algumas ex-potências coloniais,   numerosos sectores e individualidades no seio das mesmas convivem com uma realidade que, tendo mudado desde há mais de meio século, actuam como se nada tenha mudado. Volta e meia, confrontamo-nos com tendências para determinados círculos ditarem o que Estados soberanos devem ou não deixar de fazer, inclusive ao nível do seu ordenamento jurídico e político internos. 

Vivemos, hoje, de forma velada ou aberta, sequelas perigosas da herança colonial, traduzidas na forma condenável como determinados Estados ou entidades supranacionais se acham no direito de violar normais internacionais. É inaceitável que, contrariando disposições legais constantes de Tratados e Convenções internacionais que enaltecem o princípio da igualdade soberana dos Estados, algumas entidades se imiscuam nos assuntos internos dos outros Estados. 

É elementar a ideia de que a nível internacional não existem Estados “super soberanos” ou entidades com moralidade suficiente para extrapolar os limites do aceitável em matéria de relações de Estado a Estado. 

Embora a evolução do Direito Internacional  permita maior interacção entre os Estados e com as Organizações Internacionais, a que livremente passam a vincular-se, a Carta da ONU e demais instrumentos jurídicos internacionais são claros no que à soberania diz respeito. Não é tolerável que Estado algum dite regras aos outros Estados, numa altura em que, independentemente dos frutos da globalização, a independência e soberania dos Estados continua a ser sagrada. Angola é um Estado independente e soberano há mais de quarenta anos e que, ao lado de outros Estados com os seus problemas e desafios, pretende ser tratado com a mesma deferência decorrente do Direito Internacional.

A declaração da União Europeia, a posição tomada pelo Governo e Assembleia  da República portuguesas configuram violações grosseiras e inaceitáveis na medida em que põe em causa o país e as suas instituições. Além da tendência e visão paternalista que leva as entidades e individualidades estrangeiras a pôr em causa determinados Governos e instituições, é recorrente o tratamento de menoridade. Parece persistir a miopia política que impede que certos Estados sejam encarados como entidades que cresceram, evoluíram com leis modernas e estão inseridas no concerto das nações com regras e procedimentos universalmente aceites. Não há em todo o mundo processos democráticos acabados, modelos de respeito pelos Direitos Humanos paradigmático para todos, muito menos “super Estados” cujas lições devem ser impostas a outros. Todos os Estados do mundo conheceram fases de evolução dos seus processos internos de amadurecimento das instituições, a medida que fortaleceram os ordenamentos jurídicos internos e aderiram  aos Tratados e Convenções internacionais. 

A realidade de cada Estado deve ser respeitada a luz das leis internas e das normas internacionais porque, independentemente das diferenças, no essencial todos os Estados pautam a sua actuação pelas mesmas regras elementares.  O processo de democratização de Angola tem levado ao exercício que consagra direitos e deveres para todos, razão pela qual é injustificável  a ideia segundo o qual está tudo politizado em Angola. 

A separação de poderes é uma realidade também em Angola, razão pela qual é totalmente infundado a ideia de que o processo de julgamento dos chamados “revús” teve uma dimensão política e desprovida de supostas garantias legais. Não é verdade e ideia de que “o caso tem vindo a suscitar reservas no que concerne o respeito pelas garantias processuais e pelo princípio de proporcionalidade”, alegado facto que em nenhum momento foi levantado pela equipa de advogados de defesa. O Estado angolano é regido por leis e as suas autoridades reafirmam o compromisso de continuar a respeitar todos os Tratados e Convenções internacionais a que livremente aderiu e de aplicar normalmente.

Acreditamos que a posição assumida pelo Executivo, por via do Ministério das Relações, constitui um direito que cabe inteiramente ao Estado angolano e reflecte sobretudo a necessidade da preservação de um princípio básico ao nível do Direito Internacional, que se fundamenta na não ingerência nos assuntos internos dos Estados. A grave e injustificável cruzada contra o Estado angolano e as suas instituições não vingam, nem são suficientes para demovê-las da prossecução dos fins que buscam, tendo como base o escrupuloso respeito pelos direitos, liberdade e garantias fundamentais dos cidadãos. As instituições angolanas, além de não se deixarem intimidar por declarações ou posições públicas de Estados estrangeiros, vai actuar em conformidade com as suas leis, com as normas do Direito Internacional, são contra todo o tipo de ingerências.

Nota Página Global
Alguns dos textos publicados poderão sofrer de desatualização parcial devido ao Página Global ter estado efetivamente suspenso por motivos internos durante quatro dias. Procuraremos proceder à normalização o mais rápido possível.


O ARQUITETO DA NOVA ANGOLA



Kumuênho da Rosa – Jornal de Angola

É costume dizer-se que o sorriso, o aperto de mão, seguido de um abraço apertado, comunicam muito mais do que aparentam. Entre homens, principalmente, o aperto de mão é rico em significados.

Há precisamente 14 anos o mundo testemunhava aquele que pode ter sido o mais emblemático aperto de mão da história recente de Angola.

No Palácio dos Congressos, o mesmo lugar onde, 24 horas antes, deputados angolanos aprovaram uma Lei de Amnistia, para “todos os crimes contra a segurança do Estado cometidos no contexto do conflito armado”, os generais Armando da Cruz Neto e Abreu Muengo Ukwachitembo “Kamorteiro” apertaram as mãos e a seguir abraçaram-se, sob olhar atento do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, cujo sorriso reflectia alegria e satisfação por aquele momento tão significativo para o futuro do angolanos.

Era o “enterrar do machado de guerra” entre os chefes das Forças Armadas Angolanas e das forças militares da UNITA que deste modo punham fim a mais de três décadas de um conflito fratricida, com um rasto de destruição, mais de meio milhão de mortos e centenas de milhares de famílias longe das suas zonas de origem.

O Memorando de Entendimento do Luena, documento complementar aos Acordos de Lusaka, representa um marco importante na história de Angola e uma prova de maturidade política do povo angolano. A sua assinatura num acto solene, marcou o fim de uma guerra que de tão prolongada pareceu fazer parte da sina dos angolanos e a paz um sonho distante.

Depois de décadas, e com vários acordos falhados, houve quem chegasse a acreditar que os angolanos estavam condenados a viver em guerra, como chegou a cantar um músico de sucesso na década de 90, num verso marcadamente infeliz, ao referir-se à “guerra, ambição e muito mais…” como “predestinações divinas”. Não tardou, o tempo acabou por demonstrar que estava errado. Ele e todos os que acreditavam que a paz em Angola era somente uma utopia.

Fim da guerra

O fim da guerra em Angola começou a desenhar-se com a morte de Jonas Malheiro Savimbi, o chefe das forças rebeldes da UNITA, a 22 de Fevereiro de 2002, nas proximidades de Cassamba, localidade adjacente ao Luvuei, um dos três afluentes do rio Lungue-Bungo.

Depois de semanas de perseguição, Savimbi acabou por ser abatido a tiro, numa operação bem-sucedida levada a cabo pela 20ª Brigada das Forças Armadas Angolanas. Esse foi na opinião geral o acontecimento que escancarou as portas para a paz em Angola.

Foram necessários beliscões, já que era difícil acreditar que a paz, este bem tão caro e tantas vezes adiado por ene razões, estava ali, escancarada, pronta para ser desfrutada. Nas ruas das principais cidades organizaram-se passeatas. Ouviram-se tiros, mas dessa vez sem que ninguém esboçasse qualquer sinal de medo. Só alegria. Havia gente eufórica a festejar. Era a certeza de que desta vez sim, a guerra em Angola chegara ao fim.

Derradeira esperança

Relatos de militares que viveram os últimos dias da guerra confirmam que depois de praticamente esgotar todas as manobras na intenção de despistar o grupo de “caçadores” da 20ª Brigada das FAA, Savimbi depositou as suas derradeiras esperanças no êxito de uma operação secreta elaborada por  país vizinho, que se comprometera em resgatá-lo com vida. A intenção era ajudá-lo a recuperar no estrangeiro e daí reagrupar o que restasse do seu grupo armado, para dar sequência ao seu velho projecto, que era atingir o poder. Mas a determinação dos militares das FAA acabou por deitar por terra o plano de “velhos amigos de Savimbi” no exterior, que estavam em desespero, para salvar o senhor da guerra. A operação envolveu importantes esforços diplomáticos e com inteligência militar à mistura. Mas falhou redondamente, tal era a determinação das autoridades angolanas.

As mesmas fontes disseram que o plano foi “desmontado” e uma alta patente do país vizinho a quem foi incumbida a missão de liderar a operação de resgate morreu em território angolano perto da fronteira com a Zâmbia. Enfim, um episódio que ajuda a compreender porque em vez de um ponto final, a história da guerra em Angola foi feita de sucessivos pontos e vírgulas.

Houve desinteligências das partes, mas na sua grande maioria os percalços resultavam de manietações externas, mãos invisíveis, que faziam fortunas à custa do sofrimento de um povo mártir que sempre acreditou que, da mesma forma que conseguiu arrancar a ferros a independência, a paz definitiva teria de ser conquistada.

Prioridade para a Paz

Numa entrevista a um jornal português, para promover o livro em que narra a sua versão sobre os derradeiros dias do chefe da guerrilha, o político da UNITA Alcides Sakala revelou que a situação dos combatentes que acompanhavam Jonas Savimbi era precária.

“Perseguidos, com fome e, sobretudo, já exaustos”, mesmo assim, disse acreditar que a “UNITA podia ter continuado a luta na província do Moxico ou em circunstância mais difíceis nas do Cuanza Sul e Benguela”. “Mas resistiríamos por mais quanto tempo, com a carga de sanções a pesarem nas nossas costas, num mundo em mudança?”, questionou o político que já foi secretário para as Relações Externas da UNITA. Na narrativa em que discorre sobre as suas observações na “derradeira marcha” da cúpula da UNITA, Sakala refere-se ao acordo assinado pelos militares logo após a morte de Savimbi como uma “oportunidade para a paz”. De recordar que no momento em que Savimbi foi abatido, o agora deputado da UNITA encontrava-se nas margens do rio Luconha, afluente do rio Lungue-Bungo. Com ele seguiam os generais Lukamba Paulo Gato, então secretário-geral da UNITA, Marcial Dachala, secretário para a Informação, Jovem Blanche, responsável dos quadros, e ainda Vituji e Calulo, membros influentes do corpo de segurança de Jonas Savimbi.

Somente nós

O general Abreu Muengo Ukwachitembo “Kamorteiro”, co-signatário do acordo de paz é dos protagonistas desse processo mais solicitados para dar entrevistas. Em todas as vezes que falou sobre o processo de paz, procurou sempre destacar o facto de terem sido somente os angolanos a discutirem e a definirem qual seria o rumo a seguir.

Poucos dias atrás, numa palestra em Luanda sobre o 4 de Abril de 2002, o agora vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas considerou o fim da guerra em Angola, uma “obra acabada sem interferência externa” e que devia servir de modelo de inspiração para outros países em situação de conflito. Perante um auditório constituído por oficiais superiores e subalternos, agentes, cadetes e trabalhadores civis da Polícia Nacional, o general Kamorteiro lembrou que desde 15 de Março, dia em que começaram as conversações entre as delegações do Governo e da UNITA, até à data da assinatura do acordo de paz, foi observado um “estrito rigor” quanto à inadmissibilidade de qualquer interferência externa. “Fomos apenas nós, desejosos de acabar com aquilo, sem humilhações e sem vencedores nem vencidos. Quem venceu foi Angola e os angolanos. Isso foi determinante para o desfecho do processo”, assinalou.

Chega de errar

Quando, ainda na vila do Luena, eram feitos os primeiros contactos para os passos a seguir no processo de paz, ficou claro que o Governo angolano estava determinado a evitar os erros do passado. Depois de Nova Iorque em 1988, Gbadolite, em 1989, Bicesse em 1991, e Lusaka, 1994, era preciso ter a certeza de que Luena seria diferente.

Depois de confirmado o êxito no controlo de todos os chefes militares da UNITA que ainda estavam dispersos nas matas e afastado o cenário de continuação da luta como guerrilha, foi preciso avançar rapidamente para conversações directas, sem mediadores, nem representantes de países aliados, como foi nas anteriores negociações.

Em Luanda, assistiam-se a intensas movimentações com diplomatas interessados em fazer parte do processo, uns invocando “laços históricos de cooperação com Angola”, outros um “direito adquirido”, com base precisamente nos acordos que fracassaram. E foi com o firme propósito de evitar um novo erro que pusesse novamente tudo a perder, que foi definido que o fim da guerra em Angola dispensava um novo acordo de paz. Bastava a vontade das partes e um documento complementar ao Protocolo de Lusaka.

Divergências políticas

Tal como dispunha o Protocolo de Lusaka, que o Memorando do Luena veio complementar, o aquartelamento e incorporação nas FAA dos ex-militares da UNITA seriam acompanhados por países observadores, mas as questões políticas que “constituíam a essência das contradições antagónicas entre os angolanos durante décadas”, foram tratadas de “forma cautelosa, sigilosa e exclusivamente por patriotas angolanos”, frisou o general Kamorteiro.

O general Kamorteiro considera ter sido esse um elemento fundamental no desenrolar  tranquilo e sereno das negociações, igualmente de determinante para o êxito do processo que até hoje os angolanos e o mundo inteiro reconhecem. “Temos muito orgulho em fazer parte de um processo de paz verdadeiramente genuino, e que é referenciado no mundo inteiro. “É um caso sui generis e devia constituir um modelo a seguir em situações de conflito quer em África quer em outras partes do mundo”, disse.

Obreiro da Paz

Os depoimentos de protagonistas do processo de paz em Angola reconhecem o papel chave do Presidente José Eduardo dos Santos, que coordenou desde o início todas as acções para que o fim da guerra em Angola fosse uma realidade. 

O general Geraldo Sachipengo Nunda, actual chefe do Estado-Maior das FAA, que na época era adjunto do general Armando da Cruz, recorda terem sido dadas instruções do Presidente da República e Comandante-em-Chefe para que fossem poupados todos os militares que voluntariamente abandonassem as acções armadas. Mesmo os que fossem capturados deviam beneficiar de pronta assistência médica, e alimentar para os que já vinham debilitados, depois de dias a caminhar nas matas comendo raízes e frutos silvestres.

Todos concordam que a amnistia decretada pelo Governo para os que até àquela data cometeram crimes no contexto do conflito armado, e que foi aprovada dia antes do acto solene de assinatura do Acordo de Paz, a 4 de Abril de 2002, foi um gesto de enorme simbolismo, que além de vincar a magnanimidade do Presidente José Eduardo dos Santos, como o obreiro da paz, ajudou a reforçar a confiança dos angolanos. Foi um passo decisivo para que todos passassem a encarar o futuro sem receios, mais engajados na construção da nova Angola.

Angola. O ESTERTOR DO REGIME



O Pravda, ou Boletim Oficial, do regime de José Eduardo dos Santos (também conhecido por Jornal de Angola) volta hoje – como todos os dias – a ser a voz canina do dono, alvejando Portugal. É o estertor dos sipaios e do regime.

Orlando Castro* - Folha 8

Em editorial, o pasquim acusa Portugal de “cumplicidade criminosa” de alguns “sectores” na guerra civil que terminou há 14 anos e a actual “incompreensão absurda” portuguesa e europeia. Na perspectiva de que o fim está próximo, os ratos preparam-se para abandonar o navio mas, é claro, não podem deixar de cumprir as ordens do patrão.

Sob o título “As lições da História”, o Pravda recorda o 4 de Abril de 2002, quando foi assinado o acordo de cessar-fogo no país entre as forças governamentais e a UNITA, concluindo quase 30 anos de guerra civil, hoje celebrado como dia Paz (ausência de tiros) e daquilo que ainda não existe, a Reconciliação Nacional.

“Há 14 anos o país estava completamente devastado. A guerra lançada após as eleições de 1992 pela UNITA de Jonas Savimbi foi das mais destrutivas que Angola e África alguma vez viram e contou com a cumplicidade criminosa de sectores em Portugal e na Europa que preferiam continuar a ter uma Angola fraca a uma Angola igual entre as nações do Mundo”.

Como sempre, os sipaios atiram a pedra e escondem a pata. Falam (isto é como quem diz!) mas não põem o nome às coisas. Isso é, reconheça-se, um acto de inteligência. Não fosse algum dos visados contar e provar histórias que envolvessem estes invertebrados bajuladores.

Recordando que em 2002 o país precisava do apoio dos doadores europeus, o Boletim Oficial do regime justifica a parceria entretanto encetada com a China, para a reconstrução nacional.

“As autoridades angolanas precisavam do cumprimento das promessas feitas pelos doadores internacionais em Bruxelas, mas essas foram-lhes recusadas pelos mesmos que criticam hoje o facto de Angola querer fazer o seu caminho sozinha. Quando as portas são fechadas — como hoje volta a acontecer — como não seguir pela alternativa que sobra, a de caminhar caminhando”, questiona o editorial.

Está justificado. Como justificado está o apoio que o regime teve ao longo dos últimos 40 anos da URSS, Cuba, Coreia do Norte, EUA, Israel, Brasil, Roménia, Portugal etc. etc..

Depois de ter criticado as posições críticas assumidas pelo Governo e Assembleia da República de Portugal e pela União Europeia no caso das condenações — e proporção das penas aplicadas -, pelo tribunal de Luanda, de 17 activistas a penas de prisão de até oito anos e meio de cadeia, o pasquim volta a apontar o dedo à gestão portuguesa e europeia da relação com Angola.

É claro que para esta demanda, o regime não fala (o Pravda só diz o que o regime manda) dessa abominável coligação PCP, PSD e CDS de apologia da ditadura angolana, nem de décadas de servil bajulação dos governos de Lisboa.

“Hoje as atenções estão viradas para o processo de reforço das instituições do Estado democrático de direito e de diversificação económica. Os angolanos estão outra vez a arregaçar as mangas, mas novamente contam com a incompreensão absurda de Portugal e da União Europeia”, lê-se nesta putrefacta montra de propaganda do esclavagismo do regime.

Mas que têm algum sentido de humor, isso têm. Falar de instituições democráticas em Angola ou, também, dizer que Angola é um Estado de Direito só é aceitável no âmbito do anedotário nacional onde, aliás, o Jornal de Angola ocupa o primeiro lugar.

O Jornal de Angola vai mais longe e garante que não há alternativa de poder no país, elogiando o desempenho de José Eduardo dos Santos, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Presidente da República desde 1979 (sem nunca ter sido nominalmente eleito) e que anunciou em o mês passado que deixa a vida política activa em 2018.

Pela nossa parte acrescentamos que José Eduardo dos Santos desempenhou um papel único na pacificação e desenvolvimento de Angola, de África e até de todo o mundo, incluindo… Marte.

“Os dirigentes europeus não se coíbem de mentir aos seus próprios povos sobre a realidade angolana e afirmam abertamente que pugnam pelo isolamento internacional do Governo angolano, como se houvesse uma alternativa ao actual poder em Angola que não fosse mais um aventureirismo político”, conclui o pasquim.

E tem razão, reconheça-se. Quando se tem um “querido líder” que foi “escolhido de Deus”, que tem poderes divinos, que é o mais alto representante de Deus em (pelo menos) Angola, que está muito, mas muito mesmo, acima dos seus pares (caso de Nelson Mandela), que só tem rivais – embora a grande distância – como Teodoro Obiang ou Kim Jong-un, não há mesmo alternativa.

*Orlando Castro é diretor-adjunto do jornal Folha 8

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CONDENAÇÃO DOS REVOLUCIONÁRIOS ANGOLANOS É INDIGNA E ARBITRÁRIA



OBRIGADO PELA VOSSA BRAVURA

Raul Dinis, opinião

A declaração da UNITA face á condenação dos jovens ativistas deixou de boca aberta a maior parte da sociedade politica inteligente ativa, não é que os burocratas do partido do galo negro saíram à rua para afirmar estupidamente, diga-se de passagem, que a solução da crise e das condenações dos ativistas políticos passa pelas eleições de 2018.

OBRIGADO JOVENS REVOLUCIONÁRIOS POR NOS MOSTRAREM A SAÍDA PARA A LIBERDADE, PERDOEM A RESIGNADA COBARDIA DOS LIDERES OPOSICIONISTAS COM ACENTO NA ASSEMBLEIA NACIONAL.

Não vai ser fácil aceitar a condenação desses filhos legítimos da Angola profunda, eles estão e vão continuar a enternecer os corações de todos quantos amam a liberdade e querem a democracia participativa na terra angolana. A partir de agora a luta vai aquecer e eles os supostos donos do país e da alma dos angolanos vão ter que engolir a decisão do povo não se intimidar mais com as arrogâncias e prepotências do ditador.

ESTAMOS MAIS UNIDOS, OS ANGOLANOS NÃO PRECISAM DE PARTIDOS VADIOS COMO A UNITA NEM DE PROFETAS COBARDES ANUNCIADORES DO MEDO E DA DESGRAÇA COMO O VENDILHÃO DE TEMPLOS ISAÍAS SAMAKUVA, EM SUMA O POVO PERCEBEU QUE NÃO PRECISA DE LIDERES ADMOESTADOS ANCORADOS NO PORTO DA DESGRAÇA COM ACRESCIDAS NO ARCO DA GOVERNAÇÃO.

O país está mais iluminado a florescente luz de cor verde esperança, apesar de triste as mentes outrora oprimida dos excluídos despertou para a luta pela inclusão, somos milhões que não desejamos mais ver esse raivoso ditador infame a nossa frente e muito menos desejamos a sua substituição pelos filhos do regime.

A promessa de não parar a luta está feita, ouvidos foram ossos MAIS VELHOS QUE PELEJARAM PELA INDEPENDÊNCIA NÃO SÃO POUCOS E NÃO VÃO FICAR MAIS A ESPERA DE VER MORRER FILHOS ANGOLANOS INOCENTES.

José Eduardo dos Santos trouxe a discórdia e a confusão, impôs a ditadura, roubou às riquezas nacionais, fez sua filha estrangeira bilionária e seus filhos e filhas multimilionárias, seus irmãos e irmãs estão riquíssimos, e agora decidiu assassinar o povo e matar o sonho e a vontade do povo de ser livre e de viver em democracia.

JES TEM MEDO DA DEMOCRACIA, ELE TEME SER PRESO E AMARRADO ASSIM COMO OS SEUS FAMILIARES.

O Ditador vai ser despedaçado pelos seus próprios companheiros de infortúnio, ele sabe bem disso, agora o que o povo pode contar com os mais velhos que nunca se contaminaram com as benesses do regime e em momento nenhum se alhearam a sua luta. Porque que faço tal afirmação? Porque eu estava lá na hora da dor e do sofrimento. Os mais velhos nunca estiveram distantes e muito menos a luta dos revús lhes foi indiferente.

A MORTE DOS FIEIS DE DEUS É TRANQUILA.

Não somos grandes, mas também não somos minúsculos, esses que vos oprimem estiveram connosco lutando, essa gente opressora é tão pequenina quanto elas pensam que nós somos não os tememos, pois, eles são humanos, e tão fracos e frágeis que são igualmente horríveis como nós, a diferença é que nós morreremos em paz.

ISAÍAS SAMAKUVA COMO POLITICO É UMA FRAUDE IDÊNTICA A ELEITORAL.

A sociedade angolana acordou triste e o país está a viver momentos de tremor e escuridão. Não se pode mais de maneira alguma ignorar o regime que vigora e Angola, tudo tem que ser feito para que o brinde resultante da manobra fraudulenta, programada pelas hostes da casa de segurança do velho carcamano arrogante seja desfeita.

DE UMA VEZ POR TODAS A OPOSIÇÃO TERÁ QUE TIRAR ILAÇÕES ACERTADAS DO QUE JES E O MPLA ESTÃO A SANGRAR O PAÍS DE CABINDA AO CUNENE E DO MAR AO LESTE.

O velhaco ditador teima em agravar o sofrimento dos filhos da angola profunda, a muito que vem sendo denunciada a fraude do julgamento que toda oposição assistia de longe como se não fosse parte da sociedade acorrentada. As instituições do estado transformaram-se em propriedade de José Eduardo dos Santos.

A UNITA NÃO É UM PARTIDO OPOSITOR, TRATA-SE DE UM PARTIDO DE COMPADRIOS VÁRIOS, DESCARACTERIZADA, TRATA-SE DE UMA ORGANIZAÇÃO POLITICA VADIA, UMA AUTÊNTICA BAILARINA, E/OU MARIA VAI COM O MPLA.

A UNITA tem vindo a demonstrar que vive numa almofadada redoma circundada de um falso elan, o seu líder não é um libertário, ele não passa de um pigmeu egocêntrico, e de um libertino destemido. O velho Sam vive em outra Angola que não é a Angola do sofrimento real.

ISAÍAS SAMAKUVA É UMA AUTENTICA ANEDOTA!

Num momento de total terror imposto pelo regime, num momento de se sair a rua para demonstrar quem é a UNITA, num momento em que Angola necessita urgente dialogar, numa altura de desespero para todos. O fanhoso Samakuva e toda direção do seu partido vem a público afirmar que a crise é resolvida em 2018 altura das eleições viciadas!

COITADA DA UNITA, POBRE SAMAKUVA, GANHAR ELEIÇÕES NESSA ANGOLA DOMINADA POR GOLPISTAS!

Agora o povo sabe que apenas o poder interessa ao líder da UNITA, mas todo angolano tem a certeza que o mais próximo que Samakuva chegará do poder, é resignadamente derrotado, poder apertar a mão do seu dileto amigo o ditador José Eduardo dos Santos.

A ÚNICA SAÍDA PARA IMPEDIR O SUFOCAMENTO DA SOCIEDADE, OS PARTIDOS POLÍTICOS TERÃO QUE CONDUZIR A POPULAÇÃO, SAINDO AS RUAS DO PAÍS PARA REIVINDICAR O DIREITO AS LIBERDADES CONSTITUCIONALMENTE PROTELADAS.

Não existe saída para uma vitória nas próximas eleições para a UNITA nem para a oposição descrente que Angola possui. Além disso, falta cerca de 1 ano e 6 meses para que as eleições sejam eventualmente realizadas, até lá muita água vai passar por baixo da ponte que separa a os opressores dos oprimidos. Não existe democracia tendo na presidência do país um presidente corrupto, ladrão nepotista. Basta ver como o ditador decidiu oprimir o judiciário e decidiu também colocar em retrocesso a democracia mantendo descaradamente o povo num total obscurantismo político apenas para coartar as liberdades democráticas duramente alcançadas no ardor da luta contra a tirania.

A ANGOLANIDADE ESTÁ A UNIR-SE PARA LUTAR CONTRA A TIRANIA.

O país pertence aos angolanos, não se pode deixar um povo sério ser dominado pela truculência do terror homicida do regime opressor. Por outro lado, o medo que as lideranças oposicionistas sentem do regime não deve ser combustível para a balcanização da sociedade angolana. Na verdade essa oposição até dá pena de tão fragmentada que ele se encontra.

TODO PAÍS ESTÁ INDIGNADO, TODOS SOFREMOS COM VOCÊS E VOSSOS FAMILIARES, FESTA HÁ NA CASA DE SEGURANÇA, NA TPA - TELEVISÃO POPULAR DE ANGOLA, NA RÁDIO NACIONAL DE ANGOLA E NO JA - JORNAL DE ANGOLA. O DITADOR E SUA FAMÍLIA DELIRA DE CONTENTAMENTO PELA VOSSA DESGRAÇA TRANSITÓRIA, O ÚLTIMO A RIR RI  MELHOR.

Estamos juntos, vamos nessa. 

Nota Página Global
Alguns dos textos publicados poderão sofrer de desatualização parcial devido ao Página Global ter estado efetivamente suspenso por motivos internos durante quatro dias. Procuraremos proceder à normalização o mais rápido possível.

OS ANGOLANOS ESTÃO A SER CÚMPLICES DO SEU PRÓPRIO SOFRIMENTO



Fernando Vumby*, opinião

Embora eu tenha nascido em Angola vivo há mais tempo da minha vida fora daquele país que me viu nascer. Recuso-me a ser cúmplice deste sofrimento que meus compatriotas, familiares, amigos e conhecidos estão passando desde há quase 40 anos.

Até poderia dizer que não me sinto afetado por essa enorme podridão de gente que os angolanos tratam por governantes, pela malária, miséria, mortes propositadas, surras, assassinatos encomendados e nem muito menos pela corrupção institucionalizada em Angola por um cidadão santomense rodeado de tanta gente de origem duvidosa.

Claro que poderia viver simplesmente sem grandes preocupações e com outras fantasias até porque estou longe desta triste, arrepiante e cruel realidade, mas graças a Deus sou dotado de um espírito combativo e cá estou para estender os meus braços me solidarizando com aqueles que sofrem sem a ilusão aventureira em um dia regressar ou aceitar ser membro de algum partido político angolano ou assumir qualquer cargo.

Claro que as minhas raízes não se encontram naquele país, nem na nave que cobre todos os anos no inverno as belas paisagens das regiões de Konstanz, Hamburgo, Bremen e outras.

Mas que fique bem claro, sou de tomar decisões bem medidas e calculadas, e foi assim que fiz quando optei pela nacionalidade alemã. Se uma coisa eu trouxe na bagagem quando abandonei Angola é a certeza de nunca mais voltar.

Sou um angolano da Diáspora e com muito orgulho e não está escrito em lado nenhum que cada um tem que viver e morrer onde nasceu!!!

Vou fazendo o que posso para ajudar os angolanos e aqueles que pensam que as minhas ajudas têm se limitado simplesmente a textos críticos que escrevo estão enganados, pois não conhecem o outro lado da minha contribuição em prol da luta pela libertação dos angolanos desta enorme podridão de criminosos que governa Angola.

Já o outro dizia, se calhar até bem dito: "Quem nos comeu a carne já não nos pode comer os ossos"

Fórum Livre Opinião & Justiça - Fernando Vumby

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