quinta-feira, 21 de abril de 2016

CPLP com missão de observação das presidenciais na Guiné Equatorial a partir de sexta-feira



A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) vai ter a partir de sexta-feira uma missão de observação das eleições presidenciais na Guiné Equatorial, disse hoje à Lusa o secretário executivo da organização.

A missão, composta por cinco elementos, será chefiada pelo embaixador de Timor-Leste junto da CPLP, Antonito de Araújo. A equipa segue na sexta-feira para a Guiné Equatorial, onde deverá permanecer até meados da próxima semana, adiantou à Lusa Murade Murargy.

As eleições presidenciais na Guiné Equatorial - que aderiu à CPLP em 2014 - decorrem no próximo domingo e contam com sete candidatos, entre os quais o Presidente cessante, Teodoro Obiang Nguema, no poder desde 1979.

Os candidatos que defrontarão Obiang são Bonaventura Monsuy Asumu, do Partido da Coligação Social Democrata (PCSD), Carmelo Mba Bakale, da Ação Popular da Guiné Equatorial (APGE), Avelino Mocache Mehenga, da União do Centro Direita (UCD), e três candidatos independentes, cujos partidos ainda não foram legalizados, Agustin Masoko Abegue, Benedicto Obiang Mangue e Tomas Mba Monabang.

Recentemente, o Governo português, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pediu às autoridades da Guiné Equatorial "passos claros e evidentes do ponto de vista da democratização política e, nesse plano, a forma como irá decorrer a campanha, a eleição e o apuramento de resultados na eleição presidencial é determinante".

A Frente da Oposição Democrática (FOD), coligação que reúne os principais partidos da oposição na Guiné Equatorial, apelou a 23 de março ao boicote das presidenciais, considerando estarem reunidas todas as condições para "fraudes".

O líder do partido da oposição na Guiné Equatorial Cidadãos pela Inovação, cuja candidatura foi rejeitada, disse à Lusa que a decisão foi "política e não jurídica".

As eleições presidenciais estavam previstas para novembro, tendo sido antecipadas para 24 de abril por decreto presidencial e sem explicação oficial, o que foi contestado por opositores.

Decano em termos de longevidade no poder dos chefes de Estado africanos, Obiang Nguema, 73 anos, venceu as presidenciais de 2009 com 95,3% dos votos.

O seu regime é regularmente criticado por organizações de defesa dos direitos humanos pela repressão dos opositores, da sociedade civil e dos meios de comunicação social, assim como pela extensão da corrupção.

Lusa

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Brasil. POR QUE AINDA NÃO PRENDERAM EDUARDO CUNHA?



Por que Eduardo Cunha ainda não foi cassado e condenado? Será que as manobras, artifícios, pressões, lobbies e todos os mecanismos de defesa que o mantiveram imune, até agora, serão suficientes? Até quando? Saiba o que seria necessário fazer para mudar o cenário favorável em relação ao presidente da Câmara

Patricia Faermann, Jornal GGN*

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) conseguiu sair vitorioso neste domingo (17). Dentro dos limites legislativos que poderia transitar, mobilizou um país em favor de seus interesses, usando as fracas sustentações de pedaladas fiscais, para a derrubada de um presidente da República. Para chegar a este ponto, não mediu ações em manobras sequenciais, em regras determinadas de última hora, a seu critério e sem consenso parlamentar, e o uso de todas as brechas de uma lei que o Brasil não esperava usar em seu início dedemocracia.

Por outro lado, foram essas mesmas artimanhas que o fizeram segurar sua cadeira na Presidência da Câmara, mesmo carregando a pressão de ser o primeiro político réu da Operação Lava Jato, com uma denúncia aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dois inquéritos que investigam outros desdobramentos do mesmo caso que indica um benefício de, pelo menos, R$ 5 milhões em corrupção da Petrobras, e outras apurações em andamento na Procuradoria-Geral da República.

A ousadia de se vender como inocente em uma ação penal, que logo na primeira instância já prendeu e condenou três de seus coautores no esquema montado entre a estatal e ele – Eduardo Cunha(dizem os autos da PGR e também de Sergio Moro, da Federal de Curitiba), foi a mesma que o fez simplesmente ignorar um pedido do Supremo de esclarecimentos e afirmar que todas as suas respostas já foram proferidas na CPI da Petrobras, em março de 2015. Aquela, em que seus companheiros de Câmara o aplaudiram veementemente e a bancada governista temeu enfrentá-lo com indagações. Deixou de prestar mais informações porque, afinal, estava ocupado com a sessão de impeachment contra Dilma Rousseff que ocorreria duas semanas depois.

A confirmação, com provas, do Ministério Público suíço de que Cunha mentiu naquela Comissão Parlamentar e que, sim, mantinha contas secretas em paraísos fiscais em seu nome, de sua esposa e de sua filha, não mudou tanto o cenário de aplausos daquela CPI para a votação deste domingo. Diversos votos pró-impeachment proclamaram Cunha o herói responsável pela queda de Dilma.

Mas será que as manobras, artifícios, pressões, lobbies e todos os mecanismos de defesa que o mantiveram imune, até agora, serão suficientes? Até quando? A Constituição, que teve seus trechos considerados suficientes para impedir Dilma Rousseff do comando do país na visão dos deputados, não garante também o afastamento de Cunha?

Eduardo Cunha pode ser retirado da presidência da Câmara por duas vias. Por decisão da maioria do plenário da Câmara ou por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). No momento atual, os dois casos apresentam pontos favoráveis ao peemedebista.

Afastamento pela Câmara

A primeira das opções deve partir de um processo de cassação contra o parlamentar. Hoje, tramita noConselho de Ética da Casa um processo solicitado por 46 deputados do PSOL, Rede, PT, PSB e PROS. Acontece que grande parte das manobras feitas por Cunha e seus aliados foram justamente nessa Comissão, com vistas a adiar e a favorecer para que, sequer, ocorra a abertura da cassação.

No meio da semana turbulenta do processo de impedimento, Cunha revezava-se entre as estratégias para que a Comissão do Impeachment liberasse o parecer, que as sessões com discursos de deputados fossem cumpridas em tempo hábil e que a votação final coincidisse com o planejado, para o domingo, ao mesmo tempo em que mantinha as vistas no processo que tramita contra ele.

Foi na última quarta-feira (13) que o deputado Fausto Pinato (PP-SP) renunciou ao seu posto no Conselho de Ética da Câmara. Pinato votava pela admissibilidade da cassação contra Cunha. Chegou a ser o primeiro relator do caso, sendo destituído em manobra de aliados do peemedebista. A sua saída foi justificada pela pressão do PRB. O antigo partido de Fausto Pinato é que o havia indicado para oConselho, e alegava querer a representatividade na Comissão.

Curiosamente, a bancada de 22 deputados do PRB votou com unanimidade a favor do impeachment de Dilma. Entre os que pressionaram Pinato a deixar o posto foi a deputada Tia Eron (PRB-BA) que, momentos depois, foi anunciada como substituta no Conselho. No dia seguinte ao anúncio, ela declarou que a Câmara “produziu como nunca” com o comando de Eduardo Cunha na Casa. “Claro que eu tenho de comemorar, isso é um grande ganho político para a população brasileira“, afirmou, referindo-se ao seu voto por Cunha à Presidência, em 2015.

Com a entrada de Tia Eron no Conselho de ÉticaCunha já pode ter alcançado maioria no colegiado. Na primeira fase de apreciação do relatório que elencava motivos para o afastar, o peemedebista foi derrotado por uma margem apertadíssima – 11 votos a 10, após o chamado voto de minerva do presidente do ConselhoJosé Carlos Araújo (PR-BA), porque o resultado antes implicava um empate ao deputado.

Com a garantia da aliada de Cunha no Conselho, o placar possivelmente virará a favor do presidente da Câmara, vencendo por 11 votos a 9, não cabendo o voto de desempate de Araújo. O caso, assim, morreria antes mesmo de ir ao Plenário da Câmara.

Afastamento pelo Supremo

Está nas mãos do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, três inquéritos contra o presidente da CâmaraEduardo Cunha. Em um deles, o parlamentar já é réu, porque o Supremo aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República de prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Outro é uma denúncia apresentada pelo MPF e um terceiro inquérito está em fase de apuração.

O primeiro trata-se da ação penal que indica o recebimento de, pelo menos, 5 milhões de dólares para viabilizar a construção de dois navios-sonda da Petrobras, sem licitação. O processo é o mesmo que condenou, em agosto de 2015, Nestor Cerveró, Fernando Baiano e Julio Camargo, pela Justiça Federal do Paraná. A sentença afirma que os três, condenados à prisão e multa, pagaram o montante de propina a Eduardo Cunha.

Entretanto, as provas trazidas contra o deputado o incriminam em ações a partir de 2010. A denúncia enviada pelo MPF também incluía práticas de corrupção em 2006 e 2007, anos em que os investigadores ainda não conseguiram trazer provas do envolvimento. Por isso, a ação foi aceita parcialmente pelos ministros da Corte.

“A denúncia trouxe reforço narrativo lógico e elementos sólidos que apontam ter ambos os denunciados, Eduardo Cunha e Solange Almeida, aderido à exigência de recursos ilícitos nesse segundo momento, entre 2010 e 2011“, disse Zavascki, no início de março deste ano.

Com o acolhimento da denúncia, o Supremo abriu prazos para a PGR e a PF seguirem com as investigações, na tentativa de levantarem as provas para os anos de 2006 e 2007, e também paraCunha se defender. Foram nessas solicitações que o presidente da Câmara foi intimado a depor e preferiu não prestar esclarecimentos, afirmando que já havia quitado todas as informações durante a CPI da Petrobras de 2015.

Também tramita nas mãos de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, os autos sobre as contas secretas mantidas por Cunha no exterior, em paraísos fiscais, e que, segundo os investigadores, foram usadas para o parlamentar receber as propinas de contratos da estatal.

Em um desses casos, a PGR já enviou denúncia ao Supremo informando que o deputado praticou evasão de divisas, corrupção passiva e lavagem de dinheiro por manter contas na Suíça. De acordo comJanotCunha tem pelo menos US$ 1,31 milhão em uma dessas contas, quantia recebida como propina por intermediar a aquisição de um campo de petróleo em Benin, na África, pela Petrobras.

No mesmo processo, Janot aponta que o peemedebista praticou crime de falsidade ideológica e eleitoral, por omitir esses rendimentos na prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em resposta, a PGR pediu ao Supremo que Eduardo Cunha perca o mandato parlamentar e pague R$ 10,5 milhões, duas vezes o valor encontrado na Suíça, como forma de reparar danos materiais e morais.

O segundo processo, ainda em fase de inquérito, sem denúncia apresentada, é o que apontou, também na última semana, que Cunha recebeu R$ 52 milhões em 36 parcelas de propina pelo consórcio formado pela OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia, na aquisição dos Certificados de Potencial de Área Construtiva para as obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, em 2011. As parcelas foram depositadas em diversas contas do peemedebista no exterior.

No total, são dois processos já nas mãos de Teori Zavascki, aguardando o prosseguimento natural de defesa e acusações, além do posicionamento dos ministros do STF, e um dos processos encontra-se na Procuradoria-Geral da República, onde ainda precisa avançar nas buscas e apurações.

Apesar de tantos indícios, a Eduardo Cunha foi garantido o princípio da presunção da inocência e, por isso, pode ser que ele não seja afastado do cargo. O que está em análise é um quarto pedido deJanot, com base em todas essas investigações, solicitando o afastamento do peemedebista da Presidência da Casa.

Aí é que entram as divergências. Há quem defenda que Cunha pode ser obrigado a deixar a cadeira pelo STF, com base no Decreto Lei 201, que trata do afastamento de prefeitos e chefes do Legislativo. De acordo com o decreto, representantes eleitos pelo voto popular só podem ser afastados após a instauração de processo por crime comum ou de responsabilidade – que o peemedebista tem de sobra.

Entretanto, alguns juristas entendem que o afastamento de um presidente da Câmara é questão exclusiva do Legislativo e que a interferência do Judiciário seria um desacato ao princípio de autonomia e independência entre os Três Poderes. Por isso, seguindo essa linha, não caberia aoSupremo afastar Cunha. Essas duas linhas de discussão deverão estar presentes quando o processo do peemedebista for discutido pelo Plenário do STF.

Independentemente disso, o Supremo, contudo, tem a sua agenda de processos prioritários e de emergência ocupada, neste momento, por possíveis liminares, medidas cautelares e recursos do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

Todo esse andamento fez com que Eduardo Cunha, de forma consciente e estrategista, avançasse no processo que incide sobre Dilma, ao mesmo tempo que garantisse o atraso, ou até mesmo a paralisação, das possibilidades que recaem sobre o seu próprio afastamento.

*Em Pragmatismo Político


Bernie Sanders faz pronunciamento corajoso sobre DNA golpista dos EUA no Brasil



“Temos que ser honestos. A história dos Estados Unidos em relação à América Latina foi a de uma nação poderosa, com o exército mais forte do mundo, dizendo: ‘Não gostamos deste governo, vamos derrubá-lo'”. Bernie Sanders afirma que a política intervencionista de seu país na AL deve terminar, para que se inicie um novo período baseado no “respeito mútuo”.

Bernie Sanders, pré-candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, disse que a política intervencionista de seu país na América Latina deve terminar, para que se inicie um novo período baseado no “respeito mútuo“.

“Temos que ser honestos. A história dos Estados Unidos em relação à América Latina foi a de uma nação poderosa, com o exército mais forte do mundo, dizendo: ‘Não gostamos deste governo, vamos derrubá-lo’“, disse o senador pelo estado de Vermont. Ele afirmou que o “caos” e “massacres” sucederam os golpes de Estado.

“Os Estados Unidos não podem continuar intervindo na América Latina e derrubando governos ou tentando desestabilizá-los por razões econômicas“, disse o pré-candidato durante um bate-papo com o vocalista do grupo porto-riquenho Calle 13, René Pérez “Residente”, cujo vídeo foi divulgado na internet.

O pré-candidato se alçou como o “único” com uma visão das relações diplomáticas com a América Latina diferente da que imperou nas últimas décadas. Ele concorre com a ex-secretária de EstadoHillary Clinton para obter a candidatura democrata. Donald Trump e Ted Cruz disputam a indicação republicana.

Sanders garantiu que, se chegar à Casa Branca, fomentará “uma nova relação baseada no respeito mútuo” com a América Latina e criticou a atual administração do presidente Barack Obama por não ter feito o mesmo.

O senador e Hillary se enfrentam nesta terça-feira (19) nas primárias do estado de Nova York, nas quais a ex-secretária de Estado aparece como favorita segundo a maioria das pesquisas. Os republicanos também vão às urnas para escolher entre Trump ou Cruz.

Golpes militares

Sem mencionar o nome de Hillary Clinton, o vocalista do grupo Calle 13 comentou sobre a relação da ex-primeira-dama com o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, que é apontado como um dos responsáveis por promover os golpes militares dos anos 70 no Cone Sul.

“Não compreendo como um latino pode apoiar a mesma candidata que apoia Kissinger, que tanto prejuízo causou para a América Latina“, afirmou René Perez. Sanders disse que Kissinger “causou” prejuízo à América Latina.

O pré-candidato se referiu especificamente ao caso de Salvador Allende, no Chile. “Não é um segredo que Allende foi derrubado pela CIA e que após isso surgiu um governo neofascista que foi responsável pelo assassinato de milhares de pessoas. Isso é inaceitável“, disse o senador.

Sanders também mencionou sua viagem à Nicarágua durante os anos 80, para mostrar sua rejeição ao apoio dos EUA e do presidente então presidente americano, Ronald Reagan, aos Contras – um grupo armado financiado pelos EUA para lutar contra a Revolução Sandinista.

Ele também se disse favorável a tornar Porto Rico um estado de pleno direito dos EUA – atualmente, é um Estado Livre Associado – e a promover um referendo para que os cidadãos possam decidir sobre o status político da ilha, com a independência entre as opções.

EFE – em Pragmatismo Político

VAMOS FAZER HISTÓRIA NO DIA 22 DE ABRIL



Lembre-se deste número: 1,5 grau. Esse é o limite máximo para o aquecimento global. É abaixo desse número que os nossos governos vão tentar se manter, conforme o que acordado nas negociações climáticas globais em Paris no ano passado. Tudo que nós fizermos a partir de agora será medido em relação a esse aumento.

Samantha Smith, do WWF Brasil*

Conseguir o Acordo de Paris foi uma grande conquista dentro de uma luta maior. Agora, os países precisam garantir que o acordo se torne uma realidade, primeiro, assinando-o e, em seguida, tomando medidas nacionais para transformá-lo em leis, regulamentações e políticas.

A assinatura é importante porque o acordo não pode entrar em vigor até que pelo menos 55% dos países membros o tenham assinado e ratificado, sendo que esses países precisam representar pelo menos 55% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa. Assim, já que os países têm um ano para assinar o acordo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, está colocando todos os seus esforços para assegurar que mais de 192 países assinem o acordo em uma reunião de alto nível das Nações Unidas esta semana, em Nova Iorque.

Aqui no WWF, esperamos que todos os países façam história com a assinatura do acordo em 22 de abril. Esta seria uma indicação política poderosa. No entanto, precisamos ainda mais. Assim como fizeram em Paris, os governos devem aproveitar esta oportunidade para ir mais longe, anunciando novas ações em escala crescente para sair de combustíveis fósseis rumo às energias renováveis, proteger as florestas ou mudar de investimentos sujos para limpos. Eles também devem anunciar seus planos para tornar suas promessas existentes mais ambiciosas.

Eis o porquê disso:

•O mundo já está 1º Celsius mais quente em relação ao período Pré-Industrial, então ficar abaixo de 1,5º C é um enorme desafio. Se os países não fizerem mais do que prometeram em seus planos nacionais para o clima com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, estaremos no caminho certo para mais de 3º C de aquecimento. Os cientistas afirmam que 1,5º C é um limite máximo crítico, que determinaria o curso da elevação do nível do mar e o destino dos países de baixa altitude, recifes de coral, florestas tropicais e ecossistemas do Ártico. Os governos estão ouvindo e é por isso que vimos o 1,5º C consagrado no Acordo de Paris.

•O calor está se tornando normal. O ano de 2015 bateu 2014 como “o mais quente registrado da história” e organizações meteorológicas já estão prevendo que 2016 será o novo “ano mais quente da história.” Janeiro e fevereiro deste ano quebraram o recorde de “mês mais quente” e os meteorologistas classificaram os recordes de fevereiro como “esmagador”, ” “sem precedentes” e “explosivo”. Fevereiro de 2016 também marcou o 10º mês consecutivo em que o recorde mensal da temperatura global foi batido. No geral, os seis maiores recordes mensais de temperatura ocorreram todos nos últimos seis meses. Os nove maiores registros mensais de temperatura global dos oceanos ocorreram todos nos últimos nove meses (desde julho de 2015). O Ártico experimentou condições excepcionalmente quentes em janeiro e fevereiro, sendo responsável por outro recorde: o de menor extensão de gelo marinho que já houve.

•Os impactos de um mundo mais quente já estão sendo sentidos, e os cientistas nos dizem que a adaptação vai ajudar-nos apenas até certo ponto. Dr. Jeff Masters e Bob Henson observaram que “fevereiro de 2016 trouxe uma série de eventos climáticos extremos que se eram mais prováveis em um clima mais quente. E, como advertimos repetidamente que provavelmente aconteceria, estes impactos vieram principalmente em países menos desenvolvidos – aqueles com menos recursos disponíveis para lidar com as perigosas mudanças climáticas”. Eles disseram que, de acordo com o documento February 2016 Catastrophe Report, da seguradora Aon Benfield, “três nações – Vietnã, Zimbábue e Fiji – sofreram desastres climáticos extremos em fevereiro de 2016, o que custou pelo menos 4% do seu PIB”. Eles ainda observaram que, segundo o Banco de Dados de Desastres Internacional, “estes desastres bateram recordes como os mais caros desastres relacionados com o clima de toda história em suas nações. Para ter uma ideia, nove nações tiveram os seus mais caros desastres naturais de toda a história relacionados ao clima em 2015. ”

•Os níveis de CO2 na atmosfera tiveram o maior aumento ano-a-ano em 56 anos (desde que estes números começaram a ser registrados pelo Observatório Mauna Loa, no Havaí). E 2015 foi o quarto ano consecutivo em que as emissões de CO2 cresceram mais de duas partes por milhão. Pieter Tans, cientista-chefe da estufa global Rede de Referência em Gases de Efeito Estufa de NOAA, chama esses registros de “explosivos em comparação aos processos naturais” e observou que “os níveis de CO2 estão aumentando mais rápido do que em centenas de milhares de anos”.

Sejamos claros: Nós estamos vendo um mundo de rápido aquecimento, com um clima de desestabilização. A ação decisiva pode nos tirar deste caminho, mas não há tempo a perder. Os países devem aumentar os compromissos assumidos em Paris e transformá-los em ações concretas e rápidas de volta a um passado que produza menos poluição climática e uma transição justa para pessoas e comunidades. Isso começa com a assinatura do Acordo de Paris em 22 de abril, mas não termina aí.

Pessoas de todo o mundo estão mais preocupadas com as alterações climáticas do que nunca. E deveriam estar. Mas a boa notícia é que nossos líderes políticos estão preocupados também. Vimos isso em Paris e esperamos que vamos que se repita em 22 de abril. Vamos fazer história pela assinatura do Acordo e mostrar como os governos vão transformar suas grandes ambições em ação. (WWF Brasil/ #Envolverde)

*Envolverde - Publicado originalmente no site WWF Brasil.

“Se transferências para offshores pagassem 10% de imposto Portugal não tinha défice”



Em sessão pública em Lisboa, Catarina Martins afirmou: “A aplicação de residentes portugueses em offshores se pagasse 10% de imposto dava para pagar todo o défice de 2016 e o Estado ainda era superavitário”. Na próxima semana, o Bloco apresentará um pacote legislativo sobre offshores, incluindo a praça financeira da Madeira.

Realizou-se nesta quarta-feira à noite uma sessão pública do Bloco de Esquerda sobre o tema "Que mudanças para o país?", onde intervieram Catarina Martins, Pedro Filipe Soares, José Gusmão e Ricardo Paes Mamede. Neste artigo, tratamos a intervenção da porta-voz do Bloco de Esquerda, noutros artigos divulgaremos as intervenções dos restantes oradores.

Endividamento estrutural e como lhe responder

Na sua intervenção, a porta-voz do Bloco de Esquerda começou por salientar que Portugal tem um problema na economia, o endividamento externo.

Reafirmando a necessidade de reestruturação da dívida, Catarina Martins apontou que é preciso “atacar o endividamento externo” e denunciou que a “direita tentou fazê-lo com a austeridade, mas falhou redondamente. Porque não alterou nenhum dos problemas estruturais e apenas os agravou”.

“A estratégia da direita foi ruinosa. O ajustamento da balança comercial aconteceu sempre à custa de crescimento. Conseguimos ter uma balança comercial melhor, se formos mais pobres. No Bloco achamos que este não é o caminho. Não podemos achar que o problema do endividamento externo é resolvido empobrecendo a população”, realçou a deputada.

“O Bloco recusa a ideia de que o problema do endividamento externo se resolve empobrecendo as pessoas. É com as pessoas a viver com dignidade que se resolvem os problemas estruturais”, sublinhou ainda Catarina Martins.

Nesse sentido, o Bloco apresenta propostas em diversos campos para “devolver rendimentos às pessoas sem desequilibrar a balança corrente, sem isso provocar endividamento externo”.

A porta-voz do Bloco apresentou vários temas, os quais foram desenvolvidos pelos restantes oradores da sessão.

“Como é que criamos emprego? Como é que esse emprego é de qualidade? Como isso é feito reduzindo o endividamento externo do nosso país?”, questionou e apontou outras temáticas: “endividamento das instituições financeiras e problemas fiscais”, “problemas da fatura energética que pesam muito em Portugal” e as “questões da balança alimentar porque as questões da soberania alimentar (…) são essenciais para equilibrar produção nacional”.

“Se as transferências para offshores pagassem 10% de imposto o Estado era superavitário”
“A União Europeia (UE) em 3 anos perdeu [com os offshores] três vezes mais do que todo o programa da troika para Portugal”, denunciou Catarina Martins.

A porta-voz do Bloco salientou que “tendo em conta os dados que existem, que não são todos e queremos conhecer mais”: “A aplicação de residentes portugueses em offshores se pagasse 10% de imposto dava para pagar todo o défice de 2016 e o Estado ainda era superavitário”, sem precisar de mais nenhuma medida.

Lembrando que o problema dos offshores não é apenas um problema português é sim um problema global e que Portugal sozinho não pode resolver, Catarina Martins afirmou que, no entanto, cada vez que isto é dito, isso “significa que nada vai mudar e isso não pode acontecer”.

A deputada denunciou que os offshores são um”assalto organizado dos mais ricos dos mais ricos do planeta contra os povos e contra as nações”, e, perante as diferentes interpretações existentes sobre o que é um offshore, Catarina Martins propôs uma definição simples: “Qualquer sítio onde alguém vai pôr dinheiro para esconder a sua proveniência ou para não pagar imposto é um offshore”.

“Portugal devia dar o exemplo com a Madeira”, apontou a deputada, lembrando que o centro internacional da Madeira tem empresas que produzem e criam emprego, e essas que estão numa região europeia ultra-periférica, devem ser protegidas, mas tem também empresas que são apenas um apartado e aí trata-se de um offshore.

A porta-voz do Bloco anunciou que o partido vai apresentar na próxima semana um pacote legislativo, onde se inclui medidas face ao offshore da Madeira.

Catarina Martins falou também do peso dos encargos com as PPP e apontou que as renegociações que existiram anteriormente, nomeadamente as conduzidas por Sérgio Monteiro no governo PSD/CDS-PP ou significaram “tirar custos agora para pagar mais no futuro” ou “reduziram custos de manutenção, mas não lucros de privado”.

Assim, o Bloco proporá “medidas diferentes de como o Estado age sobre transparência de políticas públicas”, a criação de uma “unidade técnica do Estado”, em vez do constante outsourcing para empresas e escritórios de advogados. Proporá ainda a “obrigatoriedade do parecer vinculativo do Tribunal de Contas sempre que há operações que podem aumentar o endividamento público”, o alargamento de competências do Tribunal de Contas “no que diz respeito a fiscalização prévia”, entre outras medidas.

“Criar emprego porque é o principal problema em Portugal”

A encerrar a sessão, Catarina Martins realçou que “o Bloco de Esquerda não falta a nenhum debate, não falta ao debate do programa nacional de reformas”, apontando que para “combater o endividamento externo” é preciso falar de “coisas essenciais como a reestruturação da dívida pública, o sistema financeiro e também a energia”.

“Criar emprego porque é o principal problema em Portugal e é a necessidade a que temos de responder. Se não formos capazes de criar emprego não estamos a fazer a recuperação de rendimentos de quem vive do seu trabalho” destacou Catarina Martins, apontando que “para isso é preciso investimento e estratégia, que deve centrar-se nas questões da eficiência energética, na descarbonização da economia, deve centrar-se nas questões da soberania alimentar. Aquelas matérias em que ao mesmo tempo que se cria emprego se reduz o endividamento externo”.

Por fim, a porta-voz do Bloco apontou: “ Se queremos criar emprego temos de criar emprego de qualidade e, portanto, é preciso retirar a troika das relações laborais. Isso exige recompor vínculos laborais, que respondam a quem trabalha com a dignidade e o salário que merecem”.

Em próximos artigos do esquerda.net daremos conta das restantes intervenções nesta sessão pública.

Esquerda.net

Portugal. MEXIA VAI GANHAR MAIS DE 7 MIL EUROS POR DIA NA EDP



EDP adota nova política de remunerações. Ordenado de Eduardo Catroga passa de 490,5 mil para 515 mil euros. Já o salário fixo de António Mexia sobe de 600 mil para 800 mil euros, mais 33%, ao qual se soma uma componente variável, num total que pode ascender a 2,6 milhões anuais.

Esta terça-feira, a Assembleia Geral da EDP aprovou uma proposta da Comissão de Vencimentos (CV) que visa, tal como recomenda um estudo encomendado à Mercer, “alinhar a atual política [de remunerações] com as praticadas no mercado”, mediante “alguns ajustamentos ao nível da remuneração fixa e dos indicadores de desempenho utilizados para o cálculo da remuneração variável anual e plurianual".

No documento, a CV, presidida por Yang Ya, representante da China Three Gorges, e à qual pertence ainda Ilídio Pinho, o empresário envolvido no caso Panama Papers, prevê o aumento do ordenado fixo anual do presidente executivo da empresa, António Mexia, de 600 mil para 800 mil euros, mais 33%. A esta quantia soma-se ainda uma componente variável, que está dependente da avaliação do desempenho individual e da empresa, e que também sofreu alterações. Se, até aqui, Mexia podia receber um salário variável anual e plurianual até 1,3 milhões de euros, esse valor passa agora a poder atingir 1,7 milhões.

No total, “o montante máximo potencial a atribuir ao presidente do Conselho de Administração Executivo” passa de 1,9 para perto de 2,6 milhões de euros por ano, o equivalente a mais de sete mil euros por dia.

A Assembleia Geral da EDP aprovou também o aumento dos salários fixos do administrador financeiro (CFO), Nuno Alves, e do administrador da EDP e presidente executivo da EDP Renováveis, João Manso Neto, que sobem de 480 mil para 560 mil euros cada um. Tendo em conta a componente fixa e variável, Nuno Alves e João Manso Neto podem receber, juntos, até 3,6 milhões de euros anuais.

A remuneração fixa dos outros elementos do Conselho de Administração mantém-se nos 480 mil euros, no entanto, mediante as alterações no salário variável, estes administradores também registarão um aumento das suas remunerações globais.

Ordenado de Eduardo Catroga passa de 490,5 mil para 515 mil euros

O presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS), Eduardo Catroga, também foi aumentado, sendo que a sua remuneração fixa passa de 490,5 mil para 515 mil euros.

A Comissão de Vencimentos que define o seu salário, e que é distinta da que determina os ordenados dos administradores executivos, refere que, apesar da sua remuneração ser “mais elevada do que a atribuída por cargos similares nas empresas comparáveis”, justifica-se o aumento porque “deve ser particularmente tido em consideração que as funções em causa são exercidas a tempo integral, que não tem qualquer outro cargo social relevante em empresas cotadas e que o cargo exige a seleção de uma personalidade que disponha de um currículo altamente qualificado com reconhecimento e notoriedade públicos”.

Esquerda.net 

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Portugal. O SALÁRIO DE MEXIA



Rafael Barbosa* – Jornal de Notícias, opinião

Estava-se mesmo a ver que esta história de aumentar o salário mínimo para os 530 euros ia acabar mal.

Bem prega a Comissão Europeia, como Frei Tomás (Torquemada para os amigos), por políticas virtuosas. Não temos emenda. Fazemos umas contas simplórias, como dividir 530 euros por 30 dias, e indignamo-nos com os 16,60 euros que isso dá. Quem vive com semelhante miséria? Uma pergunta que apenas reflete uma visão pouco qualificada sobre o mercado de trabalho. Reparem, em alternativa, no elaborado argumentário dos qualificados, e por isso bem pagos, funcionários da Comissão Europeia: "Os aumentos não parecem alinhados com a evolução macroeconómica em termos de inflação, desemprego e crescimento da produtividade". Isto sim, é que é falar. Que profundidade analítica se encontra em tentar esmiuçar a vida miserável da operária analfabeta de uma qualquer fábrica de sapatos de Felgueiras? Ou a violência contratual de uma qualquer jovenzita licenciada que trabalha numa loja de um shopping? O mais certo é que não estejam alinhadas com a evolução macroeconómica. Ou que tenham faltado à escola (a operária) ou escolhido mal o curso superior (a rapariga do shopping). Seja como for, é seguramente culpa delas, não dos inquisidores (como Frei Tomás) da Comissão Europeia, lugar onde o salário mínimo (para um trabalhador braçal) é de 1907 euros.

Mas, escrevia eu que se estava a ver que isto de aumentar o salário mínimo ia acabar mal. Porque é sabido que aumentar os rendimentos aos desqualificados do calçado, têxtil, supermercados, lojas, ou da construção civil tem um efeito dominó. A seguir, os patrões têm de aumentar os salários aos que ganham um bocadinho mais. Ora, num país em que 42% dos trabalhadores ganham menos de 600 euros, é muita gente a reclamar aumentos. Mais, o efeito dominó vai por aí acima, até chegar aos CEO. E é assim que chegamos à EDP e a António Mexia, que, este ano, vai ganhar mais 600 mil euros do que no ano passado, ou seja, qualquer coisa como 2,6 milhões de euros. O equivalente ao salário mínimo de 4905 operárias do calçado analfabetas e meninas do shopping com cursos de Psicologia ou Gestão.

Não se prendam, no entanto, com contas simplórias. Atentem antes na justificação da comissão de vencimentos da EDP para justificar o justo aumento de Mexia: é necessário alinhar o salário com o mercado. Ora aí está, a confirmação do efeito dominó e a prova de que os alertas da Comissão foram certeiros. Aumentam o salário mínimo aos tipos do fundo da pirâmide e a coisa vai por aí acima, acompanhando a evolução macroeconómica. Concluindo, quando, por estes dias, se indignarem no Facebook com o salário milionário de Mexia, tenham pelo menos a decência de acrescentar que a culpa é do António Costa e da "geringonça" que o acompanha.

*Editor-executivo

Portugal. COSTA MANTÉM DESCIDA DO IVA DA RESTAURAÇÃO E NÃO AUMENTA IMPOSTOS



O secretário-geral do PS, António Costa, afastou, esta quarta-feira, qualquer aumento de impostos no âmbito do Programa de Estabilidade, manteve que o IVA da restauração baixará em julho.

Estas posições foram assumidas por António Costa no final de uma reunião de hora e meia com a bancada socialista na Assembleia da República, antes da aprovação na quinta-feira, em Conselho de Ministros, dos programas Nacionais de Reformas e de Estabilidade - documentos que serão discutidos no parlamento no dia 27 e que terão de ser entregues em Bruxelas até ao final do mês.

O líder do PS e primeiro-ministro recusou a existência de medidas para aumentar impostos e disse mesmo que a descida do IVA da restauração de 23 para 13 por cento em julho próximo, "não está em cima da mesa", porque "está em Diário da República".

"A descida do IVA da restauração está no Orçamento do Estado para 2016 foi aprovado pela Assembleia da República, foi promulgado pelo Presidente da República e está publicado em Diário da República", acentuou.

Jornal de Notícias – Foto António Cotrim / Lusa 

A MORAL NUM SISTEMA CAPITALISTA AMORAL



Demétrio Alves*

Os órgãos de comunicação social estão hiperexcitados com o caso Papéis do Panamá.

Um grande manancial de documentos até agora confidenciais, levam algumas redações a paradoxais autoelogios acerca daquilo que dizem ser uma “extraordinária investigação jornalística”.

Recorde-se: tudo terá começado numa “fuga” de informação a partir de uma fonte anónima que levou a preciosa carga ao jornal alemão “Suddeutsche Zeitung”, que, numa tradução literal, significa Correio da Manhã.

E tudo isto acerca do uso legal ou ilegal das offshore por parte de pessoas já ricas e poderosas, que têm ou tiveram responsabilidades políticas, empresariais e bancárias, e que o vêm fazendo na senda de maior riqueza e poder. Nada de novo, portanto.

Mas agora é tudo aos milhões: os papéis, os personagens e os montantes financeiros que movimentam e, de passagem, os lucros acrescidos pelas empresas detentoras dos órgãos de comunicação que ganham com o aumento das audiências.

Começaram por malhar forte e feio no Putin, no Xi Jinping e, como não poderia deixar de ser à luz dos interesses geopolíticos dominantes, no Bashar, esse terrível chefe do “regime” sírio.

Para compor o ramalhete apareceu um Xeque dos EAU, o Sigmundur da Islândia, o fascista da Ucrânia, o senhor da Arábia, e, de passagem o Cameron , o Macri, o Messi e o maltês.

Desde logo é legítimo perguntar por que motivo não há nenhum gringo apanhado com a boca no offshore? Não seria necessário ser o Obama ou o Trump, bastaria um qualquer texano ligado aos petróleos. Mas, nem um para amostra, e logo na pátria do empreendedorismo financeiro?!

Também faz sentido colocar uma outra questão aparentemente lateral: lá porque um cunhado, um primo, um sobrinho, um amigo, próximo ou afastado, se envolve em negócios escuros, terá isso que significar que o político correlacionado está imediata e inquestionavelmente ligado à trafulhice?

Não haverá como pôr tranquilamente as mãos no lume pelos rapazes acima mencionados. Mas são muitas e manifestas as diferenças nos rastos que foram exibidos para os tentar incriminar. Alguns puseram o próprio dedo na geleia e levaram-na à boca, outros, como Putin ou o líder chinês, não há provas de que o tivessem feito.

Uma coisa é certa: desde há muitos anos sabe-se da utilidade fulcral das offshore no mundo da fuga aos impostos (por vezes designada otimização fiscal) e da lavagem de dinheiro proveniente da corrupção, da droga e do tráfico de armas.

Estas práticas criminosas, porque provocam danos gravíssimos aos povos de todas as latitudes, justificariam por si só a eliminação deste instrumento criado à luz da “liberdade” da circulação de capitais financeiros. Mas, como é conhecido, há indivíduos, jornais e partidos políticos “democráticos” que se indignam sempre que alguém propõe o fim destes esquemas. E utilizam, na defesa da tal “liberdade empreendedora”, as mais esfarrapadas desculpas: que não adianta acabar com a coisa na Madeira, porque continuaria a haver opções nas ilhas Caimão; porque as offshore’s podem trazer emprego nos sítios onde estão implantadas; que as ditas também servem propósitos legais e transparentes, etc.

Embora sejam evidentes as distorções políticas oportunistas semeadas à passagem do caso– tenta-se fazer passar a ideia de que nesta coisa das vigarices financeiras não há esquerda nem direita – ele pode vir a alertar o público para a dimensão brutal da podridão que grassa no mundo dos negócios e da finança à escala global. Que não haja ,contudo, ilusões, a percepção possibilitada às massas consumidoras deste tipo de “informação/diversão” está distorcida à partida pela forma folhetinesca como é fornecida: no fundo não se pretende informar formando opinião esclarecida e interventora, mas, pelo contrário, alienar, distrair do essencial, propagandear os méritos de um sistema que permite estas “liberdades de informação”, e, de caminho, fazer dinheiro para proveito dos empórios da comunicação. No fim, como é hábito neste tipo de terapias hipnóticas, tudo continuará na mesma.

Mas, pergunta-se, este espetáculo degradante e perigoso é apenas fruto da atuação pontual de alguns empresários, advogados, banqueiros e políticos gananciosos e sem escrúpulos que não respeitam as “regras” do mercado e do capitalismo?

Dizem os colunistas especializados na propaganda neoliberal que a “globalização económica  verificada nas últimas décadas é um dos fenómenos mais estimulantes da história da humanidade que retirou milhões de seres humanos da miséria”. O problema, acrescentam, é a existência de “alguns gananciosos tresmalhados” que, independentemente do sistema económico e fruto das imperfeições humanas, desataram a praticar abundantemente os pecados da avareza e da luxúria. A culpa não seria do sistema, mas de imoralidade de alguns dos indivíduos nele mandantes. Aliás, acrescentam, basta ver o caso chinês: trata-se de um regime comunista onde têm emergido vários casos de corrupção e enriquecimento escandaloso.

Embora não seja possível tratar os casos de corrupção ocorridos em ambiente sistémico socialista da maneira simplista como o fazem, por oportunismo, os formadores de opinião arregimentados no sistema capitalista, não se pode esconder que o fenómeno, embora existente, tem merecido severidade e crescentes corretivos das autoridades chinesas. E, já agora, não é verdade que na China, por motivos de sobrevivência, primeiro, e crescimento, depois, coexistem “dois sistemas”? Então, porque não admitir, sem querer esgotar a questão, que estes problemas se devem à parte capitalista dos “dois sistemas”?

O problema central aportado pelo capitalismo não está na sua maior ou menor moralidade. O núcleo essencial dos desequilíbrios, da desumanidade e dos perigos que o capitalismo contem está amplamente estudado e teorizado, radicando na natureza da sua matriz económica e política: é um sistema que se baseia na exploração do trabalho e dos recursos, que aponta para um conjunto de valores que visa sacralizar o lucro e o individualismo.

Contudo, mesmo quanto à violentação dos valores éticos, é hoje possível perceber que a realidade retratada nas ultimas crises financeiras, nas derrocadas bancárias e nos circuitos da corrupção e fuga ao fisco, não corresponde à exceção, mas, sim, à regra: faz parte do âmago matricial capitalista o principio de que “ cada um é livre para explorar os outros e a terra comum”. Ora, nas últimas duas décadas e meia, esta “liberdade” tornou-se mais descarada e incontrolável, na medida em que aumentaram as liberalidades de circulação de capitais e de exploração laboral, montadas nas poderosas tecnologias comunicacionais, nas técnicas de rede organizacional corporativa, na governança, no empreendedorismokrill e, por fim, na fragilização do projeto socialista, no endeusamento do consumo e do individualismo.

Enfim, à medida que o capitalismo tomou o freio nos dentes, assume, com evidencia crescente, ser um sistema amoral.

*Praça do Bocage

SAI UM PROGRAMA DE ESTABILIDADE PARA A MESA DO CANTO



Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Martim Silva – Expresso

Sai um Programa de Estabilidade para a mesa do canto

Hoje é dia de Programa de Estabilidade. Só se fala de austeridade, impostos, geringonça, défice, contas públicas e outros ingredientes mais ou menos indigestos.

O Curto de hoje tem esse tema como destaque ou não se preparasse o governo para aprovar o documento na reunião do Conselho de Ministros. Se o OE é o documento que diz o que vamos gastar no ano seguinte, o Programa de Estabilidade (ex-Programa de Estabilidade e Crescimento) é o documento aprovado durante a Primavera, para mostrar em Bruxelas, e que aponta as linhas para os anos seguintes.

Basta olhar para a capa dos jornais para se perceber como as contas do Estado são hoje o tema dominante:

"Governo só prevê saldo positivo no Estado em 2020", Jornal de Notícias
"António Costa empurra para o fim da legislatura cortes na despesa ou subida de impostos", Diário de Notícias
"Plano de Reformas inclui 1,3 mil milhões para dívida dos hospitais", Público
"Governo congela Estado", i

Já se sabe que de cada vez que se fala do Programa de Estabilidade, estremece tudo. Não há assunto que gere mais instabilidade que o debate sobre o Programa de Estabilidade. É uma espécie de bicho-papão da política portuguesa. Ainda para mais com um governo sem maioria, que é contra a austeridade, que é suportado por partidos que abominam a austeridade, que tem de aplicar austeridade mas dizendo que não é austeridade e se tiver de avançar com mais austeridade não sabe como fazer ou então decide ir empurrando com a barriga que amanhã é outro dia.

Perante o avolumar de notícias e o aumentar da pressão em torno do que o Programa podia trazer de más notícias, foi o próprio chefe do Governo que veio ontem à noite a público garantir que com o Programa de Estabilidade não haverá qualquer aumento do IVA ou outra má notícia semelhante. E que a única surpresado documento "é não ter surpresa nenhuma".

Também Catarina Martins veio a público garantir que plano 'b' nem vê-lo.

O porta-voz do governo... perdão, o Presidente da República,Marcelo Rebelo de Sousa, também já veio dizer que é preciso que Bruxelas dê o ok às previsões do Governo.

(Se estão certas ou não, isso é outra coisa, mas nós cá não queremos chatices e portanto não levantem problemas, ok?)

Em relação a este ano, o Governo mantém intactas as previsões de crescimento económico (1,8%), apesar de haver muitas dúvidas sobre a meta vindas de várias instituições. Já para o ano, acredita que o défice vai baixar dos 2,7% para os 1,4%, o que significa um aperto de 1400 milhões.

(é só para o ano, depois pensamos nisso)

Nos anos seguintes o Governo aperta ainda mais o défice, de forma a que chegue a um valor de zero na próxima legislatura.

(consta que quem escreveu isto no Programa de Estabilidade teve um súbito ataque incontrolável de riso)

Resumindo, o Governo acredita que a economia afinal vai crescer menos do que o previsto. Mas que o défice vai, ao contrário, crescer muito mais do que o inicialmente previsto (como o Público afirma, o governo mudou mas o valor previsto de redução do défice mantém-se: 1,6 pontos em dois anos)

Além da aprovação do Programa de Estabilidade, hoje o Conselho de Ministros avança também com o Plano Nacional de Reformas. Que na edição de hoje o Público avança que prevê pagar 1,3 mil milhões de euros de dívida acumulada dos hospitais públicos.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

O PSD quer que o Ministério Público instaure um inquérito-crime a Mário Centeno por causa, alegam os sociais-democratas, das mentiras do ministro no inquérito ao Banif.

O Bloco de Esquerda manifestou apoio ao Governo no caso do diploma que permite a desblindagem dos estatutos dos bancos. Para os bloquistas, esta medida serve para resolver o imbróglio no BPI.
Ainda entre os bloquistas, surgiu uma proposta de limitação salarial dos gestores públicos.
No Expresso Diário, o Henrique Raposo escreveu um texto sobre apolémica do Cartão do Cidadão. Ou melhor, a Henrique Raposa escreveu um texta sobre a polémico do Cartão da Cidadã.

Ainda na sequência do caso BPI, o Expresso Diário foi ouvirempresários nacionais com interesses em Angola. Há quem desvalorize o caso mas também há quem tema retaliações (que não seriam inéditas) do poder angolano sobre os interesses portugueses.

O governo está a investir muito na preparação da visita de António Costa a Angola, garante o ministro Santos Silva.

Dois dos mais antigos e duradouros símbolos do poder autárquico e regional em Portugal estão nesta altura a braços com a Justiça, por suspeitas na sua atuação quando estavam no poder. Um é Alberto João Jardim, o outro Mesquita Machado. Já agora e a propósito, a nossa justiça não é propriamente a melhor do mundo, mas tem um jeitinho único para dar nomes às investigações criminais. O caso em que aparece Jardim chama-se"Cuba livre". E o do antigo autarca de Braga chama-se "Convertidas".

O Governo não vai cortar nas vagas de Medicina no ensino superior.

Barões do PSD e CDS contestam escolha de Carlos Barbosa como candidato autárquico em Lisboa.

O concerto dos AC/DC em Portugal está a dar polémica. Os bilhetes já estão esgotados, mas depois de saber-se que o novo vocalista da banda é Axl Rose, houve quem reclamasse. E a Deco já veio dizer que é caso para devolução do dinheiro do bilhete.

Os "secos e molhados" foi há 27 anos. E uma repórter fotográficado Expresso lembra esse dia.

Lá fora,

No Brasil, já sabemos que o processo de impeachment de Dilma foi avante, passou no congresso, e que agora terá de ser votado no Senado. O que a Veja mostra é como vão votar (a menos que haja qualquer alteração entretanto) os 81 senadores. Um a um, qual o seu posicionamento. E nesta altura a maioria parece ir aprovar a saída de Dilma. Entretanto, o vice-presidente Temer esfrega as mãos e já começa a preparar-se para substituir "A Presidenta".

No Mediterrâneo, o horror não termina e o mais dramático e mortalnaufrágio dos últimos meses aconteceu, com centenas de mortos.

Harriet Tubman, ativista dos direitos dos negros nos Estados Unidos no início do século XX, vai ser a primeira mulher e figurar nas notas de dólar (nas de 20).

O Presidente dos EUA, Barack Obama, foi recebido com frieza naArábia Saudita, mostrando que a aliança entre os dois países, muito contestada, já teve melhores dias.

Quem já teve melhores dias é o candidato presidencial democrata Bernie Sanders, que depois de perder a luta das primárias em Nova Iorque parece ver as suas possibilidades de ser o candidato do partido às presidenciais do final do ano seriamente ameaçadas.

As movimentações de meios navais de guerra russos estão a criar tensão com os EUA e parceiros da NATO. Agora são as patrulhas de submarinos de guerra russos que aumentaram 50 por cento de um ano para o outro, junto à Escandinávia, Escócia e Mediterrâneo.

Em Espanha, já só um milagre poderá evitar a realização de novas eleições gerais. No início da próxima semana, o Rei volta a chamar os partidos mas não se vê como possa ainda surgir um acordo para a formação de um governo. Ah, as eleições já foram há precisamentequatro meses.

Ainda em Espanha o campeonato nacional de futebol também está ao rubro, e ontem foi dia de jornada. Os três candidatos ganharam e mantém-se separados por um ponto. O Real Madrid ganhou 3-0 ao Villareal, desta vez sem golos de Ronaldo, que acabou por sair lesionado (ainda não se sabe se é caso para preocupações maiores) ao minuto 90.

No Brasil, o campeão olímpico dos 50 metros livres, o brasileiro César Cielo, vai ficar fora dos Jogos Olímpicos do Rio ao ter falhado nas provas de qualificação.

A revista People acabou de eleger Jennifer Aniston, atriz norte-americana de 47 anos, como a mulher mais bela do planeta.

NÚMEROS

5 mil
É já a lista de espera do primeiro restaurante... nudista de Londres. A notícia está aqui no Independent.

90
A Rainha Isabel II festeja hoje o seu aniversário. Uma das marcas do seu longuíssimo reinado é a discrição política que tem sempre mantido (das reuniões semanais com o primeiro-ministro não há qualquer registo). Mas há casos em que o seu posicionamento políticofoi conhecido.
Entre as muitas iniciativas e formas de festejar o aniversário da Rainha que está há 64 anos no poder há até uma extensão doshorários de funcionamento dos pubs.

40 mil
Um diário com notas e desenhos de Salvador Dali vai ser leiloado pela Sotheby´s em Paris na próxima semana e deve valer pelo menos 40 mil euros.


FRASES

"Sou como todos os demais: também chegará a minha hora. Talvez esta seja a última vez que falo nesta sala", Fidel Castro, perante os delegados do Congresso do Partido Comunista Cubano

"Nunca teria sido primeiro-ministro sem ter ganho as eleições",José Sócrates, em entrevista à Antena 1, numa crítica ao camarada António Costa

O QUE EU ANDO A LER

Desta vez, e apesar de ter na mesa de cabeceira "Christopher Hitchens... And Yet", mais um volume de coletânea de ensaios do falecido polemista (o texto sobre Che Guevara é imperdível),"Guerra! Para que Serve?", de Ian Morris, e "A Senda Estreita para o Norte Profundo", de Richard Flanagan, Man Booker Prize de 2014, decidi falar aqui de um conjunto de textos longos lidos em várias plataformas ao longo dos últimos dias e que quero mesmo recomendar.

1. Da última Revista do Expresso, o ensaio de Henrique Monteiro "A Crise das Ideias". Depois das revelações dos Panama Papers e de toda a discussão sobre o mundo que temos hoje, a desregulação financeira, etc, etc, desafiámos o Henrique aqui na redacção a fazer-nos um ensaio. Isto foi o que saiu da cabeça dele. Deixo esta frase: "Perdeu-se a vergonha em diversos momentos, em séculos distintos. Tinha-se perdido antes de 1929, embora alguns dos banqueiros na altura ainda tivessem a dignidade de se atirar pela janela quando verificaram que tinham arruinado os clientes. Hoje nada disso. Mantém-se impávidos".

2. Ainda a propósito dos Panama Papers, um dos últimos textos publicados mostra como o Fundo Soberano de Angola, liderado pelo filho de José Eduardo dos Santos, é suspeito de servir para lavagem de dinheiro.

3. Do último número da Vanity Fair um texto sobre a diva do cinema Meryl Streep

4. O tema de capa da revista Visão que hoje está nas bancas. "Zona Wi-Fi, ameaça para a saúde". Há 15 mil antenas de comunicações móveis em Portugal. Routers de wi-fi da rede fixa são três milhões. Cartões de telemóvel activos são 16 milhões. Cada equipamento emite radiações. Quais os perigos? Já que, como dizem os brasileiros, andamos todos "antenados", o melhor é saber os riscos que corremos.

Por hoje é tudo, vá acompanhando a atualidade no Expresso online e pelo final da tarde tem o balanço do dia com o Expresso Diário.

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