terça-feira, 12 de julho de 2016

BRAZIL, CAPITAL DALLAS: O PAÍS DE TEMER E SERRA



Quem precisa de projeto de desenvolvimento é o povo; a plutocracia já tem o seu: a taxa de juro mais elevada do mundo.

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

Negros desarmados mortos por policiais brancos compõem um postal da identidade norte-americana.

Explosões de protestos contra a violência policial, como as deste final de semana, depois que dois negros foram assassinados nos EUA --um no Minnesota, terça, dia 5, e o outro 48 hs depois,  na Luisiana, quinta-feira--  desfrutam do mesmo estatuto.

São standarts da terra da Coca-cola, assim como as freeways, a CIA, Hollywood --e o protecionismo disfarçado de livre comércio.

Os dois casos ganharam singular evidencia graças a um fator que veio para ficar.

Imagens impressionantes das mortes colhidas em celulares e viralizadas nas redes sociais, emprestaram dramaticidade testemunhal aos crimes, gerando um apelo convocatório de protestos com poder catártico imprevisível.

Não por acaso, na noite da mesma quinta-feira, em meio a um protesto em Dallas, cinco policiais seriam assassinados por um ex- militar negro, ele também morto em seguida, explodido por um robô acionado por agentes da lei.

Manifestações em diferentes pontos do país, neste final de semana, levaram o presidente Obama apelar para que se evite uma nova escalada de choques raciais, no momento em que o país vive uma das sucessões presidenciais mais polarizadas da história.

Sugestivo desse apelo retórico que não sabe bem o que fazer com a essência do problema, temas explosivos como a exclusão social, o empobrecimento da classe média e o estreitamento das oportunidades para os fragilizados do sistema  foram capturados pela agenda da extrema direita.

Por vias tortas, coube ao ultraconservadorismo trazer para o centro da política a dissolução do sonho americano, após quatro décadas de políticas neoliberais no coração do mundo capitalista.

Que essa encruzilhada se expresse pela boca de um bilionário assumidamente racista, como  Donald Trump, reforça a impotência do centro político para lidar novos e velhos conflitos sociais e raciais.

A sociedade mais rica plasmada pelas leis de mercado conseguiu eleger um presidente negro.

Mas ele fracassou em transformar o simbolismo dessa vitória em uma era de maior convergência social e racial.

Obama trombou com as leis de mercado.

Mais precisamente, com as novas condições de enrijecimento social impostas pela concorrência global e a supremacia asfixiante do poder financeiro sobre os parlamentos, os partidos, a mídia, o Estado e a democracia.

A engrenagem que lavou seus dois mandatos em um solvente de bom mocismo inócuo, alimenta agora a ressurgência da explosão racial nas ruas do país.

A novidade reside menos na reiteração do conflito e, sobretudo, no fracasso da panaceia que exacerbou o que pr0metia superar.

A anunciada redenção neoliberal iniciada com Reagan, e acelerada por Clinton,  implodiu até a zona de conforto da classe média norte-americana, lançando uma luz  pedagógica à disjuntiva enfrentada pela sociedade brasileira neste momento.

Construir uma referência própria de desenvolvimento ordenada pela democracia social, ou resignar-se a uma réplica de segunda categoria da regressão social norte-americana, dispensando à maioria da população aqui, o limbo que os negros e pobres compartilham dramaticamente lá?

Desenvolvimento dependente ou a soberania da justiça social?

Não por acaso o discurso extremista, racista, xenófobo e protecionista vocalizado pelo bilionário Donald Trump capturou a ansiedade de 40% dos eleitores norte-americanos nesta corrida presidencial.

A economia do país caminha a duas velocidades.

Festeja-se uma recuperação anêmica, cuja expansão anualizada abaixo de 2% mantem-se rigidamente distante do salto dos  4%, preconizado há anos pelos otimistas.

O consumo cresce, é verdade, o emprego também.

Mas um dos principais patrimônios dos EUA, a classe média afluente, derrete.

O paradoxo elucida a diferença entre a sociedade que aflora e aquela legada por Roosevelt, depois da guerra.

Os empregos são de baixa qualidade.

Os direitos –leia-se, a segurança social das famílias assalariadas—escasseiam.

A precariedade é a nova lei de ferro.

A curva de crescimento dos salários, comparativamente a dos lucros, mostra a relação mais baixa da história norte-americana.

Apenas um, em cada sete adultos sem formação superior está empregado atualmente na maior potencial capitalista da história.

Impera a anomia social irmã gêmea das explosões incontroláveis de revolta.

As taxas de sindicalização despencam na razão direta da expansão da ferrugem nos cinturões industriais falidos, que Trump promete resgatar com doses de protecionismo que implodiriam a ordem mundial.

No jornal Valor desta 2ª feira, o economista britânico Adair Turner, um moderado, mostra como o aparente bom senso da lógica neoliberal se traduz, na prática, em rupturas violentas da coesão econômica e social, gerando respostas aparentemente insensatas, mas revestidas de justificativa política.

Ocorrências como Trump  e o Brexit, no seu entender, demonstram o fracasso das elites em convencer os eleitores de que a livre circulação de capital, produtos e pessoas costuma ser boa para todos.

‘Na verdade, não é’, diz o britânico, ‘exceto se a liberação e a globalização forem acompanhadas de um equilíbrio na divisão da riqueza ampliada pelas novas práticas de mercado, que necessariamente produzem poucos vencedores e muitos perdedores.

‘No mundo inteiro houve muito pouco equilíbrio na divisão desse saldo’, adverte o economista.

Turner, repita-se, um moderado, não avança na análise, mas o fracasso que sublinha reitera a incompetência do mercado e das vacas sagradas da desregulação para ordenar uma sociedade convergente razoavelmente inclusiva.

Quem faz isso é a democracia, quando dotada de instrumentos para afrontar os impulsos socialmente destrutivos da lógica capitalista.

Um dado resume todos os demais: após quatro décadas de fastígio neoliberal nos EUA, pessoas em idade de trabalhar compõem agora a maioria do contingente dependente do vale-refeição para sobreviver.

Trata-se de uma ruptura de padrão.

A norma, depois da depressão dos anos 30, era uma clientela predominante feita de crianças e idosos.

Mas não é um ponto fora da curva:

-o governo dos EUA gasta atualmente US$ 80 bi  por ano com ajuda alimentar - o dobro do valor registrado há cinco anos;

- desde os anos 80, a dependência de ajuda para alimentação cresce mais entre os trabalhadores com alguma formação universitária --  sinal de que sob a égide  dos mercados desregulados, a  ex- classe média afluente não consegue sobreviver sem ajuda estatal;

- cerca  de 28% por cento das famílias que recebem vale-refeição são chefiadas por uma pessoa com alguma formação universitária;

- hoje o food stamps atende  um de cada sete norte- americanos;

- os salários baixos e a desigualdade  foram responsáveis por 13% da expansão recente do programa – contra  3,5%  entre 1980 e 2000;

- pesquisas relativas ao período de 1979 e 2005 (ciclo neoliberal anterior à crise de 2008) revelam que 90% dos lares norte-americanos viram sua renda cair nesse período; apenas 1% das famílias ascendeu à faixa superior a meio milhão de dólares;

- 21% dos menores norte-americanos vivem em condições de pobreza atualmente;

O fato de Obama, ao longo de dois mandatos,  não ter conseguido  reajustar o salário mínimo norte-americano --congelado há 17 anos e  20% menor em termos reais  do que o vigente no governo Reagan--   diz muito sobre a natureza de um sistema que gera poucos ganhadores e muitos perdedores, de que fala o britânico Turner.

É nesse labirinto social claustrofóbico que os negros ocupam o corredor mais opressivo.

O desemprego nos EUA em torno de 5% (quase pleno emprego) lambe os dois dígitos entre os negros e hispânicos.

Negros formam 13% da população, mas representam mais de 40% da massa carcerária: um milhão, em um total de 2,5 milhões.

No ano passado, 30% das pessoas mortas por policiais nos EUA eram negras, quase três vezes a participação negra na demografia do país.

Nunca a desigualdade foi tão aguda.

E jamais a probabilidade de que isso solape as bases da sociedade foi tão presente.

Não é Sanders quem está dizendo.

O desabafo é de autoria da contida presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, Janet Yellen.

Os abismos sociais no núcleo central do capitalismo atingiram o ponto em que, segundo a discreta Yellen, os americanos deveriam se perguntar se isso é compatível com os valores dos Estados Unidos.

‘A desigualdade de renda e riqueza estão nos maiores patamares dos últimos cem anos, muito acima da média desse período e provavelmente maior que os níveis de boa parte da história americana antes disso’, afirmou, repita-se, a presidenta do banco central norte-americano.

Alguém imagina um quadro graúdo do Itaú, como o interventor do golpe no Banco Central, dizendo isso por aqui?

O descarrilamento social produzido pelo neoliberalismo na sociedade mais opulenta da terra espeta o carimbo da temeridade no coração da estratégia de golpista para o Brasil.

Não invalida o fato de que o país precisa reconstruir a sua máquina de desenvolvimento.

Deixa claro, no entanto, que essa não é obra a se terceirizar aos livres mercados, como percebeu tardiamente um Obama engessado em tibieza pessoal, mas não só nela.

Numa economia longamente descarnada de sua base industrial, desfibrada por taxas de sindicalização operária as mais baixas da história, a correlação de forças reservou pouca margem de manobra ao primeiro presidente negro da sua história.

O paradoxo da recuperação com desalento social não impediria a sua reeleição, mas o devolve à história como o Presidente que não conseguir estar à altura do seu tempo.

Obama encerra seu ciclo à sombra de um bufão que melhor que ele consegue falar ao coração dos deserdados da esperança.

A sabotagem parlamentar mais obscurantista da história enfrentada pelo democrata encontra equivalente na barragem legislativa que paralisou Dilma no Brasil.

Uma aliança da escória com interesses plutocráticos descomprometidos da responsabilidade com a nação, e tão obscurantista quanto o Tea Party nos costumes, não hesitou em paralisar a economia e sacrificar a grande maioria da população para retornar ao poder sem o voto.

‘A economia precisa de um governo mais leve’, evoca a novilíngua  do jornalismo de arrocho.

Os conflitos raciais são a fumaça do vulcão que rumina no interior da sociedade mais rica da terra submetida a esse desígnio.

Em um país em que tudo ainda está por fazer, e suficientemente pobre para que erros históricos se transformem em tragédias definitivas, a terceirização do    desenvolvimento aos mercados envolve um risco vulcânica ainda maior.

Devolver à democracia a prerrogativa de repactuar o passo seguinte da economia é a única apólice de seguro que resta à sociedade brasileira.

Não é um projeto que empolgue a riqueza financeira.

Esta já tem o seu país pronto: a taxa de juro real mais elevada do mundo.

O golpe visa justamente reforçar as muralhas em torno dessa soberania.

Raspar o tacho, ‘vender a mãe pátria’, como espetou o Papa Francisco na testa de seu conterrâneo, o presidente argentino amigo de Serra, Maurício Macri, é parte do arsenal bélico.

Quem precisa de projeto de desenvolvimento é o povo, os excluídos, os pobres e negros nos EUA, a vasta maioria da população no Brasil.

A resposta do golpe, ao contrário,  pressupõe um congelamento real de gastos sociais que encolherá a participação relativa da saúde, da educação, das aposentadorias e outros direitos na divisão da receita em anos vindouros.

O excedente subtraído ao bem-estar social, como já se disse neste espaço, será transferido ao bem-estar antissocial dos rentistas.

Um círculo de ferro pretende dobrar a resistência democrática sob o peso do desemprego e do desmonte da nação feito a toque de caixa.

Há um requisito: asfixiar o debate de uma agenda alternativa.

É preciso impedir que a resistência democrática seja portadora de um projeto mudancista que fale às ruas, às periferias, aos bairros pobres, às famílias assalariadas, à juventude, à classe média democrática, à inteligência nacional, à cultura e ao empresariado produtivo.

O medo desse efeito catalisador é indisfarçável.

A supressão truculenta da publicidade estatal a toda mídia progressista é um sintoma dele (http://www.cartamaior.com.br/pages/sejaparceiro/ ). A sofreguidão para se aprovar a farsa do impeachment, outra. A barganha obscena com o interesse estrangeiro sobre as riquezas nacionais –pré-sal à frente—outra.

Trata-se de criar fatos consumados,  espremer, tanger os movimentos sociais, as centrais, partidos e organizações populares, obrigando-os a pensar pequeno.

Obrigando-os a participar até o fim da farsa do impeachment

Para desse modo obriga-los a admitir um futuro menor que o país.

Que caiba em um orçamento menor que a população.

Menor que as possibilidades e urgências da Nação.

Menor que a ponte necessária entre a resistência democrática difusa e a repactuação ampla do desenvolvimento, feita de prazos e metas críveis  negociadas com o conjunto da sociedade.

Se pensar pequeno, se aquiescer à farsa, a resistência democrática corre o risco de se abastardar e acordar um dia em um país dizimado chamado Brazil.

Cuja capital fica em Dallas.

O PINOCHET DE ÁFRICA



Rui Peralta, Luanda

Hissène Habré, o ex-ditador chadiano apoiado pelos USA, foi condenado por crimes contra a humanidade e passará os restos dos seus dias numa cadeia. Responsabilizado pela morte de mais de 40 mil pessoas, rapto, violência sexual e escravatura, em 8 anos de exercício de Poder, na década de 80, Habré foi julgado e condenado num tribunal especial da União Africana, localizado em Dacar, Senegal, após uma campanha de duas décadas, encetada pelas suas vítimas. Esta foi a primeira vez que um estadista de um país africano foi julgado noutro país africano por violação dos direitos humanos.

Apoiado pelos USA, conhecido como o “Pinochet de África”, Habré chegou ao Poder com o suporte da administração Reagan, em 1982. Os USA suportaram com milhões de USD as forças armadas chadianas e a Policia politica, a DDS. No ano 2000 foi detido, pela primeira vez, no Senegal, país para onde foi viver depois de ter sido forçado a abandonar o Poder. No Senegal Habré investiu todo o seu dinheiro – retirado dos cofres do Estado do Chade - e foi em Dacar que estabeleceu o seu centro de influência. Criou uma rede política e de negócios e mantinha contactos com inúmeros chefes de Estado africanos, que viram com preocupação a detenção e os processos judiciais sobre Hissène Habré, pois seriam um precedente indesejável para a sua posição como estadistas.

De qualquer forma as queixas contra o ditador chadiano foram-se avolumando e ganhando terreno na longa luta jurídica (mais de 20 anos) que se desencadeou. Quando, no Senegal, o processo parecia estar travado, a associação de vítimas da ditadura de Habré dirigiram-se para a Bélgica, onde os tribunais, ao fim de quatro anos, requereram a extradição de Hissène Habré, negada pelo Senegal. A União Africana interferiu e aconselhou o Senegal a efectuar o julgamento. Wade, o presidente senegalês na época, concordou, mas o processo ficou parado. Os tribunais belgas levaram o caso ao Tribunal Penal Internacional e em 2012 o TPI decidiu que o Senegal deveria extraditar Hissène Habré, em caso de não o julgar no seu território (ou seja, reforçou a decisão da UA). Alguns meses depois Macky Sall venceu as eleições presidenciais e o julgamento de Habré prosseguiu no Senegal, num tribunal estabelecido pelo Senegal e pela UA. O novo presidente senegalês foi um dos responsáveis políticos e partidários que a comissão das vítimas visitou e explanou a sua acção e era uma das figuras senegalesas que apoiava o processo judicial contra Habré.

Em 1982 Habré era um oposicionista á presença líbia no Chade (ambos os Estados tinham assinado um projecto de federação), motivo mais do que suficiente para que o secretário de Estado da administração Reagan, Alexander Haig, em colaboração com a CIA, efectuasse uma operação de suporte e apoio logístico e financeiro ao grupo liderado por Habré, para combater o “arqui-inimigo” da administração norte-americana, Muammar Kadhafi (a quem Reagan designara por “cão raivoso”). Esta foi a primeira operação secreta efectuada pela CIA durante a administração Reagan (anterior ao reforço logístico e financeiro oferecido á UNITA de Savimbi, em Angola, depois do descalabro “franciú” de Holden Roberto - o agente Gilmore da administração Kennedy e Johnson, e uma das relevâncias da contradição do campo imperialista França/USA - e anterior á Operação Contras, na Nicarágua, que também teve em Angola as suas implicações, através do caso Ochoa, oficial superior cubano, e onde aparece patente a infiltração norte-americana no seio da Revolução Angolana).

Pouco interessou á CIA e a Reagan que o “senhor da guerra” Hissène Habré já possuísse um historial de brutalidade na guerra civil chadiana (o mesmo parâmetro foi usado em relação a Jonas Savimbi), ou que tivessem encontrado uma vala comum com centenas de corpos, no quintal da sua residência, ou que Habré fosse o responsável pelo rapto de um antropólogo francês e que as suas forças tivessem executado o negociador enviado por Paris, para o libertar. Os USA apoiaram Habré na luta contra a Líbia e em 1982, quando Habré assume o Poder, a França e os USA são a base financeira e logística que suportam o seu governo. A CIA treinou os oficiais da DDS em contra-insurgência e efectuava um serviço de “aconselhamento” permanente á ditadura de Habré, através da embaixada norte-americana em N`Djamena. Para os USA o que interessava era que o Chade servisse de campo de treino para a intervenção na Líbia. Foi assim que, por exemplo, Khalifa Haftar – imigrante líbio nos USA, em Virgínia – foi contratado pela CIA e é hoje um dos líderes de um dos bandos armados líbios baseados em Benghazi.

Habré foi deposto em Dezembro de 1990. Em 1987 foi recebido na Casa Branca, por Reagan, um velho amigo (e conhecido inimigo de África) de Habré. Os USA ajudaram-no a estabelecer no Senegal, em 1991, onde viveu luxuriosamente em Dacar. Mas os tempos mudaram e acabou por ser levado á justiça. Na óptica africana, o que é o mais importante, para desespero do Ocidente que sempre apostou na incapacidade do Poder Judicial em África.

Afinal, o Ano dos Direitos Humanos em África, 2016, veio para ficar…Em honra dos povos e não do neocolonialismo e das suas oligarquias.

EQUIPA MULTICULTURAL FOI CHAVE DA VITÓRIA DE PORTUGAL NO EURO 2016



Entre os 23 convocados para a seleção portuguesa no Europeu, estavam 12 futebolistas de origem estrangeira. Ana Santos, professora de Sociologia do Desporto, diz que a multiculturalidade foi um dos segredos do triunfo.

Portugal sagrou-se no domingo (10.07) campeão da Europa de futebol pela primeira vez na história do país ao bater a anfitriã França por 1-0. Os desportistas regressaram esta segunda-feira (11.07) a Portugal, onde foram recebidos como heróis nacionais.

Ana Maria Santos, professora de Sociologia do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, salienta que a seleção, composta por portugueses de vários extratos sociais e origens culturais, mostrou que o trabalho em equipa é a fórmula da eficácia.

"Todos aqueles miúdos que ali estão trabalharam e sofreram muito. O desporto é um fenómeno bom que permite essa heroicidade a todos", considera Ana Maria Santos.

"O Ronaldo, o Renato, o Quaresma, o Éder que marcou o golo, o Pepe… São todos jovens que, para chegarem onde chegaram, tiverem de lutar por si. Não estiveram à espera que a família lhes oferecesse o lugar que eles arduamente conquistaram. Nessa medida eles funcionam como um elemento-cola numa sociedade que precisa disso", diz a investigadora.

Origens multiculturais

Durante a competição muito se murmurou sobre a origem de vários jogadores. Pepe nasceu no Brasil, Cédric Soares na Alemanha, Adrien, Raphaël Guerreiro e Anthony Lopes em França, Éder e Danilo na Guiné-bissau, Nani em Cabo Verde, William Carvalho em Angola.

Renato Sanches nasceu em Portugal, mas a família é de origem cabo-verdiana e são-tomense.

"Esta equipa é um todo e, sem estes miúdos oriundos de várias nações e extratos sociais, não tínhamos conseguido esta vitória. O desporto dá visibilidade a essas questões e tensões que existem na sociedade, mas por outro lado é também exemplar no modo como nos mostra como elas se resolvem", defende a professora universitária.

Eusébio fez história há 50 anos

A investigadora recorda a seleção portuguesa de futebol no Mundial de 1966, em que Eusébio foi a estrela-maior . "A equipa de 66 funcionou como um caso exemplar de uma equipa multicontinental e multirracial. Era a única equipa nos anos 60 que tinha negros. Nenhuma equipa europeia tinha, a não ser o Benfica e a seleção portuguesa", relata Ana Maria Santos. "Nessa altura ela funcionou como um caso exemplar para um modelo político que não nos interessava. Mas neste momento estas equipas funcionam como um modelo de equipa que é o futuro."

"O futuro não é bem a nação mas a unidade continente, com várias minorias e grupos sociais que em colaboração lutam por si e por melhores condições de vida."

Ana Maria Santos defende ainda que estas vitórias ao nível desportivo "ajudam a população a ver o quão importante é aceitar a diferença e o mérito conquistado por uma equipa de diferentes origens sociais". "O mundo é isso, aliás", conclui.

Nuno de Noronha – Deutsche Welle

“TO BE, OR NOT TO BE” - (“SER, OU NÃO SER”)




“To be, or not to be”, este é um velho dilema que sempre se foi colocando a muito boa gente e também a muitos investigadores que se debruçaram sobre as relações humanas ao longo de séculos, desde novelistas (o próprio Shakespeare que descobriu o óbvio), a sociólogos, a antropólogos, a historiadores, ou mesmo a filósofos.

Por incrível que isso possa parecer, “to be, or not to be” faz hoje parte das questões correntes que em termos filosóficos, doutrinários e ideológicos, se colocam às pseudo-“esquerdas” radicais, em tempos bonançosos de capitalismo neoliberal e de suas ementas entre “choques” e “terapias”, em função dos interesses e conveniências de quem na realidade as instrumentaliza, aproveitando a sua capacidade para lançar a confusão, a ambiguidade e a manipulação, como um casamento “liberal”perfeito, entre camaleões e falcões (será que os filósofos-de-salão terão suas costelas “gay”?!)…

Vem isto a propósito em função das iniciativas dum confesso filósofo-de-salão que dá pelo nome de Carlos Pacheco, (desconheço a sua tarimba histórica pois acerca de Angola parece nem ter sequer referência daqueles que honestamente descreveram como era a escravidão e o colonialismo, muito menos do esclarecido, a título de exemplo, René Pélissier que define bem o que era Movimento de Libertação moderno e o que era etno-nacionalismo)!...

O filósofo-de-salão Carlos Pacheco está animado ao longo de sua vida dum espírito de missão:

- Desacreditar a legitimidade e a profundidade do Movimento de Libertação em África, desde as suas origens até às independências (e logo a seguir a elas), que tiveram de ser arrancadas por via dum longo, sangrento, conturbado e difícil processo de Luta Armada (aposta essa indexada sobretudo a Angola);

- Aproveitar-se da sequência irreversível do rumo de Angola (afinal na sequência lógica do Movimento de Libertação em África), agora construindo uma alargada plataforma de paz, para se tentar colar a Angola numa tentativa de alarde que chega à náusea de “independência intelectual”, mas de forma a, para além de aparentemente se demarcar das filosofias-de-salão das esquerdas radicais vulneráveis aos agenciamentos, sem escrúpulos em relação aos “timings” históricos, de forma ardilosa e insidiosa procurar de algum modo fazer confrontar os tempos de hoje com os tempos que estiveram nos seus caboucos, em última análise confrontar Agostinho Neto, com José Eduardo dos Santos (pasme-se a ousadia só possível num imaginário fértil e tão excessivamente masturbador deste tão corajoso filósofo-de-salão)!

“To be, or not to be”, atinge em época de terapia capitalista neoliberal a sua expressão mais refinada, jamais experimentada ou imaginada sequer pelo próprio autor da célebre interpretação teatral, ou poeta, Shakespeare nos seus tempos mais criativos!

Carlos Pacheco toda a vida viveu esse dilema-tornado-drama, que perdendo o comboio do rumo progressista de Angola lá atrás nos alicerces da pátria angolana, agora quer ter direito à 1ª classe que é oferecida pela paz que com tanto sacrifício, com tantas dificuldades e com tantos obstáculos, os angolanos procuram construir!

Pretende de certo modo distanciar-se de outros esquerdismo radicais ao jeito do Bloco de Esquerda, dum Agualusa feito ativista, dum Telmo Vaz Pereira que precisa de mercado para vender suas pinturas, dum mercenário da escrita como Rafael Marques de Morais, de algumas costelas de Samakuva, ou de Chivukuvuku, dos apaniguados e mentores do Bloco Democrático (será que ele está extinto?), ou duma estafada versão de “revolução colorida”, ou “primavera árabe”adaptada ao Trópico de Câncer!

De facto é mais um sinal, desta feita também dum certo desespero tendo em conta o desperdício que há com a proliferação das provocadoras apostas, de quem tem instrumentalizado tanta ambiguidade, tanta desonestidade mercenária, tanta alienação, tanta perversão, tanta subversão, tudo isso agora aplicado na tentativa de provocar algum terramoto no edifício que se ergue à medida que se afirma o rumo de Angola!

A Carlos Pacheco: perante a afirmação cada vez mais pujante do rumo de paz e renascimento de Angola e de todos aqueles que procuram enveredar pela paz em África, PELO QUE ANGOLA É,“not to be” será irremediavelmente o seu “destino” e o seu fim, sem ilusões e no lugar próprio dos mesmos filósofos-de-salão que projetam e se projetam em qualquer tipo de perverso radicalismo de esquerda, ao serviço duma tão antropofágica Nova Ordem Global!...

Fotos:
- Gene Sharp – filosofando a disseminação do caos;
- Alguns dos que pretendem “cercar Angola”, segundo a “filosofada” de Carlos Pacheco;
- O filósofo-de-salão que faltava.

A consular:

GRANDES DESENVOLVIMENTOS PARA BREVE NA SÍRIA?



Vários eventos recentes apontam para a possibilidade de que alguma coisa esteja sendo cozinhada no conflito sírio.

Em primeiro lugar e muito importante, houve o pedido de desculpas de Erdogan à Rússia, que foi realmente muito mais que apenas pedido de desculpas. Os turcos realmente estenderam a mão à Rússia, e a oferta oficial deles inclui não só a volta dos turistas russos e a venda de legumes turcos na Rússia, mais forte colaboração entre os dois países contra o terrorismo e operações militares conjuntas. Os turcos também indicaram, sim, que estariam dispostos a oferecer à Rússia o uso da base aérea Incirlik para aeronaves russas envolvidas em operações aéreas contraDaech & Co. Em seguida, os turcos negaram que tivessem oferecido, o que é justo e parece que é o modo como costumam negociar. De qualquer modo, os russos já haviam polidamente declinado da oferta (adiante, mais sobre isso).

Em segundo lugar, apenas duas semanas depois de outro "vazamento" com notícias sobre 51 diplomatas dos EUA que pediam que Obama autorizasse ataques contra forças do governo na Síria, o Washington Post "vazou" notícias de que os EUA estavam oferecendo aos russos uma nova "parceria militar" na Síria, apenas para denunciar veementemente o tal plano, poucos dias adiante. O blog Moon of Alabama imediatamente e corretamente classificou a tal "oferta" como "nonsense".

Em terceiro lugar, apesar de o movimento sírio para avançar na direção de Raqqa claramente enfrentou algumas dificuldades sérias, há sinais que indicam que a cidade de Aleppo provavelmente estará muito em breve completamente cercada por forças do governo sírio.

Em quarto lugar, os militares russos confirmaram que o porta-aviões Almirante Kuznetsov armado com pesados mísseis cruzadores pode ser em breve deslocado para o Mediterrâneo.

Em quinto, o ministro da Defesa Shoigu anunciou que promoveu o atual comandante da força tarefa russa na Síria, coronel-general Alexandre Dvornikov, ao posto de comandante do Distrito Militar Sul.

Então, o que significa tudo isso?

Quanto ao primeiro ponto, é notável que por mais que Erdogan seja pessoalmente extremamente pouco apreciado na Rússia, todos os especialistas militares russos e outros concordam que a Rússia deve retomar a cooperação com a Turquia e certamente retomará. Há aguda consciência na Rússia de que, goste-se ou não, a Turquia é ator chave na região, e a Rússia, portanto, tem de se entender com qualquer governante turco. Além disso, os russos sentem que estão em posição superior de força, e agora é o momento para pressionar a Turquia na direção de algumas mudanças reais. No topo da agenda russa está o objetivo de conseguir que a Turquia *realmente* feche a fronteira turco-síria e pare de financiar o Daech, pondo fim ao contrabando de petróleo.

Além disso, vários especialistas turcos já manifestaram a opinião de que o atentado à bomba em Istanbul foi realmente um aviso do Daech a Erdogan, o que indica que Erdogan assumiu risco real ao voltar-se para a Rússia, e que agora a Rússia deve dar a ele alguma coisa tangível para apoiá-lo nessa terrível posição. Mais uma vez, não será como lua-de-mel entre o Kremlin e Ankara, mas caso de pura Realpolitik, no qual os russos sentem que devem pôr de lado os sentimentos de desconfiança, até de animosidade, e, muito cuidadosamente, jogar a carta "Erdogan". No mínimo, os russos requererão que os turcos ponham fim ao apoio que dão ao terrorismo no Cáucaso e na Ásia Central, e algum sinal tangível de colaboração turca real e significativa contra o Daech. Em troca, os russos já indicaram que estão dispostos a retomar a colaboração com a Turquia em questões de energia (gás, petróleo, usinas nucleares) e econômicas (construção, transportes).

A Rússia não tem interesse em nem necessidade da base aérea Incirlik. Não só é base comandada basicamente pelos EUA, mas, além disso, as bombas da aviação russa já alcançam qualquer ponto na Síria, no caso de necessidade.

O que se passa hoje nos EUA só pode ser descrito como gigantesco caos. Quando grande número de diplomatas admitem que sua própria diplomacia e seus próprios recursos são imprestáveis, e quando a única recomendação que têm a oferecer é o uso ilegal - e, acrescento eu, irresponsável - de força, contra país soberano (a Síria), aliado e hospedeiro de forças de uma superpotência nuclear (a Rússia), logo se vê que ali só há uma gangue incompetente de amadores.

Tudo isso é sinal também de que os EUA perderam o controle (ou, mesmo, até a ilusão de estarem no controle) e que já começou a inevitável luta interna. Não são boas notícias, porque tudo isso torna os EUA ainda mais imprevisíveis e gera-se o risco de soluções improvisadas tipo "conserto rápido" (o que, no caso dos EUA sempre é mais violência militar e escalada bélica).

Embora concorde com Moon of Alabama, que a oferta dos EUA é descabida e nada significa, vejo aí uma possível manobra diversionista, dos que, nos EUA, tentam impedir que os doidos neoconservadores disparem um confronto direto com a Rússia. Se for isso, alguma sugestão vaga de colaboração, partida da Rússia, seria bem útil, para, pelo menos temporariamente, calar os belicistas mais doidos enquanto se espera que Trump seja eleito.

Até aqui, o que se sabe é que Obama e Putin conversaram pelo telefone e que, nos termos de um informe russo.

"Durante a discussão da situação na Síria, Vladimir Putin conclamou Barack Obama a facilitar o mais rapidamente possível a separação entre forças da oposição síria moderada e o grupo terrorista Jabhat al-Nusra e outros extremistas que não estão protegidos pelo regime de cessar-fogo. Os dois lados reafirmaram que estão prontos para ampliar a coordenação entre ações dos militares norte-americanos e russos na Síria, e enfatizaram a importância de que sejam retomadas as negociações entre os grupos sírios, sob o patrocínio da ONU, para que se alcance um acordo político."

Se alguma "coordenação" real algum dia se materializará, temos de esperar para saber.

Entrementes, os sírios claramente precisam de mais ajuda e, por mais que estejam aparentemente conseguindo avançar em torno de Aleppo, há problemas em outros pontos do país. Há rumores de que as forças iranianas também sofreram um revés recentemente. Alguns especialistas russos estão dizendo que o motivo disso tudo é que o Hezbollah determinou que liberar Aleppo é o único e mais importante objetivo, e os experientes combatentes do Hezbollah deixaram outros setores e concentraram-se em torno de Aleppo. Seja qual for o caso, na província de Raqqa o Daech ainda parece estar no controle. Isso pode mudar, se os EUA de algum modo conseguirem convencer os curdos a ajudar em Raqqa, especialmente se os turcos cortarem as rotas de suprimento do norte para o Daech, e os russos ajudarem os sírios. Pode até acontecer, porque tudo pode acontecer, acho eu, mas só acreditarei quando vir com meus olhos.

Será terrivelmente difícil convencer os curdos, que basicamente combatem uma guerra civil na Turquia, a concordar com direcionar recursos para o sul e leste, para dar combate ao Daech. A solução óbvia é pôr coturnos norte-americanos em solo, mas é politicamente muito difícil para Obama, que várias vezes disse que não faria isso. Claro, a solução "real" seria um acordo com Rússia e Assad e todos juntos esmagarem o Daech - mas seria extremamente humilhante para os EUA. Com certeza há nesse momento grupos fazendo lobbies a favor de cada uma dessas três vias, e não me atrevo nem a tentar adivinhar qual deles prevalecerá.

Por mais que seja verdade que os russos confirmaram que o Almirante Kuznetsov será mandado ao Mediterrâneo, também estão circulando, embora não seja a primeira vez, rumores idiotas sobre "enfrentar a OTAN". A verdade é que o Kuznetsov, por mais que, sim, seja navio impressionante, também é um "fóssil" da Guerra Fria, projetado originalmente para ampliar o alcance das defesas aéreas russas protegendo os submarine bastions da Marinha Soviética. Por falar dele, a classificação correta desse tipo de nave não é "porta-aviões", mas "porta-aviões pesado para transporte de mísseis cruzadores (ing. heavy aircraft-carrying missile cruiser"; ru. тяжёлый авианесущий крейсер), o que significa que, diferente dos, por exemplo, porta-aviões da Marinha dos EUA, as principais armas do Kuznetsov são seus poderosos mísseis desenhados para afundar porta-aviões norte-americanos.

O complemento dos aviões transportados, de asas fixas e rotatórias, são uma capacidade secundária: para ampliar e proteger o alcance do sensor.Tudo isso provavelmente será modificado no futuro, mas na atual configuração, o Almirante Kuznetsov sem dúvida é nave bem esquisita: seus mísseis antinavios são inúteis contra ao Daech. Os aviões e helicópteros que transporta foram modernizados e têm alta capacidade, mas são também extremamente limitados em números: 15 SU-33 e MiG-29K/KUB e mais de dez Ка-52К, Ка-27 e Ка-31. Assim, haverá, no máximo, talvez 10 MiG-29K/KUB navalizados (e modernizados) que seriam grave ameaça ao Daech, mais uns poucos Ka-52K. O SU-33 é puro interceptador ar-ar, embora capaz de bombardeamento não guiado, e os Ka-27 e Ka-31 são helicópteros para busca e resgate [ing. Search And Rescue, SAR] eEW respectivamente. Para resumir - em termos de dar combate ao Daech, o Almirante Kuznetsov acrescenta muito pouco. Mas, sim, acrescenta capacidades de defesa aérea de classe mundial e de comando, controle e comunicação. Em outras palavras, o Kuznetsov é ideal como posto de comando de força tarefa. Isso, e o combo SU-33/MiG-29K, podem ampliar muito substancialmente a capacidade russa em armamento ar-ar avançado no local, para patrulhas aéreas de combate. Mas não esqueçam: o Daechnão tem força aérea. Daqui em diante, cada um que tire as próprias conclusões :-)

Aqui eu conectaria com a promoção do coronel-general Dvornikov, homem que conhece extremamente bem o ambiente operacional sírio, ao comando do Distrito Militar Sul - o distrito ao qual, se as coisas ficarem realmente feias na Síria, dará apoio a todos os esforços russos na Síria, e do qual a força tarefa russa na Síria passará a depender vitalmente. Que melhor escolha haveria para a força tarefa russa na Síria, que o próprio ex-comandante, posto agora no comando do apoio que virá da Pátria-Mãe?

Não tenho como saber o que russos e turcos ou russos e norte-americanos discutem hoje com portas fechadas, e não vou fingir. Mas, sim, vejo a Rússia, embora não seja a primeira vez, tomando medidas que seriam de esperar se o Kremlin tivesse concluído que a situação na Síria está a ponto de esquentar novamente. Sim, claro, pode perfeitamente ser que Dvornikov tenha sido promovido a posição de responsabilidade, só porque fazia falta, um homem como ele, no muito importante Distrito Militar Sul; e também pode ser que o Kuznetsov esteja sendo mandado para a costa da Síria para alguns, digamos "testes realistas". Mas tenho a sensação de que os russos estão maximizando as próprias opções, enquanto os norte-americanos, claramente, batem cabeça até para definir qual é hoje, realmente, a política deles.

E só para tornar as coisas ainda mais complicadas, há algumas diferenças semioficiais entre russos e iranianos que querem intervenção muito maior dos russos, e não acreditam no processo de paz iniciado por Putin. Finalmente, não está claro, absolutamente, a partir das declarações dos russos, se estão dispostos a manter a intervenção até que o último combatente do Daech seja morto - que é a posição de Assad. Assim sendo, mesmo que Rússia, Irã, Hezbollah e Síria tenham encontrado muitos interesses comuns, a Rússia não está em posição de agir como se fosse algum mini-EUA e dar ordens a todos os demais. Há diferenças reais de opinião entre essas forças só frouxamente aliadas, e cada uma delas preserva grande liberdade de manobra.

A lógica política de um período pré-eleitoral nos EUA sugere que os conflitos gerados pelos EUA - como os na Ucrânia e o conflito sírio -, devam permanecer limitados a movimentos menores até que o novo governo seja eleito e assuma. Pode acontecer assim também no caso da Síria. Mas muitos sinais começam a apontar para uma possível aceleração dos eventos em campo.

The Saker, Unz Review - http://www.unz.com/tsaker/major-syria-developments-soon/


Sem vergonha. Polícia Judiciária participa em treino de interrogatórios com forças israelitas



Projecto de cooperação financiado pela Comissão Europeia integra forças de segurança de Portugal, Espanha e Bélgica e é coordenado por universidade israelita.

A Polícia Judiciária (PJ) participa desde Junho de 2015 num projecto de desenvolvimento de tecnologias e métodos para interrogatórios policiais coordenado pela Universidade Bar-Ilan e em que participa a Polícia Nacional de Israel.

O Law Train tem um financiamento de 5 milhões de euros da Comissão Europeia e apresenta como objectivo «a melhoria das competências de interrogatório intercultural das forças de segurança» no combate ao narcotráfico.

As forças de segurança israelitas são frequentemente acusadas de recurso a técnicas de tortura nos interrogatórios a detidos palestinianos. Desde 1994 que o Comité contra a Tortura da ONU denuncia essas práticas.

A participação da PJ no projecto foi decidida pelo governo de PSD e CDS e prevê o acesso de dados pelos «membros parceiros». O Instituto de Engenharia e Sistemas de Computadores, Investigação e Desenvolvimento, um laboratório associado da Fundação para a Ciência e a Tecnologia participado pelo Instituto Superior Técnico, é a outra instituição portuguesa participante no projecto.

Um conjunto de organizações portuguesas subscreveram uma campanha que rejeita a participação de Portugal no projecto. A campanha é promovida pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM). Em comunicado, as organizações «protestam contra este envolvimento de Portugal com entidades que fazem da negação dos valores da liberdade e dos direitos humanos a sua missão, e reclamam do Governo português que faça cessar de imediato a sua participação no projectoLaw Train».


Reino Unido. BREXIT VAI ACONTECER, ELEIÇÕES ANTECIPADAS NÃO



OS DESAFIOS E PLANOS DA NOVA PRIMEIRA-MINISTRA BRITÂNICA

“Mais um apoiante do Brexit abandona a cena do crime”, gritaram contra a última rival de Theresa May na corrida à liderança do Partido Conservador, quando esta anunciou que ia deixar o caminho livre para a ministra do Interior

A nova futura primeira-ministra do Reino Unido Theresa May vai enfrentar uma série de problemas por resolver quando assumir o cargo que David Cameron abandonou a 24 de junho, um dia depois de 52% dos britânicos terem votado a favor da saída da União Euroepia, a começar pela execução dessa saída.

Andrea Leadsom anunciou para surpresa de todos, esta segunda-feira à hora do almoço, que já não vai disputar a liderança do Partido Conservador com a ainda ministra do Interior, depois de um fim de semana marcado pelo escrutínio incessante dos media às declarações da ministra da Energia de que seria, à partida, mais qualificada para governar o Reino Unido porque é mãe e May não é.

Ao abandonar a conferência de imprensa, alguém gritou a Leadsom "mais um apoiante do Brexit abandona a cena do crime", numa referência ao ex-autarca de Londres Boris Johnson, que decidiu nem sequer se candidatar ao cargo após perder o apoio do ministro da Justiça Michael Gove, e a Nigel Farage, outro dos porta-estandartes do Brexit que anunciou a sua saída do partido nacionalista UKIP.

Tendo sido apoiante da permanência na União Europeia, May tem agora às costas a responsabilidade de negociar a saída do Reino Unido nas condições ideais para o país, tendo já deixado garantias de que o Brexit vai avançar e de que não haverá eleições gerais antecipadas.

"Ninguém no Partido Conservador está a pedir eleições, isso não vai acontecer", garantiu ao "The Independent" uma fonte próxima da futura nova líder, que assumirá o cargo quando David Cameron fizer o seu último discurso na Câmara dos Comuns, depois de entregar a sua demissão à Rainha esta quarta-feira. "Os mercados não querem isso. Olhem para a recuperação que começou com um fim imprevisível — porquê pôr isso em risco? Theresa garantiu com firmeza que isso não vai acontecer", disse o conselheiro da ministra, quando confrontado com as crescentes exigências dos partidos da oposição sobre a necessidade de novas eleições gerais.

Uma das primeiras grandes decisões que May terá de tomar tem a ver com a ativação do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, um mecanismo criado na comunidade europeia em 2007 para prever a saída de um Estado-membro no prazo máximo de dois anos. Antes de se ver sozinha na corrida ao cargo deixado vago por Cameron, May tinha sublinhado que não quer apressar-se a fazê-lo, que "primeiro quer ser clara quanto à posição do Reino Unido", deixando claras as suas próprias posições sobre questões de máxima importância como a imigração.

Na mesma linha condutora, May terá de esclarecer do que falava quando apresentou em Birmingham num discurso recente de campanha uma proposta de uma "reforma social radical" que pretende dar aos trabalhadores e funcionários de empresas mais poder de influência nas entidades patronais.

Antes disso, contudo, a nova líder do Reino Unido terá de montar o seu gabinete, antecipando-se que vá, apesar de tudo, promover alguns apoiantes do Brexit para dar força às negociações com a UE, entre eles Chris Grayling, Priti Patel e Liam Fox, também para unificar o partido. O que mais se aguarda é perceber se Boris Johnson será convidado a integrar o executivo e se será George Osborne a manter a chancelaria do Tesouro como liderava até agora no governo Cameron.

Joana Azevedo Viana – Expresso – Foto: Hannah Mckay / EPA

UE DECIDIU PUNIÇÕES A PORTUGAL E ESPANHA POR DÉFICES EXCESSIVOS




Ecofin confirma punições a Portugal e Espanha por défices excessivos

O Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia (Ecofin) decidiu hoje, em Bruxelas, que Portugal e Espanha irão ser alvo de sanções por não terem adotado "medidas eficazes" para corrigirem os défices excessivos.

IG/ACC // CSJ – Lusa

Portugal e Espanha estreiam castigo mas regra já foi violada mais de 100 vezes

O Conselho Ecofin confirmou hoje a aplicação de sanções a Portugal e Espanha no quadro dos respetivos Procedimentos por Défice Excessivo (PDE), algo inédito, apesar de a regra dos 3% já ter sido violada mais de 100 vezes.

De acordo com um estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Investigação Económica alemão Ifo, que procedeu aos seus cálculos com base em dados da Comissão Europeia entre 1999 e 2015, a regra europeia de um défice abaixo dos 3,0% do Produto Interno Bruto (PIB) já foi violada em 114 ocasiões pelos Estados-membros.

A regra do défice inscrita no Pacto de Estabilidade e Crescimento já foi quebrada até mais vezes, precisamente 165, mas em 51 ocasiões tal era permitido dado os países estarem em recessão.

Entre as 114 violações da regra, a "campeã" das infrações é a França, que ultrapassou o limiar dos 3% por 11 vezes, seguindo-se Grécia, Portugal e Polónia, todos com 10, Reino Unido (9), Itália (8), Hungria (7), Irlanda e Alemanha (5, em ambos os casos).

No extremo oposto, os países com maior "disciplina orçamental" são o Luxemburgo, a Estónia, a Finlândia, a Dinamarca e a Suécia, países que nunca registaram um défice acima da 'barreira' dos 3,0% do Produto Interno Bruto.

Portugal ultrapassou o défice permitido por 15 vezes, e se em cinco ocasiões tal era permitido devido à recessão (2003, 2009, 2011, 2012 e 2013), o mesmo já não se verificou nos anos de 2000, 2001, 2002, 2004, 2005, 2006, 2008, 2010, 2014 e 2015, tendo estes dois últimos anos estado na origem do processo de sanções aberto pela Comissão Europeia e hoje confirmado pelo Conselho Ecofin.

A Comissão terá agora 20 dias para propor o montante da multa (que pode ir de zero a 0,2% do PIB), em paralelo com o processo automático de congelamento de fundos comunitários para o próximo ano, e o Conselho terá depois 10 dias para adotar ou não a sanção proposta. Os Estados-membros visados têm 10 dias a partir de hoje para apresentar os seus argumentos com vista à redução da multa.

ACC/IG // MSF

Primeiro-ministro afirma que Portugal vai contestar sanções

O primeiro-ministro afirmou que Portugal vai responder nos próximos dez dias, formalmente, à decisão do Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia (Ecofin) de aplicar sanções ao país.

António Costa falava em conferência de imprensa, em São Bento, no final de uma reunião do Conselho Estratégico de Internacionalização da Economia, após o Ecofin ter decidido que Portugal e Espanha irão ser alvo de sanções por não terem adotado "medidas eficazes" para corrigirem os défices excessivos.

"Tratou-se de uma decisão que não tem particular novidade. Teremos um período de dez dias para responder e é isso que faremos", declarou o primeiro-ministro, salientando que a aplicação de sanções a Portugal e Espanha "é injustificada" e, a concretizar-se, "teria efeitos altamente contraproducentes".

Jornal de Notícias

Centeno diz que decisão do Ecofin é "injustificada"

O ministro das Finanças considera que a decisão do Ecofin, que desencadeia o processo de sanções a Portugal, "é injustificada".

Dentro da sala da reunião, Mário Centeno reiterou que o país "continua comprometido com a consolidação orçamental" e por essa razão "não há justificação" para as sanções.

O ministro português demorou-se na argumentação e "falou muito mais do que o ministro espanhol". Luís de Guindos "praticamente nem falou", adiantou fonte comunitária.

A mesma fonte disse que a argumentação do ministro português "foi muito contundente", nomeadamente apontando a falta de "justificação" para desencadear o processo de sanções, quando "o país continua comprometido com a consolidação orçamental e que os dados da execução orçamental confirmam a determinação do governo".

No texto aprovado os ministros das Finanças consideram que "em ambos os casos, verificou-se que o esforço orçamental caiu significativamente" e ficou "aquém daquilo que foi recomendado".

Mas os ministros não foram sensíveis à argumentação de Mário Centeno. A decisão foi adotada por um consenso político entre os ministros, sem ter sido colocada a votação.

O Ecofin confirma que Portugal e Espanha "não vão reduzir os défices abaixo de 3% do PIB (...) dentro do prazo recomendado". Com esta decisão do Ecofin, desencadeia-se o processo de sanções, no âmbito do procedimento dos défices excessivos.

A Comissão tem agora 20 dias para recomendar uma nova decisão ao Conselho, nomeadamente a aplicação de uma multa aos dois países que pode atingir os 0,2% do PIB. No caso de Portugal pode ultrapassar os 350 milhões de euros.

Mas, a partir desta terça-feira, os dois governos têm dez dias para contestar a decisão e apresentarem argumentos, de modo a reduzir os valores da multa, que pode mesmo ser a chamada "multa zero".

Quando Bruxelas apresentar nova decisão e formalizar as sanções, os fundos estruturais relativos ao próximo ano são automaticamente congelados. O governo espera, porém, que seja possível travar o congelamento de fundos antes da medida ter aplicação prática.

João Francisco Guerreiro, Bruxelas – Jornal de Notícias

UM NUREMBERG PARA BUSH E TONY BLAIR



Ao analisar Relatório Chilcot, um dos grandes repórteres no Oriente Médio relata: governos da Grã-Bretanha e EUA continuam devastando a região e manipulando opinião pública de seus países

Robert Fisk*, no The Independent – Outras Palavras - Tradução Vila Vudu

Acho que um julgamento em Nuremberg seria melhor local para analisar as minúcias dos crimes Blair-Bush que todos os britânicos cometemos ao ir à guerra no Oriente Médio. Causamos a morte de mais de meio milhão de pessoas, a maioria das quais muçulmanos, tão completamente inocentes quanto Blair foi culpado. Uma corte semelhante à de Nuremberg poderia concentrar-se mais detidamente no caso das massas árabes vítimas de nossa odiosa expedição criminosa, que na culpa hedionda e na “profunda lástima” – palavras dele, claro – do ex-primeiro-ministro, Lord Blair.

Claro, Blair mentiu quanto à inteligência sobre armas de destruição em massa antes de ir à guerra; mentiu depois novamente quanto aos alertas do Foreign Office sobre o caos que tomaria conta do Iraque; e hoje Blair novamente mente, insistindo que o Relatório Chilcot o teria inocentado, quando, isso sim, o relatório faz exatamente o contrário.

Mas um estudo aprofundado do relatório, em vez do resumo edulcorado que querem nos meter goela abaixo nas últimas horas, pode produzir linhas do relatório que são muito mais perturbadoras que as conclusões da versão simplificada, mais curta e fácil de regurgitar, que foi passada aos veículos da mídia. Além disso, nossa concentração sobre o iníquo Blair e suas mentiras, embora seja resposta compreensível a Chilcot, oferece preocupante versão da mendacidade que ainda hoje acomete todos os políticos, nossos primeiros-ministros e líderes de partido, e a atitude insultante que todos eles assumem na relação com os que eles dizem representar.

Ouvir as primeiras notícias sobre o épico trabalho de literatura deSir John Chilcot justamente quando viajava pela Síria, foi para mim uma experiência perturbadora. Não só porque a praga da crueldade terrorista avança para fora a partir de Raqqa foi (e não importa que tipo de nonsense Blair diga e repita) resultado direto do inferno iraquiano; mas também porque, em dezembro passado, nosso próprio atual, embora desacreditado, primeiro-ministro usou mais mentiras e falsidades Blairistas para persuadir os deputados do Parlamento a bombardear alvos do Estado Islâmico (ISIS) na Síria.

Lembram as sandices sobre os 70 mil rebeldes “moderados” que precisavam de nossa ajuda, apesar de nem existirem e de terem sido fabulados pela mesma Comissão Conjunta de Inteligência na qual Blair confiou integralmente para sua aventura criminosa?

E quando os membros do Parlamento questionaram essa conversa oca, foram desmoralizados pelo general Gordon Messenger, vice-chefe do gabinete da Defesa, que disse que, por razões de segurança as tais unidades rebeldes não podiam ter seus nomes divulgados – por mais que todos conheçamos a identidade dessa ralé de crias da CIA e da incapacidade delas para lutar contra seja o que for. O muito apropriadamente chamado Messenger [ing. “mensageiro”] manteve a fantasia de David Cameron e foi devidamente promovido; como John Scarlett, diretor da Comissão Conjunta de Inteligência (JIC) que forneceu a Tony Blair toda aquela “inteligência” vagabunda, foi adiante condecorado.

E assim os britânicos fomos à guerra contra o ISIS na Síria – exceto, claro, quando o ISIS atacasse o governo de Assad, caso em que não fazíamos coisa alguma, apesar de todos os ultrajados discursos de Hilary Benn sobre fascismo pré-guerra. Condenaremos Blair, o desgraçado, mas não pense que alguma coisa mudou nos seis anos queSir John levou para escrever seu tomo de proporções bíblicas.

E aí está o problema. Quando Blair pode dizer, como disse no momento em que o Relatório Chilcot foi publicado, que [o relatório] “deveria ter evitado acusações [sic] de má fé, mentiras e calúnias” – sem que o povo se levante nas ruas contra a má fé, as mentiras e calúnias do próprio Blair – nesse caso pode-se ter certeza que seus sucessores continuarão a ludibriar o povo mais e mais vezes, sem parar. Afinal, qual a diferença entre as Armas de Destruição em Massa (ADMs) iraquianas que não existem; os ‘alertas’ de 45 minutos, todos falsos; 70 mil “moderados” sírios inexistentes e o fim (inventado) do Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha (NHS) se o país deixasse a União Europeia?

Há muitas versões – e citações erradas – do que disse aquele mais cínico dos propagandistas nazistas, Joseph (“quanto maior a mentira, melhor”) Goebbels, mas é impossível não se sentir tocado por algumas das observações dele. “O segredo essencial da liderança britânica não depende de qualquer inteligência especial” – escreveu Goebbels em 1941. “Depende, isso sim, de notável, impenetrável estupidez. Os britânicos seguem o princípio de que suas mentiras têm de ser sempre mentira gigantesca; e a mentira vale para sempre, ninguém jamais se desmente. Os britânicos mantêm as mentiras deles, mesmo ao risco de se mostrarem ridículos.”

O mais assustador dessas palavras não é aquele tempo de guerra passada de que falava Goebbels, nem a evidência de que Churchill (alvo real do comentário do alemão) realmente mentiu. Dada a luta contra o nazismo – e apesar do que disse Churchill, que a verdade, em tempo de guerra, tem de ser protegida por uma escolta de mentiras –, os britânicos mantiveram uma habilidade virtuosa no conflito 1939-45 de dizer a verdade, até quando uma pitada de enganação Blairista teria bastado para encobrir as derrotas britânicas. Não. O mais assustador é que as palavras de Goebbels aplicam-se muito dolorosamente aos políticos britânicos de hoje.

Quem dos nossos conhecidos, depois do relatório, insiste em manter as próprias grandes mentiras, ao risco de se mostrar ridículo? Temo horrivelmente que homens pequenos que se metem a andar com salto alto – que realmente acham que seriam Churchill e levam o país à guerra – estão mentindo as mesmas mentiras das quais seus ancestrais políticos foram, em grande parte, inocentes. Talvez a chave para compreender tudo isso esteja no argumento de Sir John, para quem Blair confiou demais nas próprias “crenças” – seja lá o que se oculte nessa palavra perigosa – e na opinião de outros.

Blair assume a responsabilidade

Por isso pode nos dizer – e disse-me, a mim, enquanto eu chegava pelo deserto sírio à cidade de Palmyra e até onde chegaram as práticas vis dos autores do desastre iraquiano que Blair ajudou a criar – que “não creio [que a remoção de Saddam Hussein] seja a causa do terrorismo que vemos hoje no Oriente Médio ou noutros pontos do mundo”. Toda essa duplicidade, é claro, é para ser parte do “debate total” que Blair agora ameaça, como resultado do relatório Chilcot.

Blair diz que dará – Deus nos livre e guarde! – “todas as lições que creio que futuro líderes devem aprender de minha experiência”. Mas Blair não precisa nos entediar outra vez com suas mentiras. Elas já foram incorporadas por Dave “70 mil moderados” Cameron e os caras do Brexit que agora se autodestroem cercados das próprias mentiras que contam – e que podem afinal conseguir precisamente tudo que Goebbels sempre quis para esse país: o fim do Reino Unido.

Nesse contexto, o relatório Chilcot nem é tanto um maciço trabalho de investigação dos pecados que nos levaram para a guerra em 2003, mas apenas outro capítulo na história da inabilidade dos britânicos para controlar um mundo no qual relações públicas de políticos britânicos ameaçam o próprio povo, com desprezo; matam seus próprios soldados; e massacram centenas de milhares de estrangeiros, sem qualquer remorso real.

* Robert Fisk é um premiado jornalista inglês, correspondente no Oriente Médio do jornal britânico The Independent. Fisk vive em Beirute há mais de 25 anos. Considerado como um dos maiores especialistas nos conflitos do Oriente Médio, Fisk contribuiu para divulgar internacionalmente os massacres na guerra civil argelina e nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano; os assassinatos promovidos por Saddam Hussein, as represálias israelenses durante a Intifada palestina e as atividades ilegais do governo dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque. Fisk também entrevistou Osama bin Laden, líder da rede terrorista Al-Qaeda (em 1993, no Sudão, em 1996 e em 1997, no Afeganistão).

Portugal. BARROSO: O QUE A POLÍTICA TEM DE PIOR



Mariana Mortágua* – Jornal de Notícias, opinião

Passos Coelho não compreende os comentários à transferência de Durão Barroso, um dos seus antecessores no PSD, para o megabanco norte-americano Goldman Sachs. Diz que muitas das críticas "mostram o que a política tem de pior".

A reação de Passos é sintomática da sua persistente dificuldade em distinguir o que é certo e errado, moral e imoral. "O que a política tem de pior" é, na verdade, a porta giratória por onde se entra político e se sai empresário de topo (ou o vice-versa).

Note-se o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente da República entende que Barroso atingiu o topo da vida empresarial. Acontece que essa tal "vida empresarial" foi ser secretário de Estado, depois ministro, depois líder do PSD, depois primeiro-ministro, depois presidente da Comissão Europeia. Mas é mesmo assim que funciona a porta giratória. Cada cargo é mais um salto na carreira... empresarial. E a Goldman Sachs é mesmo o topo.

Será que Durão Barroso não tem direito a ter um trabalho no privado? Pois claro que tem. Mas este não é um trabalho qualquer. É o banco de investimento mais agressivo do Mundo. O banco responsável pelas práticas que causaram a crise financeira, pela maquilhagem das contas do Governo grego, pela especulação contra as dívidas soberanas, e pela predação das empresas privatizadas durante a crise (como os CTT). Durante os dez anos em que Barroso foi presidente da Comissão, a Goldman representou o que de mais podre existe no mundo financeiro que massacrou os povos da Europa. Durante estes anos, muito pouco foi feito para controlar a alta finança. Barroso e a Goldman têm muitos anos de colaboração. Ser presidente da Goldman não é só um trabalho. Mostra de que lado estamos. Barroso está no lado pior da política.

A Goldman Sachs, com Barroso, continuará a ser o que é. E um dia Barroso poderá ter contas para prestar. Esperemos que não se safe como se tem safado enquanto ex-primeiro-ministro, ele que sujou de sangue o nosso território ao oferecer a base das Lajes para a hedionda cimeira que iniciou o crime de guerra do Iraque.

*Deputada do BE

UE. Sanções neoliberais-fascistas. Presidente do Eurogrupo espera reação "ofensiva" do governo



O presidente do Eurogrupo espera que o governo português reaja de forma "ofensiva" à ameaça de sanções. Jeroen Dijsselbloem "tem a certeza" que uma "boa abordagem ofensiva" vai ajudar a reduzir a multa.

"Se for uma boa abordagem ofensiva, tenho a certeza que ajudará quando a Comissão decidir sobre sanções", afirmou o presidente do Eurogrupo, à entrada para a reunião do Ecofin, em que os ministros das Finanças da União Europeia vão adotar a comunicação da Comissão Europeia, que constata a "falta de ação efetiva" do país para corrigir o défice orçamental.

"O primeiro passo agora cabe aos governos de Espanha e Portugal reagirem à ameaça de sanções e o que espero é que seja uma carta ofensiva em vez de defensiva. O que significa que eles precisam de sublinhar o que vão fazer para resolverem as questões orçamentais", defendeu.

O ministro das Finanças, Mário Centeno afasta qualquer possibilidade de assumir novos compromissos com Bruxelas, além dos que "estão explicitados no programa de estabilidade".

"É a materialização desses compromissos que colocam o défice português numa trajetória claramente de redução e de convergência para o objetivo de médio prazo", disse Mário Centeno.

Na argumentação de defesa que vai enviar "nos próximos dias" a Bruxelas, o governo vai insistir que está "completamente focado na execução orçamental de 2016", considerando que "é isso que é relevante nesta fase".

Centeno espera nesta fase conseguir uma multa de um montante simbólico, podendo ser reduzida a zero, de modo a que o "país não seja prejudicado" e a execução orçamental "não seja afetada".

Quanto ao congelamento de fundos estruturais, que avança de forma automática a partir do momento em que a Comissão abre o procedimento de sanções, o ministro também afasta preocupações. "O entendimento que temos e que estamos a trabalhar com a Comissão Europeia é que as medidas relativamente aos fundos não vão ter materialização prática. Porque essa medida, sendo automática, também automaticamente é levantada a partir do momento em que o país cumpre", afirmou.

"Vamos iniciar o processo de contactos diretos com a Comissão Europeia, no sentido de explicar a posição do governo, que é contrária ao procedimento que está em curso", disse ainda o ministro, referindo-se à defesa que o país vai fazer perante a Comissão Europeia.

João Francisco Guerreiro, em Bruxelas - Jornal de Notícias

Foto: Comissário europeu dos Assuntos Financeiros e Económicos, Pierre Moscovici, e o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem / OLIVIER HOSLET/EPA, com colagem PG

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