segunda-feira, 8 de agosto de 2016

A GUERRA QUE ESTÁ PARA VIR ENTRE A CHINA E A AMÉRICA



John Pilger entrevistado por Maki Sunagawa e Daniel Broudy [*]

Daniel Broudy: Está agora em vias de terminar o vosso último projecto cujo título, parece, arrisca-se a desencadear sentimentos de medo considerável. A guerra que está para vir é uma expressão pesada. Pode descrever o que o levou a ter este olhar particular sobre os acontecimentos mundiais, especialmente a maneira como os vê desenrolarem-se na Ásia oriental?

John Pilger: O filme retoma o tema de grande parte dos meus trabalhos. Procura explicar como uma grande potência se impõe sobre os povos, como ela oculta seu jogo e os perigos que ela provoca. Este filme é sobre os Estados Unidos, muito seguros do seu poder e a procurar ressuscitar a Guerra-fria. A Guerra-fria foi lançada novamente em duas frentes: contra a Rússia e contra a China. Concentro-me na China neste filme sobre a região Ásia-Pacífico. Ele começa nas Ilhas Marshall, onde os Estados Unidos explodiram 67 bombas atómicas , armas nucleares, entre 1946 e 1958, deixando esta parte do mundo gravemente golpeada em termos humanos e ambientais. E este assalto às Marshall continua. Sobre a ilha maior, Kwajalein, há uma base importante e secreta dos EUA, chamada centro de testes Ronald Reagan , que foi criada nos anos 1960, como mostram os arquivos que utilizámos, "para lutar contra a ameaça chinesa".

O filme desenrola-se igualmente em Okinawa, como sabe. Uma parte do assunto é mostrar a resistência ao poder e à guerra por parte de um povo que vive ao longo da linha de fecho das bases americanas no seu país de origem. O título do filme tem uma ligação com o assunto, pois é concebido como uma advertência. Os documentários deste género têm a responsabilidade de alertar as pessoas, se necessário preveni-las e indicar-lhes os meios de resistência a estes planos predatórios. O filme mostrará que a resistência em Okinawa é notável, eficaz e pouco conhecida no mundo inteiro. Okinawa alberga 32 instalações militares americanas . Quase um quarto do território é ocupado por bases americanas. O céu frequentemente está pejado de aviões militares; a arrogância dos ocupantes é sentida diariamente. Okinawa tem a dimensão de Long Island. Imagine uma base chinesa implantada bem ao lado de Nova York.

Também fui filmar na ilha de Jeju, ao largo da ponta sul da Coreia, onde algo de muito semelhante se passou. As pessoas de Jeju tentaram impedir a construção de uma base importante e provocadora a cerca de 400 milhas [644 km] de Shangai. A marinha sul-coreana mantém-na preparada para os EUA. É realmente uma base americana onde destroyers da classe Aegis atracam no cais ao lado de submarinos nucleares e porta-aviões, junto à China. Tal como Okinawa, Jeju tem uma história repleta de invasões, de sofrimento e de resistência.

Na China, decidi concentrar-me em Shangai, que é um dos centros da história e das convulsões da China moderna, da sua entrada na modernidade. Mao e seus camaradas fundaram ali o Partido Comunista da China, nos anos 1920. Hoje, a casa onde eles se reuniram em segredo está cercada pelos símbolos da sociedade de consumo: há um Starbucks em frente. As contradições da China contemporânea saltam à vista.

O último capítulo do filme decorre nos Estados Unidos, onde entrevistei aqueles que planificam o jogo da guerracontra a China e aqueles que nos alertam sobre seus perigos. Encontrei pessoas impressionantes: Bruce Cummings, o historiador cujo último livre sobre a Coreia revela a história secreta, e David Vine, cujo trabalho completo sobre as bases americanas foi publicado no ano passado. Filmei uma entrevista no Departamento de Estado com o secretário de Estado assistente para a Ásia e o Pacífico, Daniel Russell, o qual disse que os Estados Unidos "não estavam mais nos negócios de instalação de bases". Os EUA possuem cerca de 5000 bases, 4000 nos próprios EUA e cerca de um milhar em todos os continentes. Conceber todo este conjunto, dar-lhe sentido, fazer justiça a todos, tanto quanto possível, são ao mesmo tempo o prazer e o sofrimento da criação cinematográfica. O que desejo exprimir através deste filme é que corremos grandes riscos, que não são reconhecidos. Devo dizer que tenho a impressão de estar num outro mundo, nos Estados Unidos, durante esta campanha presidencial que não aborda nenhum destes riscos.

Mas isto não é inteiramente exacto. Donald Trumpo parece ter-se interessado seriamente, ainda que de modo momentâneo. Stephen Cohen, autoridade eminente sobre a Rússia que rastreou isto, sublinha que Trump disse claramente desejar relações amistosas com a Rússia e a China. Hillary Clinton atacou Trumpo por isso. Diga-se de passagem que o próprio Cohen foi atacado por ter sugerido que Trump não era um maníaco homicida em relação à Rússia. Pelo seu lado, Bernie Sanders permaneceu silencioso; seja como for ele agora está do lado de Clinton. Como mostram seus emails, Clinton parece querer destruir a Síria a fim de proteger o monopólio nuclear de Israel. Recordem-se o que ela fez à Líbia e a Kadafi. Em 2010, enquanto secretária de Estado, ela transformou uma disputa apenas regional, no mar da China do Sul, num litígio implicando os EUA. Ela fez disto uma questão internacional, um ponto de tensão. No ano seguinte, Obama anunciou seu "eixo para a Ásia", um jargão para justificar a maior acumulação de forças militares americanas na Ásia desde a Segunda Guerra Mundial. O actual secretário da Defesa, Ash Carter, anunciou recentemente que mísseis e homens seriam baseados nas Filipinas, em frente à China. Isso se passa enquanto a NATO prossegue seu estranho reforço militar na Europa, nas fronteiras da Rússia. Nos Estados Unidos, onde os media em todas as suas formas são omnipresente e onde a imprensa é constitucionalmente a mais livre do mundo, não há nenhuma conversação nacional, em menos ainda qualquer debate, acerca destes desenvolvimentos. Num certo sentido, o objectivo do meu filme é ajudar a romper o silêncio.

Daniel Broudy: É absolutamente espantoso ver que os dois principais candidatos democratas não disseram praticamente nada de substancial sobre a Rússia e a China e sobre a política dos Estados Unidos face a eles. Como acabou de dizer, é irónico constatar que Trump, um homem de negócios, fala da China deste modo.

John Pilger: Trump é imprevisível, mas ele disse claramente que não tinha vontade de entrar em guerra contra a Rússia e a China. Num certo momento, ele disse mesmo que seria neutro no Médio Oriente. Era uma heresia e ele recuou sobre este ponto. Stephen Cohen disse que ele [Cohen] fora atacado unicamente por ter falado disto [os pontos positivos de Trump]. Escrevi algo semelhante recentemente e isto inquietou um estrato dos media sociais. Várias pessoas interpretaram isto como um apoio a Trump.

Maki Sunagawa: Eu queria voltar a alguns dos vossos trabalhos anteriores que nos remetem ao presente. No filmeStealing a Nation (Roubar uma nação), Charlesia Alexis fala das suas lembranças mais belas de Diego Garcia, sublinhando que "podíamos comer de tudo; nunca faltou o que quer que seja e nunca se comprou o que quer que seja, excepto o vestuário que usávamos". Estas palavras recordam-me os lugares e as culturas pacíficas e virgens, através do mundo, que existiam antes de as técnicas colonizadores clássicas terem sido aplicadas aos povos e aos ambientes autóctones. Poderia desenvolver um pouco mais estes pormenores que descobriu, nas investigações sobre Diego Garcia, que ilustrem factos sobre esta força insidiosa que suportamos ainda hoje?

John Pilger: O que aconteceu às pessoas de Diego Garcia é um crime monstruoso. Eles foram expulsos, todos, pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos. A vida que acaba de descrever, a vida de Charlesia, foi deliberadamente destruída. Desde a sua expulsão, que começou nos anos 1970, o povo das Chagos organizou uma resistência infatigável. Como acaba de dizer, sua história representa a dos povos autóctones por toda a parte do mundo. Na Austrália, os povos autóctones foram expulsos das suas comunidades e brutalizados. A América do Norte passou por uma história semelhante. As populações autóctones são profundamente ameaçadoras para as sociedades de colonos pois representam uma outra vida, um outro modo de viver, um outro modo de ver as coisas. Eles podem aceitar superficialmente nosso modo de vida, frequentemente com resultados trágicos, mas seu sentido da vida não está cativo. Se nós, modernos, fossemos tão inteligentes quanto acreditamos ser, aprenderíamos com eles. Em vez disso, preferimos o conforto especioso da nossa ignorância e dos nossos preconceitos. Tenho muitas relações com os povos autóctones da Austrália. Fiz alguns filmes sobre o assunto e sobre os seus opressores, admiro sua resiliência e sua resistência. Eles têm muito em comum com o povo de Diego Garcia. Pois a injustiça e a crueldade são semelhantes: os habitantes das Chagos foram enganados, intimidados e forçados a deixar a sua pátrias. A fim de os assustar, as autoridades coloniais britânicas mataram seus amados cães de estimação. Depois puseram-nos num velho navio com uma carga de merda de pássaros e lançaram-nos nos bairros de lata da Ilha Maurícia e nas Seychelles. Este horror é descrito com pormenores quase insolentes nos documentos oficiais. Um deles, escrito pelo advogado do Foreign Office, intitula-se manter a ficção. Por outras palavras: como manter uma mentira grosseira. O governo britânico mentiu à Organização das Nações Unidas ao pretender que os habitantes das Chagos eramtrabalhadores temporários. Uma vez expulsos, ele foram volatilizados; um documento do Ministério da Defesa pretendeu mesmo nunca ter havido população na ilha.

Era um quadro grotesco do imperialismo moderno: uma palavra quase apagada com êxito do dicionário. Há algumas semanas, os chagossianos viram rejeitado seu recurso junto ao Tribunal Supremo britânico. Eles haviam recorrido de uma decisão tomada em 2009 pela Câmara dos Lordes que lhes recusava o direito de voltarem à casa, ainda que uma série de sentenças do Supremo Tribunal tivesse sido a seu favor. Quando a justiça britânica foi convocada a pronunciar-se entre os direitos do homem e os direitos de uma grande potência, suas decisões tornam-se politicamente nuas.

Daniel Broudy: Ao ouvir, durante duas décadas, pessoas a falarem da grande beleza de Diego Garcia, das suas actividades marinha oferecidas a todos aqueles que tiverem a sorte de serem estacionados ou temporariamente localizados ali, fico sempre impressionado pela ignorância determinada daqueles que vão ali e voltam alegremente, sem serem perturbados pela história da ilha. Talvez os media, que muitas pessoas consomem, contribuam para um tal distanciamento da tomada de consciência individual. A linha clara que, antes, separava tradicionalmente a publicidade comercial civil das relações públicas militares parecer ter efectivamente desaparecido nestas comunicações de massa. Nos nossos dias, publicações civis ostentam títulos como: a classificação das melhores bases militares de além-mar . O autor de um artigo recente sublinha que o pessoal destas bases admite seu sonho de ver o mundo como razão central que motiva seu serviço militar além-mar. Pergunto-me se o sistema actual permite ou o encoraja a encarar-se como uma espécie de viajante do mundo cosmopolita e, assim, contribui para desenvolver um sentido superficial do mundo. Um sentido que encobre realidades e histórias horríveis, como a de Diego Garcia, situadas fora da vista. Pensa que o processo de comercialização e de idealização destas actividades militares desempenhou algum papel na manutenção da rede mundial de bases militares?

John Pilger: É possível convencer jovens, homens e mulheres, a entrarem num exército de voluntários oferecendo-lhes o género de segurança que não receberiam de outra forma, nos períodos económicos difíceis, fazendo com que pareça uma aventura. Acrescentemos a isto a propaganda patriótica. As bases são pequenas Américas; você pode estar no estrangeiro em climas exóticos, mas não realmente; é como que uma vida virtual. Quando você se confronta com os locais, pode supor que a aventura em que está inclui uma licença para abusar; eles não fazem parte desta pequena América, de modo que podem ser abusados. Os habitantes de Okinawa sabem-no muito bem.

Assisti alguns filmes de arquivo interessantes sobre uma das bases de Okinawa. A mulher de um dos soldados ali baseados diz: "Oh, tentamos sair uma vez por mês para ter um jantar local e ter uma ideia do lugar onde estamos". Antes de deixar as ilhas Marshall, no ano passado, minha equipe e eu tivemos de passa pelo centro de experimentação Ronald Reagan no atol de Kwajelein. Foi uma experiência kafkiana. Tomaram nossas impressões digitais e nossas íris foram registadas, nossa altura medida, foram tomadas de fotos de nós sob todos os ângulos. Era como se estivéssemos sob prisão. Era a porta de entrada de uma pequena América com seu terreno de golfe, suas pistas de jogging e suas pistas cicláveis com cães e crianças. Os jardineiros para os terrenos de golfe e o controle do cloro nas piscinas vinham de uma ilha do outro lado da baía, Ebeye, de onde são transportados pelos militares. Ebeye tem cerca de dois quilómetros de comprimento, onde são atulhadas 12 mil pessoas. São refugiados provenientes das ilhas Marshall que sofreram os ensaios nucleares. O abastecimento de água e o saneamento ali mal funcionam. É um apartheid em pleno Pacífico. Os americanos da base não têm qualquer ideia do modo como vivem os insulares. Eles [os membros da comunidade militar] fazem churrascos ao por do sol. Algo semelhante aconteceu a Diego Garcia. Uma vez que as pessoas foram expulsas, os churrascos e o ski náutico podiam começar.

Em Washington, o secretário de Estado assistente que entrevistei disse que os Estados Unidos eram de facto anti-imperialistas. Ele era impassível e provavelmente sincero, apenas consciente. Isto não é raro. Você pode dizer a pessoas de nível académico nos Estados Unidos: "Os EUA têm o maior império que o mundo já conheceu e eis aqui as provas". É muito provável que esta conclusão seja recebida com uma expressão de incredulidade.

Daniel Broudy: Certas coisas de que fala recordam-me o que soube junto a antigos amigos do Departamento de Estado. Há sempre um risco de que os funcionários do Departamento de Estado ou pessoas que servem o exército no estrangeiro "se tornem locais", ou seja, comecem a simpatizar com as pessoas da população local.

John Pilger : Concordo. Quando sentem empatia, dão-se conta de que a razão pela qual estão lá não tem sentido. Alguns dos denunciantes mais eficazes são ex-militares.

Daniel Broudy : Talvez as barreiras sejam destinadas mais a recordar aos militares das bases que existe um limite a não ultrapassar em relação aos locais do que a impedir que os estrangeiros [os locais] penetrem na zona [no interior da base].

John Pilger: Sim, é "eles e nós". Se você vai ao exterior da cerca, há sempre o risco de que adquira a compreensão de uma outra sociedade. Isso pode levar a colocar-se a questão de saber porque a base está lá. Isso não acontece frequentemente, pois uma outra linha de cerca atravessa a consciência militar.

Maki Sunagawa: Quando você rememora lugares de filmagem em Okinawa ou quando tomadas para este projecto, quais são as suas lembranças mais inesquecíveis e / ou mais chocantes? Há cenas ou conversações que não esquecerá?

John Pilger: Sim, há um certo número. Senti-me privilegiado por encontrar Fumiko [Shimabukuro], que é uma fonte de inspiração. Aqueles que haviam conseguido eleger o governador Onaga e a garantir que Henoko e todas as bases na agenda política japonesa estão entre as pessoas de princípio mais dinâmicas que já encontrei: cheias de imaginação e simpáticas.

Ouvir a mãe de um dos jovens que acabou por morrer devido aos terríveis ferimentos provocados por um caça americano que se esmagou sobre a escola [em Ishikawa] em 1959 foi um recordar brutal do medo em que vivem as pessoas. Uma professora disse-me que desde então ela nunca cessou de olhar com ansiedade quando ouve o ruído de uma aeronave acima da sua sala de aula. Quando filmávamos fora do Camp Schwab, éramos (assim como todos os manifestantes) deliberadamente fustigados por enormes helicóptero Sea Stallion, que voavam em círculos acima de nós. Era uma amostra do que as pessoas de Okinawa devem aguentar, dia após dia. Muitas vezes há um lamento de pessoas liberais, nas sociedades confortáveis, quando confrontadas com verdades desagradáveis: "Então, o que é que posso fazer para mudar isso?" Eu diria que é preciso fazer como os habitantes de Okinawa fizeram: não desistir e continuar.

"Resistência" não é uma palavra que se ouça ou que se veja frequentemente nos media ocidentais. É considerada como uma palavra de um outro mundo, não utilizada pelas polidas e respeitáveis. É uma palavra difícil de contornar e mudar. A resistência que encontrei em Okinawa é uma fonte de inspiração.

Maki Sunagawa: Sim, suponho que quando se faz parte da resistência não é tão fácil ver também a sua eficácia. Muito frequentemente, quando faço investigações no terreno, entrevistas, anotações e a escrita, é preciso algum tempo para tomar um pouco de recuo e olhar os pormenores de modo mais objectivo a fim de compreender a história mais profunda sobre a qual estou em vias de reflectir. Pergunto-me se, no decorrer do processo da edição deste novo filme, pode nos falar das novas e importantes lições que extraiu.

John Pilger: Bem, fazer um filme é como uma viagem de descoberta. Começa-se com um esquema global e um conjunto de ideias e hipóteses, mas nunca se sabe realmente onde isso vai nos levar. Nunca tinha estado em Okinawa, assim adquiri novas ideias e experiências: um novo sentido dos povos e queria que o filme reflectisse isso.

As ilhas Marshall também foram uma novidade para mim. Lá, a partir de 1946, os Estados Unidos testaram o equivalente a uma bomba de Hiroshima a cada dia durante doze anos. Os habitantes das Marshall ainda são utilizados como cobaias. Mísseis são atirados sobre as lagunas do atoll de Kwajelein a partir da Califórnia. A água está envenenada, os peixes não são comestíveis. As pessoas sobrevivem comendo conservas. Encontrei um grupo de mulheres que eram sobreviventes dos ensaios nucleares em torno do atolls de Bikini e Rongelap. Todas elas haviam perdido suas glândulas tiróide. Eram mulheres na casa dos 60 anos. Haviam sobrevivido, incrivelmente. São personalidades generosas tendo um grande sentido do humor negro. Elas cantaram para nós, ofereceram-nos prendas e disseram que estavam felizes porque tínhamos vindo filmá-las. Elas também fazem parte de uma resistência invisível.

Ver também: 

[*] Maki Sunagawa: investigadora da Graduate School of Intercultural Communication da Okinawa Christian University;   Daniel Broudy: professor de retórica e linguística da Okinawa Christian University.

O original encontra-se em fpif.org/preview-coming-war-america-china/
e a versão em francês em lesakerfrancophone.fr/...

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/
 

Portugal. OBVIAMENTE, DEMITIDOS



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Entre a falsa novidade de que a exposição solar iria influenciar a avaliação das casas e os Jogos Olímpicos, eis que se publica na revista “Sábado” que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, foi ver a final do Euro 2016 à conta da Galp - empresa com a qual o Estado, soube-se agora, tem um litígio de 100 milhões de euros por não pagamento de impostos.

Mais tarde, veio a saber-se que mais dois secretários de Estado do atual governo integraram este grupo de 50 convivas amigos da gasolineira. Da lista revelada cirurgicamente para atingir o governo desconhecem-se os outros 47. Ainda mais curioso é que os convites da Galp poderão ter chegado pela mão do administrador responsável pelos serviços corporativos, Carlos Costa Pina, ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças entre 2005 e 2011.

A indignação pública centra-se nos governantes. Escapa-me quando é que passou a ser tolerável que uma empresa convide ou dê prendas a quem a tutela ou regula. Ministério Público, está alguém a ouvir?

Mas há mais.

Passados dois dias, o “Observador” revela que três deputados do PSD, entre os quais o líder do grupo parlamentar, fizeram o mesmo roteiro à conta da Olivedesportos. Num primeiro momento, Luís Campos Ferreira evita comentar alegando tratar-se da sua “vida privada” e, mais tarde, os três assinam uma declaração afirmando que a notícia é falsa. Nos registos da Assembleia da República, assumem as faltas. Montenegro e Campos Ferreira afirmam ter estado em “trabalho político”. Hugo Soares declara “motivo de força maior” para ir ver o jogo da bola.

Parece-me importante que se desenhe um código de ética para deputados, governantes e ex-governantes, mas nada do que se escreva poderá prevalecer se estes casos forem tolerados. Nenhum dos nomeados demonstrou arrependimento, nem sequer o entendimento sobre o conflito de interesses em que se colocou. Permito-me arriscar que olharão para esta polémica como um aborrecimento que passará com o tempo e não como uma questão de princípios. Não aprenderam nada e a empresa manterá a sua lógica de convites a quem importa.

Não há lei que possa prevalecer no território da impunidade. 

Portugal. Galp - Governo. BLOCO E PCP DIZEM ‘NIM’ À EXIGENCIA DAS DEMISSÕES, PS DIZ NÃO




Mário Motta, Lisboa

Sabemos que é ilegal governantes receberem “favores” ou “presentes” de terceiros (a lei até é mais abrangente e inclui outros com grandes responsabilidades na coisa pública), se assim é não se compreende que secretários de estado e deputados tenham recebido de presente da Galp viagens a Paris (e que mais?) para assistirem a jogos do Euro 2016. Mas receberam. Infringiram a lei. O que lhes resta é terem a decência de se demitirem. Já deviam ter-se demitido em vez de encarnarem em desavergonhados impunes que consideram não ter feito nada de mal, de errado, de ilegal.

Nesta altura do campeonato não importa se voltaram atrás e pagaram de seus bolsos, obviamente que à posteriori, as despesas correspondentes que foram “oferta” da Galp. Importa que pularam a cerca da lei e, principalmente, da decência. Até porque só avançaram com o pagamento à Galp depois de os “presentes” serem do conhecimento público. Caso contrário as suas consciências estavam tranquilas e repousadas num falso indicador de “muito honestos” (como Cavaco, p. ex.). Não, de modo algum são dos que interessam para desempenhar cargos que devem cuidar da coisa pública e cumprir escrupulosamente a lei. Esta é a verdade de La Palisse. Não há volta a dar.

Sabemos que o governo PS tem andado a assobiar para o lado e que a sua faceta inescrupulosa relativamente a príncipios éticos e legais sobressaiu com este caso dos “presentes” da Galp. Todos vimos que o governo PS quer à viva força manter aqueles secretários de estado no ativo (há ainda deputados neste imbróglio?) não os demitindo ou convidando-os a demitirem-se – o que vai dar no mesmo para a República que se livra deles.

Também sabemos que os partidos de esquerda que apoiam o governo no parlamento, BE e PCP, alinham na marcha do assobiar para o lado em vez de tomarem a posição habitual e declarada anteriormente em outros casos que envolviam a direita, exigindo a demissão dos prevaricadores. Podiam fazê-lo sem alarde para não ferir suscetibilidades do PS e do governo Costa mas a coerência exige que mantenham a exigência da transparência e respeito pelas leis da República.

Em vez disso o que vimos é um silêncio ensurdecedor da violação de princípios básicos das regras democráticas e republicanas. Vimos a direita num ataque constante com razões evidentes, independentemente de ser useira e vezeira neste tipo de casos e de outros muito mais graves, por que tem passado impunemente – assim como o PS. Vimos o governo de Costa e os partidos que parlamentarmente apoiam o governo a serem atacados e a entregar munições para mais ataques. Em política o que parece é. O que parece é que o Bloco e o PCP estão a engolir um elefante que vão ter de vomitar.

Penosamente assistimos ao Bloco de Esquerda e ao PCP a responder ‘nim’ sobre a inquestionável demissão dos secretários de estado ‘”presenteados”. È público e notório que isso envergonha a esquerda e, principalmente, descredibiliza-a por demonstrar ter dois pesos e duas medidas. Envergonha a esquerda que sempre se tem pronunciado contra a impunidade e branqueamento de casos semelhantes ocorridos anteriormente, principalmente envolvendo governantes da direita PSD / CDS, mas também do PS.

O que está a acontecer é o florescer de algo que devia ter sido cortado cerce logo ao despontar. E a iniciativa devia ter partido dos secretários de estado “presenteados”. Caso não tomassem a iniciativa, competia ao PM tomá-la. Como assim não aconteceu é demonstrado que para o governo a transparência, o rigor e cumprimento da lei, a correção, a honestidade, não são assim tão importantes como andou a propalar. E o mesmo podemos dizer do BE e do PCP, ao não corresponderem aos critérios por eles anteriormente expostos e defendidos como justificáveis e inquestionáveis princípios.

Enquistando o tema devemos ou não perguntar se os “presentes”, os “favores” a corrupção – de maior ou menor vulto – se for prática de elementos supostamente de esquerda deixa de ser corrupção, deixa de ser ato ilegal e violador da ética que deve orientar os que são eleitos ou nomeados para governar e proteger a coisa pública e a democracia?

O Partido Socialista, tal como o PSD e o CDS, são useiros e vezeiros nestas promiscuidades com o poder económico e financeiro. Para eles é de sua génese estas situações. Só por uma questão política de desgaste do governo é que o CDS e o PSD se armam em prostitutas sérias. Todos o sabemos. Assim como sabemos que o Bloco de Esquerda e o PCP não devem alinhar nestes “comboios”. António Costa, se quer o apoio parlamentar daqueles partidos de esquerda e manter o governo, deve clarificar a situação, torná-la limpinha-limpinha e transmitir conforto aos partidos que o apoiam, assim como ao seu partido e, principalmente, ao governo de que é primeiro-ministro. Não há dúvida que quer o Bloco, quer o PCP estão muito desconfortáveis nesta situação, o PS e o governo também. Se bem que o PS já tenha calo naquelas andanças dos “presentes”. 

Afirmaram que iam melhorar a vida dos portugueses e aqui têm uma boa oportunidade, além das que já tiveram de positivas e das que ambicionamos ainda melhores no presente e no futuro. Os senhores secretários de estado que meteram a “pata na poça” que se demitam. Façam esse favor a Portugal e aos portugueses! Pela continuidade impoluta e defesa deste governo.

Portugal. Galp – Governo. "Reembolsar significa que não queremos que nenhuma dúvida subsista"



Augusto Santos Silva lidera o Executivo nesta altura em que António Costa está de férias.

O ministro Augusto Santos Silva marcou presença esta sexta-feira à noite no telejornal da SIC, onde falou sobre a polémica em torno das viagens de três secretários de Estado ao Euro’2016, pagas pela Galp.

“O Governo considera que este caso deve ser visto nas suas proporções. Tratou-se de uma iniciativa pública de apoio à Seleção Nacional de futebol, participaram dezenas e dezenas de personalidades públicas, as despesas foram custeadas por um dos patrocinadores da Seleção mas não queremos que subsista nenhuma espécie de dúvida”.

Numa altura em que, com António Costa de férias, é ele o primeiro-ministro em funções, Augusto Santos Silva salientou que “os secretários de Estado entenderam reembolsar as despesas” das viagens em causa.

“O gesto de reembolsar significa que não queremos que nenhuma dúvida subsista”, defendeu.

“Como há dúvidas que subsistem sobre como se deve interpretar uma disposição da lei”, existindo na lei a figura do “gesto de cortesia”, “tencionamos ainda este verão aprovar um código de conduta” que seja, futuramente, taxativo.

Questionado sobre se foi ele próprio ou António Costa, com tem estado em “contacto permanente”, a sugerir aos governantes em causa que devolvessem o valor das viagens, Santos Silva negou, dizendo que foi um “juízo adequado” dos secretários de Estado.

Já sobre a relação futura entre os governantes em causa e eventuais negócios da petrolífera, Santos Silva afirma que, “no que diz respeito ao secretário de Estado que trabalha comigo, eu espero que a Galp apresente muitos projetos de investimento” e que, nos casos em que implicar a sua tutela, “eu avocarei pessoalmente.

Pedro Filipe Pina – Notícias ao Minuto

Portugal. Galp - Governo. "Ultrapassou-se a fronteira do que é legítimo e devem ser demitidos"



O antigo ministro dos Negócios Estrageiros Freitas do Amaral considerou hoje que o primeiro-ministro deve demitir os secretários de Estado que aceitaram convites da Galp para assistir a jogos da seleção nacional em França.

"Ultrapassou-se a fronteira do que é legítimo e devem ser demitidos, se não se demitirem", afirmou Freitas do Amaral, jurista, professor catedrático de Direito e que foi ministro no Governo socialista liderado por José Sócrates.

Em entrevista ao programa 360º, da RTP 3, Freitas do Amaral declarou mais do que uma vez que os secretários de Estado deviam ter apresentado a demissão e que, caso não o façam, o primeiro-ministro terá de os demitir.

"Quem exerce cargos públicos não pode receber presentes de entidades privadas. Ponto final", frisou.

"O primeiro-ministro, quando chegar de férias, ou mesmo interrompendo-as, vai ter de repensar tudo isto, quando perceber que foi violada a lei da ética e que os secretários de Estado vão ficar impedidos de participar em decisões sobre a Galp", afirmou.

O antigo ministro vincou, por várias vezes, que a lei é clara e define que quem exerce cargos públicos não pode receber presentes de entidades privadas.

Apesar de considerar que os secretários de Estado contrariaram as leis portuguesas, Freitas do Amaral mostrou-se convicto de que não houve crime.

Ainda assim, julga que é "completamente reprovável" que os convites da Galp para assitir a jogos do Europeu de Futebol, em França, tenham sido feitos e aceites.

O professor de direito, que foi fundador e candidato presidencial pela Aliança Democrática, sublinhou que o problema "não está no dinheiro" em causa e que devolver o dinheiro "não apaga a falta".

"O problema está no facto de uma entidade privada fazer um favor a um órgão de uma entidade pública e esse favor é um privilégio".

Freitas do Amaral defendeu ainda que pode não ser legítima a escolha, por parte da Galp, dos três secretários de Estado em questão: dos Assuntos Fiscais, da Internacionalização e da Indústria.

Caso não haja demissões, Freitas do Amaral alerta que estes governantes ficarão "coxos, legalmente suspeitos de não serem imparciais" e com capacidade jurídica limitada, uma vez que deixarão de poder tomar decisões ou interferir diretamente em matérias que envolvam a Galp.

"Vai tornar estes três secretários de Estado em secretários de Estado coxos", declarou.

Para o antigo ministro, politicamente, este assunto é importante "porque este Governo tem de mostrar ao país que põe os princípios acima dos interesses".

Ainda assim, referiu que este assunto "não é o caso mais importante da vida portuguesa".

No programa informativo da RTP3, Freitas do Amaral sugeriu ainda que a lista de convidados da Galp para o Euro devia ser conhecida, de forma a saber se havia mais governantes ou outros funcionários públicos.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. "Era o que faltava o país andar com uma moeda com a cara do Papa"



A socialista Isabel Moreira explicou que o Estado se deve manter laico.

Isabel Moreira mostrou-se indignada com a notícia avançada pelo semanário Expresso que dá conta que os responsáveis pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda tinham programado lançar uma moeda de dois euros com a imagem do Papa Francisco.

O artista estava escolhido, houve conversas com a reitoria do santuário de Fátima mas o Vaticano recusou. “Não chegaram a pedir autorização ao Governo”, escreveu a deputada socialista no Facebook, salvaguardando que se trata de “mais um caso de não interiorização e de desrespeito pela laicidade do Estado”.

“E não é uma coisa sem importância”.

“A laicidade do Estado é o pressuposto da democracia plural, na qual se garante o respeito pela liberdade de religião e de culto de todas e de todos . Esse respeito é a não interferência na crença de cada um, nas nossas convicções”, afirmou a socialista.

Neste sentido, Isabel Moreira refere que a laicidade do Estado implica “uma abstenção por parte dos poderes públicos quanto à religião e nunca uma promoção da religião y ou x”. “O guia de princípios de atuação do Estado está na Constituição, ponto. Era o que faltava o país inteiro (na sua diversidade de crenças religiosas de agnósticos e de ateus) andar com uma moeda a circular com a cara do Papa Francisco”, concluiu.

Inês André de Figueiredo – Notícias ao Minuto

Portugal. EMPRESÁRIOS, PRECISA-SE!



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Um recente estudo do Banco Central Europeu (BCE) dá conta da perceção dos empresários portugueses sobre a facilidade de despedimento nas suas empresas. As suas opiniões colocam Portugal entre os países onde mais empresários expressam a opinião de que, em 2013, era mais fácil despedir do que em 2010. Não surpreende, considerando as profundas alterações legislativas à proteção dos trabalhadores promovidas pelo anterior Governo, com a chancela tutelar da troika. Ainda assim, autores do Banco de Portugal, que contribuíram para aquele estudo, queixam-se da falta de "flexibilidade" salarial: os salários dos trabalhadores portugueses não foram cortados tanto como gostariam.

O estudo do BCE mostra, de forma cristalina, que o trabalho é hoje entendido como a principal variável de ajustamento na economia. Antes, ouvia-se amiúde que os trabalhadores não podiam pedir muito porque isso afetaria a viabilidade das empresas. Hoje, o discurso requintou-se. Os trabalhadores, os seus salários e as suas condições de vida são entendidos como mero custo a cortar de todas as maneiras. Investir em novos processos e produtos, melhorar a produtividade, apostar na inovação e qualificação dos trabalhadores são fatores de competitividade que ainda vão surgindo em discursos políticos, mas já se encontram totalmente arredados do quadro mental dos tecnocratas e de empresários tomados por miopia política, ou por velhas formas de exploração do trabalho.

O inquérito do BCE mostra um dado muito significativo que não foi valorizado devidamente: os empresários identificam a quebra de procura na economia como principal barreira a novas contratações. Ou seja, a propagandeada "desvalorização interna", apresentada como a solução para a nossa economia, teve como consequência a depressão da procura e esta é agora identificada pelos patrões como o seu principal problema. Então, por que é que muitos empresários portugueses prosseguem na pedinchice ao Estado, na responsabilização deste e no espremer dos trabalhadores, em vez de apostarem, com seriedade e ofensivamente, na resolução dos obstáculos que consideram principais? Mais, sabendo-se que um dos grandes problemas das pequenas e médias empresas está no acesso ao crédito, é caso para se dizer que o silêncio dos empresários em relação à situação do setor financeiro nacional é ensurdecedor.

Perante o capital financeiro e as suas agendas transnacionais, os empresários portugueses amocham. Trata-se de um dado que compromete o nosso desenvolvimento. Os patrões nacionais têm hoje a oportunidade e a obrigação de ajudar à defesa do país perante a ingerência externa que lhes tira negócio e face ao capital financeiro que os parasita. As associações patronais - que até ouviam membros do anterior Governo dizerem que queriam "falar com empresários, mas não com as suas confederações" - podem ter um papel relevante no desenvolvimento do país, fazendo valer o interesse do todo que representam, com princípios, com valores, com ética, com sentido patriótico.

A recente posição das confederações patronais, membros da CPCS, "repudiando veementemente" o projeto de lei que visa o "Combate às Formas Modernas de Trabalho Forçado" não abona em seu favor, pois rema contra a dignidade no trabalho. As teias de contratação e subcontratações hoje existentes são complexas. Os empresários têm de aceitar a responsabilidade subsidiária e solidária em cada processo de recrutamento, sob pena de proliferarem impunidades, desrespeito das leis e dos direitos humanos. Certos comportamentos devem ser criminalizados. É mau sinal as empresas de trabalho temporário sentirem-se ameaçadas! Por outro lado, é um facto que as receitas da troika e o zelo com que foram aplicadas neste país produziram alterações profundas, colocando os patrões numa posição de "conforto" para gerir as relações de trabalho. Mas para haver competitividade e desenvolvimento do país há que repor proteção e alguns poderes a quem trabalha.

O país precisa de empresários que deem um contributo patriótico e respeitador dos valores estruturantes da Democracia.

* Investigador e professor universitário

OBRIGADO, BOMBEIROS DE PORTUGAL!




Expresso Curto por um jornalista do Expresso, Filipe Santos Costa, da secção política. Ainda há dias atrás referimos que tínhamos constatado que o Expresso Curto era na maior parte dos dias escrito por diretores do Expresso, coordenadores e etc., do topo hierárquico e agora reparamos que estão a surgir mais jornalistas (só) nesta cafeína matinal. Podem tirar o cavalinho da chuva porque não foi pelo nosso reparo que os diretores  e outros nas ilhargas entregaram o trabalho aos jornalistas da casa do tio Balsemão. Não. Simplesmente os diretores foram de férias… Pois.

Filipe aborda muita coisa mas o tema alonga-se no desporto. Os olímpicos e outros. Incluindo os de Portugal. Pois. Dai-lhe bola, guitarradas e a Fátima.

Diz que há portugueses a andarem mais no truca-truca e por consequência há mais crianças a nascer. Diz tanta coisa. Avança nos fogos em catadupa que mantêm Portugal a arder. Tem sido demais.  Não tem sido pior graças aos bombeiros. Esses heróis anónimos tantas vezes esquecidos e mal-pagos (quando lhes pagam).

É a esses que queremos prestar homenagem do fundo das nossas profundidades do reconhecimento e da gratidão. São eles que merecem todas as homenagens e comendas. Se calhar o Marcelo anda distraído. Dá comendas em barda mas é mais aos que recebem taças e medalhas anteriormente e são campeões de qualquer coisa. Os bombeiros não, não lhes dão taças nem medalhas, daí não receberem comendas ou simples mas declarado reconhecimento. A eles as populações estão eternamente agradecidas e dizem bem alto: obrigado bombeiros de Portugal! Obrigado pela vossa generosidade e entrega em defesa do património, da natureza e dos vossos iguais, o povo.

Bom dia. Boa semana. Vá pela sombra que o sol está quente.

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Filipe Santos Costa - Expresso

Os campeões voltaram

Bom dia!

Enquanto para muitos mortais esta é a altura do ano em que o calendário manda por os pés de molho à beira-mar e não pensar em mais nada (espero que seja o seu caso), para outros é o momento de mostrar o que valem e, sobretudo, se têm estofo de campeões.

Para os benfiquistas há boas notícias. O Benfica começou a nova época como acabou a anterior: a apostar em jogadores jovens, a dar espetáculo, a marcar golos e a levantar a taça. Ontem, Benfica e Braga foram tirar o pó ao Estádio de Aveiro e a equipa de Rui Vitória venceu por 3-0, apesar do esforço e do talento de Rafa, que levou os bracarenses às costas e justificou a cobiça que lhe tem sido dedicada pelos clubes grandes. Franco Cervi não se podia ter estreado melhor, marcando o primeiro golo da época para os encarnados, seguiram-se golos de Jonas e um golaço de Pizzi de se lhe tirar o chapéu e os benfiquistas conquistaram pela sexta vez a Supertaça. Depois da pausa das férias, voltou a ouvir-se o cântico "O campeão voltou".

O "special one" também. O Mancheter United de José Mourinho conquistou o primeiro troféu da época, a Community Shield (a.k.a. Supertaça inglesa) que opôs os "red devils" ao campeão inglês Leicester City. Os de Manchester venceram por 2-1, com Ibrahimovic a marcar o golo da vitória. Foi o suficiente para o Telegraph escrever sobre Mourinho e Zlatan: "The egos have landed; one game in and one trophy up". Tome nota: "Jose [sem acento] is back and you had better believe it".

Outro regresso: o de um português ao degrau mais alto do pódio da Volta a Portugal em bicicleta. Nos últimos quatro anos a vitória foi sempre espanhola, mas ontem Rui Vinhas quebrou o enguiço e celebrou o ouro.

E fecho este especial campeões com os deuses-do-Olimpo-colheita-2016. Os Jogos Olímpicos arrancaram apesar das polémicas, apesar dos atrasos, apesar dos incidentes, apesar das preocupações de segurança, apesar dos pesares e “apesar de você” (o Chico voltou a cantar essa canção de protesto, num evento paralelo, agora contra o homem que foi vaiado no Maracanã). A cerimónia de abertura homenageou o “Brasil brasileiro/ Terra de samba e de pandeiro”, o hino brasileiro sambou com Paulinho da Viola (salve, mestre!), teve Gisele, teve Guga, teve Caetano e Gil e teve a seleção dos refugiados.

Passada a festa, já há campeões, medalhas e recordes, mas ainda não chegou a hora de se fazer ouvir A Portuguesa. O Nuno Delgado, que percebe disso de medalhas olímpicas, deu uma entrevista ao Expresso e aposta que ganhamos seis, uma delas para a Telma Monteiro, que entra em ação esta tarde. Noutra entrevista, o João Rodrigues, que foi o porta-bandeira português, arrisca dizer que ficará para a história como o "tipo que vai aos jogos e não ganha medalhas" - para além, claro, de já ser o mais olímpico de todos os desportistas portugueses de sempre.

Para já há boas notícias: José Carvalho apurou-se para asmeias-finais de C1, em canoagem slalon, os tenistas Gastão Elias e João Sousa passaram, cada um, à segunda ronda e, juntos, também passaram à segunda ronda, numa inesperada entrada na competição de pares. No ténis de mesa, Marcos Freitas já garantiu o seu lugar na história: passou aos oitavos de final e ficará entre os 16 melhores do torneio, mas garante que não fica por aqui. Na ginástica, Filipa Martins terminou o all around em 37º lugar - foi o melhor resultado de sempre para um atleta português na modalidade.

E há, claro, aquela equipa de futebol: a seleção portuguesa, os 18 jogadores possíveis depois de 57 telefonemas do selecionador nacional. E não é que os rapazes jogam que se fartam, indiferentes ao facto de serem primeira, segunda ou terceira escolha? Ontem, sofreram um golo aos 30 segundosde jogo, mas deram a volta e venceram as Honduras por 2-1. Estão nos quartos de final. E, a vê-los jogar, arriscamos dizer que cheira a medalha (à atenção dos fazedores de condecorações no Palácio de Belém).

Pode acompanhar tudo na área do site do Expresso dedicado aos Jogos Olímpicos. Para além das atualizações constantes, a Margarida Mota propõe-lhe uma fascinante viagem ao passado: a história, em fascículos, de todas as edições dos Jogos Olímpicos modernos, desde a primeira, em Atenas, em 1896, até à mais recente, em Londres, há quatro anos, inserindo-as no contexto político e social da época. Nos quatro episódios já publicados no site do Expresso, há de tudo, desde a improvável concretização do sonho bizarro de Pierre de Coubertin, que meteu na cabeça que havia de ressuscitar Olímpia no final do século XIX, à vergonha dos “Dias Antropológicos”, uma espécie de zoo humano de “povos primitivos” que mereceu o repúdio de Coubertin, chocado com a exibição circense de índios, negros ou pigmeus. As palavras ditas então pelo criador dos Jogos Olímpicos modernos foram pouco menos que proféticas.

Por fim, referência ao ministro da Educação, que foi ao Rio de Janeiro acompanhar a delegação olímpica portuguesa e acabou por, involuntariamente, participar numa típica experiência turística na Cidade Maravilhosa. “Um susto”, como reconheceu a assessora de Tiago Brandão Rodrigues - mas, entretanto, ambos recuperaram os seus pertences.

Outras notícias

Por cá, vai havendo notícias de uma nova geração de campeões: Portugal ainda é o segundo país com menor taxa de natalidade da UE, mas o Público conta em manchete que há cada vez mais casais portugueses a querer ter o terceiro filho (respeito!). Mais: os dados de 2016 voltam a ser positivos, seguindo os bons indicadores do ano passado e há regiões, como Trás os Montes e Alentejo, onde estão mesmo a nascer mais bebés.

De resto, as notícias do verão português são pouco novas e não surpreendem. Nas serras, os incêndios: foi um fim de semana negro, com localidades em risco, autoestradas cortadas e centenas de bombeiros no combate ao fogo. Este é o ponto da situação mais recente. Nas praias, as derrocadas. Como se fosse uma fatalidade ou o nosso destino. A boa novidade, desta vez, foi a ausência de vítimas.

A política foi a banhos. A polémica dos secretários de Estado que foram ver jogos da seleção à boleia da GALP está em banho-maria e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais continua sem dar sinais de vida. Talvez voltem ambos (a polémica e os sinais de vida do secretário de Estado) quando Marcelo regressar a solo pátrio. Por enquanto, queima os últimos cartuchos da visita ao Brasil, país a que voltará no mês que vem e onde poderá celebrar o dia de Portugal em 2018.

Paulo Portas, que já não é político, não pára: para além dos sete trabalhos que já tinha, tem outro - foi contratado pela petrolífera mexicana Pemex, a maior empresa do México. O México, curiosamente, foi um dos destinos de algumas das viagens de Portas quando estava no Governo - o Bloco de Esquerda diz, na manchete do i, que a coisa cheira a esturro. "Acabou de sair do Governo e foi contratado por dois portentos económicos como a Mota-Engil e a Pemex. É claro que isso suscita dúvidas", afirmam os bloquistas.

Por falar em BE, vale a pena ler a entrevista de João Semedo ao Público desta segunda-feira.

Lá fora

Na Turquia, Erdogan ruge. Depois de uma gigantesca manifestação de apoio, promovida pelo partido do presidente turco, o próprio tomou a palavra para renovar as ameaças de reposição da pena de morte. E continuam as purgas: depois dos milhares de funcionários públicos e professores despedidos e/ou detidos, agora a limpeza chegou às forças de segurança. O El País publicou um bom trabalho sobre as razões para a inquietação da Europa - e, muito em particular, da Alemanha, onde vive uma enorme e muito ativa comunidade turca - com o endurecimento do regime de Ancara. Com um vizinho com este longo braço, não há como dormir descansado.

O Irão anunciou a execução de um cientista nuclear, acusado de espionagem a favor dos Estados Unidos. A história, aqui bem contada pelo Guardian, é um daqueles casos em que a realidade ultrapassa a ficção.

Nos EUA, a luta continua. E Trump continua a dar tiros nos pés. Mas, desta vez, ao contrário do que aconteceu sempre até agora, as broncas do milionário não o estão a tornar mais forte junto do eleitorado, mas a fragilizá-lo. O Washington Post explica como a semana negra de Trump - que começou com os ataques aos familiares de um militar americano muçulmano morto no Iraque e incluiu (outra vez) comentários misóginos, agora a propósito de assédio sexual no local de trabalho - pode ter sido o ponto de viragem da campanha.

Já há responsáveis republicanos que admitem que Trump poderá perder estados essenciais, como Ohio e Arizona, e a conclusão é sempre a mesma: "Trump needs to change as a candidate". Mas pode alguém ser quem não é? Sobretudo alguém que só chegou onde chegou por ser quem e como é? Surpresa: Trump parece estar a esforçar-se por mudar. Depois de meses a pelejar com o establishment do Partido Republicano, depois de, há poucos dias, ter recusado manifestar apoio a dois trutas do seu partido que estão a disputar importantes eleições estaduais, voltou atrás e fez finalmente a declaração de endorsment a Paul Ryan e John McCain. Uma inversão de estratégia quando as sondagens dizem que o milionário está a cair do céu aos trambolhões?

Mas esse é assunto para o ponto seguinte.

O que ando a ler/ ver/ ouvir

As eleições presidenciais norte-americanas não são uma escolha entre candidatos, partidos ou programas (se alguém encontrar o de Trump é favor enviar-me), mas entre duas visões da América e do mundo. Mais opostas e conflituantes do que há memória. Poucas vezes uma eleição implicou uma escolha civilizacional como a eleição presidencial de 8 de novembro.

Donald Trump traz uma ameaça tal aos EUA e ao mundo como os conhecemos que é impossível ficar indiferente. O Daniel Oliveira explicou bem o que está em causa no artigo que publicou na última edição da Revista do Expresso.

Por todas as razões, todos os dias leio, oiço, e vejo notícias sobre a campanha. Não passo sem o New York Times, o Washington Post, oPolitico, o Huffington Post. Na CNN, habituei-me a ver todas as noites o "State of the Race with Kate Bolduan" - meia hora, a partir das onze da noite (hora portuguesa), com o essencial do dia de campanha e análise de comentadores independentes e apoiantes de ambos os candidatos.

Esta é também uma campanha que tem colocado questões inéditas aos jornalistas. Como lidar com um candidato como "o Donald"? Não será por acaso que quase todos os órgãos de comunicação social que elenquei acima estão na lista negra de Trump: com exceção da CNN, já todos foram alvo de represálias várias da campanha republicana, incluindo a retirada da acreditação para integrar o grupo de jornalistas que acompanha de perto o candidato.

Se "o Donald" puxa sempre os limites do que se pode dizer, fazer ou acontecer, também o jornalismo é confrontado com os seus próprios limites. Quase todas as semanas um destes órgãos de comunicação social faz alguma coisa que nunca tinha feito antes. Lembra-se do Huffington Post ter começado por colocar as notícias sobre Trump na secção de entertainment? Pois... "We are no longer entertained", teve de escrever Ariana Huffington há um mês.

Há dias, o Washingto Post publicou um violentíssimo editorial contra Trump, classificando-o como "uma ameaça inédita para a democracia americana". And so on...

Há poucos dias, o New York Times voltou a passar uma linha vermelha, ao publicar um video que junta imagens recolhidas ao longo de um ano em comícios de Trump. É um video duro, com imagens chocantes e linguagem imprópria para espíritos sensíveis, mas extremamente revelador. E não, não é um video com discursos de Trump: são as palavras e gestos dos seus apoiantes. Sem filtro. Veja aqui.

É o próprio jornal que admite que nunca fez nada semelhante e que entrou em terreno desconhecido. E arriscado. Mas explica que não podia não o fazer no excelente podcast "Inside the Times". "O Donald" mudou as regras e mudou o jogo. Vale a pena ler a explicação dada pelo NYT. Eis um excerto: "Politics at its best can be inspiring. But many in Mr. Trump’s audiences were being inspired to express themselves in hateful, coarse, profane, obscene or just plain nasty ways. Shifting our focus to those outbursts was an eye-opener."

Fico por aqui. Se está contente com esta onda de calor, rejubile, pois ela continua a partir de quinta-feira; se sofre com estas temperaturas, a boa notícia é que entre amanhã e quinta-feira a canícula abranda.

Amanhã o Martim Silva cá estará para lhe servir o Expresso Curto. Tenha uma boa segunda-feira.

Mais lidas da semana