sábado, 22 de outubro de 2016

EUA ABANDONAM BASE DAS LAJES E PORTUGAL JÁ DECIDIU CEDÊ-LA À CHINA





OS EUA QUEREM A BASE DE BORLA

Beatriz Gamboa, Díli – em 16.10.2016

Já é do domínio público em Portugal que a China vai instalar-se na Base das Lajes, nos Açores, se os EUA a abandonarem por desinteresse estratégico e para seguirem o plano de cortes orçamentais em vigor pela administração norte-americana. Os EUA continuariam naquela base militar se Portugal a oferecessem ou não lhes exigissem as devidas contrapartidas. Como dizem os açoreanos: “os ianques querem a base de borla porque já consideram que é deles.”

Após a liberalização razoável do regime da República Popular da China e o crescimento constante da zona asiática, assim como a expansão da influência da China no mar daquela sua região, os EUA tiveram por preocupação desviar o seu centro de atenções e atividades económicas, políticas e militares para aquela região do mundo a fim de manter o controlo e as influências praticamente exclusivas de antes da abertura da China ao mundo. Pouco tempo depois constatou que a tarefa é quase impossível. A China avança e as suas influências continuam a consolidar-se a vários níveis. Contudo os EUA não desarmam e continuam a perseguir os seus objetivos de controlo da região. Perseguem-nos mas estão a perdê-los para a China.

Considerando as politicas de deslocalização do Oceano Atlântico para o Mar da China e Sudeste da Ásia por parte dos EUA foi delineado nas suas políticas abandonar a Base dos Açores, território de Portugal e ilhas estratégicas no meio do Atlântico, o que provocou o manifesto interesse da China na Base das Lajes, que por muitas décadas foi como que um gigantesco porta-aviões da apoio às forças militares norte-americanas.

Na visita de António Costa, PM de Portugal, à China, ocorrida há poucos dias, a abordagem ao tema da Base das Lajes foi profundo, ficando-se a saber que se os EUA abandonarem o interesse na referida base e a abandonarem, denunciando o contratado, a China irá certamente, com toda a facilidade, firmar acordo para a usar em vez dos EUA, passando assim a poder usufruir do gigantesco porta-aviões que os EUA abandonarão.

“Rei morto, rei posto”, é um velho adágio usado em Portugal. Ou “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”, outro adágio que podemos aplicar à ganância dos EUA no controlo e ocupação dos mares à beira do território chinês. Assim sendo por que não pode a China ocupar parte importante do Atlântico? Também a legitimidade de Portugal dar uso e rendibilizar a Base das Lajes é inquestionável. Além do mais, as excecionais relações de Portugal e China são evidentes. Muito mais e melhores do que com os EUA, apesar de assim não serem reconhecidas pelos que produzem os jogos de alienação e manipulação das mentes ocidentais.

António Costa, primeiro-ministro do governo de Portugal, fez declarações sobre a Base das Lajes e do interesse manifestado pela China na recente visita que realizou à China. Leia em seguida e tome em consideração a postura das palavras diplomáticas que ocultam boa parte da realidade naquele processo com a administração dos EUA e a indubitável harmonia no entendimento com os dirigentes chineses.

Beatriz Gamboa, TL

Costa admite que China pode vir a usar base das Lajes

António Costa admitiu esta quarta-feira em Macau que a base aérea das Lajes pode ser usada pela China se os Estados Unidos não renovarem o acordo de exclusividade, mas apenas para fins científicos.

O primeiro-ministro português, António Costa, admitiu esta quarta-feira em Macau que a base aérea das Lajes pode ser usada pela China se os Estados Unidos não renovarem o acordo de exclusividade, mas apenas para fins científicos e não militares.

“Temos um acordo com os Estados Unidos, e queremos continuar com esse acordo, mas respeitamos a decisão” dos norte-americanos, disse António Costa numa entrevista difundida hoje pela agência de informação financeira Bloomberg.

“A base nos Açores é muito importante em termos militares, mas também em termos de logística e tecnologia e pesquisa nas águas profundas e de alterações climáticas”, disse António Costa.

Perante a insistência do jornalista da Bloomberg sobre a utilização da base aérea pela China, Costa admitiu: “Claro que é uma boa oportunidade para criar uma plataforma de pesquisa científica e estamos abertos a cooperação com todos os parceiros, incluindo a China”.

O primeiro-ministro, na entrevista que concedeu à Bloomberg em Macau, vincou, no entanto, que “o uso militar da base não está em cima da mesa, o que está em cima da mesa é reutilizar a infraestrutura para fins de pesquisa”.

“Seria uma enorme pena não usar a infraestrutura, e se não para fins militares, porque não para pesquisa científica”, questionou o chefe do Executivo no final da entrevista.

Esta possibilidade já tinha sido admitida pelo congressista lusodescendente Devin Nunes, no final de setembro, como contava a agência Lusa. “Como muitos no Congresso avisaram no passado, vários altos-representantes chineses visitaram os Açores em anos recentes. Sei agora que a China enviou uma delegação de cerca de 20 representantes, todos fluentes em português, numa viagem de pesquisa que durou semanas e que culmina com a visita do primeiro-ministro, Li Keqiang”, revelava Devin Nunes numa carta enviada a Ashton Carter, secretário da Defesa dos Estados Unidos.

Ainda no final de setembro, o órgão de comunicação Politico dava destaque a esta aproximação entre Portugal e China, falando da ameaça que a utilização da Base das Lajes por Pequim poderia representar para os Estados Unidos. O título era paradigmático: “Escala chinesa no Atlântico preocupa Washington”.

O jornal Público recorda, esta quarta-feira, as sucessivas viagens de comitivas chinesas à Base das Lajes. De 2012 até este ano, foram já três as visitas de altos representantes do Estado chinês à ilha Terceira. Primeiro, em 2012, o então primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e uma comitiva de mais de cem pessoas fez uma escala de cinco horas nas Lajes. O mesmo aconteceu em 2014, desta vez com o presidente chinês Xi Jinping, que se reuniu com o então vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas.

Este mês foi a vez de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, receber na ilha Terceira Li Keqiang, primeiro-ministro chinês, que ali fez uma escala de dois dias.

Augusto Santos Silva nunca se pronunciou concretamente sobre o suposto interesse da China nas Lajes. “Eu não sei se há interesse chinês nas Lajes. O que sei é que o único interesse português é que ela seja aproveitada plenamente no quadro do acordo de cooperação e defesa que temos com os Estados Unidos”, disse o ministro, em declarações à Lusa.

Timor Agora com Observador - Miguel Santos / Lusa com foto de Carmo Correia


“É TUDO CULPA DOS RUSSOS”



Wikileaks revela ligações de Hillary Clinton com indústria armamentista, oligarquia financeira, velha mídia, petroleiras. Ela reage como nos piores tempos do macartismo — e tenta destruir Julian Assange

Patrícia Cornils – Outras Palavras

“O governo do Equador respeita o princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados. Não interfere em processos eleitorais externos e nem o faz a favor de qualquer candidato em particular.”

Imagine. Esta frase faz parte de uma nota oficial na qual o Equador, um país latinoamericano com 15 milhões de habitantes e sem moeda própria – a moeda lá é o dólar – nega interferência nas eleições presidenciais do Estado militarmente mais poderoso do planeta. Os Estados Unidos. A nota foi publicada no dia 18 de outubro para explicar por que o governo do Equador cortou, dois dias antes, o acesso à internet de Julian Assange, asilado em sua embaixada em Londres. “Durante as últimas semanas, o WikiLeaks publicou uma grande quantidade de documentos que têm um impacto sobre a campanha eleitoral nos Estados Unidos. A decisão de tornar essas informações públicas é de exclusiva responsabilidade da organização”, escreveu o governo do Equador.

As informações publicadas pelo Wikileaks são milhares de emails trocados entre os principais dirigentes do Comitê Nacional do Partido Democrata entre janeiro de 2015 e o final de maio deste ano, além de emails de John Podesta, coordenador da campanha de Hillary Clinton. Assange havia anunciado em julho, em entrevista para a rede britânica ITV, que o Wikileaks tinha emails relacionados a Hillary Clinton e iria publicá-los.

“O que você está dizendo, o que você está publicando, atinge Hillary Clinton. Você prefere que Trump seja presidente?”, perguntou então o entrevistador. A resposta foi que Trump é um fenômeno imprevisível, que “não se pode prever o que ele faria na presidência”. Em seguida, Assange acrescentou uma informação que tem relação com a autodefesa do Wikileaks. Os documentos já publicados, disse, “mostram que Hillary recebe notícias constantes sobre minha situação pessoal. Ela fez pressão pela abertura de um processo contra o Wikileaks, que ainda está em curso. Então achamos que ela é um problema para a liberdade da imprensa, de maneira geral”.

Assange está asilado na embaixada para não ser extraditado aos Estados Unidos e julgado em um processo obscuro, iniciado sob responsabilidade de Hillary Clinton, no qual mesmo as pessoas interrogadas recebem GAG orders (não podem contar que foram intimadas e que depuseram). Isso comprova sua afirmação sobre ameaça à liberdade de imprensa, recomprovada agora pelo corte de da conexão à internet. O governo norteamericano não assumiu o que deve ter sido uma enorme pressão sobre o Equador, mas a nota oficial do país latinoamericano diz explicitamente que cortou a internet para impedir interferência na disputa pela presidência dos Estados Unidos. O que é espantoso porque o objetivo de toda boa impresa é exatamente publicar informações para que cidadãos formem sua opinião e interferiram em decisões políticas.

No material divulgado pelo Wikileaks, até agora, há declarações relevantes de Hillary Clinton: “Vamos cercar a China com defesa antimísseis”, “Quero defender o fracking”; ativistas contra o aquecimento global deveriam “achar o que fazer”; “você precisa ter duas posições [a respeito de políticas], uma pública e uma privada” e “meu sonho é um mercado comum hemisférico, com comércio livre e fronteiras abertas”. As publicações começaram no dia 22 de julho, quando o Wikileaks iniciou a “Série Hillary Leaks”. No primeiro lote, foram divulgados 19,2 mil emails trocados entre os principais dirigentes da campanha democrata entre janeiro de 2015 e o final de maio deste ano – e que mostraram dirigentes do Partido Democrata depreciando um dos pré-candidatos do partido, Bernie Sanders, e considerando a possibilidade de usar sua crença judaica para atacá-lo. Esta é a base de dados do Comitê Nacional do Partido Democrata.

Apesar do corte da conexão de Assange, o Twitter do Wikileaks segue atualizando o segundo conjunto de mensagens, os “Podesta emails”, iniciado dia 7 de outubro. Além de atual coordenador da campanha de Hillary, Podesta foi chefe do estado maior do presidente Bill Clinton entre 1998 e 2001 e é dono do Podesta Group, uma empresa de lobby. Na primeira leva foram publicados 2,06 mil emails com foco em mensagens relacionadas a energia nuclear e doações de empresas mineradoras e envolvidas com a questão nuclear para a Fundação Clinton.

Mesmo a contragosto, imprensa norte-americana vê-se obrigada a repercutir as informações vazadas. Possíveis candidatos a vice analisados por Hillary Clinton. A íntegra de seus discursos em eventos com banqueiros de Wall Street em que foi remunerada para falar. “Lotes anteriores dos emails incluíram exemplos de conluio entre a campanha e a mídia, comentários depreciativos sobre Bernie Sanders e cópias de discursos proferidos perante banqueiros de Wall Street, incluindo Goldman Sachs”, escreve hoje o blog financeiro Zero Edge –que tem publicado textos sobre os e-mails vazados. “E entre as mais dramáticas revelações há mais confimações de concluio e coordenação com a mídia (…), uma revelação chocante sobre os conflitos de interesse de Bil Clinton na consultoria Teneo, e o elo perdido dos e-mails que Hillary apagou, confirmando que ela havia instruído a exclusão de e-mails desde o início e refutando seu testemunho anterior.”

Ontem, no debate com Donald Trump, Hillary Clinton reiterou sua versão para esses vazamentos. Foram os russos, ela afirma. “O governo russo se envolveu em espionagem contra americanos. Eles invadiram sites americanos, contas particulares, contas de instituições. Em seguida, deram essa informação para o Wikileaks com a finalidade de colocá-la na internet. Isto veio dos níveis mais altos do governo russo, claramente de Putin em pessoa, em um esforço, como dezessete de nossas agências de inteligência confirmaram, para influenciar nossa eleição. Então, realmente acho que a questão mais importante desta noite é se Donald Trump vai finalmente admitir que os russos estão fazendo isso e condená-los.”

Hoje o Wikileaks, ironiza a pergunta em seu Twitter, notando que entre 17 agências de inteligência americanas estão a Guarda Costeira, a Inteligência Naval, o Departamento de Energia, que provavelmente nada têm a dizer sobre o assunto. “As 17 agências de inteligência dos EUA de Clinton pode ser a maior mentira, mais imediatamente refutável, já dita intencionalmente durante um debate”, publicou o Wikileaks.

No site do Wikileaks há uma resposta mais direta à acusação. A organização nega o desejo de tomar partido nas eleições dos EUA, afirma que é independente de governos e que a alegação de que foca exclusivamente no “Ocidente” é falsa. “O Wikileaks publicou mais de 650 mil documentos críticos relacionados à Rússia sob Vladimir Putin. Expôs as listas negras de censura da China. Publicou 2,3 milhões de emails expondo o regime de Assad. O próprio diretor da Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, confirmou que no que diz respeito às agências de inteligência norteamericanas não há evidência de que a Rússia foi a fonte dos emails do Comitê Nacional do partido Democrata e que a especulação da mídia de que a Rússia estaria por trás desses vazamentos é ‘hiperventilação’”.

O fato é que as informações publicadas trazem para o debate os impactos das decisões do governo americano na política mundial, como escreveu o filósofo e ativista Srećko Horvat na Counterpunch.“O que o WikiLeaks está fazendo é revelar esta luta brutal pelo poder, mas, como diz o velho ditado, ‘quando um sábio aponta a lua, o idiota olha para seu dedo’. Em vez de olhar para o dedo que aponta a Rússia, deveríamos estar olhando para as informações vazadas.”

Moçambique. ESQUADRÃO DA MORTE SOMA E SEGUE



@Verdade, editorial

É, simultaneamente, preocupante e revoltante o que temos vindo a assistir todos os dias neste sofrido país, no auge do conflito armado que opõe as Forças de Defesa e Segurança a mando do Governo da Frelimo, e os homens da Renamo. É chocante o número de cidadãos moçambicanos que têm sido vítimas de crimes hediondos perpetrados pelo esquadrão da morte criado pela Frelimo para aniquilar todos os moçambicanos que não compactuam com a política e governação terroristas promovidas por este partido no poder.

Crimes esses equiparados às actividades violentas perpetradas pelas tenebrosas e sanguinárias sociedades secretas que abundaram em todas as épocas da História. Ou seja, não é segredo para o povo de que o Governo da Frelimo tem vindo a mobilizar homens, arma até aos dentes e tornou-lhes perversos para matar sem dó nem piedade os seus compatriotas.

Após o assassinato bárbaro do Jeremias Pondeca, conselheiro de Estado, no mês em curso, esta semana mais uma notícia chocante deixou o país, especialmente a cidade de Nampula, indignada. É o caso do duplo assassinato de dois membros do maior partido da oposição em Moçambique, a Renamo. As figuras foram assassinados à queima-roupa, na terça-feira (18), no distrito de Ribáuè, província de Nampula. Trata-se de Flor Armando, de 45 anos de idade, delegado político distrital em Ribáuè e membro da Assembleia Provincial de Nampula, e Zeca António Lavieque, de com 25 anos.

Com este homicídio, já são quatro vítimas da mesma formação política em menos de um mês, o que demonstra claramente que se trata de uma perseguição política contra a oposição. Aliás, este tem sido o modus operandi do partido Frelimo, desde o período da preparação da luta para a Independência Nacional, no qual ocorria uma série de expulsões e assassinatos de algumas figuras do movimento de libertação nacional.

Presentemente, usando os meios de Estado, o Governo da Frelimo alimenta um esquadrão da morte que tem vindo a semear terror, dor e luto nas famílias moçambicanas. É uma falsa democracia que o país vive nos últimos tempos, pois a aposta do partido no poder continua a ser exterminar os seus opositores de modo a perpetuar-se na condução dos destinos do país. A violência contra os membros da Renamo, e não só, é uma grande ameaça a liberdade políticas de todos os moçambicanos. Com esse andar de carruagem, estamos a um passo para a enraização da ditadura frelimista.

É, sem dúvidas, caso para dizer que Moçambique está nas mãos de uma corja de insensíveis (para não dizer cruéis).

Moçambique. CONCORDAM EM ATINGIR A PAZ MAS DISCORDAM SOBRE COMO A ALCANÇAR



A chamada “Casa do Povo”, onde impera a ditadura do voto da bancada maioritária do partido que governa Moçambique desde 1975, está reunida desde esta quarta-feira(19) em mais uma sessão ordinária, a quarta da VIII Legislatura, com mais de três dezenas de pontos na agenda. Como expectativa aguardam-se os resultados da Comissão Parlamentar de Inquérito à Dívida Pública, o segundo Informe de Filipe Nyusi sobre o Estado da Nação e uma eventual revisão da Constituição para acomodar mais um acordo de Paz que está a ser forjado pelo Governo e o partido Renamo. Nos tradicionais discursos de abertura o chefes de cada uma das três bancadas parlamentares concordaram que é preciso Moçambique ter Paz, o drama é que os protagonistas da guerra não se entendem sobre os caminhos a trilhar.

“A Guerra não declarada e violência armada devem cessar e dar lugar a um ambiente de tranquilidade, segurança e paz. O futuro de Moçambique não se compadece com a violência armada, intolerância política, nem com exclusão social” começou por declarar Lutero Simango, líder da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

Com a legitimidade de ser o único partido na Assembleia que não tem armas Simango disse que “o Povo não pode continuar a ser brindado com discursos, intenções, entrevistas e declarações de interesse que não concretizam o resgate da Paz, silenciando o troar das armas. A Paz é uma exigência da nação!”

A solução defendida pelo MDM passa por uma “reconciliação nacional efectiva como uma acção permanente e não de ocasião ou mera decisão administrativa; como uma acção e espírito de engajamento, um pacto nacional sem preconceitos nem tendências de tirar vantagens ou humilhar outros”.

De acordo com Lutero Simango são necessárias políticas de inclusão e deve ser efectuada uma revisão da Constituição da República com realismo e objectividade. “Temos que navegar nesta direcção para que nas próximas eleições os Governadores Provinciais sejam eleitos. A sua eleição reforçará o sistema democrático, tornará a coesão nacional mais sólida e dinamizará sinergias para o desenvolvimento equilibrado nacional. A revisão da Constituição que o MDM projecta visa libertar o sistema judicial do controle político, reduzir os poderes do Chefe do Estado e tornar efectiva a descentralização administrativa. A Bancada Parlamentar do MDM está preparada para este debate” declarou Simango.

Sobre a crise económica e financeira o líder da bancada do MDM responsabilizou o Governo do partido Frelimo que vai tentando adiar como pode a auditoria internacional à Dívida Pública. “Os cidadãos já apertaram os cintos até ao seu último furo, cada dia morrem moçambicanos porque não tem comida, porque não tem medicamentos, cada dia empresas moçambicanas fecham as portas, cada dia centenas de moçambicanos perdem emprego, cada dia moçambicanos imigram, cada dia os funcionários públicos vem as suas horas extras e subsídios a serem cortados, tudo isto, porque o Governo continua relutante em abrir as portas à auditoria forense internacional” disse Simango.

“É hora de se dar a Dhlakama o que é de Dhlakama”

Ivone Soares, líder da bancada do maior partido de oposição, responsabilizou o Governo, particularmente o partido no poder, pela actual situação económica e pela guerra que está a matar milhares de pessoas e a condicionar o desenvolvimento de Moçambique.

“O poder formal não coincide com o poder real. Se assim não fosse, o discurso do chefe de Estado e Presidente da Frelimo não seria tão dissonante com os actos que o seu partido pratica como tem sido. Ouvimos mensagens de paz, de igualdade e de progresso mas assistimos atónitos à guerra, ao aumento da distância entre ricos e pobres e à degradação de todos os indicadores económicos moçambicanos, à cabeça a dívida pública do país” declarou a líder parlamentar que justificou a participação do partido Renamo na guerra com uma alegada vontade do povo das seis províncias onde o partido reclama vitória eleitoral.

“Que fique claro que o povo das seis províncias não está a exigir independência, ou separação do Governo central. Exigem apenas a implementação do manifesto em que acreditaram e votaram” todavia, Ivone Soares, disse ser “hora de se dar a Dhlakama o que é de Dhlakama”.

“É nossa expectativa que se encontre uma solução rápida na mesa do diálogo político de modo que a Comissão Mista construa, com todo o apoio técnico disponibilizado pela mediação internacional, as pontes para a paz efectiva em Moçambique”, acrescentou a chefe da bancada do maior partido de oposição.

Embora o partido que representa tenha abdicado de participar da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a Dívida Pública, Soares disse ser esperança da formação política “que o Governo da Frelimo que foi quem contraiu dívidas inconstitucionais, em claro prejuízo de mais de vinte milhões de moçambicanos, olhando apenas e exclusivamente para os seus benefícios privados saiba assumir a sua responsabilidade”.

“Nós, Deputados moçambicanos, os verdadeiros representantes do povo empobrecido, exigimos que haja auditoria internacional forense e que sejam exemplarmente responsabilizados todos os responsáveis pelo caos económico que se vive em Moçambique. Basta de vermos as nossas crianças sub-nutridas para que uma classe de dirigentes se possa apropriar das riquezas que não lhes pertencem”, concluiu Ivone Soares.

“Chega de sangue, chega de saques”

Já Margarida Talapa, a chefe da bancada parlamentar do partido no poder em Moçambique, disse que a descentralização deve e pode ser aprofundada, salvaguardando, o sentido unitário e reclamou para a sua formação política o mérito de ter iniciado o processo desde a independência do País.

“Reafirmamos que a Frelimo não tem medo da descentralização, desde que ela seja feita em respeito da Constituição e da Lei”, afirmou Talapa.

A chefe da bancada parlamentar do partido Frelimo responsabilizou, no seu discurso, o partido Renamo pela guerra, que insiste em denominar de instabilidade em algumas regiões, e acusou a maior formação política de oposição de “recusar-se a ouvir a voz do povo que clama pela Paz e continua a matar e a destruir infra-estruturas públicas e privadas enquanto negocia com o Governo”.

“Chega de sangue, chega de saques”, apelou Margarida Talapa que exigindo que o partido Renamo leve o diálogo com o Governo com mais seriedade.

Entretanto as matérias legais que deverão culminar com a Paz ainda estão a ser elaboradas pela Comissão Mista que está a preparar o encontro entre o Presidente Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama o que indicia que poderão não ficar prontas a tempo desta sessão que tem o seu término previsto para 20 de Dezembro.

Caso este cenário se materialize a guerra poderá continuar e, entre outros aspectos, colocar em causa o Orçamento de Estado para 2017, assim como o Plano Económico e Social, que foram elaborados com a premissa que a Paz vai acontecer até ao final do ano.

Veremos ainda se os deputados se preocupam mais com os problemas que afectam o povo ou continuarão a dar primazia às vontades de cada uma das suas formações políticas.

Adérito Caldeira - @Verdade

Angola é o PALOP onde a população mais sofre com a fome, aponta índice global



Angola está na lista dos 50 países com as taxas mais alarmantes no Índice Global da Fome 2016. Estudo diz que é preciso acelerar o combate à fome, caso contrário a meta de Fome Zero até 2030 não será atingida.

Angola é o País Africano de Língua Oficial Portuguesa onde a população mais sofre por causa da fome. A informação foi divulgada nesta terça-feira (11.10.), em Berlim, na apresentação do relatório 2016 do Índice Global da Fome. O relatório inclui Moçambique e Guiné-Bissau, que também registam altos índices de fome.

Para atingir a meta de Fome Zero até o ano de 2030 em todo o mundo, estipulada pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas, o relatório aponta que é preciso criar estratégias de ação para acelar o combate à fome nas regiões mais afetadas por este mal, nomeadamente África Austral e sul da Ásia.

Redução da Fome

Em termos gerais, o relatório apontou uma redução de 29% da fome no mundo desde o ano 2000. De acordo com a presidente da ONG alemã Welthungerhilfe, Bärbel Dieckmann, esta redução tem a ver com o trabalho realizado pelos Governos e seus parceiros nos últimos anos.

"Há Governos que assumem as responsabilidades dos problemas que os seu povo enfrenta. E há países que investem em educação, e trabalham juntos com outros parceiros para, de fato, fazer alguma diferença”.

Apesar da redução de 29%, pelo menos 795 milhões de pessoas ainda sofrem com a falta de alimentos no planeta. Segundo a presidente da Welthungerhilfe, é preciso investir, principalmente, na agricultura.

"A nosso reivindicação principal é o investimento em agricultura, pois assim as pessoas conseguem produzir o suficiente para elas e suas famílias”, destaca Dieckmann.

África Austral

Em termos absolutos, a África Austral apresentou grandes melhorias entre os anos 2000 e 2016, com uma redução de 14,3% no Índice Global da Fome. No entanto, as taxas ainda são baixas para atingir o objetivo de Fome Zero até 2030.

Segundo o relatório, citando a África Austral e o sul da Ásia, "se essas regiões tivessem que reduzir o nível da fome entre 2016 e 2030 com a mesma velocidade que vêm experienciando desde o ano 2000, elas ainda teriam os piores e mais baixos índices, muito aquém da meta de reduzir para zero a fome até 2030”.

Os PALOP

Entre os 50 países com as taxas mais preocupantes no Índice Global da Fome 2016 estão Moçambique, Guiné-Bissau e Angola. Contudo, o caso angolano é o mais alarmante, visto que o país está na décima terceira posição do índice, atrás de países como República Centro-Africana e Etiópia. Moçambique aparece na décima quinta posição, enquanto Guiné-Bissau na vigésima sétima. No total, o índice apresenta dados de 118 países.   

O estudo ressalta que "conflitos violentos, má governação, e impactos relacionados com as mudanças climáticas na agricultura” são fatores que favorecem a escassez de alimentos na maioria daqueles países.

Em recente entrevista à DW África, o padre angolano Pio Jacinto Wacussanga falou da situação que o sul de Angola vive nos últimos meses por causa da seca.

"A vulnerabilidade ligada à fome nunca foi debelada. Desde 2012 que não chove suficiente para as pessoas cultivarem e fazerem reservas. Porque o ciclo da chamada segurança alimentar mínima é contado a partir do momento que a reserva alimentar aguenta as pessoas atér a próxima colheita. E então, isto não existe”, disse o padre.

Combate à seca em Angola

Para combater de maneira emergencial a falta de comida no país, em especial na região mais afetada pelas alterações climáticas, o Governo angolano adotou uma série de medidas, entre elas a importação de alimentos.

O porta-voz do Ministério de Assistência e Reinserção Social de Angola, Celso Malavoloneke, diz que, para além destas ações emergenciais, o Governo pretende colocar em prática ações que tenham efeitos mais permanentes.

"Vamos estudar a situação de emergência, especificamente, área por área, para definir ações pontuais, mas a nossa prioridade deverá ser concentrar em repor os mecanismos comunitários, que protejam as comunidades do efeitos, sobretudo, da seca”, assegurou o porta-voz em recente entrevista à DW África. 

Thiago Melo – Deutsche Welle

Angola. A PROSA DO DISCURSO E DO MEDO – Fernando Vumby



NÃO CONSIDERO DE RÉPLICA O DISCURSO DE SAMAKUVA

Fernando Vumby, opinião

Ele fez aquilo que merece o verdadeiro e digno nome de uma mensagem sobre o Estado da Nação, o que José Eduardo Dos Santos não sabe e nem consegue fazer por falta de visão, mente apodrecida, pobreza intelectual e falta de racionalidade.

Perdem -se e acabam ficando pelo vazio, aqueles que tentam comparar um Samakuva com o JES, não há comparação possível, pois a diferença entre um e o outro é como da merda-seca de um bolo tão bem feito que ninguém se cansa em saborear horas inteiras.

E quem é sensato sabe o quanto saboroso é ouvir Samakuva discursando sem torturar os seus ouvintes com estatísticas imaginadas e conversa fiada tipo rato que morre e sofre. Como o faz de forma já habitual, atabalhoada e nojenta, JES com os seus discursos - que ainda estou para saber se é o Bento kangamba que os escreve ou não, dado o mau cheiro dos mesmos.

Portentoso discurso de Samakuva que me fez recordar estes grandes líderes que marcaram a história das revoluções no mundo. E creio não ser nenhum exagero compará-lo a alguns destes.

ALEXANDRE O GRANDE

Alexandre, o Grande (356 a.C. – 323 a.C): lembrado como o maior conquistador do mundo antigo, teve como mentor intelectual o grande pensador grego Aristóteles e tornou-se rei aos 20 anos de idade, após o assassinato de seu pai, rei Filipe II.

Sua personalidade foi descrita ao longo dos séculos sob muitos aspectos diferentes, mas as características que mais lhe favorecem são as de que era um homem de visão, extremamente inteligente, com um profundo respeito a quem derrotava (permitiu às cidades dominadas a manutenção de governantes, religião, língua e costumes), além de grande admirador das ciências e das artes.

O general veio a falecer 12 anos após sua campanha militar, aos 32 anos de idade, possivelmente como resultado de malária, envenenamento, febre tifóide, encefalite ou como consequência do alcoolismo.

NAPOLEÃO BONAPARTE

Napoleão Bonaparte (1769 – 1821): exímio estrategista e amado por seus soldados e pelo povo francês, foi o grande líder político e militar durante os últimos estágios da Revolução Francesa.

Por esse motivo, pode ser considerado o último grande conquistador da História – assumiu o poder na França com um golpe de Estado e iniciou uma campanha expansionista que o fez dominar quase todo o território da Europa no começo do século XIX. Também deixou sua marca na política que viria a seguir: sua reforma legal chamada “Código Napoleónico” teve uma grande influência na legislação de vários países.

LINCOLN - FILME

Abraham Lincoln (1809 – 1865): político e advogado autodidata, foi o 16º presidente dos EUA, o qual liderou o país durante a Guerra Civil Americana, preservou a União e aboliu a escravidão (dando força para o governo nacional e modernizando a economia ao fazê-lo). Foi o primeiro presidente estadunidense assassinado que deixou toda a nação de luto. É considerado pelos estudiosos como um dos 03 maiores presidentes do país, lado a lado com George Washington e Franklin Roosevelt, e inspirou o filme homónimo “Lincoln” (foto), ganhador de diversas categorias no Oscar de 2012.

FRANKLIN ROOSEVELT

Franklin D. Roosevelt (1882 – 1945): foi o único presidente dos EUA a ser eleito por 04 mandatos, governando de 1933 a 1945 (ano em que veio a falecer). Liderou durante a Grande Depressão dos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial (que durou de 1939 a 1945). Fez a democracia vencer a ameaça do nazismo de Adolf Hitler, e colocou os Estados Unidos na condição de maior potência econômica e militar do mundo.

MAHATMA GANDHI

Mahatma Gandhi (1869 – 1948): grande ícone do fim do colonialismo, foi o líder do movimento de independência da Índia e o maior defensor da Satyagraha, filosofia de não-violência como meio de revolução – também conhecido como “Caminho da Verdade”, que influenciou as gerações seguintes de ativistas democráticos e anti-racistas, como Martin Luther King e Nelson Mandela. Gandhi usava a greve de fome como seu maior método de protesto.

MARTIN LUTHER KING

Martin Luther King (1929 – 1968): transformou os Estados Unidos na luta contra a segregação racial e pelos direitos civis, servindo como exemplo para outras batalhas pela igualdade mundo afora. Inspirado em Gandhi, também usava da filosofia da não-violência e, em 1963, liderou a marcha sobre Washington, reunindo mais de 200 mil pessoas em protesto – incluindo Bob Dylan e diversos artistas, além de líderes políticos, sindicais e religiosos. Foi nesse grande evento que fez seu célebre discurso “Eu tenho um sonho”.

E você, angolano? Tem algum sonho inspirado nas ideias destes grandes líderes mundiais?

Eles já entraram para a História, agora só falta você fazer a sua parte. Mãos à obra!

É O MEDO EXAGERADO, PERSISTENTE E QUASE IRRACIONAL, QUE FAZ DOS ANGOLANOS O POVO MAIS AVACALHADO E HUMILHADO!

Nada melhor do que iniciar este texto deixando essas duas  perguntas no ar:

1) - Para haver manifestações como as que tem havido, não é melhor ficar-se quieto?

2) - Se nem sempre uma fruta apodrecida numa árvore cai com um simples abanão , não é uma aventura tentar - se derrubar um regime com um sopro?

Entre tanta coisa que é difícil perceber e já vi, que se me esforçar para tentar perceber ainda poderei dar em louco, uma delas é como é que pode haver mais gente na hora de se enterrar mortos e nos combas do que na hora em que se tem que defender os vivos e seus direitos?

Tenho medo que os angolanos estejam padecendo de alguma doença que os inibe de mostrarem seus rostos com sua presença em manifestações justas e consagradas ate mesmo pela própria lei constitucional nacional, pois essa alegação de medo dos blindados e dos cães policias me parece um certo exagero se olharmos para outras paragens onde os povos enfrentam de peito aberto todos os meios bélicos dos seus regimes na luta pela justiça social e seus direitos.

Essa minha conversa com um angolano fez-me acreditar que os angolanos podem mesmo estar padecendo de alguma doença que ainda não deram conta, será?

"Amigo Vumby, eu fui ate ao largo Primeiro de Maio e estava disposto a participar pela primeira vez mesmo apesar de haver pouca gente presente na manifestação popular organizada pelos ditos Revús, mas posto lá comecei a suar, sentindo-me tão mal disposto, e a primeira reação que me veio pela cabeça foi mesmo o ter de fugir daquela situação e assim afinal mais uma tentativa se esgotou e não consegui vencer o medo inexplicável que chegou sem avisar."

O amigo concluiu dizendo ainda que também havia gente presente, alguns roendo suas unhas, mordendo seus lábios, fumando descompassadamente dando claros sinais de que lhes faltava coragem para continuarem presentes e talvez fosse mesmo o único jeito que encontravam como se refugiar daquela situação...

Fiquei sem jeito e estou cada vez com mais medo de que os angolanos estejam sim realmente ja paiados, sem saída e quem sabe padecendo de alguma doença sem cura que os livre deste exagerado medo e passividade muito fora do comum.

Fórum Livre Opinião & Justiça - Fernando Vumby

Falta quase tudo em Nete, centro de Angola



Os populares da localidade de Nete, município do Mungo, na província do Huambo, queixam-se de quase tudo: falta de água, energia, hospitais e escolas. Não há estradas e o acesso à zona faz-se por uma picada.

Mais de 200 quilómetros separam a localidade de Nete da sede da província do Huambo, no centro de Angola. Chegar lá não é fácil. Não existem vias primárias nem secundárias. E a circulação rodoviária faz-se por uma picada estreita, atravessada por rios e riachos. Os buracos e as pontes improvisadas, feitas de paus, dificultam a circulação de pessoas e bens. 

Os motoqueiros são os principais utentes da estrada. “Conduzo andando devagar para fugir dos buracos”, conta o motociclista Paulino Luma. “A estrada está muito mal com os buracos. Na tentativa de fugir de outra mota que não tinha travão, tivemos um acidente”, conta.

A situação complica-se ainda mais no tempo chuvoso. “Quando chove, os carros não entram. Mesmo quando temos as nossas coisas para vender, temos de levar a nossa gasolina e com a motorizada vamos até ao Kambwengo ou Bailundo”, relata o morador Fernando Filipe Paulino.

Em Nete, as casas são de adobe e cobertas de capim. E a única escola pública que existe tem poucas condições. "Há uma escola mas não está boa. Não está boa porque a escola é pequena, há muitas pessoas que querem estudar. Queremos que se aumente um pouco e as cadeiras são de paus”, retrata Pedro Katanganha.

O jovem de 21 anos só tem a terceira classe. Desde que decidiu constituir família, há três anos, nunca mais voltou à escola. À semelhança de outras zonas rurais de Angola, as meninas e os rapazes casam-se muito cedo e deixam de ir às aulas. 

Pedro Zagueu nasceu há 33 anos, em Nete, e não sabe ler nem escrever. Mas gostava de aprender. "Nunca estudei e estou interessado".

Sem cuidados médicos

Na humilde localidade também não há assistência médica. “Hospital não tem. Temos só farmácia, mas por causa desta crise não temos mesmo nada”, desabafa o morador Fernando Paulino.

Também não há fornecimento de luz eléctrica nem água potável. Para matar a sede, Fernando Paulino e outros populares consomem água imprópria. “É mesmo nestes riachos. Os homens que têm responsabilidade fizeram um poço e é nas cacimbas [poços] onde puxamos a água. Provoca mesmo doenças, mas Deus é que nos está a cuidar. Deus é que nos dá boa saúde”, diz Fernando Paulino que reconhece o risco de contrair doenças devido ao consumo de água.

A administração municipal do Mungo justifica que tomou posse há menos de seis meses. E, por isso, ainda está em fase de levantamento dos problemas das várias localidades que compõem a municipalidade.

Angola vive desde meados de 2014 uma crise financeira, económica e cambial devido essencialmente à quebra das receitas da exportação de petróleo. Na revisão do Orçamento Geral do Estado, aprovada em 19 de setembro no parlamento, o Governo reviu em baixo o crescimento da economia de 3,3 para 1,1% e do défice das contas públicas, que passa de 5,5% para 6,8% em 2016.

O endividamento do Estado angolano tem sido utilizado para colmatar a forte quebra nas receitas com a exportação de petróleo. Em locais mais remotos como Nete, no Huambo, a falta de investimento em infraestruturas básicas é gritante, deixando as comunidades a viver em fracas condições.

Manuel Luamba (Luanda) – Deutsche Welle

BRASIL É O PAÍS MAIS RACISTA DO MUNDO



Francesa sobre racismo no Brasil

Alexandra Loras é jornalista e ex-consulesa francesa em São Paulo. O racismo brasileiro fez com que ela optasse por viver no Brasil e aí combatê-lo.

Provavelmente por ser francesa tem ganho espaço na grande mídia brasileira (Folha, Veja, Globo, etc). 

Em entrevista à versão brasileira do Huffington Post questiona narrativas sobre o racismo, diz acreditar que uma pessoa pode deixar de ser racista, vê inferiorização subjacente na teoria da África como berço da humanidade e considera o Brasil como o país mais racista do mundo.

Alberto Castro*, Londres

Alexandra Loras: 'É preciso educar racistas com empatia e paixão'

Alexandra Loras nasceu na periferia de Paris. Filha de mãe francesa e pai gambiano, é a única negra entre cinco irmãos. Descobriu que tinha a cor da pele diferente das pessoas ao redor ainda no jardim de infância, quando uma amiguinha boa de desenho fez um retrato seu usando apenas lápis marrom. Levou um susto.

A surpresa inicial com a diferença se tornou agressividade à medida que crescia sendo rejeitada pelos meninos na escola. Na época, não entendia a influência do racismo em seu dia a dia. Articulada, teve diferentes empregos no final da adolescência. Foi babá na Alemanha, nos EUA e na Inglaterra, além de webdesigner e professora de francês.

Nessa trajetória de exceções, Alexandra foi também a única entre os irmãos a estudar na prestigiada IEP (L’École Livre de Sciences Politiques), de Paris, instituição onde se forma a elite política da França. Após se graduar em jornalismo, chegou a ser apresentadora de TV. Nesse meio tempo, conheceu e se casou com Damien, diplomata de família aristocrática.

Mudou-se para São Paulo em 2012 quando o marido tornou-se cônsul francês no Brasil. Atenta às questões raciais desde os tempos de solteira, a então consulesa se deu conta de que por aqui o peso do racismo era maior do que em qualquer outro lugar que havia pisado.

Passou então a atuar como ativista no País, propondo a líderes empresariais discussões sobre diversidade dentro das corporações. Em setembro, Damien Loras deixou o cargo, mas a família decidiu ficar, para que Alexandra possa seguir com seus projetos de luta contra a discriminação racial por aqui.

Um curso de pós-graduação e um livro sobre os grandes personalidades negras da história mundial estão entre as próximas realizações da ativista que também é fundadora do Fórum Protagonismo Feminino.

Dias antes de deixar a residência consular da França em São Paulo, Alexandra recebeu o HuffPost Brasil para um bate-papo sobre identidade negra e o racismo no Brasil. Em pouco mais de uma hora de conversa, a ativista oferece dados, concatena raciocínios e insights que acabam provando por A mais B seu ponto de vista — o de que o Brasil é um país extremamente racista, distante da famigerada ideia de democracia racial. Os principais pontos desta conversa estão elencados a seguir:

Ativismo no Brasil

Fiquei um bom tempo na sombra de Damien acompanhando o acompanhando em eventos. Fui, inclusive, presidente das consulesas de São Paulo. Até que um dia ele me perguntou: “Por que você não vai trabalhar?”. Eu já havia passado os dois primeiros anos do Rafael [filho do casal, hoje com 5 anos] junto com ele em casa, então decidi me mover. Professoras e diretoras de escolas públicas me chamavam, dizendo: “Você poderia vir fazer uma visita às nossas crianças? Porque eles não têm uma referência de pessoas negras na elite”. Fiquei empolgada com as propostas, mas ao mesmo tempo não queria ir até eles apenas para tirar selfies e fazer como a Lady Di: “Ah, sou muito bem-sucedida. Tadinhos deles, vamos posar para uma foto”. Queria mostrar para essas crianças o que me ajudou a resgatar a autoestima. E isso é um trabalho diário, porque você está aqui falando comigo sobre essas coisas e as lágrimas já começam a aparecer. Comecei então a fazer palestras. A primeira foi horrível. Falei sobre os zoológicos humanos, sobre escravidão e percebi aqueles jovens se fechando. Eu precisava sair daquele caos. Comecei então a falar sobre as grandes figuras negras: o inventor da geladeira, do marca-passo, da antena parabólica, falei de Teodoro Sampaio, André Rebouças e Machado de Assis. E aí vi uma luz brilhando nos olhos deles. Ao final, abracei todos e muitas crianças choravam. Foi uma coisa muito visceral. Naquela ocasião caiu minha ficha: “Achei minha missão”. Durante 20 anos, eu passei pedindo para o universo, para Deus, que me ajudasse a achar minha missão. Eu fui web designer, jornalista, professora de francês, fui babá na Alemanha, na Inglaterra, nos EUA, em um sistema que me permitia viajar gratuitamente e aprender outros idiomas. Fiz muitas coisas. Fiz sete anos de TV e não gostei do meu trabalho um dia sequer. Hoje eu entendo por que tive que passar por todas essas etapas: para ser boa no que estou fazendo hoje.

Invisível na residência consular

Quando os jornalistas se interessaram por mim, uma consulesa da França, negra, os assuntos abordados eram glamour, moda, vinho, champanhe, vinho, gastronomia francesa e coisas do tipo. Mas sempre consegui colocar questões de militância nas conversas. Compartilhava com eles uma das coisas que mais me deixavam chocada. Durantes os eventos na residência consular, o protocolo pede que a consulesa fique na porta recepcionando os convidados. Cerca de 6 mil pessoas passam por ano pela casa consular. E em muitas vezes eu era ignorada por brasileiros, que passavam na minha frente, sem me cumprimentar, achando que eu era funcionária da casa. Ou falavam: “Moça, onde eu posso colocar esse casaco?”. Isso era violento, paralisante, mas o que eu podia fazer? Eu era a anfitriã, então tinha que ficar feliz, agradável, leve. Mas isso machuca a gente. Porque sou um ser humano igual a você.

Racismo nada velado

O racismo é muito mais forte no Brasil do que em qualquer lugar por onde passei. Aqui nós não somos minoria. Pelo contrário, somos uma maioria. Então o problema é muito mais grave. Em outros lugares do mundo a questão racial pode ser tratada com descaso, por estar relacionada a uma pequena parte da população. Mas aqui é totalmente diferente. Há quem diga que o racismo no Brasil é velado. Não é velado de jeito nenhum. Estamos num País que ainda está numa dinâmica de feudalismo que, inclusive, choca os gringos. Uma dinâmica de ricos e pobres, em que os mais abastados são servidos pelos mais pobres, sem ninguém questionar. Aliás, ninguém questiona o uniforme branco das babás por aqui, que nada tem a ver com higiene. Tem a ver, sim, com o período da escravidão, quando as mulheres escravizadas trabalhavam na casa-grande. Elas tinham que se apresentar sempre de branco, limpinhas, para se diferenciar dos negros escravizados que trabalhavam no campo. Esse uniforme já era uma questão de status. Em nenhum outro país as babás estão vestidas de branco, só no Brasil.

Onde está a Beyoncé brasileira?

O que as pessoas têm que se atentar é que em 1830 cerca de 88% da população do Brasil era formado por negros. Houve então um planejamento para embranquecer a nação, pois os governantes tinham medo da formação de um país, grande e forte, por uma população negra que poderia se rebelar e aplicar algum tipo de retaliação no futuro. E funcionou muito bem. Essa ideia de que somos um povo miscigenado é resultado da prática de um bom plano. Quando falo que o racismo é mais forte no Brasil é porque aqui vejo a maioria dos negros com baixa autoestima, o que não se vê nos EUA ou na Inglaterra, por exemplo. Nos EUA, até os anos 60 não podíamos entrar nos mesmos lugares que pessoas brancas. Não podíamos entrar nos mesmos banheiros e restaurantes. Sentar nos mesmos assentos no ônibus. E nos últimos 50 anos de cotas raciais, temos o Barack Obama na presidência; Ursula Burns, CEO da Xerox; Spike Lee, Beyoncé. Então eu pergunto: onde está a Beyoncé brasileira? Onde está o Spike Lee brasileiro? Onde está o candidato negro a presidência do Brasil? Bom, aqui temos a Marina Silva, mas ela não levanta essa bandeira. Eu não sei nem se ela se considera negra. E essa é outra questão a ser discutida. Existem tantos negros com o mesmo tom de pele que o meu que não se consideram negros, por acharem essa uma condição ruim. E tem também a questão do cabelo crespo. Em nenhum outro país eu ouvi coisas como "cabelo ruim" ou "cabelo duro". Isso é muito forte aqui. E são adjetivos reproduzidos pelos próprios negros aqui.

África, berço da humanidade

A ideia de que a África é o berço da humanidade é também uma forma de nos inferiorizar. Quando se fala que todos são descendentes da África, querem dizer basicamente que a ordem de evolução é: o macaco, o negro africano e os povos civilizados. Eu gosto de questionar essas teorias. Porque se você olhar a eugenia, era considerada uma ciência exata à época e se falava: "O ariano, loiro, é um ser humano superior a todas as outras raças". E muitos cientistas aprovavam essa teoria. Até ela ser usada pelos nazistas, ela era tida uma ciência exata. Imagine agora se ele não tivesse sido usada pelos nazistas. Como seria? Mas ainda vivemos resquícios desse cenário. Hoje, no mundo, existem apenas 2% de pessoas originalmente loiras. E por que mulheres escolhem pintar o cabelo de loiro? Porque traz privilégios, traz uma narrativa de superioridade.

Educar pelo bem da diversidade

Por que não vemos uma família de pessoas negras promovendo um comercial de margarina? Pasta de dente? Fraldas? Quer dizer que não usamos nenhum desses produtos? Por que nunca se viu um negro historicamente nas campanhas de marketing brasileiras? Isso pra mim é um racismo violento. Porque se fala do Brasil lá fora como uma democracia racial, uma grande miscigenação, com tudo resolvido. Quando cheguei aqui pensei que veria 50% de negros protagonistas nas novelas, em cargos de liderança, nas empresas, nos desenhos animados. E não estão. E fiquei chocada, porque no Brasil as mulheres saem mais diplomadas que os homens das universidades. E por que apenas 6% das mulheres ocupam postos executivos nas empresas? Porque o ser humano vai sempre favorecer uma pessoa que se parece com ele. Então, um homem branco vai sempre favorecer outro homem branco. Se não educarmos as pessoas para enxergarem o negro como igual, a mulher como igual, a pessoa com deficiência física como igual, vamos ficar estagnados nessa condição de poucos com privilégios.

O estereótipo do negro pobre

Acho interessante a gente parar para pensar no quanto o negro é anulado na sociedade brasileira. Não precisa existir uma placa "Só para brancos" no shopping Iguatemi para ele não ir almoçar lá. E não é por uma questão financeira também. Os negros consomem 1 trilhão e meio de reais por ano no Brasil. Aqui não existem só negros pobres, o estereótipo da empregada que mora na favela. Estudos recentes mostram que 1% dos brasileiros detêm 60% da riqueza do País. Desse total, 7% são negros. Quando li isso perguntei: onde eles estão?

Talentos desperdiçados

Eu participei de um treinamento de dois dias no YouTube para melhorar a performance do meu canal e das minhas rede sociais. Lá eu conheci uma quantidade enorme de formadores de opinião negros. E fiquei chocada. São tantas pessoas super hypes, super trends, bons de comunicação. E percebi que ninguém está falando deles. Existem vários youtubers negros com milhares de seguidores e ninguém está falando deles. Para mim, esse é o futuro da comunicação. E me aproximei para trabalhar a questão da autoestima deles, quero que eles aceitem patrocínio de marcas pelo trabalho que têm feito. Porque os youtubers brancos cobram, e cobram caro pelo que produzem. Vejo que o Brasil está se privando desses talentos, só enxergando os negros como coitadinhos, pobres e favelados. O carnaval, por exemplo. A produção do carnaval sai na hora. É super bem-organizada, tudo é impecável, dá certo. É uma das maiores festas do mundo. E quem são as pessoas por trás do carnaval? São os negros e pobres, que não acredito que são carentes. A questão é que muitos talentos não foram explorados para se destacar. Não precisamos daquela mulher apertando o botão no elevador. Tampouco daquela pessoa para colocar gasolina no carro. Em que país você vê esse tipo de emprego de pessoas? Só no Brasil, país que é a 9ª maior economia do mundo. Não dá mais para ter 80% da população ganhando R$ 3 mil reais por casa. Não dá mais. Vamos ter que mudar a quantidade pela qualidade. E deixar esse povo ter dignidade econômica para também poder consumir.

Brancos escravizados

É preciso lembrar que o branco também foi escravizado, mas toda a narrativa foi construída de outra forma. Porque houve o feudalismo. Os castelos da França, por exemplo, não foram construídos de acordo com normas trabalhistas, com 35 horas semanais, final de semana de descanso. O branco foi escravizado, mas a sua narrativa não conta isso. O que contam é que sempre tiveram dignidade, sempre foram poderosos. Ao observar toda essa construção narrativa dos livros vejo que podemos contar o que queremos. Quem vai lá verificar?

"Conversão de racistas"

Acredito que uma pessoa pode deixar de ser racista. Eu já "converti" várias. É preciso educar com empatia e paixão. E aqui no Brasil isso também é particularmente possível por conta da formação acadêmica diferente da europeia. Aqui vocês estão muito mais ligados ao corpo e à conexão humana. Então, ter empatia é muito mais fácil do que na Europa. Lá, nós não sentimos nada no corpo. O corpo é feito para segurar as cabeças cheias de informação. Desenvolvemos muito as qualidades mentais, deixando o corpo em segundo plano. Quando vocês beijam ou abraçam alguém estão automaticamente filtrando a energia dessa pessoa, verificando se ela está bem. Vocês nem se dão conta do valor disso nas relações humanas.

Amauri Terto – Huffpost Brasil

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

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