domingo, 30 de outubro de 2016

ELEIÇÕES NOS EUA: MITOS, HIPOCRISIA




Aproxima-se a eleição para Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) acompanhada por todos, pois é escolha do governante da mais rica e militarmente armada nação do mundo.

Pedro Augusto Pinho*

Apenas dois candidatos merecem a cobertura da mídia, das quase seiscentas pessoas que disputam aquele posto. Claro que os candidatos dos partidos Republicano e Democrático são de longe os mais importantes concorrentes, mas se esquecem de apresentar as ideias distintas dos três partidos socialistas, do Green Party, do Libertarian Party, Constitution Party, Reform Party, Independent Party e das centenas de candidatos que não figuram nas listas de todos os estados norteamericanos.

Os EUA de hoje são um país muito diferente daquele que travou a Guerra da Secessão, que se lançou à conquista de colônias na Ásia, que participou de duas Guerras Mundiais e que invadiu países, por toda parte, no século XX. No entanto certos mitos, de poderosa influência no psicossocial americano e internacional, continuam a ser utilizados politicamente.

O mais recorrente mito, que o candidato republicano Donald Trump procura representar, é do pequeno fazendeiro, o homem que com seu trabalho construiu uma nação e que historiadores e analistas chamam da América Jeffersoniana.

Milhares de filmes, romances, revistas, jogos foram elaborados e divulgados com base neste mito Jeffersoniano. No entanto, a ampla e variada bibliografia da história dos EUA mostra que, desde 1865 e em ritmo crescente, aquele país vai se urbanizando e se transformando numa Nação de industriais e banqueiros, cujo interesse destes últimos se confunde hoje com os do próprio País. É o domínio da banca, o sistema financeiro internacional de todos conhecido.

Mas há outros mitos, como do isolamento político internacional. O historiador francês Pierre Mélandri escreve que a política das "Portas Abertas", a oposição a encontros e acordos internacionais, o Trade Agreements Act e a criação do Export-Import Bank, estes últimos em 1934, e várias outras manifestações demonstram que a ação internacional dos EUA se dava por rotas não convencionais, mas era intensa e colonizadora. Mostra, inclusive, os acordos bilaterais feitos com o Japão, Alemanha, Renânia e outros países da América (sem esquecer a intervencionista Emenda Platt 1901-1934) que moldavam o modo americano de lidar com o exterior.

O que os EUA souberam e ainda dominam com extraordinária competência é a comunicação social. Bastaria Hollywood para demonstrar, mas esta é a parte mais visível da enorme influência do País na formação da "opinião pública". Alimentos, vestuário, hábitos de consumo, produtos, música, expressões, enfim um colossal acervo cultural fez e faz parte da ação internacional dos EUA, além da formação intelectual e dependência econômica.

E tudo isso ajuda a compreender a importância destas eleições, que, de resto, não surpreenderão ninguém. A senhora Clinton será Presidente e o Congresso, por ampla maioria, estará dominado pela coligação conservadora de democratas e republicanos do Sul e do Nordeste. Esta estrutura de Poder é indispensável para que a crise de 2017/2018 encontre gestores favoráveis na continuidade de concentração de renda, nas medidas financeiras que reduzam ainda mais os atores da cena econômica e política, dentro e fora dos EUA.

Um ponto desta ação já foi anunciado por Hillary Clinton: a guerra contra a Federação Russa.

Questionará meu inteligente leitor: mas a Rússia não é mais um país comunista. Certamente, mas é, neste contexto histórico, a mais consistente e bem articulada resposta ao sistema financeiro internacional que será o vitorioso na eleição americana.

Veja, por exemplo, a ação militar russa inibindo que a Síria se transforme em outra Líbia ou Iraque. Repito, pois não sou desta área, o que leio nos blogs especializados em questões militares, que os EUA precisariam investir, apenas no arsenal nuclear, US$ 1 trilhão no curto período de dois mandatos presidenciais. Ainda seria necessário, para a própria engrenagem econômica, aumentar significativamente os gastos na NRO (National Reconnaissance Office) e na NSA (National Security Agency) a fim de não ser pego de surpresa pela ação dos BRICS, por exemplo. Lembre que Putin recusou encontro com Temer, obviamente não confiável e pouco expressivo.

No bélico campo, verificamos que o emprego de mercenários (ucranianos, salafistas, wahabitas e outros) não teve o sucesso esperado pela Casa Branca.

Mas as despesas com o Estado Islâmico, diretas e via Península Arábica, continuam significativas, ainda que rendam lucros para Halliburton e outras empresas norteamericanas.

Assim, acossado por mitos e declarações e comunicados hipócritas, que acompanhamos a eleição nos EUA. A surpresa estará na quantidade de abstenções, que servirá para a avaliação do possível apoio popular a medidas mais drásticas, como o envolvimento bélico direto e o prosseguimento e a intensificação da recessão.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado – em Pravda.ru

“ESTAMOS A SER CONDICIONADOS PARA ODIAR OS RUSSOS”, afirma consultor português



Branco Martins alertava o seguinte: "agora todos os ataques na Síria são culpa dos russos. De repente mostram-se crianças estropiadas e ensanguentadas no telejornal, apenas para dizer que foram vítimas dos bombardeamentos russos", enfatizando que "estamos a ser condicionados para odiar os russos".

João Branco Martins é consultor em antecipação política e económica, presidente da Associação para o Posicionamento Estratégico e Financeiro (APEFI), autor de três obras sobre economia - sendo que a mais recente ("A Economia lá de Casa, A melhor estratégia para fazer crescer o seu dinheiro e deixar a crise para trás", Texto Editores, 2014) foi já alvo de duas edições - ex-radialista do Rádio Clube de Sintra e presença ocasional nas televisões portuguesas, pronunciou-se nas redes sociais acerca do tratamento que a comunicação social e a comunidade internacional estão a dar à Rússia.

Flávio Gonçalves

Em dois textos publicados na sua página oficial no Facebook no passado dia 28 de Outubro, Branco Martins alertava o seguinte: "agora todos os ataques na Síria são culpa dos russos. De repente mostram-se crianças estropiadas e ensanguentadas no telejornal, apenas para dizer que foram vítimas dos bombardeamentos russos", enfatizando que "estamos a ser condicionados para odiar os russos".

Referindo-se ao desenlace da mais recente votação no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmava: "a Rússia é posta fora do Conselho (...) Quem mantém o seu lugar e liderança? A Arábia Saudita", nação conhecida pelas contínuas violações dos Direitos Humanos, país que ainda possui a pena de morte e que, em 2015, executou 153 pessoas e, até Julho deste ano, já tinha executado 100 cidadãos - de acordo com os dados da Amnistia Internacional.

Encerrando o seu desabafo acerca da máquina de propaganda actualmente encetada contra a Federação Russa, João Branco Martins alertava, preocupado, que "dentro de uns anos todos nós, eu incluído, estaremos a odiar os russos. Estaremos dispostos a arriscar a nossa vida e a dos nossos filhos contra a Rússia. E digo eu incluído porque ninguém estará imune à lavagem cerebral que nos vão fazer."


KILLARY E AS ELEIÇÕES ESTADO-UNIDENSES



Os EUA estão divididos.   De um lado estão os que querem preservar o Império mesmo à custa do seu país – são os neocons.  Do outro lado estão os querem salvar os EUA ainda que seja à custa da perda da sua hegemonia imperial.

A representante dos primeiros é a sanguinária e corrupta Hillary Clinton, responsáveis por incontáveis mortes de civis no Iraque, na Líbia, na Somália, no Iémen e na antiga Jugoslávia (em 1999 apoiou o seu marido na guerra de agressão da NATO).   Ela é a mulher que, tal como uma ave carniceira, deu uma gargalhada ao saber do assassinato de Kadafi ("Viemos, vimos e matámos", berrou ela).   A sua eventual vitória significará uma alta probabilidade de guerra nuclear. 

O outro candidato, Trump, é o que aceita o retorno a um mundo multipolar a fim de salvar da derrocada o seu próprio país – uma derrocada económica, financeira, monetária, política e moral.   Apesar da sua vulgaridade, grosseria e algumas ideias tolas ele é certamente o candidato que dá mais garantias à paz mundial e à maioria do povo estado-unidense.   Se estas eleições não forem mais roubadas do que de costume Trump poderá vencer. 

Ter ou não um planeta coberto de cinzas radioactivas depende dos resultados de 8 de Novembro.


SCHAUBLE OUTRA VEZ



Ana Alexandra GonçalvesTriunfo da Razão

Em bom rigor, estava na altura do ministro das Finanças alemão falar sobre as finanças de Portugal. Até esta simples frase causa estranheza e incómodo.

Assim, Shaüble, uma das figuras máximas da destruição europeia, afirma que Portugal ia no bom caminho até à entrada em funções do Executivo de António Costa.

Com efeito, Passos Coelho e a sua ministra das Finanças já não tinham língua, tal como Schaüble já não tinha rabo de tão gastos. A capitulação, julgava o ministro das Finanças alemão, havia sido completa.
De repente, trocam-lhe as voltas: um governo socialista em Portugal apoiado pelos partidos de esquerda qu,e não virando as costas às regras europeias, tem conseguido contorná-las, devolvendo – pasme-se! - rendimentos aos que haviam sido delapidados. Contrariamente ao falhanço grego que tanto agradou a Schaüble, Portugal apresentou uma solução exequível que não cai nos desejos do ministro alemão.

É evidente que viver de superavits – à custa quer das regras europeias, quer dos Estados-membros – o terá habituado mal. É claro que o pagamento à banca alemã (uma verdadeira e perigosa farsa como se tem visto) de dívidas por parte dos Estados-membros era essencial para a estratégia alemã. De resto, sabe-se que a situação periclitante do Deutsche Bank não é de agora.

E é precisamente sobre o maior banco alemão que deveriam recair as atenções e preocupações do ministro Schaüble. Assim, como todos nos deveríamos preocupar com o referendo italiano que se aproxima e que pode por em causa quer a continuação de Matteo Renzi, quer a própria permanência italiano na UE, ou até dedicarmos a nossa atenção à questão dos refugiados.

Não. A grande preocupação de Schaüble não é o Deutsche Bank, não é a situação política italiana, não é a questão dos refugiados, nem tão-pouco se prende com as derrotas que o seu partido tem sofrido em eleições regionais e com a ascensão de partidos que fazem lembrar outros tempos. As verdadeiras inquietações de Schaüble estão relacionadas com Portugal e com António Costa.

O SUICÍDIO DO PSD



Isabel Moreira – Jornal de Notícias, opinião

Mais uma vez, o PSD mostrou que não sobra nada do que dá nome ao partido – social democracia.

Vem sendo evidente para todas e para todos que o PSD não tem discurso. Podia ter, mas não tem. Escolheu a trincheira de uma nova direita, desconhecida da nossa memória democrática, uma direita que apelida de “bolchevistas” ou produtos “das esquerdas radicais” medidas consensuais à social democracia mediana, como manuais escolares gratuitos para alunos do 1º ciclo básico.
Desta vez, o PSD foi mais longe no suicídio, na destruição do legado de um partido que fez parte da construção da democracia portuguesa.

No debate de quinta-feira, marcado pelo PSD, sobre as consequências das cativações orçamentais nos serviços públicos, a deputada oradora foi Maria Luís Albuquerque. Não vou perder tempo sobre o rosto do governo que cortou, demitiu, degradou, desmotivou e desorganizou em matérias de serviços públicos (tendo mesmo um plano para cortar mais, caso tivesse continuado a governar) teve o desplante de dizer acerca deste orçamento de estado. Foi tudo obsceno. Foi particularmente obsceno por ter sido dito pela deputada com o CV conhecido.

Desplante é uma coisa, destruir o legado de um partido político é outra. Ora, Maria Luís Albuquerque, na sua intervenção, disparou sobre os sindicatos, descobriu que representam interesses obscuros, talvez lóbis, assim, de repente, todo um discurso em nome do PSD que trata o sindicalismo como um obstáculo maldoso, quem sabe endinheirado.

Imagino que na Arrow Global Maria Luís Albuquerque não tenha de perder muito tempo a pensar em direitos dos trabalhadores. Mas no Parlamento fala em nome do PSD e arrasa uma das bases da social-democracia: a defesa do sindicalismo.

O PSD, assim, atira para um lixo cósmico o legado ao qual pertencia, à Europa social que retirou consequências de um conflito histórico entre capital e trabalho. As lutas sociais não foram ignoradas pelos democratas e a necessidade de regular os conflitos foi o berço do triunfo do movimento operário e sindical. Sem este movimento, como o PSD usava saber, pura e simplesmente não haveria Estado social.

A longa história da violação grosseira da dignidade das trabalhadoras e dos trabalhadores na era do capitalismo selvagem, quebrada com o sindicalismo, com a representação dos direitos dos trabalhadores, foi, para os defensores das correntes socialistas e sociais-democratas, uma vitória dos trabalhadores e da sociedade. Não há social-democrata que se preze que admita que uma sociedade é decente se a parte mais fraca da relação laboral – o trabalhador – não tem direito a estar sindicalizado ou que a sociedade é decente se as leis laborais são impostas sem concertação social.

Estamos a viver, ainda, momentos de enormes dificuldades no mundo do trabalho e, concretamente, nos serviços públicos. Há quem, precisamente nesses momentos, recorde a história, e se recuse rasgar o papel dos sindicatos, o mesmo é dizer o contrato social, a certeza de que a precarização laboral e a exploração, para além de indignas, não têm nenhuma relação positiva com o crescimento económico. É o que faz o PS.

Já o PSD, logo pela voz de Maria Luís Albuquerque, aproveita o momento para reduzir o sindicalismo a grupos de interesses, pondo a nu esta nova direita, a que vimos governar durante quatro anos e que assim continuaria se pudesse, avessa a compromisso coletivos alargados, uma direita antissindical, o mesmo é dizer uma direita que matou a social democracia, a que diria necessariamente isto: não há estado social sem sindicalismo; o desemprego e a precariedade reclamam o reforço do movimento sindical.

É este o suicídio do PSD.

Portugal entre os países da UE com mais filhos a viver em casa dos pais



As dificuldades em conseguir emprego e os salários baixos colocam Portugal perto do topo numa lista que não orgulha os primeiros classificados.

Mesmo entre os países mais pobres da União Europeia, há poucos onde tantos filhos ainda vivam na casa dos pais. 

De acordo com dados do Eurostat, Portugal está no top 10 das nações onde mais jovens e até adultos ainda não saíram do lar dos progenitores, à frente de países como Espanha, Lituânia, Letónia, Estónia ou Chipre. 

A vida é mais difícil para os rapazes, que em todos os países da União Europeia estão em maioria sobre as raparigas neste ranking. 

Descubra na galeria do Economia ao Minuto que lugar ocupa Portugal e quem está acima de nós segundo os dados do Eurostat.

Bruno Mourão – Notícias ao Minuto

CGD: Jerónimo acusa PSD de querer complicar processo de recapitalização



O secretário-geral do PCP afastou a possibilidade de um entendimento com PSD e CDS-PP sobre o futuro da Caixa Geral de Depósitos e acusou os sociais-democratas de quererem complicar o processo de recapitalização do banco público.

"O PSD não quer nem transparência nem redução da verba que está destinada ao presidente da conselho de administração da CGD. É falso. Quer, no essencial, a mesma coisa [que o PS], com este ou aquele retoque, visando a desestabilização do processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos", disse o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, durante uma visita ao bairro da Bela Vista, em Setúbal.

O líder comunista lembrou que o PCP tomou a iniciativa de apresentar uma proposta concreta em relação à questão dos gestores da CGD, designadamente definindo um plafonamento de vencimentos correspondente ao salário do primeiro-ministro, e que contabilizava subsídios e outros privilégios para o pagamento de impostos, mas que essa proposta foi chumbada pelo PS, PSD e CDS-PP.

"O PSD vem propor, no essencial, a reposição da lei anterior, em que poderíamos dizer que os 400 mil euros que estão previstos para o presidente do conselho de administração seriam substituídos pelos 400 mil euros que o PSD e o CDS querem atribuir a esse presidente do conselho de administração. Ou seja, no essencial, quer a desestabilização deste processo da Caixa Geral de Depósitos. Sabemos que alguns setores muito amplos do PSD querem a privatização da CGD e querem `encasinar´ todo o processo", disse.

"O PSD quer fazer de conta. Nós não acompanhamos o PSD nesta matéria que é de facto uma operação de hipocrisia, que não resolve o problema do montante [dos salários pagos aos administradores da CGD] nem da transparência", acrescentou o líder comunista.

No que respeita aos anexos do Orçamento do Estado entregues pelo Governo ao parlamento, a pedido dos partidos da oposição, e que segundo o PSD e o CDSS/PP revelam receitas inferiores ao que se previa e um deslizamento das despesas, Jerónimo de Sousa defendeu que o problema essencial é a canalização dos recursos do país para o pagamento do serviço da dívida pública, e reafirmou a ideia de um dia acabará por ser necessário avançar para uma renegociação com os credores.

"Se esses documentos eram devidos à Assembleia da República, foi bom que fossem apresentados. É essa a nossa posição. Em relação às questões da receita e da despesa, mesmo havendo um outro deslizamento, ninguém pega nesta realidade: o grande peso da despesa passa pelo pagamento dos juros da dívida, que são centenas de milhões de euros por mês, que têm de ser entregues para o pagamento do serviço da dívida, não da dívida", disse.

"Nós precisamos de equilíbrio nas contas públicas, mas [também] precisamos de investimento, precisamos de capacidade de responder aos problemas estruturais que existem na sociedade portuguesa e, infelizmente, todo o esforço que o país faz vai sempre por esse cano roto, de um serviço da dívida em que só este ano vamos ter de pagar 8.500 milhões de euros. Esse é um problema central, disse Jerónimo de Sousa, reiterando a necessidade de uma renegociação da dívida pública.

Confrontado com o segundo caso de uma falsa licenciatura no Ministério da Educação no espaço de uma semana, Jerónimo de Sousa disse que se tratou de uma "situação pouco recomendável", mas que já "foi clarificada, foi resposta a legalidade, mesmo no plano ético".

"Em relação ao ministro da Educação, a responsabilidade é do primeiro-ministro. Creio que também já o clarificou. E aqui notar um pouco esta posição de dois pesos e duas medidas do CDS-PP, que durante o seu governo teve situações idênticas como nós nos lembramos, e não pediu demissão nenhuma", disse.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PORTUGAL NO JOGO EUROPEU



Manuel Carvalho da Silva* – Jornal de Notícias, opinião

Esta semana, o ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, uma vez mais se pronunciou sobre a política portuguesa e o rumo da nossa democracia, de forma particularmente violenta. Declarações deste tipo feitas por responsáveis políticos europeus são, no mínimo, indecorosas. Mas, tratando-se de um alto responsável do mais poderoso Governo europeu, tais declarações configuram uma clara ingerência política de caráter imperialista sobre um país com quase nove séculos de história, maltratando um povo reconhecidamente trabalhador, respeitador e solidário que, ao longo dos séculos, algumas vezes se levantou, exemplarmente, contra tiranias e ditaduras. Os órgãos de soberania, utilizando fundamentos, formas e vias próprias da ação diplomática, têm de ser ativos no protesto junto do Estado alemão.

Por certo, o senhor Schäuble teve em conta o facto de ter surgido em Espanha uma solução governativa que conta com a participação dos representantes históricos da social-democracia em posição de cócoras. Na sua perspetiva, Portugal ficou mais enfraquecido no rumo que procura seguir e, vai daí, toca a atacar. Mas as duas razões principais para, neste caso, fazer de nós saco de boxe são outras.

Primeira, todos sabemos e o ministro alemão também, que a trajetória económica e financeira seguida pelo atual Governo de Portugal, se bem que com importantes inflexões em comparação com o Governo anterior, continua a obedecer aos constrangimentos do Tratado Orçamental de forma mais acrítica do que o desejável. Dados recentes do INE mostram as monumentais perdas de poupança que a população mais pobre sofreu, ao mesmo tempo que os ricos ganharam com a crise. É essa receita que ele quer continuar a aplicar em Portugal. Em junho, Schäuble, quando questionado sobre a delicada situação do Deutsche Bank, dizia-se mais preocupado com Portugal, para assim desviar as atenções dos problemas da economia alemã. Agora, a motivação é outra, politicamente bem mais pesada para ele. Para Schäuble, alianças à esquerda construídas em torno de um discurso e programa antiausteritário e mais solidário, têm de pura e simplesmente ser destruídas. O perigo de contágio assusta-o. É que hoje, na própria Alemanha, a perspetiva de uma coligação entre o SPD, Verdes e Die Linke (A Esquerda) tem vindo a ser debatida, à imagem do que já aconteceu para o Governo de Berlim.

A segunda motivação do senhor Schäuble diz respeito a outro forte combate político, mas fora de portas. O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, anunciou que o défice orçamental italiano para 2017 não será de 1,8% do PIB, inicialmente previsto, mas sim de 2,3%. Renzi não é um "radical" de esquerda, e parte da política orçamental expansionista que defende serve para financiar reformas "estruturais" de cariz marcadamente neoliberal. Contudo, essa orientação está em colisão com as imposições de Bruxelas, patrocinadas pelo Governo alemão. Portugal servirá a Schäuble como ameaça, mais ou menos velada, à orientação italiana, país cujo tamanho e peso não lhe permitem dirigir os insultos que dirige a Portugal. O ministro alemão quer à viva força os portugueses subjugados e peados pelo medo, para com esse exemplo amedrontar alemães, italianos e europeus em geral.

Schäuble joga tudo numa UE dicotómica e neoliberal, submetida aos mercados e seus grandes interesses económicos e financeiros, em particular os da Alemanha. A instabilização da vida dos mais pobres, por forma a que estes não possam organizar-se e encontrarem rumo de desenvolvimento mais autónomo, é uma das armas da sua loucura, que poderá chegar à desestabilização de toda da UE.

É claro que um Governo submetido a um contexto de guerrilha tende a concentrar a sua ação política nos problemas de curto prazo. Mas Portugal não deve ser mero espectador a tentar passar pelos pingos da chuva das políticas europeias e de um Tratado Orçamental cada vez mais obsoleto. O Governo tem a obrigação de se engajar ativamente na definição de políticas estratégicas e no debate sobre a reforma dos tratados europeus, sob pena de perder legitimidade interna e externa.

* Investigador e professor universitário

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