Um
dos ensinamentos mais importantes de Karl Marx é de que as massas têm a
ideologia das classes dominantes.
Outra
afirmação muito repetida do grande filósofo alemão é de que a religião é o ópio
do povo.
As duas podem ser lembradas juntas, quando pensamos em como a maioria da população se submete, dentro do capitalismo, a um regime político que só gratifica uma minoria da sociedade.
As duas podem ser lembradas juntas, quando pensamos em como a maioria da população se submete, dentro do capitalismo, a um regime político que só gratifica uma minoria da sociedade.
Caso
a maior parte da população se conscientizasse dos seus direitos, não precisaria
haver nenhuma grande revolução. Bastava avisar à burguesia que seu tempo tinha
acabado.
Obviamente,
não é assim que acontece.
Como
é possível uma minoria dominar uma grande maioria?
Claro
que existem instrumentos óbvios de coerção, como as forças armadas e a polícia,
mas mesmo eles seriam incapazes de conter um movimento de massas que buscasse
conquistar o poder.
O
que garante a existência de uma sociedade profundamente injusta e dividida, é
que as pessoas não se dão conta dessa injustiça ou, o que é pior, a aceitam
como algo inevitável.
Para
que isso aconteça, funciona uma bem montada máquina de alienação política, com
poderosos meios de convencimento, que vão desde a escola, passando pelas
igrejas e chegando aos meios de comunicação.
Ao
contrário das sociedades escravagistas, ou mesmo durante o feudalismo, quando
havia uma clara divisão entre senhores, escravos e vassalos e onde todos sabiam
o lugar que lhes fora destinado para toda a vida, no sistema capitalista se
estabelece a possibilidade formal de subir na escala social.
Individualmente,
cada um dos participantes da sociedade capitalista é avaliado por seus méritos
pessoais e nada, teoricamente, o impede de chegar ao topo, principalmente
naqueles países onde o processo democrático liberal atingiu seu ponto
culminante.
Essa
ascensão social, porém, só é possível para alguns indivíduos, muitas vezes por
mérito pessoal, outras vezes por um golpe de sorte e nunca para uma classe
inteira.
Os
pobres, independentemente de suas qualidades pessoais, continuarão formando a
maioria da população e trabalharão todas suas vidas para uma minoria de ricos,
que ficará cada vez mais rica.
É
essa estrutura, injusta na sua essência porque só favorece uma minoria, que é
mantida como seu fosse uma conquista de todos, através de um grande processo de
alienação política.
Por
isso, a única maneira de superar essa sociedade e alcançar outra, num patamar
mais elevado, é a conscientização das massas oprimidas sobre seus direitos.
Como
a burguesia, que exerce seu poder através do sistema capitalista, já se deu
conta desse risco, ela monopoliza os meios de comunicação, cada dia mais
importantes no processo, para estabelecer uma linguagem única no
estabelecimento de determinados valores.
Palavras
chaves como democracia e liberdade são manipuladas para passar a leitores,
ouvintes e telespectadores que suas versões burguesas são o ponto mais alto que
a sociedade pode alcançar e que além delas só existiria o caos.
Hoje,
o papel das esquerdas não deveria ser só o de participação no jogo político,
mas sim o de conscientização da maioria da população de que as injustiças que
sofre não é um determinismo histórico e que, consciente de sua força, ela se
torna imbatível.
*Marino
Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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