Barack
Obama foi um “santo subito” [1]:
assim que entrou na Casa Branca, foi preventivamente laureado, em 2009, com o
Prâmio Nobel da Paz graças aos “seus extraordinários esforços para fortalecer a
diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”.
Enquanto
isso, a sua administração já preparava secretamente, por meio da secretária de
Estado Hillary Clinton, a guerra que dois anos depois demoliria o Estado líbio,
estendendo-se depois à Síria e ao Iraque através dos grupos terroristas
funcionais à estratégia dos EUA e da Otan.
Inversamente,
Donald Trump é o “demônio subito”, ainda antes de entrar na Casa Branca. É
acusado de ter usurpado o posto destinado a Hillary Clinton, graças a uma
maléfica operação ordenada pelo presidente russo Putin.
As
“provas” são fornecidas pela CIA, a mais especializada em matéria de
infiltrações e golpes de Estado. Basta recordar as suas operações para provocar
e conduzir as guerras contra Vietnã, Cambodja, Líbano, Somália, Iraque,
Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria; os golpes de Estado na Indonésia, El
Salvador, Brasil, Chile, Argentina, Grécia.
Milhões
de pessoas presas, torturadas e assassinadas; milhões de desalojados das suas
terras, transformados em fugitivos, objeto de um verdadeiro tráfico de
escravos. Sobretudo crianças e mulheres jovens, escravizadas, violentadas,
obrigadas a prostituir-se.
Tudo
isto deveria ser lembrado por aqueles que, nos Estados Unidos e na Europa,
organizam no dia 21 de janeiro próximo, a marcha das mulheres para defender
justamente a paridade de gênero conquistada com duras lutas, continuamente
postas em causa pelas posições sexistas manifestadas por Trump.
Esta
não é, porém, a razão pela qual Trump é acusado em uma campanha que constitui
um fato novo nos procedimentos de alternância na Casa Branca: desta vez a parte
perdedora não reconhece a legitimidade do presidente eleito, e tenta um
impeachment preventivo. Trump é apresentado como um tipo de “Manchurian
Candidate” [2]
que, infiltrado na Casa Branca, seria controlado por Putin, inimigo dos Estados
Unidos.
Os
estrategistas neocons, artífices da campanha, buscam assim impedir uma mudança
de rumo nas relações dos Estados Unidos com a Rússia, que a administração Obama
levou ao nível de uma guerra fria. Trump é um “trader” que, continuando a
basear a política estadunidense na força militar, tenciona abrir uma negociação
com a Rússia, possivelmente também para debilitar a aliança de Moscou com
Pequim.
Na
Europa aqueles que temem um relaxamento das tensões com a Rússia são antes de
tudo os dirigentes da Otan, cuja importância cresceu com a escalada militar da
nova guerra fria, e os grupos no poder nos países do Leste – particularmente
Ucrânia, Polônia e países bálticos – que apostam na hostilidade à Rússia para
ter um crescente apoio militar e econômico por parte da Otan e da União
Europeia.
Nesse
quadro, não se pode ignorar nas manifestações de 21 de janeiro a
responsabiidade de todos os que transformaram a Europa na primeira linha do
confronto, inclusive nuclear, com a Rússia. Não deveremos manifestar-nos como
súditos dos Estados Unidos que não querem um presidente “mau” e pedem um
presidente “bom”, mas para nos libertarmos da sujeição aos Estados Unidos que,
indpendentemente de quem seja o presidente, exercem sua influência na Europa
através da Otan; para sair dessa aliança de guerra, para exigir a remoção das
armas nucleares dos EUA dos nossos países.
Deveremos
manifestar-nos para termos voz, como cidadãos e didadãs, nas decisões de
política externa que, indissoluvelmente ligadas às econômicas e políticas
internas, determinam as nossas condições de vida e o nosso futuro.
Manlio Dinucci –
Voltaire.net - Tradução José Reinaldo
Carvalho, Editor do site Resistência -
Fonte Il
Manifesto (Itália)
[1]
“Santo já”, “Santo imediatamente”: Palavra de ordem dos fiéis que pediam em
2005 a imediata canonização do Papa João Paulo II. (Nota da tradução)
[2]
“The Manchurian Candidate” é o livro de Richard Condon sobre o filho de uma
poderosa família com tradição política nos Estados Unidos que sofre lavagem
cerebral para se tornar um assassino involuntário a serviço do Partido
Comunista. A obra foi adaptada para o cinema em duas ocasiões (1962 e 2004),
com o título no Brasil “Sob o domínio do mal”. (Nota da tradução)
*Geógrafo
e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ; Geocommunity Ed.
Zanichelli 2013 ; Escalation.
Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.
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