quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

SERÁ QUE TRUMP PODE CUMPRIR?



Paul Craig Roberts

Minha visão de Trump é condicional e aguarda evidências. Fico encorajado pela oposição dos Um Porcento a Trump, ou então acabámos de experimentar a maior patranha da história. Na verdade, uma patranha inútil, quando o Establishment tinha Hillary como sua candidata.

As ordens executivas de Trump não confirmam o argumento de que ele está a actuar para os Um Porcento. Trump vetou o TPP tão desejado pelas corporações globais. Ele está a tentar interromper a imigração em massa que as corporações utilizam para reduzir níveis salariais internos. Comprometeu-se também a normalizar relações com a Rússia, para grande desconforto dos neoconservadores e do complexo militar/segurança.

Quanto a Mnuchin, ele deixou a Goldman Sachs em 2002, o mesmo ano em que Nomi Prins saiu da Goldman Sachs. Isso foi há 14 anos atrás. Sabemos perfeitamente que Nomi, um antigo director administrativo, não é um operacional para a Goldman Sachs, de modo que a minha posição é esperar e ver o que Mnuchin faz antes de declararmos que é um agente da Goldman Sachs. Para uma visão diferente ver Nomi Prins na secção de convidados deste sítio web.

Quanto a isto penso assim: Se Trump for sincero, e o Establishment Dominante parece pensar que ele é, acerca de limpar um ninho de foras da lei, que melhor ajuda poderia ter ele do que um dos fora da lei?

A mudança a partir do topo exige pessoas com meios duros. Quaisquer outras seriam espezinhadas.

Minha posição é aguardar pelas provas. Durante anos meus leitores disseram que precisavam de alguma esperança. O ataque de Trump ao Establishment dominante dá-lhes esperança. Por que afastar esta esperança prematuramente?

Desde o princípio minha preocupação tem sido o facto de que Trump não tem experiência nos debates de política económica e política externa. Ele não conhecia as questões ou os actores. Mas ele sabe duas coisas importantes: a classe média e a trabalhadora são flageladas e o conflito com a Rússia poderia resultar na guerra termonuclear. Minha opinião é que é de apoiá-lo sobre estas duas questões, as mais importantes de todas.

Minha preocupação é que Trump já se tenha desviado quanto a melhores relações com a Rússia. Trump teve o bom senso de falar com o presidente Putin, da Rússia, durante a sua primeira semana no gabinete. As informações são que a conversação de uma hora decorreu bem. Contudo, a informação da administração Trump é que as sanções não foram mencionadas e que Trump está a considerar ligar a remoção das sanções à redução de armas nucleares.

Claramente, Trump precisa de conselheiros mais perspicazes do que os actuais. Confrontado com 28 países da NATO, a Rússia, cuja população é apequenada diante deste conjunto de países e armamentos, confia nas suas armas nucleares para enfrentar a ameaça potencial. Durante o regime Obama, a ameaça à Rússia deve ter-lhe parecido muito real, pois a demonização da Rússia e do seu presidente inteiramente baseada em mentiras óbvias e atingiu níveis de provocação raramente vistos na história sem conduzir à guerra.

Se eu tivesse sido conselheiro de Trump, teria insistido em que a primeira coisa que Trump diria a Putin é que "as sanções são história [passada] e peço desculpa pelo insulto baseado nas mentiras fabricadas do meu antecessor".

Isto é o que era necessário. Uma vez restaurada a confiança, então a questão da redução de armas nucleares pode ser levantada sem tornar o governo russo preocupado em que os americanos dúplices estejam a preparar-se para o ataque.

Se você fosse russo, se fosse membro do governo russo, se fosse presidente da Rússia, se tivesse experimentado um golpe americano que derrubou o governo eleito da Ucrânia, uma província que fez parte da Rússia durante 300 anos, se tivesse experimentado um ataque inspirado por americanos a residentes russos e a forças de manutenção da paz russas na Ossécia do Sul, há muito uma província da Rússia, que provocou a intervenção das forças armadas russas, uma intervenção denunciada pelo governo dos EUA como "agressão russa", confiaria nos Estados Unidos? Só se você fosse um idiota rematado.

Trump precisa de conselheiros suficientemente instruídos para contar-lhe acerca da situação que ele se comprometeu a melhorar.

Quem são estes conselheiros?

Considere-se agora a "proibição muçulmana". Os refugiados muçulmanos são um problema para os EUA e a Europa porque os EUA e seus fantoches da NATO bombardearam um grande número de países muçulmanos inteiramente na base de mentiras. Alguém pode ter pensado que com toda a sua experiência de guerra os países ocidentais estariam conscientes de que guerras produzem refugiados. Mas aparentemente não estão.

O caminho mais fácil e mais certo para tratar do problema de refugiados muçulmanos é parar os bombardeamentos que produzem refugiados.

Aparentemente, esta solução está para além do alcance da administração Trump. De acordo com o noticiário – e considerando o status presstituído das organizações de notícias nunca se sabe – a nova administração Trump autorizou um ataque SEAL [tropas especiais] no Iémen que assassinou uma garota de oito anos bem como um certo número de mulheres e crianças. Tanto quanto posso averiguar, nenhuma das mulheres que marchou em oposição à pela administração Trump opôs-se à continuação da política do regime Bush/Obama de assassinar muçulmanos em nome de uma falsa "guerra ao terror".

O calcanhar de Aquiles de Trump é sua crença na "ameaça muçulmana", uma ameaça orquestrada e cozinhada pelos neoconservadores. Se Trump quiser derrotar o ISIS, tudo o que ele precisa fazer é impedir o governo dos EUA e a CIA de financiarem o ISIS. O ISIS é uma criação de Washington, utilizada para derrubar a Líbia e enviada à Síria para derrubar Assad até os russos intervirem.

Alguém precisa ter suficiente conhecimento geopolítico para contar a Trump que ele não pode simultaneamente reparar as relações com a Rússia e ressuscitar o conflito com o Irão e ameaçar a China.

Como eu temia, Trump não tem nenhuma ideia de quem nomear a fim de alcançar a sua agenda.

Agora vamos voltar aos críticos de Trump: a Política de Identidade, isto é, a explicação da história ocidental como vitimização de toda a gente por machos heterossexuais brancos. Falta legitimidade aos ataques a Trump e toda a gente vê isso excepto aqueles mergulhados na política da vitimização. As mesmas pessoas que marcham contra Trump e condenam sua proibição muçulmana não marcham contra as guerras que produzem os refugiados e imigrantes muçulmanos. Os oponentes de Trump estão na posição ilógica de apoiar a "guerra ao terror" e a narrativa do 11/Set em que se baseia mas objectar à proibição à entrada de "muçulmanos terroristas" nos EUA. Se muçulmanos são terroristas, como afirma a narrativa de Bush/Obama, é totalmente irresponsável admitir dentro dos EUA muçulmanos prejudicados pelos ataques de Washington aos seus países e que podem tem ideias de vingança.

Os liberais/progressistas/esquerda abandonaram a classe trabalhadora há muito tempo. A consequência das suas queixas ilegítimas será agregar todos os dissidentes dentro da sua categoria ilegítima. Assim os que dizem a verdade juntamente com os contadores de ficções serão bloqueados. O público não será capaz de diferenciar entre os ataques orquestrados a Trump e o que dizem a verdade.

Minha conclusão é que a estupidez da Política de Identidade, ao desacreditar a dissidência, fortalecerá os piores elementos da extrema-direita. Se a Goldman Sachs também estiver a operar contra nós, como acredita Nomi Prins, então os EUA passaram à história. 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

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