quarta-feira, 29 de março de 2017

BREXIT, COISA DE ILHÉUS MANIENTOS E SOBERBOS. CARÁTER TIPICO DO ISOLAMENTO


Dia D (para os que gostam tanto da expressão) na União Europeia por causa do Brexit que finalmente chegou a Bruxelas veementemente oficializado. Blá-blá daqui e dali mas está a acontecer o que já sabíamos que ia acontecer. Os “bifes” saem da UE e lá ficam sozinhos na ilhota. O estigma dos ilhéus é assim mesmo, de tão habituados a estarem isolados, sós. Por isso são macambúzios, individualistas que apregoam sem pudor “olhem lá o meu”. Deixá-los ir, estão a exercer os seus direitos. É assim mesmo, senhores(as) “bifes”. Goodbye, britain. Reino Unido é que não está a ser.

“Estes ingleses são sempre a mesma coisa. Têm a mania de fazer tudo à sua maneira e ao contrário dos outros.” Dizia hoje um ouvinte e participante no Fórum TSF. Outro não esteve com meias medidas e até mostrou com garbo os “manientos e soberbos que são os gajos ingleses”. Claro que nisto também estavam implícitas as gajas. “Olhem que até no trânsito eles andam ao contrário do resto do mundo. Conduzem pela esquerda”. 

“Raios os partam!”, exclamou a senhora Tita por detrás do balcão do café onde se ouvia a TSF. No café “Flor que se Cheire” tudo e todos davam atenção ao Fórum de hoje. Nem a máquina de moer o café, barulhenta, teve direito a dar um pio. Só as bicas, cimbalinos e expressos curtos saiam para as chávenas e daí pelas goelhas abaixo dos clientes. “Silêncio, que se está a tratar do Brexit”- Sussurrou o Manel Cambalhotas para o Agapito que queria começar a falar do desaire da seleção nacional de futebol que perdeu contra a Suécia no jogo de ontem na Madeira - que agora tem aeroporto com nome de Ronaldo. 

Por isso o Manel disse baixinho: "Pfff. Onde já se viu. Só saloiada manienta e soberba se lembra de fazer uma destas. Lá está, são ilhéus. Solitários e broncos – os que são. E são poucos… mas mandam, põem e dispõem. Olhem o Jardim que até parecia não ter a caixa dos pirolitos devidamente arrumada, caixa que usava sobre os ombros mas que não era uma cabeça… normal. Engraçado, muitas vezes era. O pior foi o resto. Já se foi." Fim da retorica do Manel depois do Trombolho o mandar calar com um carolo atrás da cabeça.

Que coisa. Vejam lá para onde fugiu esta conversa. Palha, é o que é. Adiante. O que interessa é que a seguir vem aí o Expresso Curto por Valdemar Cruz. É o que vai salvar a situação. Leiam. Podem crer que tem substrato e até oásis. Ao contrário do que até agora leram (se foram capazes). Amanhã é outro dia e pode ser que aconteça coisa melhor para abrir este matinal Expresso Curto que por nós no PG chega à tarde. Estilo atrazadinhos da Silva. Pois. Até amanhã, se tiverem essa paciência. Vão ler. Cliquem, se forem capazes. (MM / PG)

O dia inicial

Valdemar Cruz - Expresso

Será forte a tentação mediática de catalogar o dia de hoje como histórico. No passado dia 20 o Reino Unido anunciou que iniciaria hoje oficialmente as negociações do Brexit, após nove turbulentos meses desde o referendo que deu a vitória ao não à permanência na União Europeia. Theresa May espera ter definidos os termos da saída da EU, bem como as bases da nova relação com as instâncias comunitárias, no prazo de 18 meses. Seria o tempo suficiente para o acordo ser ratificado na EU e na Grã-Bretanha dentro do período de dois anos definido pelo artigo 50 do Tratado de Lisboa.

O que está em cima da mesa é de tal ordem grave que pode, inclusive, conduzir à resignação de Theresa May, como se explica neste pequeno vídeo do Independent. Muita água correrá, por muitos serem os problemas a resolver. Primeiro a nível interno, depois na relação com os parceiros europeus. Sobressai desde logo a questão escocesa. A Primeira-Ministra Nicola Sturgen não está disponível para abdicar de pôr os escoceses a decidirem o seu próprio futuro, e já obteve autorização do parlamento escocês para convocar referendo sobre a independência, como forma de assegurar a permanência na EU.

Depois será necessário acompanhar a evolução do Partido Trabalhista dirigido por Jeremy Corbin. Se por um lado precisa de construir uma oposição sólida, e isso passaria por combater as opções de May, por outro, tem um vasto lastro histórico de desinteresse pelo que representa a EU. Antes dos primeiros envolvimentos britânicos, em 1961, já o então líder do Labour, Hugh Gaitskell, proferiu uma célebre sentença, segundo a qual a ligação ao Mercado Comum representaria “o fim de milhares de anos de história Britânica”.

Seja para os Trabalhistas, seja para os Conservadores, no Governo, a questão da imigração vai desabar-lhes com toda a força e começam a aparecer já várias teorias sobre o mundo como a Inglaterra, onde trabalham neste momento uns 400 mil portugueses, poderá negociar uma área tão sensível e tão crítica para a sua economia e sobrevivência enquanto sociedade. Esta será seguramente uma das alíneas mais difíceis de negociar, até por ser percetível que ainda ninguém avaliou em toda a dimensão as consequência de quanto aqui está em causa.

Basta atentar no Serviço Nacional de Saúde e na Segurança Social, marcados por uma grande dependência dos emigrantes. Empregam 11% dos 2,1 de trabalhadores emigrantes registados na Grã-Bretanha. Acontece que os direitos destes trabalhadores a permanecerem no Reino Unido ainda não estão assegurados e não se sabe o que vai acontecer. Mas sabe-se, por exemplo, que uma sondagem efetuada em fevereiro pelo General Medical Council constatou que 60% dos médicos originários da área económica europeia estão a pensar deixar a Grã Bretanha e 91% atribuem essa decisão ao Brexit.

O Brexit não é uma questão de pernas, como diz o El País a propósito da indignação desencadeada pela foto escolhida pelo Daily Mail para noticiar na primeira página o encontro entre Theresa May e Nicola Sturgen. Está muito para lá dessa opção sexista do tabloide britânico.

Como explica Ricardo Garcia, correspondente do Expresso em Londres, entre os 51,9% dos britânicos que votaram pelo divórcio no referendo de junho passado, não haverá motivo para alívio. A parte espinhosa da separação só agora começa. E, ao final de dois anos, é possível que o Reino Unido tenha de passar por um período transitório em que ainda estará sujeito à lei e ao tribunal europeus.

Por tudo isto, que constitui apenas uma breve amostra de quanto está em jogo, este dia será inicial. No final, dificilmente será inteiro e limpo. Seria esperar demasiado de duas partes em negociação, ensimesmadas nas suas certezas e nada disponíveis para acompanhar a generosidade contida em Sophia quando verbalizou a alegria contida naquele dia inicial, inteiro e limpo.

OUTRAS NOTÍCIAS

Na região de Lisboa e Vale do Tejo, 105 pessoas foram diagnosticadas com hepatite A. Trata-se de um número superior aos casos contabilizados em todo o país nos últimos 40 anos. Segundo noticiou a SIC, as autoridades europeias estão a advertir para um surto de hepatite A, que está a ocorrer em diversos países, entre os quais Portugal. O surto terá começado na Holanda e está a atingir quase toda a Europa. Os casos registados estarão relacionados com atividade sexual potenciada por substâncias químicas.

A venda do Novo Banco pode vir a provocar muitas dores de cabeça ao Governo. António Costa tem-se mostrado otimista, num contraste radical com a atitude de PCP e Bloco de Esquerda, ambos a contestarem o processo de alienação de 75% do capital através de um contrato entre o Fundo de Resolução e os compradores. CDS e PSD também estão contra, embora por outras razões. Do CDS sabe-se que prefere a venda a 100% e do PSD sabe-se, sobretudo, que não está disponível para dar os seus votos ao Governo caso haja uma votação na AR, suscitada por BE e PCP. Segundo o Negócios, isso não deverá acontecer e a venda poderá vir a originar, quando muito, um debate político na AR.

A Caixa Geral de Depósitos aderiu ao chamado perdão fiscal lançado pelo Governo no final do ano passado e com isso, noticia o Público, conseguiu poupar €21 milhões. O Banco pagou uma dívida ao fisco de perto de €34 milhões, mas continua a contestar a dívida em tribunal.

José Sócrates, Assunção Cristas, Valentim Loureiro, Isaltino Morais e outros vão ser ouvidos pela Assembleia da República no âmbito do apuramento de responsabilidades políticas no caso da deposição de resíduos perigosos na freguesia de São Pedro da Cova, Gondomar. Serão chamados os ex-ministros do ambiente entre 2001 e 2005, além de dirigentes regionais. Em apenas dois anos, entre 2001 e 2002, foram ali depositadas mais de cem toneladas de resíduos tóxicos, com altos níveis de chumbo, cádmio, arsénio e zinco, apresentados como inertes, provenientes da fábrica na Maia da Siderurgia Nacional. O Ministério Público instaurou um processo-crime contra seis arguidos e a sociedade Baía do Tejo e pede que seja atribuída ao Estado uma indemnização de 10,8 milhões de euros.

Portugal perdeu 2-3 contra a Suécia no jogo disputado na Madeira. Para memória futura fica o fantástico título da Tribuna : “A festa para nós, o futebol (e a vitória) para eles.

MANCHETES

Operação Marquês – Nova investigação do MP aponta a outros banqueiros – DN

Escolas sem material para provas de aferição – JN

Gravidez vai deixar de impedir mulheres de voltarem a casar-se rapidamente – I

CGD também aderiu ao fisco e poupou 21 milhões – Público

Negócio do Novo Banco escapa ao parlamento – Negócios

Decisão do Governo no TGV sob suspeita – Correio da Manhã

Queixa do Benfica afasta Bruno – A Bola

Aterragem Forçada – O Jogo

Benfica castiga Bruno - Record

LÁ FORA

Tem alguma ideia sobre quais poderão ser as cidades com pior qualidade do ar do mundo? Num Curto preocupado com as questões ambientais, não podia deixar de referir os resultados do estudo de uma cientista do Centro de Investigação Atmosférica e Ambiental da Universidade de Columbia, divulgados pela revista Science. Segundo Karen Cady-Pereira, se quer estar longe de zonas com elevadas concentrações de amoníaco no ar, então terá de evitar cidades como Lagos, na Nigéria, ou Deli, na Índia. Se prefere evitar os efeitos do ozono, talvez deva juntar Pequim, na China, Karachi, no Paquistão, ou Los Angeles, na Califórnia. A investigadora sublinha que a má qualidade do ar desencadeia problemas de saúde, em particular doenças respiratórias e cardiovasculares.

Donal Trump está a desmantelar todas as medidas tomadas pela administração Obama para reduzir as emissões de carbono, a dependência de energias poluentes e incentivar o mercado das renováveis. O novo presidente assinou ontem o decreto que aposta na recuperação da produção de energias fósseis e com isso, diz o El País num artigo intitulado “Creacionismo climático”, ameaça provocar um retrocesso de décadas.

Saiba, já agora, que os glaciares colombianos estão em perigo de extinção. Em seis anos a superfície gelada do país foi reduzida em 17% e já só restam 37 quilómetros quadrados de gelo, segundo um estudo publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento.

FRASES

“O futuro da Escócia deve estar nas mãos da Escócia. Quero que o Reino Unido obtenha um bom acordo, mas quando esse acordo surgir, penso que o povo escocês deve fazer uma escolha informada sobre se é esse o caminho que quer seguir”. Nicola Sturgen, Primeira-Ministra da Escócia

“O meu plano para a Grã-Bretanha não é apenas um plano para deixar a UE, mas um plano para criar uma economia mais forte e uma sociedade mais justa assente numa verdadeira reforma económica e social, e para tornar a GB um país que funciona para toda a gente e não apenas para alguns privilegiados”. Theresa May, Primeira-Ministra de Inglaterra

O QUE ANDO A LER

Mesmo se não sou dado à literatura de ficção científica, lanço-lhe um desafio. Imagine que o mundo, tal como o conhece no dia de hoje, acaba amanhã. As razões para a catástrofe podem ser múltiplas e abrangem um leque vastíssimo, que vai da queda de um asteroide aos efeitos de um vírus capaz de provocar uma pandemia à escala global, com passagem por um holocausto nuclear. Admitamos a possibilidade de ocorrer um fim civilizacional, tantas vezes retratado em filmes empenhados em construir cenas do apocalipse. Acontece o colapso. Acontece a desertificação quase total, mas não é o fim da humanidade. Entre bandidos, resistentes, bem-intencionados e afins, há sobreviventes e aos poucos começa o processo de regeneração e a tentativa de reconstruir o mundo perdido. Surge então a questão fulcral e entra a parte em que saímos do universo de Hollywood: até que ponto poderia ser reconstruída a sociedade em que vivíamos? Ou, colocada a questão de outra forma, haveria alguma hipótese de uma sociedade pós-apocalíptica reiniciar uma civilização tecnológica?

As questões são colocadas num fascinante artigo intitulado “Out of the Ashes” (Renascer das Cinzas), assinado por Lewis Dartnell, 37 anos, investigador em astrobiologia no Space Research Center da Universidade de Leicester, Inglaterra (veja-o aqui numa TED Talk). O ponto de partida para esta preocupante reflexão parte da constatação de que a nossa sociedade industrial, para chegar onde chegou, consumiu uma imensidão de combustíveis fósseis. Como as reservas de petróleo e carvão estão a chegar aos limites, surge uma outra pergunta igualmente perturbante: seríamos capazes de reconstruir o mundo sem o contributo daqueles combustíveis? Talvez, responde Dartnell, “mas seria muito difícil”. Há alternativas, que passam pelos painéis solares ou pelo carvão vegetal, por exemplo, mas com resultados limitados. Ora, diz o investigador, “é esta limitação no fornecimento de energia térmica que colocaria o maior dos problemas a uma sociedade que tentasse industrializar-se sem acesso fácil a combustíveis fósseis. Isto é verdade no nosso cenário pós-apocalítico, e seria igualmente verdade em qualquer outro mundo contrafactual que, por qualquer razão, nunca tivesse desenvolvido os combustíveis fósseis”. O que me leva a deixar ainda outra interrogação. Numa situação dessas, teria o progresso mundial estancado necessariamente nos níveis do século 18, numa era pré-industrial?

Como complemento desta leitura sobre o mundo em que vivemos junto uma imperdível reportagem publicada na revista do El País do passado domingo, intitulada “La Antártida, en los limites da vida”. Complementado com um pequeno vídeo e imagens fabulosas captadas por Raúl Belinchón, o texto de José Luis Barberia é construído a partir da experiência de um mês a bordo do “Aquiles”, da Armada chilena, junto a uma expedição científica internacional. Na Antártida, com 13,5 milhões de km2, e onde 98% do território jamais foi pisado pelo homem, joga-se muito do futuro da humanidade. É uma viagem espantosa a um território que alberga 70% das reservas de água doce do planeta, onde as temperaturas podem chegar aos 63 graus abaixo de zero, mas está em perigo. Por ano perdem-se 147 giga toneladas de gelo. Para reflexão, fica um dado tão revelador, quanto assustador: No dia 25 de março de 2015, a temperatura na Antártida, a 64 graus de latitude sul, atingiu uns impressionantes 17,5 graus centígrados (positivos). Quatro dias mais tarde, no norte do deserto chileno de Atacama, choveu durante 24 horas consecutivas. Foi o equivalente à precipitação ocorrida naquele ponto nos 14 anos anteriores. Tudo isto dá mesmo muito que pensar.

Despeço-me por hoje com um convite à reflexão sobre estas temáticas, ao mesmo tempo que deixo o convite para que ao longo do dia vá acompanhando o noticiário produzido no sítio do Expresso. Entre notícias breves e textos mais longos, terá muito em que pensar. Tenha um bom dia.

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