sexta-feira, 10 de março de 2017

MARCELO, O NAMORADINHO DE PORTUGAL


Ana Sá Lopes – jornal i, opinião

Não houve Presidente eleito na história democrática que não tivesse sido levado aos píncaros de popularidade pelos cidadãos do país.

Mas Marcelo é levado aos píncaros e ao colo. Marcelo dá colo, o povo leva Marcelo ao colo. É uma relação quase sentimental – a dita “política dos afetos” que criou uma consistente corrente afetuosa entre o Presidente e as pessoas normais é um sucesso político e institucional.

Nunca um Presidente esteve tão perto dos cidadãos que o elegeram e, ponto importante, também dos cidadãos que não o elegeram. Essa corrente de afeto já existia entre “o professor Marcelo” e o povo, através da familiaridade construída em mais de 15 anos de serões televisivos ao domingo – onde já a política, o comentário político, era, como numa maionese, emulsionada com os afetos: basta lembrar como Marcelo apresentava os livros, falava de futebol, de música, dos portugueses que se notabilizam por isto ou por aquilo, etc. Marcelo é hoje “o namoradinho de Portugal”.

Tirando uma pequena aldeia gaulesa de próximos de Passos Coelho que não perdoam o apoio explícito do Presidente ao governo, mais outra pequena aldeia gaulesa à esquerda que considera que extravasa os seus poderes presidenciais, Marcelo bate todas as sondagens de popularidade. A parte da colagem ao governo pode doer muito à direção de Passos, mas Cavaco fez uma coisa muito parecida com José Sócrates, de cujo “ímpeto reformista” foi entusiasmado apoiante. É verdade que em Marcelo tudo parece eufórico – as suas declarações de apoio são sempre eufóricas. A última e muito divertida foi quando recentemente contrariou Teodora Cardoso que aludiu a “um milagre” para justificar a descida do défice.

Marcelo respondeu com uma frase popular a la Jerónimo de Sousa: “Saiu-nos do pelo”. Mas que a esquerda não se engane: Marcelo deixa margem para deixar cair o governo quando assim o entender. Basta lembrar o caso Centeno: assassinou politicamente o ministro e escondeu o cadáver.

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