segunda-feira, 1 de maio de 2017

VENEZUELA CERCADA E À MERCÊ DO TERRORISMO NEOCOLONIAL


Luis Alberto Ferreira | Jornal de Angola | opinião

A situação artificial-criminosa que involucra a Venezuela destes dias mercadeja abundância de pano para mangas.

Cuidemos de arregaçá-las sem poupar na fazenda. História velhíssima: o colono e o esclavagista contam sempre com os seus descendentes para a reincidência e o regresso ao lugar do crime. Assim, na América Latina, da Colômbia ao México, da Venezuela ao Chile, do Perú ao Equador, da Argentina à Bolívia ou às Honduras, as “veias” de que nos falava o já malogrado Eduardo Galeano continuam “abertas”. Expurgar esses países da tumorosa influência dos descendentes da “Conquista” é o dramático e complexo desafio colocado às grandes maiorias populacionais. Sabem-no os sobreviventes do massacre em Mato Grosso, no Brasil, onde a lei dos senhores do latifúndio – descendentes de espanhóis, alemães, portugueses, italianos, holandeses –tripudia sobre azinhagas e rodovias de todas as impunidades: pistoleiros ou “jagunços” contratados, governadores e presidentes municipais corruptos e opressores, açambarcamento copioso de terras, florestas, de toda a classe de recursos naturais. Sabem-no os familiares dos 43 estudantes mexicanos de Ayotzinapa “desaparecidos” em 2015 num quadro indescritível de “desinteresse” das “autoridades” nacionais e regionais. Ou os resistentes da etnia mapuche, no Chile, desde os tempos da “colónia” e de Augusto Pinochet fustigados pelo racismo e pela prepotência de quem pode e manda. Ou as mulheres que, nas Honduras, não desistem de gritar na praça pública a sua revolta pelo assassinato, há dois anos, de Berta Cáceres, activista social e defensora dos recursos naturais em zonas de maioria indígena. 

No entanto, o mais actual, o mais premente em toda esta cadeia de despautérios é a ingerência na América Latina dos países europeus que ali deixaram descendência com poderes ilimitados – nos governos centrais, regionais e municipais, nos partidos políticos, no ensino, na economia, no emprego, na saúde. A Venezuela é de facto, agora, o alvo a abater. Contra a Venezuela, a partir de Madrid e do manobrismo do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), funciona a mais tenebrosa, a mais infamante campanha de sabotagem, violência organizada, desmantelamento subterrâneo das estruturas financeiras e comerciais. É a réplica desbragada aos resultados sociais da Revolução Bolivariana. É a vingança “extemporânea” que não puderam praticar na pessoa física de Hugo Chávez. A partir de cujo falecimento estalou, no país– e em jornais de Espanha e Portugal–uma tortuosa vaga de “argumentos” restauracionistas.

Neocolonialismo e neoliberalismo, num mesmíssimo tabuleiro, movidos pela mesmíssima sanha infrene contra a Revolução Bolivariana. Este género de massa cinzenta desconhece a aritmética da História e das Novas Realidades. Logo, no seu discernir cabe a ideia de que na América Latina, como em África, nada deveria mudar. O neofranquista espanhol Felipe González, arrastando os pés num espectáculo lastimoso de decadência física e intelectual enquanto, no aeroporto de Caracas, recebia abraços da parentela de fascistas “venezuelanos” como Enrique Capriles, Leopoldo López, Julio Borges e Richard Blanco, subsistirá para sempre como imagem das várias indignidades do seu campo ideológico. Seis mortos e vandalismo bestializado contrahospitais materno-infantis, bibliotecas públicas, clínicas, centros de abastecimento da população (CLAP), escolas e outros organismos da capital venezuelana (prejuízos avaliados em 50 mil milhões de bolívares), são o retrato-síntese da actuação dos pistoleiros e vadios que desde a ascensão do chavismorecebem das “democracias” ibéricas o nominativo de “oposição democrática”. Na Venezuela, os CLAP (centros de abastecimento da população) respondem à crueza das inúmeras sabotagens internas e externas apontadas à desestabilização do país e tendo como objectivo supremo o derrube de Nicolás Maduro e a “ascensão” ao poder do fascista Caprilese do partido “Primeiro Justiça”, designação que sobreleva os limites do cómico e do absurdo. 

O arrepiante, nesta farsa, é que alguns dos criminosos detidos confessaram ter sido “pagos” pelos cabecilhas do “Primeiro Justiça” para agirem como franco-atiradores terroristas e causarem o caos por meio de saqueios e incêndios em Caracas e noutros centros urbanos da Venezuela. Uma vez mais, o Exército e a Milícia Nacional Bolivariana optaram por não recorrer ao extremismo. (Mais de 300 polícias e militares foram assassinados, na Venezuela, nos últimos dois anos, por “esquadrões da morte” sustentados pela direita política e empresarial). Reconheça-se que a tolerância, da parte do regime, das Forças Armadas em particular, vem sendo incomensurável e sem precedentes na Venezuela e na turbulenta história das “Veias Abertas da América Latina”. 

Não é essa a interpretação do “submarino” que neste momento ocupa na Organização dos Estados Americanos (OEA) o cargo de secretário-geral. Tão pouco de um sector da Igreja católica venezuelana que, agora mesmo, promove o regresso ao colaboracionismo que noutros tempos deu origem a milhares de mortos nas ruas e em prisões e campos de concentração. O diário “El País”, familiarizado em Espanha com a impunidade neofranquista, não hesita, contudo, em “festejar” a muito recente “reabertura” de Cuba à instauração de um paradigma mais favorável às apetências comerciais da Espanha. 

Quando da visita de Barack Obama a Havana, o “perigo” concorrencial de futuras trocas comerciais Washington-Havana fez repicar em Espanha os sinos do alerta empresarial. Madrid acha interessante, agora, um investimento de 275 milhões em “projectos comuns” Espanha-Cuba! Amanhã, fará o mesmo na Venezuela. Por agora, a “doutrina” é chamar “oposição democrática” aos arruaceiros e aos franco-atiradores camuflados em janelas e terraços do centro de Caracas...

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