quinta-feira, 19 de outubro de 2017

ANGOLA | Estado de graça



Luísa Rogério | Jornal de Angola | opinião

O Presidente João Lourenço regressou à instituição que se inscreve, em caixa alta, no seu percurso político.

Foi deputado, presidente do Grupo Parlamentar do MPLA e, por último, 1º Vice-Presidente da Assembleia Nacional. João Lourenço entrou pela porta grande do sumptuoso edifício do Parlamento, e pela primeira vez na condição de Presidente da República, com o propósito de falar sobre o Estado da Nação. Desse modo, deu-se cumprimento ao disposto no artigo 118º da Constituição da República de Angola. 

O discurso, considerado transversal sob os diferentes pontos de vista, terá ido ao encontro das expectativas de sectores distintos da população, incluindo os mais críticos. Em diferentes plataformas, diz-se, e com destaque para as redes sociais, que o Presidente tocou em pontos chaves. Em linhas gerais, disse aquilo que muita gente desejava ouvir, que outros tantos não esperavam ouvir tão cedo.

João Lourenço inspirou o seu discurso na premissa da resolução dos problemas do povo, tendo reiterado o foco do mandato numa aposta maior no sector social e na diversificação da economia. A coragem para “melhorar o que está bem e mudar o que está mal, com a serenidade e a firmeza”, segundo as palavras do Presidente da República, esteve omnipresente no discurso que traçou as linhas mestras do programa de governação para os próximos cinco anos. 

A primeira comunicação, depois do acto de posse, deu vazão a vários ângulos de análise, apesar de nem todos espaços mediáticos os terem explorado de forma exaustiva. A identificação dos elementos fulcrais, denominados “desafios da mudança”, esteve bem patente na abordagem madrugadora que deixou recados políticos muito claros.
Adivinham-se novos cenários em diferentes áreas. Sem romper com o seu antecessor, ao qual agradeceu por ter deixado um país pacificado, livre e unido, João Lourenço evidenciou serenidade, ao enunciar os problemas. Na verdade, destapou realidades, algumas vezes mascaradas. Mostrou estar ao corrente de muitas situações até então comentadas apenas à “boca pequena”.

Praticamente, não reservou áreas tabus. A problemática da banca, assente no banco central, com particular ênfase para o extenuante dossier do acesso às divisas para se concretizar operações internacionais à diferentes níveis, assim como a necessidade de se quebrar monopólios, foram colocadas no topo da pirâmide. 

Para já, antevê-se a criação de mecanismos de reforço das instituições democráticas, com a inclusão de sindicatos, associações profissionais e patronais no rol das grandes questões nacionais. Se antes havia um quadro normativo legitimado pela Constituição da República, com vista a construção de um país mais inclusivo, onde o direito à livre expressão não equivalia a potencial atentado contra as instituições, o discurso deu brechas ao contexto político distendido. 

Os cinquenta expressivos minutos de João Lourenço no Parlamento colocaram-no sob a alçada do benefício da dúvida. Os primeiros cem dias de governação já podem dar indicações do futuro. Angolanas e angolanos comuns depositam fé nas palavras do seu Presidente, com vista ao relançamento das premissas para um país que represente igualdade de oportunidade para todos os seus filhos. 

Exercitar a “ética e as boas práticas” é um bom recomeço para a mudança de paradigmas. Em determinados círculos chama-se a atenção para o facto de discursos bonitos não se traduzirem sempre em boas práticas. 

Sim, é prudente refrear ânimos e, eventualmente, evitar a elevação desmesurada da fasquia das expectativas. De facto, urge separar sonhos da realidade. A prática ainda é o critério valorativo da verdade. Mas, de algum local tem que partir a jornada. Conforme reza um ditado ancestral das terras do amigo chinês, uma longa caminhada começa com o primeiro passo.

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